Sonae fecha ano “memorável” com receitas recorde de quase 10 mil milhões. Dividendo sobe 5%

Lucros caíram 37% no ano passado, em que o grupo nortenho concluiu várias aquisições que reforçaram a presença internacional e suportaram a subida das vendas. Vai propor dividendo de 5,921 cêntimos.

A Sonae fechou o ano de 2024 com lucros de 223 milhões de euros, o que representa uma subida de 18% face ao resultado líquido de 2023, excluindo a mais-valia de 168 milhões registada com a venda da participação na dona da SportZone. O volume de negócios subiu 18% para um recorde de quase 10 mil milhões de euros, num ano que a CEO Cláudia Azevedo apelida de “memorável”, e que ficou marcado pela conclusão de uma série de aquisições realizadas pela empresa da Maia. Grupo vai propor o pagamento de um dividendo de 5,921 cêntimos, mais 5% que a remuneração paga no ano anterior.

Contabilizando a mais-valia alcançada com a venda da participação de 30% na Iberian Sports Retail Group, os lucros teriam ficado 37,5% abaixo dos 357 milhões de euros registados em 2023, segundo o comunicado enviado esta quinta-feira pela empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O volume de negócios alcançou 9.947 milhões de euros, um aumento de 18% face ao período homólogo, “impulsionado pelo desempenho robusto dos principais negócios, bem como por movimentos estratégicos no portefólio, nomeadamente as aquisições da Musti e da Druni”, explica a empresa. O EBITDA atingiu mil milhões de euros, mais 4% que em 2023, também a beneficiar do contributo das empresas adquiridas no ano passado.

Temos todas as condições para alcançar ainda mais sucesso no futuro. Globalmente, todos os nossos negócios tiveram um desempenho excecional num contexto de elevada competitividade.

Cláudia Azevedo

CEO da Sonae

“2024 foi um ano memorável para a Sonae e estou plenamente convencida de que temos todas as condições para alcançar ainda mais sucesso no futuro. Globalmente, todos os nossos negócios tiveram um desempenho excecional num contexto de elevada competitividade”, disse Cláudia Azevedo, citada no comunicado.

Num ano que ficou marcado pela concretização de uma série de aquisições, a líder da Sonae destacou que “a expansão do nosso portefólio e o bom desempenho dos nossos principais negócios permitiram alcançar dois marcos históricos: as vendas do grupo atingiram aproximadamente 10 mil milhões de euros, aumentando 18% face ao ano anterior, e o EBITDA ultrapassou os mil milhões de euros”.

Segundo a empresária, “os investimentos foram estrategicamente geridos para apoiar oportunidades de criação de valor, incluindo a melhoria das competências digitais, expansão dos negócios e concretização de oportunidades de reconfiguração do portefólio”. Como resultado, a geração de free cash flow operacional evoluiu favoravelmente, aumentando de 25 para 261 milhões de euros.

Apresentação dos resultados de 2023 do grupo Sonae - 13MAR24
Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, na apresentação dos resultados de 2023 do grupoRicardo Castelo/ECO

A líder do grupo sediado na Maia destaca ainda os “excelentes resultados” apresentados pelo segmento de retalho alimentar da MC apesar da pressão concorrencial, “com ganhos consistentes de quota de mercado”. “As vendas da empresa neste segmento cresceram 7% em 2024, impulsionadas por aumentos significativos nos volumes em todos os formatos, num ambiente de baixa inflação”, acrescenta, justificando que o “desempenho foi suportado num crescimento sólido no parque de lojas comparável (LfL de +4,4% em 2024) e numa execução eficaz da estratégia de expansão de lojas com um recorde de 25 novas lojas próprias Continente em 2024″.

O volume de negócios deste segmento aumentou 15,3% em termos homólogos, atingindo 7,6 mil milhões de euros em 2024, impulsionado por sólidos desempenhos tanto do segmento de retalho alimentar como do segmento de saúde, beleza e bem-estar, com um “contributo relevante” da Druni no segundo semestre.

“O segmento de saúde, beleza e bem-estar da MC apresentou um crescimento significativo de vendas, impulsionado pelo bom desempenho das nossas insígnias originais e pela inclusão da Druni no nosso portefólio”, refere a CEO. A combinação da Wells, Arenal e Druni, cuja aquisição foi concluída em julho, “estabeleceu um líder ibérico com a oportunidade de captura de sinergias importantes num mercado em rápido crescimento. Estou muito otimista quanto a esta avenida de crescimento da MC e da Sonae, bem como ao valor que irá criar no futuro”, destaca a líder da empresa.

No retalho de eletrónica, a Worten registou um volume de negócios de 1,4 mil milhões de euros, uma subida de 7,6% face ao período homólogo.

No retalho de produtos para animais, a Musti “reforçou a sua liderança no setor de cuidados para animais de estimação nos nórdicos e expandiu-se com sucesso para os países bálticos com a aquisição da Pet City nos últimos três meses de 2024”. As vendas cresceram 5,6% para 122 milhões de euros, no trimestre.

Já a Sierra (imobiliário) fechou o ano com um resultado líquido de 97 milhões de euros, o que representa uma subida de 9,8% face aos lucros alcançados em 2023, com os resultados a serem impulsionados pelo desempenho do portefólio de centros comerciais europeus e pelos resultados mais elevados de vendas de imóveis.

Nas telecomunicações, a operadora Nos registou resultados operacionais e financeiros recorde. “Nas contas consolidadas da Sonae, os resultados pelo método de equivalência patrimonial da NOS atingiram 100 milhões de euros em 2024, um aumento de 57% em termos homólogos”, refere o comunicado.

Mais de 1.100 milhões em aquisições

O último ano ficou marcado pela concretização de importantes aquisições. O consórcio liderado pela Sonae concluiu em março do ano passado a aquisição da Musti, tendo assegurado 80,65% do capital da empresa nórdica de produtos para animais de estimação após o prolongamento da oferta, num investimento que ronda os 700 milhões de euros e “representa uma das maiores operações da história” do grupo que detém o Continente.

Além da compra da empresa finlandesa, a Sonae concluiu ainda a aquisição de 89% da Diorren por 160,5 milhões e a “combinação dos negócios” da Druni e da Arenal Perfumarias, retalhistas de perfumaria, cosmética e parafarmácia em Espanha. Ainda no ano passado, a nova participada Musti assinou um acordo para comprar a rede de lojas de produtos para animais e clínicas veterinárias PetCity.

A aquisição da Musti, empresa líder no retalho de produtos e cuidados para animais de estimação, presente nos países nórdicos, permitiu à Sonae entrar num setor de grande crescimento. Da mesma forma, a fusão da Druni e da Arenal, duas empresas proeminentes no mercado espanhol de retalho de beleza, robusteceu a nossa proposta de valor na Península Ibérica”, adiantou a CEO da Sonae.

O investimento consolidado da Sonae atingiu 1.589 milhões de euros em 2024, tendo mais do que duplicado face aos 665 milhões investidos um ano antes. Deste montante, 1.121 milhões de euros destinaram-se a financiar as aquisições.

A dívida líquida consolidada foi de 1,6 mil milhões de euros no final de 2024, um valor que compara com os 526 milhões de endividamento no final de 2023.

Dividendo sobe 5% para 5,961 cêntimos

O conselho de administração da Sonae vai propor a distribuição de um dividendo de 5,921 cêntimos de euro por ação, o que corresponde a um dividend yield de 5,9%. À semelhança do que fez no ano passado, a empresa propõe aumentar a remuneração acionista em 5% face ao valor distribuído no ano anterior.

A companhia vai distribuir 52% do resultado líquido do exercício.

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Inteligência Artificial? “É normal as pessoas temerem pelo emprego, mas há solução”

Em Davos, a CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, destacou que os líderes das empresas têm um papel "muito importante" em apontar qual a direção que a empresa deve seguir e as qualificações necessárias.

A Inteligência Artificial (IA) está a deixar as pessoas “assustadas” e a temerem pelos seus postos de trabalho, mas “há solução”, defende Cláudia Azevedo. Para a CEO da Sonae, um dos maiores empregadores do país, estes receios são normais e a resposta à rápida transformação tecnológica é a requalificação. “Todos temos de nos requalificar.”

“É muito crucial dizer às pessoas que é normal temerem pelo emprego, mas há solução. Podem encontrar novas qualificações e progredir na carreira“, disse Cláudia Azevedo numa discussão dedicada ao tema “Requalificação na Era da Inteligência”, no Fórum Mundial de Davos, onde esta semana estão líderes empresariais e governamentais de todo o mundo a discutir os principais temas que mexem com a economia global.

Num mundo em rápida mudança, Cláudia Azevedo reforçou que “precisamos de requalificação”. “As qualificações ficam obsoletas, todos temos que nos atualizar“, apontou a empresária, que, em 2025, também tenciona reforçar os seus conhecimentos sobre IA.

Enquanto líder de um grande grupo, Cláudia Azevedo reconhece que o papel de CEO é “muito importante”. “Temos de ter um sentido de direção porque as pessoas estão assustadas, têm medo”, explicou, acrescentando que é aqui que deve entrar a “empatia em todos os níveis da organização”, ajudando os colaboradores a perceber quais as prioridades e as qualificações que devem reforçar: “É por aqui que vamos, estas são as skills que precisamos e vamos fazer este caminho juntos.”

Para a empresária, é esta “empatia” que vai ajudar a companhia a seguir o seu caminho. A líder da dona da cadeia de supermercados Continente adianta ainda que a cultura da empresa assume aqui um papel importante, realçando que, “se toda a gente sentir que tem que aprender, isso vai ajudar muito“.

A Sonae tem participado em várias iniciativas para apostar na requalificação. Além de ações internas de formação, a empresa é uma das promotoras da iniciativa de formação europeia, “Reskilling 4 Employment” (R4E), que tem como meta a requalificação de um milhão de adultos na Europa, até 2025. Cláudia Azevedo elogiou o programa, que em Portugal está materializado no PRO_MOV by Reskilling 4 Employment, o programa nacional que junta as maiores empresas portuguesas e o Estado.

Além desta iniciativa, a empresária apontou ainda a plataforma de requalificação “NCN – New Career Network”, que pretende ajudar a colmatar a necessidade de requalificar 20 milhões de europeus, juntando no mesmo local candidatos, empregadores e entidades formadoras, e à qual a empresa portuguesa, juntamente com a espanhola Telefónica, se associou.

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As cotadas portuguesas mais afetadas pelas políticas de Trump

As políticas protecionistas de Trump e as mais que esperadas alterações ao “Inflation Reduction Act” colocam empresas do PSI sob tensão, particularmente a família EDP e a Corticeira Amorim.

As políticas protecionistas e imprevisíveis de Donald Trump, que regressou esta segunda-feira à Casa Branca, estão a gerar preocupações entre as principais empresas portuguesas cotadas no índice PSI da Euronext Lisboa com forte exposição ao mercado norte-americano.

EDP EDP 0,00% , EDP Renováveis EDPR 0,00% e Corticeira Amorim COR 0,00% destacam-se como as mais vulneráveis às medidas anunciadas pela nova administração Trump, que prometeu impor tarifas de 10% sobre todas as importações e reverter incentivos às energias renováveis.

A EDP e a sua subsidiária EDP Renováveis são, de longe, as empresas do PSI mais expostas ao mercado norte-americano e, consequentemente, as que enfrentam maiores desafios com o regresso de Trump ao poder. E isso é bem visível no comportamento recente das ações das duas empresas, que entre 4 de novembro, um dia antes das eleições presidenciais dos EUA, e segunda-feira acumulam perdas de 14% (EDP) e de 26% (EDP Renováveis), enquanto o PSI registou uma queda marginal de 0,02% no mesmo período.

A política “America First” de Trump e a ameaça de impor tarifas de 10% sobre todas as importações podem encarecer significativamente os equipamentos e componentes que a EDP Renováveis importa para os seus parques eólicos e solares nos EUA.

Segundo o plano estratégico 2023-2026 da EDP, a empresa pretende investir cerca de 8,5 mil milhões de euros no mercado norte-americano até 2026, o que representa mais de um terço do seu investimento global previsto de 25 mil milhões de euros para o período. Já a EDP Renováveis tem mais de metade da sua capacidade instalada (51%) localizada nos EUA, de acordo com o relatório e contas de 2023.

O CEO da EDP e da EDP Renováveis, Miguel Stilwell, tem motivos para estar apreensivo. As promessas de Trump de reverter incentivos às energias renováveis e reforçar o apoio aos combustíveis fósseis ameaçam diretamente o ambicioso plano de expansão da EDP e da EDP Renováveis nos EUA.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

A nova administração já sinalizou a intenção de cancelar o Inflation Reduction Act (IRA), aprovado por Joe Biden, que, entre outros, prevê mais de meio bilião de dólares em incentivos para projetos de energia limpa, hidrogénio e tecnologias renováveis. A concretizar-se esta promessa, seria um duro golpe para a EDP Renováveis, que contava com estes apoios para expandir a sua presença no mercado norte-americano.

Com a Casa Branca e o Congresso controlados pelos republicanos, o futuro do IRA é incerto. A escassez de maiorias no Senado e na Câmara dos Representantes pode representar um desafio para os legisladores republicanos na criação de uma coligação para a revogação total da IRA, uma vez que os incentivos da IRA beneficiaram os eleitores republicanos.

“No entanto, o IRA continua a ser vulnerável, uma vez que não são necessárias coligações no Congresso para ações executivas que ponham em causa a aplicação do IRA”, referem Riki Fujii-Rajani e Sanjay Patnaik, investigadores do Instituto de Brooking, num artigo publicado recentemente.

Além disso, a política “America First” de Trump e a ameaça de impor tarifas de 10% sobre todas as importações podem encarecer significativamente os equipamentos e componentes que a EDP Renováveis importa para os seus parques eólicos e solares nos EUA.

Donald Trump toma posse como 47.º presidente dos EUA esta segunda-feira, esperando-se que logo nas primeiras horas do seu mandato assine cerca de 200 ordens executivas.Lusa

Rolhas e papel também estão sob pressão

A Corticeira Amorim é outra empresa do PSI com uma exposição significativa ao mercado norte-americano que poderá ser afetada pelas políticas de Trump. Desde 4 de novembro, a cotação das ações da Corticeira Amorim resvalaram 4,6%.

Segundo o último relatório e contas anual, os EUA são o segundo maior destino das vendas da empresa liderada por António Rios de Amorim, com uma quota de mercado de 16,4%, logo após a França.

A ameaça de Trump de impor tarifas de 10% sobre todas as importações poderia encarecer significativamente os produtos da Corticeira Amorim no mercado norte-americano, reduzindo potencialmente a sua competitividade face a alternativas locais. Além disso, a empresa possui uma unidade industrial nos EUA, a Amorim Cork Composites, que poderá ser afetada por eventuais restrições à importação de matérias-primas ou componentes.

A Navigator NVG 0,00% , uma das maiores produtoras mundiais de papel de impressão e escrita, enfrenta também desafios significativos com as políticas protecionistas de Donald Trump. Embora o relatório e contas de 2023 da empresa não especifique a percentagem exata de receitas provenientes dos EUA, as vendas para mercados fora da Europa são cruciais para a Navigator. Em 2023, as flutuações cambiais tiveram um impacto negativo líquido de cerca de 16 milhões de euros no EBITDA da empresa, indicando uma exposição considerável a mercados internacionais, incluindo os EUA.

A situação da Navigator é ainda mais complexa devido ao prolongamento em 2022 do processo anti-dumping que o Departamento de Comércio dos EUA tem em curso contra a empresa. Este processo, que foi estendido por mais cinco anos, pode resultar em tarifas adicionais sobre os produtos da Navigator no mercado norte-americano.

As potenciais tarifas de 10% sobre as importações, propostas por Trump, somadas às possíveis tarifas anti-dumping, poderiam afetar drasticamente a competitividade dos produtos da Navigator nos EUA.

As políticas de Trump têm o potencial de afetar significativamente várias empresas do PSI, seja diretamente através de tarifas e restrições comerciais, seja indiretamente através de mudanças nas dinâmicas globais de mercado.

Efeito de contágio em Portugal

Entre as 15 empresas que compõem atualmente o PSI, destaque ainda para as retalhistas Sonae SON 0,00% e Jerónimo Martins JMT 0,00% que, embora não tenham operações diretas nos EUA, poderão sentir os efeitos indiretos das políticas de Trump de maneiras significativas.

As tarifas sobre importações podem levar a um aumento generalizado dos preços dos produtos importados, afetando as cadeias de abastecimento globais destas retalhistas. Isso pode pressionar as margens das operações empresas, forçando a Sonae e a Jerónimo Martins a procurar fornecedores alternativos ou a repassar os aumentos de custos aos consumidores.

Além disso, as políticas protecionistas de Trump poderiam afetar o poder de compra dos consumidores em mercados onde a Sonae e a Jerónimo Martins operam, especialmente se houver uma desaceleração económica global como resultado de tensões comerciais.

A Galp Energia GALP 0,00% é outra das empresas do PSI que pode ser implicada pelas políticas energéticas de Trump. A promessa de impulsionar a produção de petróleo e gás nos EUA, espelhada num dos slogans da sua campanha “We will drill baby, drill” (“Vamos perfurar, perfurar”, numa tradução livre) que foi repetido uma vez mais na segunda-feira por Trump no discurso de tomada de posse, pode levar a uma maior oferta global do ouro negro, pressionando potencialmente os preços do petróleo.

A confirmar-se esta dinâmica, naturalmente as margens da Galp seriam afetadas, tanto nas suas operações de upstream (exploração e produção) quanto nas de downstream (refinação e distribuição).

Além disso, as políticas de Trump relativamente ao acordo nuclear com o Irão e as sanções a países produtores de petróleo poderiam causar volatilidade nos preços globais do petróleo, afetando a previsibilidade das receitas da Galp.

As políticas de Trump têm o potencial de afetar significativamente várias empresas do PSI, seja diretamente através de tarifas e restrições comerciais, seja indiretamente por mudanças nas dinâmicas globais de mercado. Às empresas portuguesas caberá demonstrarem agilidade e adaptabilidade sobre cada uma das medidas que Trump venha a aprovar.

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Sonae convoca peritos para “inspirar” economia circular

Agendado para 27 de novembro no Pátio da Galé (Lisboa), o Innovators Forum’24 vai “discutir soluções práticas e concretas para implementar a circularidade”. Sonae espera 400 participantes no evento.

A “circularidade” é o tema da segunda edição do Innovators Forum, organizado pela Sonae e que tem como objetivo “inspirar e impulsionar a inovação”, dando voz aos líderes nesta matéria para “explorar tendências, desafios e oportunidades, criando uma comunidade unida pelo movimento da economia circular e regenerativa”.

Agendado para 27 de novembro no Pátio da Galé (Lisboa), o evento contará com especialistas nacionais e internacionais para debater o estado atual da economia circular e “explorar caminhos para a inovação e impacto positivo”. A organização espera 400 participantes no Innovators Forum’24, que terá também transmissão online.

Entre os oradores confirmados destacam-se Ivone Bojoh, CEO da Circle Economy Foundation, responsável pela edição anual do Circularity Gap Report, Raphaël Masvigner (Circul’R), Marta Brazão (Circular Economy Portugal), Ana Barbosa (IKEA Portugal, Sónia Cardoso (Sonae), Bruno Borges (Worten), Filipa Pantaleão (BCSD Portugal), Anders Åhlén (McKinsey & Co), Carlos Moedas (Câmara de Lisboa) e Paulo Azevedo (Sonae).

Não temos escolha: ou mudamos radicalmente a forma como utilizamos os recursos naturais ou não haverá futuro.

João Günther Amaral

Membro da comissão executiva da Sonae

“Estamos a consumir recursos a um ritmo que o planeta não consegue suportar, sem dar tempo à natureza para se restaurar. Perante este cenário, não temos escolha: ou mudamos radicalmente a forma como utilizamos os recursos naturais ou não haverá futuro”, adverte João Günther Amaral, membro da comissão executiva da Sonae.

Citado em comunicado, o gestor frisa que o Innovators Forum – gratuito para estudantes e ONG, e aberto à comunidade mediante inscrição – vai “discutir soluções práticas e concretas para implementar a circularidade porque só com uma mudança imediata e colaborativa entre empresas, Governo, academia e sociedade podemos contribuir para uma economia que respeite os limites do planeta”.

Cláudia Azevedo na edição de 2023 do Innovators Forum, organizado pela Sonae

Nos últimos seis anos foram consumidas a nível mundial mais de 500 mil milhões de toneladas de materiais, quase o equivalente ao consumo total do século XX. Ao mesmo tempo, a taxa de materiais reciclados consumidos pela economia global diminuiu de 9,1% em 2018 para 7,2% em 2023.

Já em Portugal, segundo os dados mais recentes do Eurostat, relativos a 2022 e citados pelo grupo liderado por Cláudia Azevedo, a taxa de circularidade é de apenas 2%. Uma percentagem que posiciona o país em 24.º lugar entre os 27 estados-membros da União Europeia, em que a média se fixou em 11,7%.

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Sonae repete lucros de 25 milhões até março, com as vendas a subirem 11%

Volume de negócios consolidado aumentou 11% no trimestre, para 2,1 mil milhões de euros, que a dona do Continente e da Worten atribui ao “forte investimento e crescimento dos negócios de retalho".

O grupo Sonae reportou esta terça-feira um resultado líquido atribuível a acionistas de 25 milhões de euros no primeiro trimestre de 2024, o que representa um ligeiro crescimento de 0,4% face ao mesmo período do ano passado.

Os “impactos do aumento das depreciações em consequência do forte investimento realizado, dos custos de financiamento pelo aumento das taxas de juro e dos impostos [foram] compensados pelos ganhos de quota de mercado e sólida performance dos negócios”, enquadra.

Já o volume de negócios consolidado aumentou 11% entre janeiro e março, para 2,1 mil milhões de euros, que a dona do Continente e da Worten atribui ao “forte investimento e crescimento dos negócios de retalho”. O EBITDA atingiu os 180 milhões, 13% acima do registo homólogo.

Num ciclo em que concluiu a OPA sobre a finlandesa Musti – o fecho da compra da francesa BCF Life Sciences só aconteceu em abril –, calcula que o investimento consolidado superou os 700 milhões de euros, para totalizar 1.212 milhões nos últimos 12 meses, com “expansão orgânica dos negócios e aquisições”.

“Em termos globais, o desempenho dos nossos negócios foi novamente forte neste trimestre, tendo resultado num crescimento adicional (+2% face ao final de 2023) do valor do nosso portefólio para 4,6 mil milhões de euros (2,38 euros/ação)”, salienta Cláudia Azevedo.

Citada no comunicado enviado à CMVM, a CEO sublinha que em termos de estrutura de capitais, e apesar do “investimento significativo” na empresa nórdica de produtos para animais de estimação, o rácio loan-to-value da holding sediada na Maia manteve-se em “níveis muito confortáveis”, tendo atingido os 13% no final deste trimestre.

Apresentação dos resultados de 2023 do grupo Sonae - 13MAR24
Cláudia Azevedo, CEO da SonaeRicardo Castelo/ECO

Apesar da “contínua pressão nos custos operacionais e do esforço para estar ao lado dos clientes”, salienta o “sólido desempenho dos negócios de retalho e o aumento da contribuição dos negócios consolidados pelo método de equivalência patrimonial, essencialmente proveniente da Nos”, que levaram o EBITDA subjacente a escalar 15%, para 158 milhões de euros.

No entanto, sublinha o grupo na mesma comunicação ao mercado, o aumento das depreciações, dos custos de financiamento e dos impostos levou a que o resultado direto se situasse em 33 milhões de euros, ficando “apenas” 10% acima do primeiro trimestre de 2023.

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Se Portugal crescesse como a Sonae, PIB per capita “seria maior que o espanhol”, revela estudo

  • Joana Abrantes Gomes
  • 16 Maio 2024

Estudo da Nova SBE revela que se a economia nacional tivesse crescido ao ritmo da Sonae entre 2009 e 2022, o PIB per capita em paridade de poder de compra "seria maior do que o espanhol" em 2022.

A Sonae gerou 8,9 mil milhões de euros na economia portuguesa em 2022, um número que equivale a um peso de 3,7% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, segundo um estudo que analisou o impacto económico do grupo que detém a retalhista Continente, realizado pela Nova SBE.

Entre 2009 e 2022, o grupo apresentou um crescimento médio anual de 2,1%, acima da média do crescimento económico anual de Portugal (0,6%) no mesmo período. Significa que, se a economia nacional tivesse crescido ao ritmo da Sonae nesses 14 anos, o PIB per capita em paridade de poder de compra do país “seria maior do que o espanhol em 2022″, lê-se no relatório que é apresentado esta quinta-feira.

O trabalho dos investigadores Pedro Brinca, João Duarte e João Pedro Ferreira (Universidade da Virgínia) aponta também que, nesse caso, Portugal passaria da 20.ª posição para a 13.ª entre as maiores economias da Zona Euro. Por outro lado, realça que, nos anos de 2013 e 2014, no período crítico da intervenção da troika, a Sonae “recuperou da crise muito mais rapidamente do que a média nacional e contribuiu para uma mais rápida recuperação da economia”.

As vendas do grupo liderado por Cláudia Azevedo corresponderam a 1,8% do total de produção em território nacional, superando a produção combinada dos setores do vestuário e do calçado ou todo o setor da produção da pasta e do papel no país.

Se for somada a contribuição através das cadeias de valor, o contributo da Sonae atinge os 17,8 mil milhões de euros — ou seja, 3,8% do total da produção nacional. Divide-se entre 8,7 mil milhões de euros oriundos do efeito direto, 5,6 mil milhões de euros do efeito indireto e 3,4 mil milhões de euros do efeito induzido, calculam.

Por outro lado, o volume de negócios de 17,8 mil milhões de euros inclui cerca de 3,7 mil milhões de euros em salários, um valor “superior às remunerações pagas pelo setor do fabrico de automóveis em toda a economia nacional”, refere ainda o trabalho da Nova SBE.

No que toca à contribuição fiscal, o grupo nortenho paga mais de 1,6 mil milhões de euros em receitas fiscais a cada ano, dos quais 460 milhões de euros correspondem a impostos, 230 milhões a contribuições à Segurança Social e 115 milhões ao IRS retido pelos seus trabalhadores.

O valor das receitas fiscais equivale, de acordo com a comparação neste estudo, ao “dobro do valor do défice público registado em 2022” e “é superior aos investimentos feitos em Serviços Hospitalares pela Administração Pública nos anos de 2018 a 2021 (que incluíram a pandemia de Covid-19)”.

Por outro lado, a empresa investiu em Portugal mais de 700 milhões de euros “por vários anos consecutivos”, inclusive “em períodos críticos” para o país e em valores “muito superiores” aos de outros setores industriais tradicionalmente referidos como importantes motores da economia nacional.

Maior empregador privado chega aos 259 mil postos de trabalho indiretos

Em 2022, a Sonae contava com 47 mil trabalhadores, sendo que a atividade do grupo criou 212 mil empregos no resto da economia. Isto é, a dona do Continente, que tem sede na Maia, é responsável por um total de 259 mil postos de trabalho no país, independentemente do tempo de contrato.

Este número representa 4,2% do total do emprego no país e 4,8% dos empregos do setor privado em Portugal, com impacto em um em cada 23 empregos, o que confirma a Sonae como o “maior empregador privado” no país, indica o documento.

Da contribuição gerada pela Sonae nos vários setores de atividade, o mais relevante é associado às pequenas e médias empresas (9,7 mil milhões de euros), sendo que 2,9 mil milhões de euros corresponderam ao volume de negócios no setor da indústria agroalimentar. E 126 mil dos 212 mil empregos criados no resto da economia foram em PME localizadas em território nacional.

Apresentação dos resultados de 2023 do grupo Sonae - 13MAR24
João Gunther Amaral, CDO da Sonae, na apresentação dos resultados de 2023 do grupoRicardo Castelo/ECO

Em termos geográficos, o estudo da Nova SBE conclui que o conglomerado nortenho contribui para a coesão territorial do país ao ter uma “presença determinante para a vitalidade económica” de metade dos 308 municípios portugueses, sublinhando que são privilegiados, igualmente, territórios de baixa densidade e concelhos onde o poder de compra está abaixo da média nacional.

“Estes resultados ajudam a quantificar o impacto da nossa atividade na vida das pessoas e revelam que os bons resultados do Grupo Sonae são positivos para o país. Estamos determinados a continuar a gerir e a crescer de forma responsável, promovendo mais e melhor emprego, fomentando a inovação na economia, contribuindo para o desenvolvimento regional, sendo mais inclusivos e equitativos e respeitando os limites do planeta”, comenta João Günther Amaral, administrador executivo da Sonae.

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Sonae paga dividendo de 5,6 cêntimos a partir de 16 de maio

Assembleia-geral aprova contas de 2023, em que a dona do Continente aumentou os lucros em 6,4% para 357 milhões de euros, e também a subida do peso da remuneração variável dos administradores até 76%.

A Sonae vai começar a pagar aos acionistas o dividendo de 5,639 cêntimos por ação a partir de 16 de maio, por conta dos resultados alcançados no ano passado. Representa um aumento de 5% face a 2022 e equivale a um dividend yield de 6,2% face ao preço de fecho a 31 de dezembro de 2023.

A proposta da dona do Continente foi votada favoravelmente esta terça-feira na assembleia geral anual, em que foram também aprovadas as contas relativas ao último exercício, em que os lucros aumentaram 6,4% em termos homólogos, para 357 milhões de euros, assim como votos de louvor e confiança aos órgãos de administração e fiscalização.

Além da cooptação de Maria Teresa Ballester Fornes para assumir as funções de administradora não executiva independente até ao termo do mandato em curso, relativo ao quadriénio 2023/2026, foi também dada “luz verde” as alterações à política de remunerações dos administradores executivos que elevam para 76% o peso máximo da remuneração variável.

A revisão proposta pela comissão de vencimentos, composta por Artur Santos Silva, José Côrte-Real e Ramon O’Callaghan, falava em “fortalecer a competitividade” e reforçar o “alinhamento e compromisso” dos administradores executivos com “os interesses de médio e longo prazo da sociedade e com a sua estratégia empresarial, reforçando e premiando a sua contribuição, individual e coletiva, para o sucesso da sociedade”.

Em 2023, o volume de negócios da Sonae cresceu 9,2% e superou os 8,4 mil milhões de euros, impulsionado principalmente pelo crescimento da MC (retalho alimentar) que, “perante o contexto inflacionista desafiante e competitivo, conseguiu reforçar a sua posição de liderança no mercado português de retalho alimentar”.

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Preços mais altos nos alimentos sem reflexo nas margens das retalhistas

A elevada subida dos preços dos alimentos em 2023 não se refletiu em maiores margens de lucro das retalhistas. Com os preços a cair, 2024 pode ser um ano de viragem.

2023 voltou a ser um ano marcado por uma elevada inflação nos preços dos alimentos. Apesar do ano ter terminado com uma forte desaceleração dos preços, os primeiros meses de 2023 ainda marcaram aumentos que chegaram a um máximo de 20%. Apesar desta escalada, as margens das maiores retalhistas nacionais não evidenciam um aproveitamento desta conjuntura. Pelo contrário, têm contraído.

O último ano marcou uma inversão da subida galopante dos preços. A inflação média anual foi de 4,3% em 2023, abaixo dos 7,8% fixados um ano antes. Contudo, olhando apenas para os produtos alimentares, os números permanecem substancialmente mais elevados: os preços dos alimentos não transformados abrandaram para 9,5% em 2023, o que compara com 12,2% em 2022.

“As variações médias [dos produtos alimentares não processados] em 2023 foram de 14,7% no primeiro semestre e 4,8% no segundo, resultado de uma trajetória de diminuição progressiva das taxas homólogas a partir de maio (quando a maioria dos produtos considerados neste agregado passou a estar isenta de IVA)”, explica o Instituto Nacional de Estatística (INE). O IVA zero, num cabaz de 46 produtos, entrou em vigor em abril do ano passado e terminou no final do ano, uma medida que permitiu um alívio nos preços.

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) defendeu que a isenção de IVA para 46 categorias de produtos foi uma medida “muitíssimo bem-sucedida do ponto de vista alimentar”, que permitiu uma poupança significativa às famílias. “Baixámos o IVA em 46 categorias de produtos, que representam, em muitas lojas, 10.000/15.000 produtos e achamos que o nosso papel, enquanto promotores de preços equilibrados, foi cumprido”, afirmou o diretor-geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier.

Um relatório publicado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal refere que o anúncio da isenção temporária de IVA num cabaz de produtos alimentares “levou a um ajuste antecipado de preços” de 1,27%. Por outro lado, quando a medida foi revertida, a passagem da subida dos preços para os consumidores foi menor do que a esperada, adianta o Banco de Portugal.

Tal como já tinha sido avançado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o Banco de Portugal estima que o fim do IVA zero teve um impacto de 0,7 pontos percentuais sobre a variação do índice de preços no consumidor.

O aumento de preços [para os clientes finais] foi menos de metade do aumento de preços que nos chegou dos produtores. Houve um esforço muito grande de contenção de preços, tanto é assim que tivemos uma quebra de rentabilidade no retalho alimentar em 2023.

João Dolores

Administrador Financeiro da Sonae

O anterior ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, chegou a dizer que existe uma “divergência muito grande em alguns produtos entre os preços de aquisição e de venda ao público” — afirmações veementemente rebatidas pelo setor. Tanto a Sonae, que detém os supermercados Continente, como a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, dizem estar a controlar a subida dos preços e a absorver o aumento dos custos, com impacto na sua rentabilidade. Mas o que mostram os números?

Apesar das duas maiores redes de supermercados em Portugal — Continente e Pingo Doce — terem conseguido aumentar as suas receitas e EBITDA, quando se olha para as margens do negócio, estas não estão a aumentar e, em alguns casos, até espelham um abrandamento.

  • O negócio da Sonae MC, que detém o Continente, fechou o ano de 2023 com uma margem EBITDA (margem de lucro operacional) de 9,7%, acima dos 9,5% registados um ano antes, mas mantendo-se abaixo dos mais de 10% registados nos anos anteriores. Ou seja, por cada 100 euros de vendas realizadas, a Sonae contabilizou lucros operacionais de 9,7 euros. Quando se analisa a margem líquida (rácio entre o resultado líquido e as receitas), este indicador está em queda, revelando uma quebra de rentabilidade. Depois de já ter caído de 3% em 2021 para 2,7% em 2022, a margem líquida voltou a baixar para 2,6% no ano passado, adiantou João Dolores na apresentação de resultados anuais, falando numa “contração ligeira” neste indicador e prometendo que a dona do Continente vai continuar a “conter os preços” para manter a liderança na grande distribuição, referiu o administrador financeiro.
  • Já no caso da Jerónimo Martins, o Pingo Doce terminou o ano com uma margem EBITDA de 5,8%, abaixo dos 5,9% e 6% fixados nos dois anos anteriores. No caso do Recheio, a cadeia de cash&carry do grupo liderado por Pedro Soares dos Santos até apresentou uma evolução positiva da margem EBITDA, aumentando para 5,4%, mas permanece abaixo da fasquia dos 6% registados antes da pandemia. A margem bruta do grupo [as contas da Jerónimo Martins não detalham os custos das vendas de mercadoria por segmento, sendo apenas possível calcular a taxa bruta do grupo] baixou de 21% para 20,42%, mantendo a tendência de descida registada desde 2020.

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Os líderes da Sonae e da Jerónimo Martins têm advogado que as cadeias de supermercados que detêm continuam a aplicar preços baixos, mantendo um ambiente altamente competitivo no setor.

“Fazemos um esforço enorme para termos poupanças, mas as coisas chegam-nos mais caras – e o custo da mão-de-obra também aumentou muito. Em 2024 há uma tendência para os preços baixarem e isso ajuda sempre. (…) Esperemos que a inflação alimentar baixe durante este ano. Mas, como vimos nos últimos anos, há sempre novidades a acontecer”, reforçou Cláudia Azevedo, CEO da Sonae.

O aumento de preços [para os clientes finais] foi menos de metade do aumento de preços que nos chegou dos produtores. Houve um esforço muito grande de contenção de preços, tanto é assim que tivemos uma quebra de rentabilidade no retalho alimentar em 2023. Este é um mercado competitivo, em que tentamos oferecer o melhor preço”, acrescentou João Dolores no decorrer da apresentação de resultados de 2023 da Sonae.

Pedro Soares dos Santos, na mensagem publicada no relatório e contas de 2023, refere que “o Pingo Doce manteve uma forte atividade promocional durante todo o ano, materializada em 150 folhetos e 79 campanhas, criando oportunidades significativas de poupança para os consumidores, que se traduziram num crescimento de 7,9% das vendas para 4,9 mil milhões de euros e numa margem EBITDA de 5,8%”.

“Em geral, o retalho alimentar em 2023 teve de ajustar os preços em alta fruto do forte inflação alimentar”, refere António Seladas. O analista de ações da AS Independent Research realça que, no caso do Pingo Doce, “a margem operacional (EBITDA) contraiu ligeiramente em 2023, o que significa que uma eventual folga nos custos operacionais (pessoal e fornecimento e serviços externos) que, em geral, subiram abaixo da inflação alimentar, foram anulados pela pressão na margem bruta, que deriva do forte aumento de capacidade no setor (novas lojas das atuais marcas e entrada da Mercadona) e nível de concorrência muito elevado”.

As distribuidoras a operar em Portugal não querem perder quota de mercado e a pressão do novo player (Mercadona) em simultâneo com os programas de expansão de novas lojas e reformulação das lojas atuais, está a criar um ambiente concorrencial anormalmente intenso.

António Seladas

Analista da ações da AS Independent Research

Já no caso da Sonae MC, o analista nota que as contas divulgadas incluem o alimentar e a área de saúde, logo não é possível fazer uma interpretação direta, “mas os resultados finais não deverão ser significativamente diferentes” do Pingo Doce. “Em resumo, as distribuidoras a operar em Portugal não querem perder quota de mercado e a pressão do novo player (Mercadona) em simultâneo com os programas de expansão de novas lojas e a reformulação das lojas atuais, estão a criar um ambiente concorrencial anormalmente intenso”, conclui.

“Os operadores têm de ceder na margem bruta, caso contrário rapidamente perdem quota de mercado”, reforça António Seladas, notando que “no Pingo Doce a margem EBITDA caiu cerca de 90 pontos base nos últimos quatro anos e no caso da Sonae MC cerca de 30 pontos base“. “O principal desafio é basicamente a pressão na margem, que deverá ser combatida com volume. Mas para atrair volume é necessário investir-se em preço e abdicar-se de Margem Bruta”, explica o mesmo analista.

A partir de meados de 2023 notou-se um abrandamento mais forte das margens e nos lucros destas empresas.

Vítor Madeira

Analista da XTB

Vítor Madeira, analista da XTB, realça que, “inicialmente, estes retalhistas conseguiram incorporar facilmente os aumentos dos preços generalizados nos seus produtos no final de 2022. Contudo, a partir de meados de 2023 notou-se um abrandamento mais forte das margens e nos lucros destas empresas”. “Nesta altura em que os preços começam a estabilizar também as suas margens e lucros parecem começar a estabilizar”, conclui.

“O setor de retalho de distribuição apresentou um positivo impacto dos aumentos de preços, mas analisando as margens das principais cadeias ou insígnias podemos observar alguns sinais de melhoria, embora modestos, sobretudo, nos últimos dois anos”, destaca João Queiroz. O head of trading do Banco Carregosa acrescenta que “este setor possui regulação e existem organismos independentes que monitorizam correta e continuamente como os aumentos dos custos e encargos são refletidos no consumidor final”.

Olhando para 2024, a evolução dos preços espera-se contrária à registada em 2023. “A pressão na margem bruta dever-se-á manter devido à concorrência intensa e agravada pela pressão nos custos operacionais, nomeadamente pessoal a subir nos 5%“, antecipa António Seladas. Para o analista, “sendo que os preços deverão ter ruma evolução flat ou deflação. A única variável que poderá compensar são os volumes a crescer; no entanto, como os retalhistas estão conscientes desse aspeto, deverão fazer fortes campanhas para atrair volume, pressionando a margem bruta”.

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Peso da remuneração variável dos administradores da Sonae sobe até 76%

  • ECO
  • 4 Abril 2024

Acionistas da Sonae votam proposta para reforçar “alinhamento e compromisso” dos administradores executivos com “os interesses de médio e longo prazo da sociedade e com a sua estratégia empresarial”.

A Sonae vai propor na assembleia geral de acionistas agendada para 30 de abril alterações à política de remunerações dos administradores executivos que elevam para 76% o peso máximo da remuneração variável, de acordo com os documentos enviados à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A comissão de vencimentos fala em “fortalecer a competitividade” e reforçar o “alinhamento e compromisso” dos administradores executivos com “os interesses de médio e longo prazo da sociedade e com a sua estratégia empresarial, reforçando e premiando a sua contribuição, individual e coletiva, para o sucesso da sociedade”.

A revisão proposta pela comissão de vencimentos composta por Artur Santos Silva, José Côrte-Real e Ramon O’Callaghan consiste nas seguintes alterações à política de remuneração atualmente em vigor e que tinha sido aprovada na última reunião magna anual:

  • Introdução de um novo Key Performance Indicator (KPI) coletivo – o KPI de Transformação – com um peso relativo de 20% no conjunto dos KPI’s Coletivos, e consequente revisão do peso relativo dos KPIs Económicos, que passará de 80% para 60%;
  • Aumento do objetivo pré-definido aplicável à remuneração variável, que passará a oscilar entre 35% e 65% da remuneração total;
  • Alteração do montante máximo de remuneração variável que poderá ser auferida por cada administrador executivo dependendo do atingimento dos objetivos pré-definidos, podendo atingir um máximo de 76% da remuneração total;
João Dolores (CFO), Cláudia Azevedo (CEO) e João Günther Amaral (CDO) durante a apresentação de resultados da Sonae.Ricardo Castelo 13 março, 2024

Entre as propostas em cima da mesa da assembleia geral anual da Sonae está a aprovação dos resultados individuais e consolidados do exercício de 2023, em que o grupo registou um lucro de 357 milhões de euros, 6,4% superior ao do ano anterior, assim como a distribuição de um dividendo de 5,6 cêntimos por ação.

Os acionistas serão ainda chamados a deliberar sobre a ratificação da cooptação de Maria Teresa Ballester Fornes para assumir as funções de administradora não executiva independente até ao termo do quadriénio 2023/2026, a apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade, a aquisição e alienação de ações e obrigações próprias até ao limite legal de 10% e a aquisição e/ou detenção de ações representativas do capital social da sociedade por sociedades dela dependentes.

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Sonae quer ter 45% das posições de liderança ocupadas por mulheres em 2026

Com 40% das atuais posições de liderança ocupadas por mulheres, Sonae quer reforçar participação feminina na gestão. Aponta para 45% em 2026, como parte da estratégia de diversidade e inclusão.

A Sonae quer ter 45% das suas posições de liderança ocupadas por mulheres em 2026, com vista a assegurar a igualdade de género. Em comparação, neste momento, cerca de 40% desses lugares são ocupados por elas.

“A Sonae está comprometida com a promoção da igualdade de género, tendo estabelecido o objetivo de 45% das posições de liderança serem ocupadas por mulheres em 2026. Este compromisso enquadra-se na estratégia de diversidade e inclusão”, informou o grupo esta terça-feira, numa nota enviada às redações.

Importa notar que essa estratégia já tem permitido alguns avanços, quanto à participação de mulheres na liderança da Sonae: entre 2019 e 2023, permitiu o reforçar o peso delas nessas posições de 34% para 40%.

“Na Sonae, estamos num processo constante de aprendizagem e adaptação, conscientes de que temos de melhorar. Foi com um claro sentido de propósito que definimos o compromisso de acelerar o equilíbrio de género nas funções de liderança. Por esse motivo, estabelecemos metas para alcançar essa diversidade, que é fundamental para promover a diversidade de pensamento, variedade de experiências e pontos de vista, impulsionar a inovação e conduzir a decisões mais ponderadas“, sublinha João Günther Amaral, administrador executivo da Sonae.

A Sonae integra, “numa posição de destaque”, o Bloomberg Gender-Equality Index, que reúne as cotadas de todo o mundo que mais contribuem para a promoção da igualdade de género.

Em comunicado, o grupo garante ainda que “promove ativamente uma cultura de meritocracia, onde a diferenciação do desempenho e o contributo das pessoas e equipas é sustentado em processos e ferramentas de avaliação e reconhecimento“.

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Sonae fecha OPA na Finlândia. Paga 700 milhões de euros por 80,65% da Musti

Consórcio liderado pela Sonae assegura a aquisição de 80,65% do capital da empresa nórdica de produtos para animais de estimação após o prolongamento da oferta.

Está concluída a oferta pública de aquisição (OPA) sobre o finlandesa Musti, com o consórcio liderado pela Sonae a assegurar 80,65% do capital da empresa nórdica de produtos para animais de estimação após o prolongamento da oferta. O investimento ronda os 700 milhões de euros e “representa uma das maiores operações da história” do grupo que detém o Continente.

“Estamos muitos satisfeitos com o sucesso da oferta. A aquisição da Musti está totalmente alinhada com a estratégia de crescimento da Sonae, dado que acelera a internacionalização do nosso portefólio para novos mercados através de empresas líderes em setores de elevado crescimento”, aponta Cláudia Azevedo.

No comunicado enviado à CMVM com os dados finais da operação, a presidente da Comissão Executiva da Sonae afirma que os novos donos estão “empenhados em alavancar a [sua] experiência em retalho e em trabalhar com a equipa de gestão da Musti, com os colaboradores, parceiros e restantes acionistas, para acelerar o crescimento da empresa e maximizar a proposta de valor para os seus clientes atuais e futuros”.

A aquisição da Musti está totalmente alinhada com a estratégia de crescimento da Sonae, dado que acelera a internacionalização do nosso portefólio para novos mercados através de empresas líderes em setores de elevado crescimento.

Cláudia Azevedo

CEO da Sonae

Esta segunda fase da operação permitiu à Sonae convencer mais acionistas a venderem os seus títulos na oferta, depois de ter terminado o prazo inicial da OPA com pouco mais de 42% das ações. Um resultado que levou o conglomerado sediado na Maia a deixar cair a condição de atingir 90% do capital da empresa de produtos para animais de estimação e a prolongar a oferta até ao dia 6 de março.

A OPA sobre a retalhista Musti foi anunciada pela Sonae a 29 de novembro do ano passado, propondo-se pagar 26 euros por cada ação da companhia nórdica. Uma contrapartida que avaliou a empresa cotada na bolsa de Helsínquia em 868 milhões de euros.

A Sonae lidera o consórcio com uma participação de 98%, estando o restante capital repartido entre Jeffrey David, presidente do Conselho de Administração da Musti, Johan Dettel, membro do conselho de administração da Musti, e David Rönnberg, CEO da Musti. A Flybird Holding Oy prevê concluir todos os trâmites da aquisição antes do final de março.

Com vendas de 426 milhões e o EBITDA a atingir 74 milhões no último ano fiscal, a Musti conta com uma rede de mais de 340 lojas na Finlândia, Suécia e Noruega e operações de comércio eletrónico especializadas em produtos de cuidado e alimentação para animais de estimação. O presidente da comissão executiva, David Rönnberg, que integrou o consórcio, assinala na mesma nota que os gestores envolvidos na operação estão “entusiasmados por unir forças com a Sonae para o próximo capítulo desta incrível história de sucesso”.

A Sonae financiou-se em 400 milhões de euros para comprar a finlandesa Musti, através da emissão de obrigações a quatro anos e meio. A operação de financiamento teve lugar a 27 de fevereiro e 1 de março, com o grupo nortenho a proceder à emissão de obrigações no valor de 275 milhões e 125 milhões de euros, respetivamente.

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Sonae “retalha” negócios e volta às compras lá fora. Para onde vai a dona do Continente?

Holding avançou com duas propostas de mil milhões em novas aquisições, reforçando a aposta em novas unidades de negócio. Analistas dizem que operações vão acelerar crescimento das receitas.

Depois de um período marcado por alguns desinvestimentos, a Sonae regressou em força às aquisições, com dois negócios avaliados acima de 1.000 milhões de euros em novas áreas de negócios. Uma estratégia que, dizem os especialistas consultados pelo ECO, vai permitir à empresa explorar novas fontes de receita e reforçar o crescimento da empresa.

À espera de concluir a compra da finlandesa Musti, a Sonae anunciou no arranque desta semana que está a negociar, através da sua subsidiária Sparkfood, a compra de 89% do capital da francesa Diorren, empresa detentora da BCF Life Sciences, por 152 milhões de euros. A BCF é uma empresa que “produz ingredientes para a indústria de nutrição através de um processo de produção inovador apoiado nos princípios da economia circular”.

“A BCF tem um percurso consistente de crescimento e rentabilidade, tendo terminado 2023 com um volume de negócios de cerca de 53,5 milhões de euros, e um EBITDA de cerca de 14,1 milhões de euros. Após a concretização da transação, a BCF continuará a ser gerida pela atual equipa de gestão, a qual também planeia reinvestir na Diorren e, em termos agregados, deterá uma participação minoritária de cerca de 11%”, adiantou a empresa da Maia em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

Esta aquisição, que espera que esteja concluída no primeiro semestre de 2024, vem juntar-se a uma outra operação que a companhia tem em curso: a oferta pública de aquisição lançada sobre a Musti. A oferta sobre a empresa nórdica especializada em produtos de cuidado e alimentação para animais de estimação avalia a companhia em 868 milhões de euros e marca a entrada da Sonae numa nova unidade de negócio. Somando os dois negócios, a empresa liderada por Cláudia Azevedo está a investir mais de mil milhões de euros para expandir os seus negócios e reforçar o crescimento de receitas.

O investimento previsto para a Musti, a que se junta o investimento anunciado na Diorren, é claramente um indicador que a Sonae vai investir forte numa nova área de negócio.

Pedro Barata

Gestor de ações nacionais da GNB

“Durante os últimos anos, a empresa teve uma postura mais vendedora, tendo ficado sempre a ideia que estaria em busca de uma nova área de negócio que permitisse à empresa crescer a um ritmo superior. Aparentemente, já o descobriu”, realça Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações, ao ECO. “O investimento previsto para a Musti, a que se junta o investimento anunciado na Diorren, é claramente um indicador que a Sonae vai investir forte numa nova área de negócio”, acrescenta.

António Seladas, analista de ações da AS Independent Research, ressalva que “a companhia tem alienado diversos ativos, arrumado a casa e agora tem duas operações a correr relevantes”. Particularmente a Musti, especialista em alimentação e cuidados para animais de estimação, com lojas próprias, baseada na Finlândia, com presença na Noruega e Suécia”.

O mesmo especialista nota que “é notória na Sonae a ambição de internacionalizar e ter um formato que possa expandir internacionalmente, particularmente em setores com perspetivas de crescimento acima da média. Julgo que é isso que esperam obter nas áreas de alimentação e cuidados para animais de estimação e na alimentação alternativa”, remata.

É notória na Sonae a ambição de internacionalizar e ter um formato que possa expandir internacionalmente, particularmente em setores com perspetivas de crescimento acima da média. Julgo que é isso que esperam obter nas áreas de alimentação e cuidados para animais de estimação e na alimentação alternativa.

António Seladas

Analista da ações da AS Independent Research

Dos seguros e da alimentação, ao retalho e às telecomunicações

Para o mesmo analista independente, que avalia a empresa com um preço-alvo de 1,60 euros e uma recomendação de comprar, “a determinada altura especulou-se sobre a Sonae se tornar essencialmente uma empresa de retalho alimentar”. “Mas não foi esse o caminho — e, eventualmente, essa opção nunca esteve em cima da mesa, talvez tenha sido só especulação externa”, com a empresa a vincar o seu estatuto de holding com operações em várias áreas de negócio.

João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, considera que “a diversificação de negócios efetuado pela Sonae em diversas áreas, que não constituíam o núcleo ou core, pode ser interpretada como uma estratégia para mitigar potenciais riscos e explorar novas oportunidades de um crescimento mais acelerado”. Para o mesmo especialista, “a diversificação pode oferecer à Sonae uma vantagem competitiva, alavancando o seu conhecimento e a sólida infraestrutura existente, para poder testar a entrada em novos negócios e segmentos de mercados”.

A diversificação pode oferecer à Sonae uma vantagem competitiva, alavancando o seu conhecimento e a sólida infraestrutura existente, para poder testar a entrada em novos negócios e segmentos de mercados.

João Queiroz

Head of trading do Banco Carregosa

As recentes alterações efetuadas no retalho especializado, como a alienação das clínicas Dr. Wells à Lusíadas (mantém as farmácias e parafarmácias) e a venda da participação na dona da SportZone à JD Sports, permitiram o “ajuste dos negócios, reduzindo a dependência a alguns segmentos de mercado e a geração de resultados em áreas que já tinha desenvolvido e atingido o estado de maturidade”, detalha João Queiroz. Ainda no ano passado, a Sonae vendeu 50% do Universo ao Bankinter, por 19 milhões de euros.

Henrique Tomé destaca que, tratando-se de um conglomerado, é um grupo de empresas que operam em vários ramos de atividade sob a alçada da mesma gestão”. O analista da XTB Portugal considera que “o facto de terem atividades diversas no seu portefólio pode diversificar a sua fonte de receitas e faz com que não estejam dependentes de apenas um setor ou geografia”.

“Por exemplo, neste momento a Sonae prepara-se para adquirir a Musti que é uma empresa finlandesa que opera no ramo de produtos de tratamento para animais (veterinária, produtos, seguros) de estimação na Finlândia, Suécia e Noruega. Esta aquisição deverá aumentar as receitas do grupo e melhorar as sinergias com a empresa do grupo ZU”, explica.

A Sonae tem atividade em vários setores de atividade, com um portefólio dividido por várias unidades/marcas do grupo. A Sonae MC controla o segmento de retalho alimentar, saúde e bem-estar. Já a Worten tem a parte eletrónica, enquanto a moda fica na Zeitreel e a alimentação na Sparkfood. O Universo é a marca de serviços financeiros do grupo e a Brightpixel faz gestão de investimentos. A Sonae conta ainda com negócios na área do imobiliário, controlados pela Sierra, e tem ainda uma posição na Nos.

A antiga Sonae IM, o braço de investimento em capital de risco do grupo, tem sido uma das mais ativas no reforço do portefólio. Só no primeiro semestre do ano passado somou seis novos investimentos, chegando a junho com mais de 40 empresas participadas. Na operação mais recente, anunciada já este ano, liderou a ronda de 27,4 milhões de euros da tecnológica israelita Vicarius.

Travão nas aquisições?

O anúncio da compra da empresa francesa, feito esta segunda-feira, acabou por surpreender o mercado, na medida em que surge apenas uma semana depois do CFO da empresa ter afastado a hipótese de avançar “nos próximos anos” com novas aquisições da mesma magnitude da OPA da Musti. Uma estratégia que, para os analistas, faz sentido.

A concretizarem-se estas duas aquisições, estou convencido que a empresa poderá fazer uma pausa nas aquisições, concentrando-se em dinamizar e fazer crescer os negócios comprados”, refere Pedro Barata. “Se se consumarem as propostas que estão a correr, particularmente a Musti, o ritmo de aquisições deve abrandar muito, mais que não seja porque a empresa ficará junto a alguns limites auto impostos”, concorda António Seladas. “Ainda assim, na Sparkfood, que é a nova sub-holding da Sonae para a ‘comida alternativa’, admito que se continue a fazer pequenas aquisições”, acrescenta.

Já João Queiroz refere que, “atendendo ao histórico de diversificação da Sonae e à sua estratégia de crescimento, através de inovação e da procura de expansão para novos mercados, é muito provável que a empresa continue a explorar e reforçar novas áreas de negócio”. É que, salienta, esta abordagem permite à Sonae “adaptar-se às mudanças de mercado e à captação de novas oportunidades, mantendo-se relevante e competitiva”.

Nos primeiros nove meses de 2023, em que viu os lucros caírem 36% para 135 milhões de euros, em termos homólogos, a Sonae superou os seis mil milhões de euros de faturação até setembro, o que representou um aumento de 10,4% face em igual período do ano passado. A companhia indicou que esta evolução foi “impulsionada principalmente pela MC, que consolidou a sua posição de liderança no mercado português de retalho alimentar”. No próximo dia 14 de março, a companhia apresenta os resultados globais de 2023.

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