Após “enorme aposta” nórdica, Sonae afasta grandes aquisições nos próximos anos

Prestes a concluir, “provavelmente, a maior aposta individual nos 60 anos da Sonae”, com a compra da finlandesa Musti, o CFO fecha a porta a futuras compras da mesma dimensão nos próximos anos.

A Sonae afasta a hipótese de avançar “nos próximos anos” com novas aquisições da mesma magnitude daquela que está prestes a concluir na Finlândia, na sequência da Oferta Pública de Aquisição (OPA) que lançou em novembro sobre a empresa de produtos para animais de estimação Musti, propondo-se pagar 26 euros por cada ação, o que avalia a cotada na bolsa de Helsínquia em 868 milhões de euros.

O administrador financeiro (CFO), João Dolores, disse à agência Bloomberg que esta operação é uma “enorme aposta” do grupo português, “provavelmente a maior aposta individual nos 60 anos da Sonae”. No entanto, contrapôs, a companhia liderada por Cláudia Azevedo “não [gosta] de ter níveis muito elevados de alavancagem” e irá manter uma abordagem “conservadora” em termos financeiros.

A aquisição na Finlândia, que já obteve “luz verde” de Bruxelas e a recomendação da administração para que os acionistas aceitem as condições propostas, está a ser realizada pela dona do Continente através da sociedade Flybird Holding Oy, em consórcio com Jeffrey David, presidente do conselho de administração da Musti, Johan Dettel, membro do conselho de administração, e o CEO David Rönnberg.

Nos próximos anos, sentimos que tem potencial para, pelo menos, duplicar a dimensão da Musti.

João Dolores

CFO da Sonae

Assim que estiver concluída a operação, previsivelmente ainda no primeiro trimestre de 2024, o grupo sediado na Maia conta ficar a controlar mais de 90% das ações e dos direitos de voto na Musti, que fatura 426 milhões de euros e detém 340 lojas na Finlândia, Suécia e Noruega. “Nos próximos anos, sentimos que tem potencial para, pelo menos, duplicar a dimensão”, aponta João Dolores.

Apresentação de resultados de 2022 da Sonae - 16MAR23
João Dolores, CFO da Sonae, durante a apresentação de resultados de 2022Ricardo Castelo/ECO

Na primeira comunicação ao mercado, a Sonae apontou o retalho de produtos para animais de estimação como um segmento em rápido crescimento, “beneficiando das fortes tendências de adoção e cuidados premium, do aumento dos gastos por animal e da resiliência inerente ao padrão de consumo não discricionário da sua alimentação”. Por outro lado, salientou que o consórcio pode beneficiar da “combinação da experiência da Sonae em retalho omnicanal, bem como dos seus recursos e alcance geográfico”.

Mesmo não antecipando novas aquisições desta dimensão, o CFO salientou que a Sonae tem atualmente capacidade para angariar fundos a “custos relativamente baixos”, o que confere a capacidade para analisar transações de “tamanho considerável”. Na mesma entrevista, apontou ainda que vê neste momento menos concorrência para este tipo de negócios, ao mesmo tempo que as avaliações estão a cair para ativos ligados a alguns “temas quentes”, como é o caso deste setor de atividade.

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Sonae lança OPA sobre retalhista nórdica com 340 lojas e vendas de 426 milhões

Oferta do grupo liderado por Cláudia Azevedo avalia a Musti em 868 milhões de euros. Empresa cotada em Helsínquia é especializada em produtos para animais de estimação na Finlândia, Suécia e Noruega.

A Sonae anunciou o lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre o Musti Group, líder no retalho de produtos e prestação de serviços para animais de estimação nos mercados da Finlândia, Suécia e Noruega, visando o grupo comandado por Cláudia Azevedo “reforçar a internacionalização e a diversificação do portefólio”.

Segundo a informação enviada esta quarta-feira à CMVM, a operação é realizada em conjunto com dois administradores e o CEO da Musti, avaliando o grupo nórdico em 868 milhões de euros. Visa a totalidade das ações “com o objetivo de adquirir o controlo da empresa” que faturou 426 milhões de euros no último ano fiscal, com o EBITDA a atingir 74 milhões.

A Sonae já detinha uma posição minoritária, adquirida nos últimos meses, nesta empresa cotada na bolsa de valores de Helsínquia, com uma capitalização bolsista de cerca de 683 milhões de euros. Na mesma nota, o grupo sediado na Maia destaca a “sólida proposta de valor omnicanal” da Musti, que tem uma rede de mais de 340 lojas, complementada por operações de comércio eletrónico especializadas em produtos de cuidado e alimentação para animais de estimação.

Consórcio oferece 26 euros por ação, prémio de 27,1%

A oferta do consórcio está a ser realizada através da Flybird Holding Oy, uma empresa constituída na Finlândia. A empresa portuguesa lidera através da sua subsidiária Sonae Holdings SGPS, em parceria com Jeffrey David, presidente do conselho de administração da Musti, Johan Dettel, membro do conselho de administração, e o CEO David Rönnberg. Gestores com “uma longa experiência e histórico comprovado de sucesso no setor do retalho de produtos para animais de estimação”, assinala o conglomerado português.

O preço da oferta é de 26 euros por ação, a liquidar em dinheiro, o que representa um prémio de 27,1% em comparação com o preço de fecho (20,46 euros) da ação da Musti na Nasdaq Helsínquia na última sessão; e de 40,4% face ao preço médio de negociação ponderado pelo volume nos últimos seis meses (18,51 euros).

A oferta valoriza o capital próprio total da Musti em cerca de 868 milhões de euros (excluindo 147.566 ações próprias detidas pela Musti), com a Sonae a detalhar no comunicado à CMVM que o conselho de administração da empresa, “representado por um quórum composto pelos membros do Conselho de Administração que não integram o consórcio, decidiu por unanimidade a recomendação aos acionistas da Musti da aceitação da oferta e venda das suas ações”.

O consórcio espera publicar o prospeto e os termos e condições a 15 de dezembro, estimando que o período da oferta se inicie três dias depois e expire a 12 de fevereiro de 2024 – “a menos que seja prorrogado pela oferente com vista a satisfazer as condições necessárias para a conclusão” do negócio. Que está dependente da aprovação por parte das autoridades regulatórias e da concorrência, assim como da obtenção do controlo de mais de 90% das ações e dos direitos de voto na Musti.

Segmento em “rápido crescimento” e 1,5 milhões de clientes “fidelizados”

Notando que o retalho de produtos para animais de estimação é um segmento em rápido crescimento, “beneficiando das fortes tendências de adoção e cuidados premium, do aumento dos gastos por animal e da resiliência inerente ao padrão de consumo não discricionário da sua alimentação”, o consórcio sublinha que pretende “iniciar a próxima fase de desenvolvimento” da empresa, reforçando a proposta de valor e dando “resposta às necessidades de um número crescente de tutores de animais de estimação”.

“Para tal, o consórcio beneficiará da combinação da experiência da Sonae em retalho omnicanal, bem como dos seus recursos e alcance geográfico, que permitiram o desenvolvimento bem-sucedido de insígnias de retalho líderes em diferentes mercados; e da experiência e conhecimento dos parceiros do consórcio no negócio de retalho de produtos para animais de estimação, juntamente com a forte equipa de gestão da Musti, assegurando a continuidade dos seus valores e cultura”.

Além disso, a dona do Continente e da Worten, que viu os lucros caírem 36% até setembro, para 135 milhões, destaca no mesmo comunicado a “proposta de valor única da Musti, suportada nas suas marcas próprias e exclusivas e nos serviços complementares, aliada a um amplo conhecimento do consumidor alavancado no seu programa de fidelização exclusivo com mais de 1,5 milhões de clientes ativos e recorrentes”.

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Sonae vende participação na dona da SportZone com mais-valia de 168 milhões de euros

Grupo liderado por Cláudia Azevedo conclui venda da participação de 30% na Iberian Sports Retail Group por 300 milhões de euros. Mais-valia será registada nos resultados do último trimestre do ano.

A Sonae anunciou esta quarta-feira a conclusão da venda à JD Sports da “totalidade da sua “participação de 30% menos 1 ação” detida na Iberian Sports Retail Group (ISRG), confirmando ter recebido um montante total de 300 milhões de euros, gerando uma mais-valia de 168 milhões de euros, a qual será registada nos seus resultados consolidados no quarto trimestre de 2023”.

“Esta operação não impacta o volume de negócios consolidado nem o EBITDA subjacente da Sonae, uma vez que a ISRG era consolidada através do método da equivalência patrimonial nas contas da Sonae. Nos 12 meses anteriores a 30 de junho de 2023, a contribuição da ISRG para o EBITDA consolidado da Sonae (pelo método da equivalência patrimonial) ascendeu a 19 milhões de euros”, acrescenta num comunicado enviado à CMVM.

Em julho, o grupo liderado por Cláudia Azevedo tinha anunciado a saída da aliança de moda desportiva da qual faz parte a Sport Zone, tendo estimado então uma mais-valia superior (175 milhões de euros). Os espanhóis da Balaiko também abandonam o capital da ISRG, que passa agora a ser controlada na totalidade pelos britânicos do grupo JD, que já detinham a maioria.

Anunciada em setembro de 2017 e iniciada em janeiro de 2018, a aliança ISRG contava com três acionistas: os britânicos do JD Group (donos das lojas JD), com 50%; a portuguesa Sonae (dona da Sport Zone), com 30%; e a família Segarra (espanhóis da Balaiko, donos da Sprinter), com os restantes 20%.

Os britânicos do JD Group anunciaram a compra da posição aos acionistas minoritários, avaliando a aliança em mil milhões de euros. No início de maio, o grupo JD anunciou que pretendia centrar-se nos negócios de retalho desportivo casual, levando a um pedido de clarificação de portugueses e espanhóis: ou vendiam a posição ou compravam as ações detidas pelo grupo britânico.

Sediada na Maia, a dona do Continente fechou o primeiro semestre com um lucro de 69 milhões de euros, menos 41,6% do que no mesmo período do ano anterior. O volume de negócios cresceu 12% para 3,83 mil milhões, mas a margem de rentabilidade caiu ligeiramente devido ao aumento dos custos.

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Sonae exporta iServices para a Europa e “repara” mais dez lojas em Portugal

Empresa de reparação de equipamentos, desde 2019 nas mãos da Worten, faturou 30 milhões em 2022. Com 45 lojas em Portugal e duas nas Canárias, vai abrir mais uma dezena no país e nove no estrangeiro.

Com um total de 45 lojas em Portugal e nas ilhas Canárias (Espanha), a iServices prepara-se para abrir mais dez novas lojas em território nacional e outras nove espalhadas por vários países europeus, adiantou ao ECO o presidente executivo da marca especializada na reparação de dispositivos móveis, que há pouco mais de três anos foi comprada pela retalhista de eletrónica Worten.

Em Portugal, Bruno Borges traça o objetivo de “chegar primeiramente a todos os distritos nos quais ainda não [tem] presença física e, gradualmente, vir a estar presente em todas as principais cidades do país”. No mercado internacional, o plano da empresa pertencente ao grupo Sonae passa por abrir as primeiras lojas nos países onde já tem o negócio online “bastante consolidado”.

“Atualmente, já exportamos os nossos produtos para diversos países europeus, nomeadamente Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Itália, através dos diferentes marketplaces onde estamos presentes através do nosso negócio online. Vamos continuar a avaliar as oportunidades noutros marketplaces e, desta forma, chegar cada vez mais a outros países europeus”, perspetiva o gestor.

Bruno Borges, CEO da iServices

Por outro lado, estando a iServices focada em expandir internacionalmente a marca através dos serviços de reparação de smartphones, tablets e computadores, Bruno Borges sublinha que “este tipo de serviço implica, necessariamente, a abertura de lojas físicas” – e vai começar pelos países nos quais já está presente através do negócio online.

Foi em maio do ano passado que a empresa fundada em 2011 abriu a primeira loja no estrangeiro, em Tenerife, tendo acrescentado em novembro outro espaço comercial na ilha vizinha de Gran Canária. O CEO justifica que o arquipélago, que “possui as mesmas características das economias insulares dos Açores e Madeira”, representa “uma oportunidade enorme para empresas com uma logística bastante organizada e com muita disponibilidade de stock”.

Temos a decorrer um processo de recrutamento de novos técnicos de eletrotécnica para várias localidades. Este ano esperamos criar entre 40 e 50 novos postos de trabalho.

Bruno Borges

CEO da iServices

A iServices conta atualmente com perto de 252 funcionários, esperando criar este ano entre 40 a 50 novos postos de trabalho. “Todas estas aberturas representam também a criação de novos postos de trabalho e, por isso, temos a decorrer um processo de recrutamento de novos técnicos de eletrotécnica para as várias localidades”, acrescenta o responsável da marca, sem pormenorizar as localizações ou o valor global do investimento.

Vendas de 30 milhões em 2022

A iService, que abriu nas últimas semanas lojas no LeiriaShopping, a segunda na cidade, e em Vila Real, no Nosso Shopping, tem três áreas de negócio, mas o core business e a “principal fonte de receita líquida” são os serviços de reparação de smartphones, tablets e computadores. Por mês, contabiliza cerca de 20 mil reparações em equipamentos multimarca, como destaque para Apple, Samsung, Huawei, Xiaomi, Oneplus e Oppo.

Nos últimos anos, a coleção de acessórios e gadgets de marca própria, com mais de 1.100 referências, tem vindo a “crescer a um ritmo muito acelerado” e representa já perto de 20% da faturação da empresa. Entretanto, começou também a comercializar equipamentos recondicionados da Apple (iPhones, iPads, Apple Watchs e Macbooks), depois de os consumidores portugueses terem ultrapassado “uma certa desconfiança” em relação a estes aparelhos, que associa a “preconceitos com os produtos em segunda mão, em geral”.

A iServices alcançou um volume de faturação de 30 milhões de euros em 2022, com o negócio online a valer cerca de 20% do total.

“No entanto, fruto das muitas alterações que têm sido promovidas nos hábitos de consumo e da atual consciencialização dos consumidores para a necessidade de adoção de comportamentos mais sustentáveis, podemos verificar que o negócio dos recondicionados está a ganhar bastante espaço no mercado e este aspeto é verificável também no negócio da iServices. Esta área de negócio é a que, atualmente, mais cresce no panorama geral do nosso setor”, sublinha Bruno Borges.

No ano passado, apesar das “adversidades inerentes à conjuntura nacional e internacional”, a iServices alcançou um volume de faturação de 30 milhões de euros, com o negócio online a representar cerca de 20% do total. O CEO justifica o crescimento de vendas “superior a dois dígitos” nos últimos exercícios com a procura dos clientes por “marcas nas quais sentem maior confiança” e pela “proximidade” viabilizada pelas duas dezenas de lojas que inaugurou entre 2021 e 2022.

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Lucros da Sonae caíram 38,3% nos primeiros três meses do ano

Num período marcado pelo aumento do preço dos alimentos, o grupo que detém o Continente registou lucros de 26 milhões de euros e faturou 1,9 mil milhões de euros. Margem EBITDA desce ligeiramente.

A Sonae reportou um resultado líquido atribuível aos acionistas de 26 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, uma diminuição de 38,3% que justifica com o “esforço para apoiar as famílias, a pressão inflacionista, o aumento dos custos de financiamento e fiscais, imparidades de ativos e por depreciações mais elevadas na sequência do investimento na expansão e digitalização dos negócios”. Nos primeiros três meses de 2022, que coincidiram com o início da guerra na Ucrânia, o grupo liderado por Cláudia Azevedo tinha lucrado 42 milhões de euros.

Entre janeiro e março, o volume de negócios consolidado atingiu 1,9 mil milhões de euros, o que significou um crescimento de 12% que diz ter sido suportado pelos ganhos de quota de mercado e pelos investimentos na expansão dos negócios. Impactada pelos “esforços contínuos para apoiar as famílias e absorver a pressão inflacionista, sobretudo nos formatos de retalho alimentar” – e apesar da redução dos custos de energia –, a margem EBITDA subjacente diminuiu 9 pontos base em termos homólogos, para 7,3%.

“Continuámos a trabalhar arduamente para mitigar os impactos desta situação nas nossas comunidades, absorvendo uma parte significativa da inflação nos preços que oferecemos aos nossos clientes. Neste contexto desafiante, os nossos negócios de retalho mantiveram-se focados em garantir uma oferta de qualidade aos preços mais baixos, com um foco redobrado na sua eficiência operacional”, destaca Cláudia Azevedo, em comunicado enviado à CMVM.

Continuámos a trabalhar arduamente para mitigar os impactos desta situação nas nossas comunidades, absorvendo uma parte significativa da inflação nos preços que oferecemos aos nossos clientes.

Cláudia Azevedo

CEO da Sonae

Num trimestre em que passou a deter a totalidade do capital social da Sierra – comprou a restante participação de 10% por 89 milhões de euros –, em que realizou três novas aquisições de participações minoritárias na área tecnológica através da BrightPixel, e em que assinou uma parceria com o Bankinter para criar um operador líder no crédito ao consumo em Portugal, o EBITDA cresceu 9%, para 161 milhões de euros. Apesar de a margem ter sido impactada, “com a redução dos custos de energia a não ser suficiente para compensar os investimentos de preço nas operações de retalho”.

 

Cláudia Azevedo contabiliza que o desempenho operacional do grupo, juntamente com a atividade de gestão de portefólio, conduziu a um free cash flow de 181 milhões de euros nos últimos 12 meses, implicando uma ligeira redução da dívida líquida em termos homólogos, para 922 milhões de euros. Já em abril, os acionistas aprovaram o pagamento de um dividendo de 5,37 cêntimos por ação, uma subida de 5% em termos homólogos, “em linha com a política de dividendos” da Sonae.

Por outro lado, o conglomerado sediado na Maia reforçou neste período a participação na Sonaecom no seguimento da OPA que acabou por ser chumbada, detendo atualmente 88,837% do capital social e 90,456% dos direitos de voto da empresa. Entre janeiro e março, a empresa de tecnologias, telecomunicações e media do grupo encolheu os lucros em 75%, para 5,2 milhões de euros.

Retalho alimentar, de eletrónica e shoppings fortalecem resultados

No retalho alimentar, a MC (dona do Continente) disparou as vendas em 13,5% nos primeiros três meses do ano, para um volume de negócios de 1,5 mil milhões de euros. Em termos de rentabilidade, no entanto, a margem foi “impactada pela absorção parcial pela MC da pressão inflacionista, pelo efeito de mix e agravamento dos movimentos de trading down, e por aumentos de custos operacionais essencialmente devido à inflação”.

No entanto, sustenta o grupo nortenho que o desempenho do volume de negócios, o resultado das ações de melhoria de eficiência e a redução, em termos homólogos, dos custos de energia (devido a menores preços e aumentos de eficiência), permitiram que a MC atingisse uma margem estável de 8,4%, com um EBITDA subjacente de 124 milhões de euros no primeiro trimestre.

No retalho de eletrónica, a Worten ganhou quota de mercado e cresce 9%, com o online a pesar 15% das vendas totais de 284 milhões de euros. A Zeitreel (retalho de moda) manteve vendas de 96 milhões de euros neste período e no retalho de desporto, a ISRG viu as receitas subiram 24%. A Bright Pixel investiu 14 milhões em empresas de tecnologia, o Universo (serviços financeiros) aumentou a produção em 6%, enquanto a Nos aumentou o contributo para os resultados da Sonae em 3,1 milhões, com reforço de posição nas telecomunicações.

Na Sierra, as vendas dos lojistas dos centros comerciais ultrapassaram os níveis pré-pandemia, “demonstrando a resiliência e elevada qualidade dos seus ativos”. Na gestão de investimentos, concluiu a aquisição de sete supermercados e está a trabalhar em novos veículos de investimento. Na promoção imobiliária está a avançar a construção de um edifício prime de uso misto e da terceira torre de escritórios no Colombo. Face ao desempenho operacional positivo, os lucros da Sierra melhoraram 58%, para 16 milhões no final do primeiro trimestre.

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Sonae “liberta” três áreas de negócio da esfera do Continente

Processo de cisão-fusão, que envolve património de 23,3 milhões de euros, reestrutura negócios do grupo para focar MC no retalho alimentar e reforçar especialização na papelaria, pet care e marketing.

A Sonae decidiu avançar com um processo de cisão-fusão, envolvendo quatro empresas do grupo retalhista, para autonomizar as unidades de negócio ligadas aos setores da papelaria, do cuidado animal (PetCare) e do marketing. Vão ser retiradas da esfera da Modelo Continente estes “ramos de atividade que não se apresentam como sendo, atualmente e no futuro, o foco da sua atividade comercial”.

Na prática, esta operação envolve a cisão de parte do património da sociedade Modelo Continente Hipermercados SA – num total de 24,32 milhões de euros em termos líquidos, de acordo com o projeto consultado pelo ECO – e a sua fusão em três empresas (Mundo Note – Papelaria, Livraria e Serviços, SA; ZU, Produtos e Serviços para Animais SA; e Mcmkt Brands, Lda.).

No projeto de cisão-fusão, depositado junto dos serviços de Registo Comercial, o grupo justifica que esta reestruturação vai permitir à Modelo Continente “focalizar” a atividade essencialmente no comércio retalhista geral, de predominância alimentar (hipermercados e supermercados), deixando assim de exercer “algumas atividades de cariz mais residual” e que não se apresentam como “core” do seu negócio.

Por esta via, lê-se no documento, com data de 14 de abril, “potencia-se a centralização de recursos materiais, humanos e financeiros, o que por certo conduzirá a um aumento da sua performance e crescimento, permitindo-se igualmente uma redução de custos e a eliminação de eventuais redundâncias nas estruturas existentes, melhorando-se a eficiência operacional e aumentando-se igualmente a eficácia da relação com os seus fornecedores e/ou prestadores de serviços, pela identificação inequívoca das entidades com as quais interagem”.

Contactada pelo ECO, fonte oficial da empresa retalhista sublinhou que este processo societário “permitirá o destaque de determinados negócios” de uma das sociedades para outras do mesmo grupo, visando a “reestruturação de negócios, com vista à sua especialização e melhor performance de cada um” deles. É o caso daquelas em que opera com as marcas Note! (papelaria) e ZU (PetCare), e também da prestação de serviços de gestão de marcas, publicidade e marketing.

Trata-se de um processo societário de cisão-fusão, que permitirá o destaque de determinados negócios de uma das sociedades do Grupo MC para outras sociedades desse mesmo grupo, com objetivo de reestruturação de negócios, com vista à sua especialização e melhor performance de cada um dos negócios.

Fonte oficial da Sonae MC

As quatro sociedades intervenientes nesta cisão-fusão são detidas, direta ou indiretamente, pela holding MCretail, pelo que “não foi definida qualquer relação especial de troca”. O formato jurídico adotado, defende o grupo nortenho, “é aquele que apresenta maior eficiência e neutralidade, salvaguardando o benefício equitativo de todos os acionistas e os direitos de credores e de quaisquer terceiros titulares de direitos sobre as sociedades intervenientes”.

“As sociedades incorporantes são responsáveis, na medida do património incorporado, pelas dívidas da sociedade cindida, anteriores a 1 de janeiro de 2023 e até à inscrição da cisão-fusão no registo comercial e, ainda, as sociedades incorporantes respondem solidariamente com a sociedade cindida, pelas dívidas que por força da cisão, Ihe tenham sido transmitidas”, esclarece ainda o grupo retalhista liderado por Cláudia Azevedo.

Note! foca 83 lojas no “eixo escolar”

Foi em 2007, englobada na MC e ainda com a designação de BooklT, que a Sonae lançou uma cadeia de lojas especializada em produtos de papelaria, livros, presentes e serviços de conveniência. Com o rebranding operado em 2014, assume a marca Note! e uma identidade própria, orientando nessa altura a aposta para um cliente complementar ao dos hipermercados Continente.

Conta atualmente com 83 lojas físicas, uma loja online e uma estrutura central que assegura as atividades de planeamento comercial, operações de loja, marketing e comunicação, desenvolvimento de negócio, digital e expansão de lojas, que passam agora para a nova sociedade. Promete “uma reorganização interna dos recursos e focar-se estrategicamente no eixo escolar”, entrando com esta mudança em “segmentos e marcas mais direcionados, que não atuam no mercado da grande distribuição” e a iniciativas que exigem ter o comércio a retalho de livros e papelaria como atividade económica principal.

Com esta autonomização do negócio da Note!, que “permitirá em termos operacionais uma maior eficiência do processo comercial, o aproveitamento de sinergias negociais com fornecedores e maior visibilidade e transparência”, o capital social da sociedade que incorpora este negócio é aumentado em 671.530 euros, passando para 721.530 euros, com a emissão de 134.306 novas ações e a assunção de uma reserva de cisão-fusão, no montante de quase 13 milhões de euros.

Com 44 espaços, ZU “foge” aos hipermercados

No caso da ZU, a insígnia de retalho especializado que opera no setor de PetCare, o “crescimento sustentado” das vendas e a “crescente diferenciação” dos seus produtos e serviços, face à oferta disponibilizada nos supermercados e hipermercados Continente, são as explicações apresentadas para a autonomização deste ramo de negócio numa outra entidade jurídica, com gestão e recursos autónomos.

O primeiro espaço foi inaugurado em 2014 e tem atualmente um total de 44 lojas espalhadas pelo território português. E no âmbito desta mudança para “aproveitar sinergias de organização, de gestão e de expansão”, assim como permitir “promover a excelência do serviço prestado ao cliente final”, será aumentado o capital social da incorporante para 234,4 mil euros, assumindo uma reserva de cisão-fusão num valor superior a 3,5 milhões de euros.

Nos três casos envolvidos nesta operação da Sonae, as ações e a quota representativas do aumento de capital das sociedades incorporantes serão entregues à acionista da Modelo Continente, após o registo definitivo da operação, concedendo-lhe o “direito a participar” nos lucros do exercício de 2023 e nos anos seguintes, esclarece a empresa no projeto de fusão-cisão.

Brand marketing e retail media em concorrência

Na área da publicidade, gestão e promoção das marcas, a Modelo Continente, que nos últimos anos tem apostado na criação de diversas marcas – incluindo algumas próprias na distribuição alimentar –, desenvolveu uma estrutura larga de meios humanos e materiais, além de uma rede de parceiros, com estas equipas dedicadas ao brand marketing e ao retail media a moverem recursos e a envolverem-se em estratégias de comunicação “cada vez mais complexas e completas, prestando um serviço integrado ao seu cliente interno”.

No caso do retail media, por exemplo, inclui a comercialização de espaço publicitário em canais digitais e canais offline, utilizando dados agregados e anonimizados de consumo e de navegação, para personalizar e medir esta comunicação e a intermediação da compra de espaço publicitário em nome dos fornecedores, parceiros ou anunciantes. No caso desta unidade de negócio, a nova detentora assume uma reserva de cisão-fusão de quase 6,7 milhões de euros, aumentando o capital em cerca de 346 mil euros.

“A atividade destas equipas compete diretamente com os serviços normalmente prestados por outros operadores no mercado nacional e internacional ao nível da gestão das funções de marketing e publicidade, quer na perspetiva mais criativa e institucional, quer na vertente mais operacional e de aquisição, gestão e comercialização de espaços e meios publicitários”, sustenta a empresa na peça jurídica em que é detalhado este projeto de fusão-cisão.

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Sonae “veste” fábrica da Salsa com investimento de sete milhões de euros

A marca de vestuário detida pela Sonae, que emprega 1.200 pessoas e fatura 200 milhões de euros, vai modernizar a fábrica de Famalicão onde produz atualmente perto de um milhão de calças por ano.

Detida a 100% pelo grupo Sonae, que em 2016 começou por comprar metade da participação à família Vila Nova e há precisamente três anos adquiriu a restante à outra acionista (Wonder Investments), a Salsa Jeans prepara-se para investir sete milhões de euros na fábrica de Ribeirão, no concelho de Vila Nova de Famalicão, onde a empresa de vestuário nasceu em 1987.

Além da substituição de todas as máquinas num período de dois anos e da reformulação da área da investigação e desenvolvimento (I&D), o projeto de investimento da marca liderada por Hugo Martins prevê a instalação de soluções para aumentar a eficiência energética – como painéis fotovoltaicos na unidade industrial – e o aumento da capacidade produtiva, que ronda atualmente um milhão de calças por ano.

Especializado em denim, este negócio controlado pelo grupo de Cláudia Azevedo emprega atualmente 1.200 pessoas e registou no ano passado um volume de vendas de cerca de 200 milhões de euros – perto de 70% foram feitas nos mercados internacionais, num total de 44 países –, quase igualando desta forma a performance registada antes da pandemia de Covid-19. Sete em cada dez pares de calças da Salsa Jeans são vestidos por mulheres.

Diretor executivo da Salsa, Hugo Martins.DR

Entre Portugal (59), Espanha (26) e França (12), explora quase uma centena de lojas próprias. Além do reforço da presença no país vizinho, onde tem presença em 68 armazéns do El Corte Inglés e se prepara para inaugurar um formato de flagship store (no Passeig de Gràcia, em Barcelona) semelhante ao que funciona na Rua Augusta (Lisboa) e no Arrábida Shopping (Gaia), prevê abrir este ano mais duas ou três em território francês, e as primeiras quatro lojas próprias na Irlanda. Países Baixos, Itália e Bélgica estão também no radar.

Incorporada na Zeitreel, a unidade de negócio da Sonae para a moda que integra também com a Mo, Zippy e Losan, a Salsa tem ainda cerca de 30 lojas em regime de franchising em Malta, Eslovénia, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Líbano, Kuwait, Bahrain e Angola. Em junho de 2022, Hugo Martins disse ao ECO que “o próximo objetivo é que França venha a ser o maior mercado”, algo que “gostaria que acontecesse em dois ou três anos”. Neste país, em que já vende quase tanto como na Península Ibérica, está presente em 600 pontos de venda multimarca e tem um site “com vendas semelhantes às de Portugal e de Espanha”.

Os planos de expansão comercial e o processo industrial da empresa têxtil, que começa no desenvolvimento do produto e das coleções, e se estende até à lavagem e acabamentos, vão ser detalhados esta quinta-feira durante uma visita do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Mário Passos, à unidade de Ribeirão, no âmbito do roteiro Famalicão Created IN.

Calças para o “infinito”

Com o setor da moda cada vez mais preocupado em reduzir a pegada ambiental, a Salsa arrancou em meados do ano passado com um serviço de reparação para prolongar a vida dos produtos. Qualquer consumidor pode deslocar-se às lojas próprias da marca para perceber se pode dar uma nova vida ao par de calças de ganga, casacos e vestidos da marca do grupo Sonae. Os serviços custam entre cinco e 20 euros e a avaliação é feita pela marca depois do aconselhamento dos funcionários da loja.

Reparação de calças de ganga no atelier da Salsa, em Vila Nova de Famalicão.DR

Se forem para arranjo, as calças são enviadas para o atelier da marca, em Vila Nova de Famalicão. Se o cliente não quiser fazer nada, a empresa “assume a responsabilidade pelo fim do produto e dá-lhe o melhor fim possível: tentar repará-lo e ver quem pode ficar com ele; tentar pegar nele e colaborar com alguém para dar-lhe uma nova vida; ou se nada mais puder ser feito, [trata] da sua reciclagem”, como detalhou Hugo Martins.

O projeto Infinity “não é uma oportunidade de negócio, mas sim para mudar as mentalidades sobre o que significa ter uma peça que ainda pode ser aproveitada”. É por isso, para “evitar o fomento do consumo”, como explicou o gestor, que não será dado um voucher de desconto numa segunda peça para quem entregar as peças antigas, “porque isso derrotaria o princípio do programa”.

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CMVM regista OPA “geral e voluntária” sobre a Sonaecom. Operação dura até 14 de abril

  • ECO
  • 14 Março 2023

Holding liderada por Cláudia Azevedo vai comprar “todas as ações relativamente às quais os seus titulares transmitam ordem de venda, mesmo que não venha a adquirir aquela percentagem”.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deliberou esta terça-feira, em reunião do conselho de administração, registar a oferta pública “geral e voluntária” de aquisição de 35.228.749 ações da Sonaecom, anunciada pela holding a 21 de dezembro, “o que implica a aprovação do respetivo prospeto”.

Segundo o prospeto da operação, entretanto divulgado, a operação vai arrancar a 15 de março e termina às 15h do dia 14 de abril. Cláudia Azevedo pretende retirar de bolsa a terceira empresa do grupo em três anos e, para isso, a Sonae compromete-se a pagar 2,5 euros por ação da Sonaecom.

A CMVM esclarece que, “sendo intenção da Sonae recorrer ao mecanismo de aquisição potestativa”, caso atinja 90% dos direitos de voto correspondentes ao capital social da Sonaecom, a Sonae poderá, após a oferta, recorrer ao mecanismo de aquisição potestativa ao preço da oferta (2,50 euros), desde que até à data não adquira ações a preço superior.

“O cálculo do limiar de 90% dos direitos de voto representativos do capital social deve atender à totalidade das ações da Sonaecom, incluindo as 5.571.014 ações próprias, que aquela se comprometeu a não vender no contexto da oferta. O limiar será atingido caso a Sonae adquira, pelo menos, 4.094.746 ações correspondentes a 1,315% do capital social”, acrescenta o regulador.

No anúncio preliminar da OPA, a Sonae tinha definido como condição de eficácia da oferta a aquisição do número de ações que lhe permitisse vir a exercer aquele direito. No entanto, o grupo sediado na Maia renunciou, entretanto, a essa condição, o que significa que irá adquirir “todas as ações relativamente às quais os seus titulares transmitam ordem de venda, mesmo que não venha a adquirir aquela percentagem”.

Em comunicado, a CMVM conclui que a Sonaecom, que em 2022 registou um lucro consolidado de 143 milhões de euros em 2022, mais 19% do que em 2021, será notificada para atualizar o relatório sobre a oportunidade e condições da oferta preparada pelo seu conselho de administração e divulgado ao mercado no dia 4 de janeiro de 2023.

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Mercadona ultrapassa Minipreço. Lidl reforça pódio dos supermercados

Com dez vezes menos lojas em Portugal, Mercadona supera Minipreço e prepara-se para tirar Auchan do top 5 do retalho alimentar. Pingo Doce acerca-se do Continente, mas é o Lidl que mais ganha em 2022.

A Mercadona já vende mais do que o Minipreço em Portugal. A líder de mercado em Espanha, que abriu o primeiro supermercado deste lado da fronteira em julho de 2019, ultrapassou no último trimestre de 2022 a cadeia detida pelo também espanhol grupo Dia, que tem dez vezes mais lojas no mercado português do que a concorrente, posicionando-se como o sexto maior operador no mercado português, que continua a ser liderado pelo Continente.

Esta é a principal novidade relativa às quotas de mercado das diferentes retalhistas nos produtos de grande consumo (FMCG na sigla inglesa), a que o ECO teve acesso. Na reta final de um ano em que inaugurou mais uma dezena de lojas, passando a ter um total de 39 no território nacional, a Mercadona chegou aos 3,8%. Também o alemão Aldi (2,7%) superou o Minipreço (2,2%) nos últimos três meses do ano, mas a oscilação de quota tem sido mais volátil.

“A Mercadona tem vindo a consolidar a sua posição e acaba por ser o momento em que ultrapassa o Minipreço. Tem uma dinâmica dentro da loja e ao nível também da sua marca da distribuição e da oferta de marcas de fabricante diferente à que o Minipreço tem hoje em dia. Isso acaba por trazer toda uma experiência de compra diferente e também uma oferta de preço e sortido para o comprador que é muito mais completa”, destaca a diretora comercial da Kantar. Nos últimos dois anos, 15,5% dos lares portugueses já fizeram compras na Mercadona.

Já o Minipreço, contrapõe Marta Santos, está “numa perspetiva completamente distinta”. Mesmo sem a concorrência do grupo de Valência, que apresenta contas anuais esta terça-feira, “estaria certamente a ser afetado na sua quota de mercado”. “Pelo facto de não se atualizar, de não se aproximar do consumidor, de nos últimos anos ter perdido alguma qualidade na experiência de compra e de ao nível promocional também não ser tão atrativa quanto os principais players, como o Continente ou o Pingo Doce. Mesmo no sortido não tem tantas marcas de fabricante, como outras insígnias, e a sua marca própria não tem a perspetiva de qualidade por parte do comprador que têm as do Lidl ou do Aldi. Tudo isso acaba por influenciar”, resume.

Nas últimas semanas voltaram a surgir na imprensa espanhola rumores de que o grupo Dia estará a ponderar sair do mercado português, vendendo a cadeia de supermercados Minipreço, que em 2022 registou vendas líquidas de 596 milhões de euros, um ligeiro crescimento de 0,5% em relação ao ano anterior, com uma redução de 7% na rede de lojas. A porta-voz da Kantar frisa que, além de não estar com o mesmo ímpeto ao nível da comunicação e das promoções, “tem havido algum desinvestimento na própria loja e isso acaba por ser visível para o consumidor, mesmo que não esteja muito informado” sobre essas notícias.

Não surpreenderá a progressiva aproximação da Mercadona ao último lugar do top 5 do retalho alimentar em Portugal, nesta altura ocupado pela Auchan, sendo que a evolução das respetivas quotas de mercado faz prever a intersecção das mesmas daqui a poucos trimestres.

Pedro Pimentel

Diretor-geral da Centromarca

“A evolução da presença no mercado das duas cadeias e dos restantes players fazia antecipar essa ultrapassagem, a qual, apesar de tudo, terá ocorrido de uma forma mais rápida do que se esperaria. Se do lado do Minipreço se assiste, desde há muitos anos, a um definhamento comercial, com uma perda progressiva e consistente de quota de mercado, [vemos] desde 2019 um crescimento orgânico muito forte da Mercadona. (…) Assistimos ao desenho de duas curvas de sentidos opostos que se terão cruzado no último trimestre do ano passado e que, na ausência de uma inflexão muito significativa de estratégia da parte do Dia/Minipreço, se tenderão a afastar cada vez mais”, corrobora Pedro Pimentel.

O diretor-geral da Centromarca arrisca que “não surpreenderá a progressiva aproximação da Mercadona ao último lugar do top 5 do retalho alimentar em Portugal, nesta altura ocupado pela Auchan [4,5%], sendo que a evolução das respetivas quotas de mercado faz prever a intersecção das mesmas daqui a poucos trimestres”. A responsável comercial da Kantar é mais cautelosa. Argumenta que, depois da experimentada a novidade, “o passo seguinte é perceber se existe a fidelização à insígnia” – e os dados mostram que até tem um ticket acima da média nas restantes insígnias, mas uma menor frequência – e de tirar aos portugueses o “vício das promoções”, que não faz parte da política comercial da marca.

Lidl consolida terceiro lugar

No topo da lista mantêm-se os dois maiores grupos portugueses de distribuição alimentar, que em 2022 ficaram um pouco mais próximos, de acordo com o ranking elaborado pela Kantar. No total do ano de 2022, a Sonae liderou com 26,9% (vs. 28,3% em 2021), enquanto a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, subiu de 21,6% para 22,4% no mesmo período. Mas o “retalhista ganhador” no ano passado, como é classificado por esta consultora de mercado, foi o Lidl, que “tem vindo a conquistar espaço com o seu selo de qualidade-preço junto dos portugueses”.

“O Lidl tem conseguido fazer este percurso com uma estratégia entre o que é a marca própria, o ajuste produtivo das marcas de fabricantes dentro da loja e algumas promoções, mas também com muita aposta nos frescos, nos biológicos, nos orgânicos. Isto tem vindo a resultar bem, fazendo já parte dos locais de compra de 80% dos lares portugueses desde 2019”, indica Marta Santos.

Marta Santos, diretora comercial da Kantar

Parte desses ganhos terão vindo da Sonae, que em resposta ao Governo se queixou de uma “campanha de desinformação” nos preços? “Não é descabido pensar dessa forma porque vemos cada vez mais a Sonae a trabalhar o seu mix de marca própria e a dar prioridade às marcas próprias em algumas categorias, em detrimento das marcas de fabricante. Tem a consciência de que o Lidl é cada vez um concorrente de respeito e tenta adaptar-se ao que o comprador está à procura fora da Sonae, tentando adaptar o que tem dentro de casa”, responde a especialista.

Minimercados não aguentam ganhos da pandemia

Os dados compilados por esta consultora internacional mostram, por outro lado, que os oito maiores retalhistas saíram reforçados em 2022, com o peso dos restantes a baixar de 17,4% para 16,8%. Entre eles estão os minimercados e as lojas independentes de proximidade, que na altura da pandemia até conseguiram ganhar algum terreno, mas que não conseguiram reter as famílias portuguesas após o levantamento das restrições.

“O regresso a uma mobilidade quase normalizada, a perda do medo de visitar espaços de maior dimensão e mais frequentados, o sortido mais afinado com as suas necessidades, horários facilitadores de compras para quem trabalha, e preços e estratégias promocionais mais competitivas, foram tudo fatores que motivaram o consumidor a regressar à rotina de compra anterior ao período de pandemia. E daí voltarmos a assistir à erosão de quota do comércio tradicional, que se vinha observando há décadas”, aponta Pedro Pimentel.

Além das insígnias de comércio organizado, como a Coviran, Spar ou a rede Aqui É Fresco, esse espaço da proximidade tem vindo a ser ocupado pela moderna distribuição, através de insígnias como a Meu Super (Sonae), Amanhecer (Jerónimo Martins) ou MyAuchan. Essa inserção dos grandes grupos na malha urbana e nas zonas residenciais, tal como a presença de supermercados de dimensão relevante em 298 dos 308 concelhos do país, contabiliza o líder da Centromarca, “deixa – por questões de sortido, de conveniência ou de vantagem competitiva a nível de preços – cada vez menos espaço para as lojas mais tradicionais”.

Outra tendência acelerada pela pandemia foi o aumento das compras online, com o ritmo de crescimento a abrandar depois dos confinamentos, apesar de as operadoras terem mantido os investimentos nesta área, decididos durante a Covid-19. A quota em valor do canal online no fecho de 2022 foi de 2,5%, ficando ligeiramente acima do nível pré-pandemia (2,2% em 2019), mas já longe do máximo de 3,2% no comércio eletrónico que tinham alcançado em 2021. No que toca ao “cesto digital”, descreve a diretora comercial da Kantar, subsiste a “maior resistência” à compra de produtos frescos e de congelados através da internet, e a preferência pela entrega em casa de artigos mais pesados.

De acordo com os dados fornecidos ao ECO pela Marktest, somando a grande distribuição alimentar à especializada – incluindo assim a IKEA, a Worten, a Staples ou a Decathlon, num conjunto de 34 insígnias –, o número de lojas no ano passado totalizou 4.205. A diferença face ao ano anterior é ligeira (-0,8%), mas ganha relevo por ter sido a primeira descida – pressionada sobretudo pelos encerramentos do Minipreço – no número global deste tipo de espaços comerciais desde, pelo menos, 2009, quando a empresa de estudos de mercado iniciou esta contagem sobre as áreas dedicadas ao retalho em Portugal.

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Quem está a ganhar com a subida dos preços?

Nem os distribuidores alimentares nem as empresas de energia aumentaram as margens de lucro. O impacto maior sobre a subida dos preços dos bens alimentares é causado pela elevada carga fiscal.

Desde outubro que a taxa de inflação em Portugal tem vindo a corrigir. Desde então, passou de uma taxa homóloga de 10,29% (valor mais elevado desde maio de 1992) para 8,25% em fevereiro. Porém, o abrandamento da subida dos preços da generalidade dos produtos não tem sido acompanhado pelos preços dos bens alimentares.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação dos produtos alimentares não transformados voltou a subir em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, fixando-se em 20,09% em fevereiro. É o valor mais elevado em 38 anos. E ainda este mês, a Deco Proteste deu nota de que o preço de um cabaz de alimentos essenciais, que agregam mensalmente, atingiu o valor mais elevado desde que começaram a fazer esta monitorização a 5 de janeiro de 2022.

A disparidade no comportamento das duas taxas de inflação levantou muitas vozes críticas, indiciando inclusive que alguém esteja a beneficiar tremendamente com a subida dos preços.

O ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, chegou a dizer que existe uma “divergência muito grande em alguns produtos entre os preços de aquisição e de venda ao público”, notando que isso “não é criminoso” mas “é um alerta”.

De todos os intervenientes na cadeia de valor, o Estado foi o único que não fez qualquer alteração na sua “margem de lucro”.

A mensagem do governante tinha como destino, entre outros, as principais cadeias de distribuição alimentar, dado que o Governo está inclusive a estudar uma forma de pressionar o Continente, o Pingo Doce e outras cadeias de super e hipermercados a baixar os preços e as margens.

No entanto, quando se consulta as últimas contas dos dois principais players do mercado, os números revelam que nem as margens brutas nem as margens de lucro operacionais do Continente (do grupo Sonae) e do Pingo Doce (do grupo Jerónimo Martins) estão a aumentar. Pelo contrário, até caíram nos primeiros nove meses do ano, em comparação com os dados homólogos.

  • O Continente fechou os primeiros nove meses de 2022 com uma margem EBITDA subjacente (margem de lucro operacional) de 9,31%, face a 9,90% no mesmo período do ano anterior. Significa que, entre janeiro e setembro de 2022, por cada 100 euros de vendas realizadas, a Sonae lucrou 9,3 euros, menos 6% que no mesmo período de 2021. Entre 2019 e 2021, a margem de lucro operacional da Sonae MC (que agrega o Continente) foi de 9,9%. O mesmo sucede com a margem bruta (rácio entre vendas e custo das vendas de mercadorias), se bem que numa proporção mais reduzida: segundo as contas da Sonae MC, a margem bruta nos primeiros nove meses de 2022 foi de 41,9%, que compara com 42% no mesmo período de 2021 e 42% em 2019. Significa que por cada 100 euros de compras realizadas entre janeiro e setembro de 2022, o grupo Sonae faturou 41,9 euros.
  • As operações de distribuição alimentar da Jerónimo Martins em Portugal (Pingo Doce e o Recheio) fecharam os primeiros nove meses de 2022 com uma margem EBITDA de 5,87%, que compara com uma margem de lucro operacional de 5,92% no mesmo período do ano anterior ou de 8,31% em 2019. Ao nível da margem bruta, as contas da Jerónimo Martins não detalham os custos das vendas de mercadoria por segmento, sendo apenas possível calcular a taxa bruta do grupo. E, neste caso, verifica-se que se nos primeiros nove meses de 2021 a margem bruta da Jerónimo Martins era de 27,6%, entre janeiro e setembro de 2022 essa margem caiu para 26,8%.

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Estes números mostram que nos primeiros nove meses do ano passado, um período marcado por uma forte subida dos preços da generalidade dos produtos, tanto o Continente como o Pingo Doce encaixaram nas suas contas parte da subida da inflação. “Baixámos as nossas margens para acomodar o aumento dos custos”, referiu Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, numa carta enviada na sexta-feira aos funcionários do grupo.

No caso da Jerónimo Martins, não deixa de ser curioso o fato de o grupo liderado por Pedro Soares Santos ter conseguido acomodar mais o efeito da inflação na sua operação na Polónia (Biedronka) do que as operações em Portugal – nos primeiros nove meses de 2022, a margem de lucro operacional da Biedronka era de 8,8%, face a 9,1% registado no mesmo período do ano anterior.

“Pela sua posição geopolítica e com um contexto energético diferente, a inflação nos custos foi superior na Polónia, pelo que a margem EBITDA da Biedronka foi mais pressionada nos primeiros nove meses de 2022 face ao ano anterior”, refere uma fonte da Jerónimo Martins ao ECO.

Decompondo a cadeia de valor até chegar ao Estado

Na semana passada, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) referiu em comunicado que “a distribuição está a comprar os produtos cada vez mais caros, já em 2023, aos fornecedores (indústria e produção).”

A associação que representa o setor lembrou que “estes aumentos no início da cadeia refletem a subida dos custos dos fatores de produção decorrentes dos aumentos dos preços dos fertilizantes, das rações e de outros custos relevantes”, notando que “o índice de preços do lado da produção agrícola aumentou 33,6 pontos percentuais (de 2,3% para 35,9%), do lado da indústria alimentar aumentou 18,4 pontos percentuais (evoluiu de 13,3% para 31,7%) e o índice de preços dos produtos alimentares na distribuição/retalho alimentar aumentou 16,2 pontos percentuais (passou de 3,7% para 19,9%), sempre inferior ao da indústria alimentar em cerca de 10 pontos percentuais”.

É uma evidência que os preços estão a aumentar em toda a cadeia de valor. A questão está em perceber se, como o Governo questiona, estará a haver especulação dos preços por via do aumento considerável das margens de lucro das empresas.

Um alvo recorrente destas críticas são as empresas de energia, como a EDP e a Galp Energia. Mas mesmo nestes casos, apesar de as vendas e dos lucros terem subido consideravelmente no último ano, as contas de ambas as empresas mostram que também as suas margens de lucro operacional não aumentaram. Pelo contrário, caíram.

Segundo as contas anuais da EDP divulgadas a 1 de março, a margem EBITDA da elétrica foi de 21,9% em 2022 contra uma margem de lucro operacional de 24,8% em 2021 e 31,7% em 2020.

As contas da Galp, apresentadas há um mês, revelam também uma queda (se bem que ligeira) da margem de lucro operacional no último ano, com a margem EBITDA a cifrar-se em 14,3% em 2022 face a 14,4% em 2021.

Restam as contas dos produtores. E, neste grupo, olhando para as contas dos maiores players da indústria como a Nestlé, a Unilever e a Procter & Gamble (P&G), verifica-se também que as suas margens também caíram.

A Unilever, por exemplo, que tanto comercializa bens alimentares como bens de higiene, fechou as contas de 2022 com uma margem de lucro operacional de 19%, menos 3 pontos percentuais face aos 22% que tinha em 2021. O mesmo sucede com a P&G, que além de baixar a margem EBITDA de 28% para 26%, baixou também a margem bruta de 51,4% para 47,6%. E o mesmo sucedeu com a Nestlé, que fechou as contas do ano passado com uma margem de lucro operacional de 20,4% face a 21,2% em 2021.

Fica apenas a faltar nesta equação o Estado, que atua no mercado através da carga fiscal que aplica sobre os bens de consumo através do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). E de todos os intervenientes na cadeia de valor, o Estado foi o único que não fez qualquer alteração na sua “margem de lucro”: não baixou nem reviu o IVA sobre os bens alimentares básicos, como fez Espanha, nem parece ter intenção de o fazer. E o resultado da inação por parte do Estado é bem visível nas suas contas.

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Segundo os últimos dados da execução orçamental, publicados pela Direção-Geral do Orçamento, a receita fiscal arrecadada pelo Estado em 2022 aumentou 11,6% para mais de 58,5 mil milhões de euros. No entanto, a receita gerada com a cobrança do IVA no último ano disparou 18,5%.

Nos últimos 10 anos que não se assistia a um desfasamento tão grande entre o crescimento da receita fiscal e o crescimento da receita gerada com a cobrança do IVA. E tudo isto aconteceu com o consumo privado a registar um crescimento de apenas 5,9% (segundo projeções do Banco de Portugal), cerca de um terço do aumento da taxa de crescimento da receita arrecadada em IVA.

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Líder da Sonae queixa-se de “campanha de desinformação” sobre preços dos alimentos

Em resposta às acusações do Governo, Cláudia Azevedo fala em “danos gravosos para a reputação do setor da distribuição alimentar” e garante que “os culpados da inflação não são os supermercados”.

Poucas horas depois de ouvir o ministro da Economia falar num “comportamento completamente dissonante” na evolução dos preços nos supermercados, a presidente executiva da Sonae, que detém o Continente, descreveu que está em curso “uma campanha de desinformação sobre as causas da inflação alimentar, com danos gravosos para a reputação do setor da distribuição alimentar”.

“Sendo certo que o nível de inflação dos produtos alimentares tem sido mais elevado do que a inflação média geral, a verdade é que se trata de um fenómeno global e com causas bem identificadas e associadas às cadeias de produção. Os culpados da inflação não são os hipermercados / supermercados”, escreveu Cláudia Azevedo.

Numa mensagem eletrónica enviada na quinta-feira à tarde aos colaboradores da Sonae, a que o ECO teve acesso, a gestora assegura que a empresa “[baixou] as margens para acomodar o aumento dos custos”. “Também nós sofremos”, acrescentou. Em paralelo, sublinha o desenvolvimento de “soluções para ajudar os clientes a mitigar os efeitos do aumento do custo de vida”.

“Não podia deixar de vos escrever e transmitir o orgulho que tenho na equipa do Continente, nesta altura em que a sua reputação está a ser atacada, e de dizer que podem contar com a Sonae para continuar a ser um motor de desenvolvimento para Portugal. Que não existam dúvidas de que as nossas decisões são orientadas pelos nossos valores, em todos os nossos negócios. Fazemos o que está certo. Sempre o fizemos e sempre o faremos”, lê-se na mesma carta aberta.

Na quinta-feira, o ministro da Economia garantiu que vão ser intensificadas em todo o país as operações de fiscalização da ASAE, que já instaurou 51 processos-crime por especulação, com o objetivo de “identificar se há situações anómalas” e com o argumento de que a evolução dos preços dos alimentos é oposta à da inflação e haver retalhistas com margens de lucro médias superiores a 50%. “Seremos inflexíveis”, prometeu António Costa Silva.

De acordo com os relatórios mensais da ASAE, o cabaz de bens essenciais aumentou de 74,9 euros em janeiro de 2022, para 96,44 euros em fevereiro deste ano. Mas, além disso, há produtos cujo aumento da margem bruta é muito significativa como é o caso das cebolas (superior a 50%); dos ovos, laranjas, cenouras e febras de porco (entre 40 e 50%); ou das conservas de atum, azeite e couve coração (30 e 40%).

Contactado pelo ECO, o grupo Jerónimo Martins, que é o segundo maior operador no retalho alimentar em Portugal, disse apenas que “o comunicado da APED representa a posição do Pingo Doce”. A associação que representa as retalhistas deu a garantia de que os supermercados não estão a aumentar as margens de negócio no atual contexto de inflação e que se “reinventaram” para atenuar nos consumidores os impactos do aumento dos preços. O organismo liderado por Gonçalo Lobo Xavier frisou que a distribuição está a comprar produtos aos fornecedores cada vez mais caros e evitou que “o ónus da inflação em geral para o consumidor fosse muito superior”. “O Lidl está alinhado com o posicionamento da APED”, limita-se a dizer fonte oficial da retalhista de origem alemã.

Esta sexta-feira foi a vez da Associação Nacional dos Transportadores de Mercadoria (ANTRAM) vir recusar responsabilidades no aumento do preço dos bens essenciais, esclarecendo que o transporte não regista subidas que justifiquem as diferenças encontradas nos supermercados.“O transporte de bens alimentares, face ao verificado antes dos níveis da guerra, não regista, atualmente, subidas que possam justificar os enormes aumentos dos bens alimentares”, insiste, em comunicado.

Segundo avança o semanário Expresso (acesso pago), o Executivo liderado por António Costa está a estudar várias medidas para o caso de os supermercados não baixarem os preços nas próximas semanas. O Governo socialista está a ponderar, por exemplo, vir a fixar — mesmo que excecionalmente e com caráter temporário — um limite para as margens de lucro de produtores, indus­triais e distribuidores.

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Dona do Pingo Doce trava taxa alimentar e já deve quase 30 milhões ao Estado

Jerónimo Martins volta a recorrer à Justiça para impedir o Fisco de cobrar taxa de segurança alimentar que gerou encaixe de 73 milhões numa década. Sonae paga, mas também contesta em tribunal.

A Jerónimo Martins voltou a recorrer aos tribunais portugueses no início deste ano para impugnar a cobrança da Taxa de Segurança Alimentar Mais (TSAM), criada em 2012 pelo Governo de Pedro Passos Coelho e mantida no consulado de António Costa. Paga em função da área de vendas, com um valor de sete euros por metro quadrado (m2), aplica-se aos estabelecimentos de comércio alimentar com mais de 2.000 metros quadrados ou que tenham várias lojas em Portugal que perfaçam mais de 6.000 m2.

Segundo a informação dada ao ECO pelo grupo retalhista, com base nos números consolidados até ao final do terceiro trimestre do ano passado, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) já “reclamou de Pingo Doce, Recheio e Hussel as quantias de 26 milhões de euros, três milhões de euros e 60 mil euros, respetivamente, correspondente a liquidações da TSAM relativas aos anos de 2012 a 2022”. Ou seja, o valor em dívida ascende a quase 30 milhões de euros.

Como o Pingo Doce prestou garantia bancária, a execução movida pela Autoridade Tributária deve continuar suspensa até decisão final e vinculativa dos tribunais.

Grupo Jerónimo Martins

A impugnação mais recente foi apresentada a 7 de fevereiro no Tribunal Tributário de Lisboa, pedindo a “revisão de uma decisão da Autoridade Tributária (AT) de cobrar ao Pingo Doce a TSAM no valor de 2,55 milhões de euros”, relativa ao ano passado, cujo pagamento, no seu entendimento, “ainda não é devido”. “Isto porque ainda está em discussão nos tribunais tributários a questão de saber se o pagamento é ou não devido e, como o Pingo Doce prestou garantia bancária, a execução movida pela AT deve continuar suspensa até decisão final e vinculativa dos tribunais”, explica fonte oficial.

Apesar de o Tribunal Constitucional já se ter pronunciado a favor desta taxa que integra o Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar, dirigido pela DGAV, o grupo liderado por Pedro Soares dos Santos insiste que “o diploma legal que criou a TSAM se encontra ferido de inconstitucionalidade”. Em junho de 2019 apresentou uma queixa à Comissão Europeia (CE), alegando “um auxílio ilegal do Estado”, que ainda está em apreciação. O Ministério da Agricultura diz ao ECO que ainda não recebeu “notificação de qualquer decisão judicial em resultado das impugnações apresentadas”.

Temos conhecimento da queixa, no entanto, ainda não recebemos nenhuma notificação de qualquer decisão judicial em resultado das impugnações apresentadas.

Ministério da Agricultura e da Alimentação

“As companhias do grupo continuam a apresentar regularmente impugnações à taxa, procedendo a uma análise regular do risco e da probabilidade de desenlace favorável nalgum dos processos e/ou da queixa à Comissão Europeia”, acrescenta a Jerónimo Martins. Com negócios igualmente na Polónia – opera com a insígnia Biedronka no retalho alimentar e tem a rede de lojas Hebe, especializada em saúde e beleza – e na Colômbia – entrou em 2013 e chegou em novembro às 1.000 lojas com a marca Ara) –, o grupo de origem portuguesa viu em 2022 as vendas dispararem 21,5% em termos homólogos, para 25,4 mil milhões de euros.

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo MartinsPAULA NUNES / ECO

No mercado português, em que a subida generalizada dos preços levou a uma inflação alimentar de 13% e a “forte recuperação” do turismo beneficiou o canal Horeca (engloba os hotéis, os restaurantes e os cafés), os dados preliminares comunicados à CMVM a 12 de janeiro mostraram que o Pingo Doce faturou 4.500 milhões de euros (+11,2% em termos homólogos) e terminou o ano passado com 472 lojas (área total de 551.250 m2).

Por outro lado, o Recheio, com 139.381 m2 divididos por 43 espaços em formato Cash & Carry, vendeu 1.200 milhões de euros (+27,7% face ao ano anterior). Já a cadeia especializada em chocolates e confeitaria Hussel, que resulta de uma joint-venture entre a Jerónimo Martins (51%) e a alemã Douglas AG (49%), conta com 21 bomboneries localizadas sobretudo nos maiores centros comerciais do país.

Estado arrecadou 73 milhões numa década

Desde que foi implementada pela então ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas (CDS-PP), com o intuito de suportar os custos inerentes ao cumprimento das normas europeias em matéria de qualidade e segurança alimentar, e proteção animal e vegetal, a Taxa de Segurança Alimentar Mais já permitiu arrecadar um montante total de 72.963.222,62 euros, como adiantou ao ECO o Ministério da Agricultura e da Alimentação, liderado por Maria do Céu Antunes.

Ou seja, se não fosse o montante em dívida por parte da dona do Pingo Doce, a receita total já podia ser superior a 102 milhões de euros. Esta taxa é anual e liquidada por uma única vez, titulada por duas faturas emitidas em simultâneo, sendo paga em duas prestações que vão indicadas nas faturas. A última liquidação foi efetuada em maio de 2022, sendo atualmente o grupo Jerónimo Martins, como confirma a tutela, “o único operador que vem impugnando a taxa, sem proceder ao pagamento”.

As sociedades participadas pela MC têm procedido ao pagamento e, à semelhança de anos anteriores, impugnado a mesma junto dos tribunais, em defesa dos seus direitos, nomeadamente por se discordar da natureza e razão de ser desta taxa.

Sonae MC

Mas não é a única a recorrer à Justiça. Apesar de a Sonae MC (dona dos supermercados Continente, Meu Super ou Go Natural) ter realizado até à data todos os pagamentos relativos a esta taxa, que é calculada em função do espaço ocupado pelos grandes retalhistas, as sociedades participadas pela principal empresa do grupo liderado por Cláudia Azevedo também “têm impugnado a mesma junto dos tribunais, em defesa dos seus direitos, nomeadamente por se discordar da natureza e razão de ser desta taxa”, como confirmou ao ECO fonte oficial.

Com cerca de 36 mil colaboradores, a Sonae MC, presidida por Luís Moutinho, viu o volume de negócios subir para 5.978 milhões de euros em 2022, ficando 11,5% acima do registo do ano anterior, de acordo com a comunicação feita ao regulador do mercado de capitais. No ano passado, a empresa nortenha abriu 65 lojas próprias (25 mil metros quadrados adicionados), das quais 17 de base alimentar – dois grandes supermercados em zonas urbanas e 15 lojas de proximidade – e remodelou ainda 33 unidades, encerrando o exercício com um portefólio de 1.401 lojas (incluindo franquias) em Portugal e Espanha.

O compromisso da Mercadona com a sociedade é cumprir com a lei e efetuar todos os pagamentos inerentes à atividade da empresa, e esta taxa não é exceção.

Mercadona

O ECO questionou igualmente o Lidl, o Auchan e a Mercadona sobre este tema, mas apenas a retalhista de origem espanhola, que está a investir 225 milhões num centro logístico de Almeirim, respondeu até à hora de publicação deste artigo. “O compromisso da Mercadona com a sociedade é cumprir com a lei e efetuar todos os pagamentos inerentes à atividade da empresa, e esta taxa não é exceção”, assegura a líder de mercado no país vizinho, que soma 39 supermercados nos distritos do Porto, Braga, Aveiro, Viana do Castelo, Setúbal, Santarém, Viseu, Leiria e Lisboa, e que este ano planeia abrir mais dez unidades em Portugal.

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