Interesse da Altice na TVI é moda no setor mundial das telecoms
Por que é que uma telecom quer uma televisão? Meo namora Media Capital para juntar conteúdos ao seu canal de distribuição, numa tendência de consolidação que não é exclusiva do mercado português.
Se a Altice concretizar a compra da Media Capital, grupo de media que detém a TVI, o negócio não será propriamente uma novidade no panorama internacional. Há muito que os analistas apontam para uma tendência de consolidação entre telecoms e media. Porquê? Não há muito mais por onde crescer no mercado das telecomunicações. E, com a transformação digital, a batalha entre operadores passa agora para o terreno dos conteúdos.
Nos EUA, esta tendência ganhou um novo fôlego em outubro do ano passado, depois de a AT&T ter adquirido a Time Warner, num negócio avaliado em pouco mais de 85 mil milhões de dólares. Esta operação pode comparar, de alguma forma, com as pretensões da Altice: juntar o negócio de entretenimento aos canais de distribuição de telecomunicações que já possui, nomeadamente a Meo.
Mas a fusão entre AT&T e Time Warner não foi caso único no plano internacional. A Verizon comprou o negócio à Yahoo! por 4,8 mil milhões de dólares. A NTT DoCoMo e a SingTel assinaram uma parceria para a distribuição de conteúdos, desde televisão até serviços financeiros e e-commerce. Na Europa, operadores como espanhola Telefónica e a Swisscom também têm prestado cada vez mais atenção a serviços de distribuição de conteúdos de vídeo online para acompanhar a emergência de serviços de streaming como a Netflix que têm conquistado cada vez mais clientes.
Para os analistas, movimentos como estes fazem sentido porque permitem às telecoms explorar economias de escala e potenciar serviços de base tecnológica que até agora as têm afastado na sua relação com os consumidores. E também porque estão a negligenciar um mercado de serviços digitais avaliado em quatro biliões de dólares (cerca de 3,56 biliões de euros), segundo as estimativas do Citigroup.
“A perceção das telecoms como infraestruturas com limitadas oportunidades para inovar (…) expôs o setor a vulnerabilidades estratégicas. As telecoms mantiveram as suas estratégias simples, criando valor apenas através do crescimento de subscritores e da estabilidade do dividendo”, notavam os analistas do Citigroup numa nota sobre o indelével impacto que a transformação digital vai ter na indústria das telecomunicações.
“As relações entre operadores de telecomunicações com os consumidores tem estado afastadas de uma base tecnológica (…) Serviços de internet, over the top content (OTT – serviços que funcionam sobre as redes das operadoras, como o WhatsApp para as mensagens e o Netflix para os conteúdos) estão a prosperar com base na inovação, em economias de escala e em regulação benigna…”, disseram ainda.
No caso da Altice, a aquisição da TVI permitiria vender os conteúdos da televisão líder em Portugal através da operadora Meo. Em maio de 2017, a TVI alcançou um share de 21,1% em Universo na televisão aberta, liderando o mercado à frente da Sic (17,3%) e RTP (13,7%). Enquanto isso, a Meo perdeu o primeiro lugar do pódio ao nível de ofertas de telecomunicações em pacote para a Nos no primeiro trimestre deste ano, tendo registado uma quota de 39,2% face aos 39,4% da concorrente.
O negócio Altice-TVI deverá, porém, enfrentar obstáculos levantados pelas autoridades da concorrência, antecipam os analistas do Haitong. “Deverá estar sujeito a medidas de regulação severas, algumas das quais deverão retirar grande parte da lógica estratégica do negócio”, refere Nuno Matias, sublinhando que a Autoridade da Concorrência não deverá permitir que a Altice explore exclusivamente a TVI em sinal fechado.
"O negócio entre a Altice e a Media Capital deverá estar sujeito a medidas de regulação severas, algumas das quais deverão retirar grande parte da lógica estratégica do negócio.”
Para a Nos, as implicações seriam assim limitadas. “A companhia estará protegida pelo facto de a Altice/PT Portugal não poder fechar o acesso da TVI. Adicionalmente, a Nos pode sempre replicar qualquer outro acesso a conteúdo com outro grupo de media local, nomeadamente através de acordos de produção de conteúdos sem a necessidade de adquirir qualquer ativo”, defende o Haitong.
Opinião diferente em o BPI, que considera que uma eventual aquisição da Media Capital pela Altice será “provavelmente disruptiva para o mercado” já que a Altice deverá tentar “constituir vantagens competitivas” nos conteúdos e “forçará” outras operadoras “a reagir”.
“Em consequência, acreditamos que neste cenário a Nos seria forçada a reforçar o seu investimento em conteúdos e não excluímos a possibilidade de a Impresa ser um alvo”, acrescenta o banco de investimento.
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