A um mês da despedida, PGR terá prova de fogo perante os deputados

Lucília Gago vai ao Parlamento na quarta-feira falar do relatório síntese relativo à atividade do Ministério Público do ano passado. Mas polémicas do seu mandato serão também abordadas na audição.

Seis anos depois de ter iniciado o mandato e precisamente um mês antes de o terminar, a procuradora-geral da República Lucília Gago vai ao Parlamento na quarta-feira, pela primeira e última vez, falar do relatório síntese relativo à atividade do Ministério Público do ano passado.

Lucília Gago já tinha transmitido ao Parlamento a sua disponibilidade para aceitar o convite para a audição, depois de ter sido aprovado o pedido do Bloco de Esquerda (BE), com abstenção do Chega. O requerimento foi aprovado na primeira comissão por maioria, com os votos a favor do PS, PSD, CDS, IL, PAN e BE. O Livre e PCP não estavam presentes no momento da votação. A procuradora-geral da República sugeriu que a audição pudesse ocorrer após a conclusão da elaboração do relatório reportado a 2023, ou seja, depois das férias.

Mas a apresentação do relatório – divulgado no site da PGR a 5 de agosto, três meses depois do suposto – é apenas a versão oficial da razão da titular da investigação criminal ir explicar-se perante os deputados. A verdade é que a ida da PGR ao Parlamento surge depois de várias polémicas que colocaram Lucília Gago no olho do furacão.

Ao ponto de, em julho, pela primeira vez ter quebrado o silêncio ao dar a sua primeira entrevista. Em entrevista à RTP, Lucília Gago assumiu que autorizou o comunicado e que ela própria escreveu o “famoso” parágrafo que levou António Costa apresentar a demissão, revelou que o inquérito do ex-primeiro-ministro ainda decorre, garantiu que Marcelo Rebelo de Sousa não acrescentou “nem uma vírgula” e ainda criticou a postura da ministra da Justiça.

Os deputados querem que a PGR explique as acusações de que existe uma campanha contra o Ministério Público, na sequência da entrevista. “A senhora procuradora virá ao Parlamento apresentar o relatório de atividades anual do Ministério Público”, afirmou na altura o líder parlamentar do CDS, Paulo Núncio, sublinhando que será “uma boa altura para que a procurador se explique perante os deputados”. “A procuradora referiu pessoas que fazem essa campanha contra o Ministério Público e nós gostaríamos de saber a que pessoas se refere”, sublinhou.

Uma entrevista que surgia duas semanas depois da titular da pasta da Justiça ter admitido querer que o próximo procurador-geral da República tenha um perfil de liderança, que seja comunicativo e que “ponha ordem na casa”. Disse ainda que deve ajudar a pôr fim a uma “certa descredibilização” do Ministério Público (MP), sublinhando que o Governo quer iniciar “uma nova era”. Horas depois, na rede social X, insistiu: “o novo PGR terá de ser alguém que reúna as condições técnicas necessárias, mas sobretudo com boa capacidade de liderança, de organização, de gestão de equipas e de comunicação. Deve ser alguém que tenha a capacidade de inaugurar uma nova era na relação com os cidadãos”.

António Costa e Lucília Gago

Lucília Gago, que em seis anos nunca concedeu uma única entrevista a um órgão de comunicação social, tem-se escudado em comunicados pontuais através do seu gabinete de imprensa.

Mais ainda quando, quase um ano depois, o ex-líder socialista não foi constituído arguido, o juiz de instrução já veio dizer que não vê relevância criminal nesta investigação e o país tem vindo a assistir à divulgação constantes de escutas telefónicas com conversas de Costa, numa clara violação do segredo de Justiça. Essas mesmas escutas – que chegaram a gravar uma conversa com António Costa a falar sobre a demissão da presidente da TAP passaram por pelo menos 16 juízes – não foram sequer destruídas, segundo explicou a revista Visão. Além disso, durante mais de três anos, o telemóvel do ex-ministro João Galamba esteve a ser escutado e foram ouvidas conversas com Presidentes da Assembleia da República, ministros e autarcas.

Não veio ajudar o Manifesto dos 50, divulgado em abril. O Manifesto dos 50 foi conhecido em finais de abril, com um grupo de 50 personalidades a assinarem o documento em defesa de um “sobressalto cívico” que acabe com a “preocupante inércia” dos agentes políticos relativamente à reforma da Justiça, num apelo ao Presidente da República, Governo e parlamento.

Uma “verdadeira reforma da Justiça”, com a recondução do MP a uma estrutura hierárquica para evitar o que chamam de atual “poder sem controlo” do mesmo, um escrutínio externo e avaliação independente aos tribunais e magistrados. Estas são algumas das ideias e conclusões do manifesto assinado por 50 nomes sonantes da sociedade civil.

Desde então, quer partidos quer a sociedade civil tem alertado para a necessidade da PGR ir dar explicações aos deputados, não só pela violação do segredo de Justiça com a divulgação das escutas como para explicar a falta de resultados, até agora, na investigação que teve consequências políticas relevantes para o país.

O polémico parágrafo do comunicado

O polémico parágrafo do comunicado relativo à Operação Influencer e que levou à demissão de António Costa foi um dos pontos que levou a sociedade civil e política a tecer duras críticas a Lucília Gago. Na entrevista, a procuradora assumiu que escreveu e autorizou o parágrafo e que, por “razões de transparência”, não poderia ter agido de outra forma.

“Esse parágrafo foi concebido conjuntamente entre mim e o gabinete de imprensa. Acontece que em todas as situações, não só essa, em que os temas são particularmente sensíveis, relevantes, há um acompanhamento muito próximo sobre o que é dito. A inclusão desse parágrafo é da minha inteira responsabilidade. Não o escondo. Aliás, já o assumi publicamente”, assumiu Lucília Gago, que acrescentou ainda que também a divulgação do mesmo foi da sua “inteira responsabilidade”.

Para a procuradora não seria admissível a omissão a essa referência – a das suspeitas à intervenção do na altura primeiro-ministro António Costa. “Ninguém iria perceber que devesse ser omitida essa referência. Pelo contrário, teria havido uma tentativa de branquear ou de proteger. Não acho que, por razões de transparência, devesse ser omitida a referência”, acrescentou.

Consciente que o “famoso” parágrafo poderia desencadear uma “reação forte ao seu conteúdo”, Lucília Gago assumiu que a avaliação feita por António Costa é “pessoal” e “política” — e que culminou na sua demissão do cargo de primeiro-ministro — e que não cabe ao Ministério Público fazer.

“O Ministério Público fez o seu trabalho. Com transparência, revelou o que tinha de revelar e não tem mais que se preocupar, não deve fazê-lo, com as consequências que daí advêm para o próprio, se ele quiser optar por determinada solução. Volto a dizer: é uma decisão que tomou, pessoal e politicamente”, disse, dando exemplos de outros casos políticos na Europa.

Sobre a instauração do inquérito, assume que decorreu da “singela circunstância de o Ministério Público estar obrigado, por razões de legalidade, a dar essa sequência”. “A mera alusão à prática de um crime obriga o Ministério Público à instauração de inquérito. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. Não se pode dizer que todos os cidadãos são iguais perante a lei e depois querer dar um tratamento diferenciado à figura de um primeiro-ministro. Todos os cidadãos têm de ter um tratamento igual”, notou.

O inquérito a Costa ainda decorre

Depois de explicar que a certidão dos autos da Operação Influencer chegou à Procuradoria-Geral da República (PGR) e foi reencaminhada para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) com a sua “chancela”, Lucília Gago confirmou que o inquérito que visa António Costa ainda decorre. Agora, dois meses depois, ainda muito pouco se sabe desta investigação a não ser que Costa foi ouvido pelo DCIAP.

“Coisa que ainda se está a apurar no inquérito que ainda está pendente. Ou seja, o senhor primeiro-ministro à data foi ouvido nesse inquérito, a seu pedido. Na altura, o magistrado que procedeu à audição entendeu que não havia indícios fortes da prática de ilícitos, logo não o constituiu como arguido. Foi ouvido como testemunha naquele momento. O inquérito ainda corre. Não sei, nem poderia saber, se vai haver encerramento de inquérito a breve trecho, quanto tempo vai demorar essa investigação”, revelou.

A procuradora frisou que não se sente responsável pela demissão do ex-primeiro-ministro. “Não me sinto responsável pela demissão do primeiro-ministro. O primeiro-ministro fez uma avaliação pessoal e política. Poderia ter continuado a exercer as suas funções. Ursula von der Leyen permaneceu em funções. Como aqui ao lado em Espanha, Pedro Sánchez tem a sua mulher alvo de uma investigação. Portanto, não é de modo algum automática”, sublinhou.

Marcelo não acrescentou “nem uma vírgula” ao comunicado

Na entrevista dada à RTP, Lucília Gago garantiu que Marcelo Rebelo de Sousa não teve influência na introdução do parágrafo no comunicado. “Quando fui à Presidência da República, o comunicado estava já preparado, com aquele parágrafo”, disse.

O Chefe de Estado não acrescentou “nem uma vírgula”, assegurou a procuradora-geral da República. “O que acontece é que não podíamos revelar aquele comunicado antes do início da audiência porque ainda estava uma detenção por concretizar”, revelou.

Sobre a acusação feita por Marcelo Rebelo de Sousa, que a acusou de “maquiavelismo” por ter instaurado o inquérito do caso das gémeas no mesmo dia das buscas do caso Influencer, a procuradora assume que as palavras causaram alguma “perplexidade”, “desconforto” e “surpresa” e garante que não existiu um “esforço” para alinhar as diligências.

“Tive de ouvir sucessivas alusões a essas frases. Provocaram até, naquele específico contexto, umas gargalhadas que eram audíveis no registo áudio. Isso criou a ideia de que houve um esforço de serem alinhadas datas para aquelas diligências. Não fui eu que instaurei o inquérito e não sabia dessa data no momento em que fui à Presidência da República. Quis o destino que tivesse assim ocorrido”, disse.

Criticas à ministra da Justiça

A procuradora confessou que ficou “incrédula” e “perplexa” e classificou as declarações de Rita Júdice como “indecifráveis” e “graves”.

“Indecifráveis porque se o diagnóstico está feito, não revelou qual fosse, e também não o disse numa audiência que lhe pedi, que me concedeu e que durou três horas. Se havia qualquer elemento relevante que quisesse apontar, seria uma ocasião ótima para o fazer”, explicou.

Lucília Gago considera também as declarações “graves” por afirmar que o Ministério Público tem uma situação de “falta de liderança”, de “falta de capacidade de comunicação”, e que “tem de arrumar a casa” e haver uma “restituição da confiança”. “Ou seja, dizendo ou querendo dizer implicitamente que nos últimos tempos houve uma perda de confiança imputável ao Ministério Público e à liderança da procuradora-geral. A minha conclusão é a de que estas declarações, que se juntam a muitas outras, imputam ao Ministério Público a exclusiva responsabilidade pelas coisas más que acontecem na Justiça, coisa que eu rejeito em absoluto”, sublinhou.

PGR garante que nunca ponderou demitir-se

Outro dos “pontos-chave” na entrevista dada pela procuradora-geral da República foi se ponderou ou não demitir-se do cargo. Lucília Gago garantiu que não e que está consciente da “campanha orquestrada” para esse efeito.

“Não, nunca ponderei demitir-me. Não coloquei nunca essa questão, porque encaro o meu mandato como sendo um mandato que leva um cunho de rigor, de objetividade e de isenção. Estou perfeitamente consciente de que há uma campanha orquestrada por parte de pessoas que não deviam. Campanha orquestrada na qual se inscrevem um conjunto alargado de pessoas que têm ou tiveram no passado responsabilidades de relevo na vida da nação”, disse.

Desde então, quer partidos quer a sociedade civil têm alertado para a necessidade da procuradora-geral da República dar explicações aos deputados, não só pela violação do segredo de Justiça com a divulgação das escutas, como para explicar a falta de resultados, até agora, na investigação da Operação Influencer que teve consequências políticas relevantes para o país. Na semana passada, Lucília Gago transmitiu ao Parlamento “a disponibilidade para aceitar o convite para a audição que aquela lhe endereçou.

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Partidos vão às reuniões do OE à espera do cenário para 2025

O Governo não informou os grupos parlamentares sobre a folga que terá para acomodar medidas da oposição. Ministro Leitão Amaro insiste que remeteu "toda a informação" necessária para negociar OE.

A primeira reunião com os partidos sobre o Orçamento do Estado para 2025 decorreu a 19 de julho. Do Governo foi uma comitiva com o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte.

Os partidos com assento parlamentar retomam, esta terça-feira, as negociações com o Governo para o Orçamento do Estado de 2025 (OE) ainda à espera dos dados sobre o cenário macroeconómico para 2025 e a margem orçamental que o Governo definiu para acomodar medidas da oposição, uma informação que foi solicitada pelo PS há mais de um mês. Até ao final do dia desta segunda-feira, as bancadas não receberam nova documentação do Governo, confirmou o ECO junto de todos os partidos.

Regra geral, o cenário macroeconómico tem sido apresentado aos partidos nas reuniões prévias à entrega da proposta de Orçamento do Estado no Parlamento, mas numa fase mais próxima da entrega do documento, este ano a 10 de outubro próximo. Contudo, os socialistas têm feito este ano pressão para conhecer as previsões macroeconómicas com maior antecedência de forma a calcular o espaço orçamental para acomodar novas medidas. O PS e os partidos da oposição já têm, de qualquer forma, o Quadro Plurianual da despesa e o Quadro de Políticas Invariantes com impacto orçamental das principais medidas no orçamento de 2025.

Apesar das críticas do PS sobre o não envio das informações consideradas relevantes pelos socialistas, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, garantiu, na segunda-feira, em plena véspera das reuniões, que o Governo remeteu “toda a informação solicitada” e disponível para, “no plano informativo, manter o maior esforço de transparência com os partidos, que jamais foi feito por qualquer Governo”.

Para o PS, “o Governo não enviou mais informação do que outros governos”, indicaram ao ECO fontes socialistas. “A informação enviada, na sexta-feira passada, com o Quadro Plurianual de Despesas Públicas (QPDP) decorre da lei, vem com atraso e está incompleta, porque não tem o saldo estrutural nem discrimina, nas fontes de financiamento, a parte que diz respeito à contrapartida nacional”, detalharam.

O secretário-geral do PS definiu duas linhas vermelhas para viabilizar o Orçamento: Alterações às medidas de redução do IRC e IRS Jovem apresentadas sob a forma de pedido de autorização legislativa. Se o Governo tem ou não folga para acomodar outras propostas do PS ainda vai depender do fecho de contas deste ano e de reajustes a iniciativas suas com impacto orçamental, designadamente a redução de impostos. O ECO questionou o Ministério das Finanças sobre o montante que poderá destinar a projetos de outros partidos a incluir no Orçamento do Estado e até à publicação desta notícia não recebeu qualquer resposta.

Fonte oficial do gabinete de Joaquim Miranda Sarmento adiantou, contudo, que mantém a previsão de excedente para este ano e o próximo. “Como anteriormente referido, a estimativa do Governo é de um saldo orçamental, em 2024 e 2025, entre 0,2% e 0,3% do PIB“. Se o PIB, no final deste ano, rondar os 280 mil milhões de euros, à cabeça, o Executivo tem logo uma almofada entre 560 milhões e 840 milhões de euros, respetivamente, este ano, e montantes idênticos, em 2025.

A convicção dentro do Governo é que essa almofada poderá ainda ser alargada desde que o PS se sente à mesa para conversar com o Executivo. “Se o Governo modelar as suas propostas, reduzindo o seu impacto na despesa e na receita, haverá margem orçamental”, afirmou ao ECO o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Hugo Carneiro. Leitão Amaro corroborou essa tese esta segunda-feira: Isso significa relativamente a várias preocupações, visões de vários partidos incluindo sobre propostas fundamentais que o Governo já fez sobre o IRS Jovem e o IRC uma disponibilidade sincera para chegar a compromissos”.

O Governo remeteu na sexta-feira passada ao Parlamento o Quadro Plurianual de Despesas Públicas (QPDP), documento que indica os limites da despesa para quatro anos e a estimativa das fontes de financiamento da receita, e que deve integrar as Grandes Opções do Plano (GOP), entregues em abril. Após insistências dos partidos, o quadro foi disponibilizado pelas Finanças e indica as prioridades políticas do Executivo no próximo ano: trabalho e segurança social, administração interna e saúde, uma vez que são estes os programas orçamentais com a maior despesa prevista.

Os dados do QPDP não estão consolidados e integram despesa efetiva e não efetiva, pelo que as estimativas inscritas têm uma leitura limitada sobre as previsões do Governo para a despesa e receita da Administração Pública no próximo ano. Ainda assim, as Finanças esclareceram que o crescimento da despesa pública “deverá, em sede orçamental, crescer num valor próximo” de 4,1% (a projeção inscrita no documento para a Administração Central, descontando a gestão da dívida pública”.

Entre os principais indicadores, já revelados pelo Governo, destacam-se a evolução do PIB, da dívida, do saldo orçamental e da inflação. No Programa de Estabilidade, num cenário de políticas invariantes, o Governo estima um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,5% este ano e 1,9% no próximo. Após tomar posse o Executivo mostrou-se mais otimista e tem vindo a apontar para uma expansão de 2% este ano. Uma estimativa em linha com a do Banco de Portugal, mas acima próxima da perspetiva da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional, de 1,7%, e do Conselho das Finanças Públicas e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), de 1,6%.

O PAN será o primeiro partido a ser recebido e o PS o último

No dia em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, volta a dispor de plenos poderes para dissolver o Parlamento, o Governo e os partidos políticos regressam às negociações sobre o tema que pode precisamente pôr em causa a estabilidade da Assembleia: o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025).

É num ambiente crispado que o Governo convidou os partidos para uma segunda ronda de reuniões, mais uma vez sem a presença do primeiro-ministro, Luís Montenegro, depois da ausência nos encontros de julho por motivos de saúde. A leva desta terça-feira tem lugar no Parlamento e conta novamente com a presença do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, e do ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte.

As reuniões arrancam às 10 horas, por ordem crescente de representação parlamentar. Isto significa que o PAN será o primeiro partido a ser recebido, às 10h, de seguida será o Livre, às 11h, e o PCP, às 12h. Após uma hora de pausa para almoço, os encontros são retomados às 14h com o BE. A IL reúne às 15h e, às 16h, é recebida uma comitiva do PS com a líder parlamentar, Alexandra Leitão, e três vice-presidentes: António Mendonça Mendes, Carlos Pereira e Marina Gonçalves. Uma vez que o primeiro-ministro não vai comparecer, o secretário-geral do PS também não estará presente.

O Governo prescindiu dos encontro com o PSD e CDS, uma vez que são os partidos que suportam o Governo e, como tal, já estão envolvidos no processo orçamental, explicou ao ECO fonte do gabinete do ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte.

O Chega já se demarcou das negociações, mas anunciou, esta segunda-feira, que irá reunir com o Executivo a fim de conhecer o cenário orçamental para 2025. Como, esta terça-feira, terminam as jornadas parlamentares do partido, em Castelo Branco, André Ventura indicou que três deputados do Chega irão sentar-se à mesa com o Governo na quarta-feira.

Sem uma maioria confortável no Parlamento, o Governo precisa ou da abstenção do PS ou do voto favorável do Chega. Tendo em conta que Ventura bateu com a porta e que, “com toda a probabilidade, votará contra”, resta a Luís Montenegro agarrar-se ao PS para ter efetivamente um Orçamento viabilizado.

A tensão entre o Executivo e os socialistas tem estado alta, levando o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a pressionar publicamente para a viabilização da proposta orçamental. “Se o Governo é minoritário, precisa de dialogar senão não passa. A oposição também não tem condições para ser maioritária também precisa de dialogar, a menos que queira que haja uma crise”, afirmou na sexta-feira passada em declarações aos jornalistas.

Paralelamente, o Chefe de Estado convocou uma reunião do Conselho de Estado para 1 de outubro “para analisar a situação económica e financeira internacional e nacional” e uma outra reunião para após a entrega do documento e que servirão para erguer pontes de entendimento entre o primeiro-ministro e o secretário-geral do PS com vista à viabilização do Orçamento do Estado para 2025.

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Lufthansa avalia TAP pelo valor mais baixo do mercado

Quanto vale a TAP? Avaliações do mercado apontam para valores muito díspares. Poderá valer até três mil milhões. Ou apenas mil milhões, que é por quanto a avaliam os alemães.

A privatização da TAP descolou nos últimos dias com a manifestação de interesse da Lufthansa junto do Governo português. Embora os alemães não tenham confirmado a oferta, em cima da mesa estará uma proposta de cerca de 200 milhões de euros por uma participação de 19% na transportadora portuguesa, segundo o jornal italiano Corriere della Serra. Ou seja, a oferta germânica avaliará a TAP em cerca de mil milhões de euros, valor que se situa na parte inferior do intervalo de avaliações que poderá ter em comparação com as outras companhias, incluindo a própria Lufthansa.

É possível calcular o valor de uma empresa comparando-a com empresas do mesmo setor, usando os chamados múltiplos. É um exercício simplista, que deixa de fora importantes variáveis, mas permite estimar valores de referência de mercado.

Alguns dos múltiplos mais usados incluem o rácio do enterprise value (capitalização bolsista+dívida) sobre o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ou sobre as vendas.

Lufthansa, IAG e Air France-KLM – os gigantes do setor europeu e que já anunciaram publicamente que estão interessados na companhia português – estão a transacionar com múltiplo médio de 2,49: ou seja, o seu enterprise value representa cerca de 2,5 vezes o EBITDA que conseguem gerar num ano.

Tendo em conta que nos últimos quatro trimestres a TAP registou um EBITDA de 831,8 milhões de euros, chegamos ao valor de referência de 2,63 mil milhões de euros para a transportadora nacional. Que baixa para os 2,36 mil milhões se descontarmos o valor da dívida líquida da TAP (266 milhões), tendo em conta que o preço a pagar pelo comprador não incluirá a dívida.

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Considerando o enterprise value sobre as vendas, o valor da TAP baixa para cerca de 1,6 mil milhões em comparação com as “big 3”. Com base nos dados da Lufthansa e Air France-KLM, e descontando a dívida da TAP, chegamos rapidamente a um valor de cerca de mil milhões de euros (excluindo dívida), próximo daquilo que os alemães alegadamente estão a oferecer.

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Um relatório da Air Control Tower, uma empresa de research especializada na indústria, aponta que as aquisições bem-sucedidas no setor foram feitas com um rácio entre 0,1 e 0,7 vezes as vendas. Que aplicando à faturação de 4,2 mil milhões da TAP nos últimos quatro trimestres apontariam um valor entre 400 milhões e 2,9 mil milhões para a companhia portuguesa.

Mais pequenas valem mais

Yi Zhong, analista da empresa de research francesa Alphavalue, alerta que pode não ser adequado comparar a transportadora portuguesa com as três gigantes dado que “a TAP opera uma frota muito mais pequena”. No final de 2023 totalizava 98 aeronaves.

“Sugeriria incluir alguns pares europeus mais pequenos para tornar a comparação mais fiável – pode produzir uma avaliação mais estreita e precisa”, acrescenta.

Aplicando os mesmos múltiplos a companhias mais pequenas cotadas na bolsa como a grega Aegean Airlines, a finlandesa Finnair ou norueguesa Norwegian Air Shuttle, a TAP valerá mais: entre dois mil milhões de euros e 2,9 mil milhões de euros.

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Também se pode incluir nesta análise operações de fusões e aquisições no setor nos últimos meses para testar o valor potencial da TAP.

Recentemente a Aegean comprou 21% da Volotea por 50 milhões com o negócio a ter implícito múltiplos de 1,7 vezes o EBITDA e de 0,42 vezes a vendas. E quando a Lufthansa comprou 41% da ITA Airways por 325 milhões, a operação teve um múltiplo de 2,26 vezes o EBITDA.

Aplicando estes rácios aos números apresentados pela TAP, estes dois negócios no setor dariam um valor potencial à companhia aérea nacional entre os mil milhões e os 1,9 mil milhões.

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O que fica de fora?

O valor da TAP será maior ou menor consoante as potenciais sinergias que representará para o comprador, considera Yi Zhong. “Especialmente considerando a quota de mercado de 8% do TAP nas rotas europeias da América Latina”, lembra a analista.

Para a IAG, por exemplo, a aquisição da TAP permitiria uma expansão para o mercado brasileiro, beneficiando largamente da quota de mercado da transportadora nacional nas rotas da Europa para o Brasil. “Um potencial acordo permitiria que a IAG estabelecesse outra estrutura de duplo hub de Madrid/Lisboa na Península Ibérica, como o modelo que têm para o duplo hub de Londres/Dublin”, explica Zhong.

Por outro lado, as contas finais também têm de ter em conta a opinião de Bruxelas e as concessões que o comprador terá de fazer para ficar com a TAP em termos de slots ou rotas, por exemplo. “A recente saída da IAG da corrida para a aquisição da Air Europa ilustra esta dinâmica”, destaca.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 10 Setembro 2024

O dia ficará marcado pela segunda ronda das negociações para o Orçamento do Estado para 2025, da qual o Chega estará ausente. Esta terça-feira, Kamala Harris e Donald Trump debatem pela primeira vez.

O dia ficará marcado pela segunda ronda das negociações para o Orçamento do Estado para 2025, da qual o Chega estará ausente. Lá fora, primeiro frente-a-frente entre Kamala Harris e Donald Trump estará no topo da agenda.

Negociações para o OE 2025

Esta terça-feira, o Governo e os partidos da oposição reúnem-se na Assembleia da República para uma segunda ronda das negociações para o Orçamento do Estado para 2025. As reuniões serão conduzidas por Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, e o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte e ditarão o início de um processo que deverá culminar na aprovação do documento. O OE 2025 será entregue no Parlamento no dia 10 de outubro. De todos os partidos, só o Chega deverá ausentar-se deste encontro, estando previsto uma reunião à parte no dia 11 de setembro.

Primeiro frente-a-frente entre Kamala e Trump

Kamala Harris e Donald Trump defrontam-se esta terça-feira pela primeira vez num debate presidencial, a menos de dois meses das eleições presidenciais. O momento será um dos mais importantes desta corrida à Casa Branca desde de que Joe Biden desistiu de ser candidato pelo partido democrata. O confronto terá a duração de 90 minutos e decorrerá no National Constitution Center, em Filadélfia, com início marcado para as 21h (hora local, 2h em Lisboa).

Tribunal de Justiça da UE pronuncia-se sobre processos da Google e Apple

O mais alto tribunal da União Europeia dará esta terça-feira o seu parecer sobre dois grandes litígios que marcarão a história do bloco: um sobre as ajudas de Estado da Irlanda à Apple, no valor de 13 mil milhões de euros; e outro relativo a uma multa anti-concorrencial de 2,4 mil milhões de euros aplicada à Google por abuso de posição dominante nos motores de busca. Os acórdãos ditarão o fim do mandato da Comissária Europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager, que iniciou o seu mandato em Bruxelas com uma mão pesada sobre as multinacionais e que deverá passar o testemunho ao próximo comissário a partir de 1 de novembro.

OCDE faz um balanço sobre a educação

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulga esta terça-feira uma das mais relevantes fontes de informação sobre indicadores e dados estatísticos associados a processos formais de educação e formação, e respetivos resultados (educacionais, sociais e no mercado de trabalho).

Indicadores do dia

Como costuma ser habitual, a manhã ficará marcada pela divulgação de indicadores. O Eurostat dará conta da evolução do transporte aéreo comercial referente ao mês de agosto deste ano, enquanto o Instituto Nacional de Estatística publicará o índice de volume de negócios, emprego, remuneração e horas trabalhadas nos serviços, referente ao mês de julho.

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Governo quer aumentar salário mínimo nacional para 860 euros no próximo ano

Acordo de rendimentos prevê salário mínimo de 855 euros em 2025, mas Governo entende que há condições para ir mais longe. Vai propor aos parceiros sociais um aumento da ordem dos 4,9%, para 860 euros.

O Governo vai propor aos parceiros sociais um aumento da Remuneração Mínima Mensal Garantida (RMMG) para 860 euros no próximo ano, apurou o ECO junto de duas fontes que conhecem o dossiê. O aumento do salário mínimo em cerca de 4,9% — acima da previsão do Governo para o crescimento nominal da economia, em torno dos 4,5% — será discutido com as confederações patronais e com as centrais sindicais na reunião de Concertação Social marcada para esta quarta-feira, dia 11 de setembro.

O acordo de rendimentos celebrado pelo Governo de António Costa com as confederações patronais e com a UGT em 2022 previa que o salário mínimo a praticar em 2025 seria de 855 euros. Porém, o atual Governo entende que, afinal, há margem para ir mais longe, pelo que vai propor uma subida de 40 euros (dos atuais 820 euros para 860 euros), em vez do aumento já assente de 35 euros.

Já em junho, confrontada pelos jornalistas, a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, não tinha descartado a hipótese de ir além do que está previsto no referido acordo, sendo que o Governo está a apostar chegar aos mil euros até ao final da legislatura (2028). Por outro lado, importa explicar que, por lei, o Governo tem de ouvir os parceiros sociais relativamente à trajetória do salário mínimo nacional, mas cabe-lhe a si a última palavra, mesmo que não haja acordo de empregadores e sindicatos.

Para já, entre os representantes dos trabalhadores, a CGTP já deixou claro que exige que o salário mínimo chegue aos mil euros no próximo ano, para fazer face ao “aumento brutal do custo de vida”, enquanto a UGT indicou que há margem para atingir os 890 euros, numa entrevista ao Jornal de Negócios e à Antena 1.

Já entre os patrões, a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), por exemplo, não comenta por agora a evolução da retribuição mínima garantida, explicando que quer ouvir primeiro a proposta do Governo e lembrando que, regra geral, este tema é discutido mais tarde, quando já são conhecidos todos os dados económicos do terceiro trimestre.

Da parte da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), há que recordar que Armindo Monteiro recusou assinar a revisão do acordo de rendimentos no último ano, porque este previa uma subida do salário mínimo mais expressiva do que inicialmente firmado, sem incluir mais medidas para fomentar a produtividade (que suportassem esse reforço remuneratório).

Já o Ministério do Trabalho, questionado pelo ECO ao fim desta segunda-feira, remeteu os esclarecimentos para a reunião de quarta-feira.

Mais um passo rumo aos mil euros

A promessa de um salário mínimo de mil euros foi feita por Luís Montenegro ainda durante a campanha eleitoral e viria a ficar, depois, no programa do próprio Governo, como uma das medidas com vista a criar um país que “valoriza o trabalho“. Vem dar, de resto, continuidade aos aumentos sucessivos que vêm sendo feitos nos últimos anos. Depois de ter estado congelado durante vários anos, a Remuneração Mínima Mensal Garantida subiu para 505 euros outubro de 2015 e, desde então, não tem parado de crescer (nem mesmo durante os anos da pandemia).

Salário mínimo sobe há vários anos seguidos

Fonte: DataLabor

Por exemplo, em 2020, passou de 600 euros para 635 euros. Em 2021, de 635 euros para 705 euros. E em 2022, de 705 euros para 760 euros. Quanto a 2023, chegou a estar previsto um aumento de 50 euros para 810 euros, mas o Governo de António Costa decidiu ir mais longe e avançou com o “maior aumento de sempre do salário mínimo”: 60 euros para os atuais 820 euros, isto é, um aumento de 7,9%. Recorde-se, porém, que os trabalhadores que recebem o salário mínimo têm de pagar 11% de Taxa Social Única (TSU), ou seja, em 2024, corresponde a um salário líquido de 729,80 euros por mês.

Apesar destes aumentos sucessivos, uma análise recente da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho dava conta que quem recebe a retribuição mínima garantida continua a ter sérias dificuldades em pagar as contas ao fim do mês. Quase três em cada dez desses portugueses confessam que é desafiante equilibrar o orçamento familiar, situação que a inflação elevada dos últimos anos veio agravar.

Pior, Portugal está mesmo entre os países europeus onde a situação desses trabalhadores se agravou por efeito da inflação elevada, a par, por exemplo, da Bulgária, de Espanha e da Holanda.

A propósito, além de um aumento do salário mínimo para mil euros em 2028, o atual Governo quer também criar uma comissão técnica independente que avalie o impacto das subidas dessa retribuição e que proponha políticas a médio prazo para reduzir a pobreza e aumentar a dignidade dos trabalhadores com baixos salários.

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Instituto Coordenadas afirma que Madrid destaca-se nos cuidados de saúde enquanto outros sistemas de saúde mundiais se deterioram

  • Servimedia
  • 10 Setembro 2024

O Instituto Coordenadas de Governação e Economia Aplicada (ICGEA) publicou uma nova análise que aponta o modelo de parceria público-privada da Comunidade de Madrid como uma referência global.

A análise do ICGEA examina o facto de, nos últimos anos, os cuidados de saúde públicos terem enfrentado desafios significativos e díspares em diferentes partes do mundo. A gestão de doenças crónicas e transmissíveis, a adaptação aos efeitos das alterações climáticas e a implementação de novas tecnologias de saúde, como a telemedicina, testaram a capacidade dos sistemas de saúde mundiais.

Além disso, a pandemia de covid-19 veio sublinhar a necessidade de uma resposta rápida às emergências de saúde pública. “Não podemos esquecer o que o coronavírus nos ensinou e, quatro anos depois, ainda estamos a aprender com ele. Foi um “mestrado em gestão de crises” para todos os governos, determinando a sua agilidade e capacidade de responder rápida e eficazmente a emergências de saúde pública. A rapidez de um país no reforço do seu sistema de saúde, na melhoria da coordenação ou na garantia da disponibilidade de recursos essenciais é crucial face a acontecimentos inesperados”, explicou Jesús Sánchez Lambás, vice-presidente executivo do ICGEA.

A análise salienta que nem todos os países foram capazes de enfrentar os desafios da mesma forma, o que levou a uma deterioração da qualidade dos seus sistemas de saúde. No Reino Unido, a situação do NHS é preocupante, sendo os cuidados de saúde a segunda maior preocupação dos britânicos a seguir à economia. As longas listas de espera, a falta de pessoal e a inadequação dos recursos têm deteriorado o sistema. “Muitos médicos, bem como outros profissionais de saúde, relataram um declínio na qualidade dos cuidados de saúde devido à falta de pessoal e de recursos”, refere o Grupo de Trabalho do ICGEA.

A Itália também enfrenta desafios no seu sistema público de saúde, especialmente em termos de financiamento e de disparidades regionais. Enquanto as zonas norte e centro do país oferecem cuidados de maior qualidade, outras regiões menos desenvolvidas sofrem de deficiências significativas. Em Espanha, observa-se uma situação semelhante entre comunidades como Madrid e o País Basco, duas regiões de destaque, em contraste com a Catalunha.

Em Portugal, o sistema público de saúde deteriorou-se acentuadamente nos últimos três anos devido ao subinvestimento, o que resultou na escassez de pessoal médico e em longos tempos de espera para consultas e procedimentos. A pandemia de COVID-19 veio agravar esta situação, levando o sistema ao limite da sua capacidade. “As condições de trabalho dos profissionais de saúde pioraram, levando a um aumento do absentismo e ao abandono do setor”, acrescenta o relatório.

Fora da Europa, nos Estados Unidos, a situação é complexa devido ao seu sistema predominantemente privado. Apesar da elevada despesa per capita, os resultados da saúde pública são inferiores aos de outros países desenvolvidos e as desigualdades raciais e socioeconómicas agravam ainda mais esta deterioração.

A América do Sul também enfrenta sérios desafios. O Brasil registou um declínio na qualidade do sistema público devido à corrupção, à má gestão e à falta de investimento adequado, com políticas que conduziram a uma redução da disponibilidade e da qualidade dos serviços, afetando negativamente a saúde da população.

Na Venezuela, o sistema de saúde sofreu uma grave deterioração devido à crise económica e política que afeta o país. A escassez de medicamentos e de material médico, bem como a emigração maciça de profissionais, conduziram a um colapso dos serviços de saúde, com um aumento progressivo da mortalidade, juntamente com um aumento de certas doenças, como os casos de malária.

BOA SAÚDE

Em contrapartida, defende que alguns países continuam a destacar-se pela robustez dos seus sistemas de saúde pública, que, em muitos casos, combinam eficazmente os cuidados de saúde públicos e privados. “Países que não só são potências mundiais em termos económicos e políticos, como também se destacam pela elevada qualidade dos seus sistemas de saúde, acessibilidade e resultados em termos de saúde pública. Em muitos destes países, um modelo misto coexiste de forma funcional e eficaz ou existe um forte empenhamento na colaboração público-privada”, salienta Sánchez Lambás.

A análise destaca que a Suécia é conhecida pelo seu sistema de proteção social universal, financiado por impostos, e que se encontra entre os melhores sistemas de saúde do mundo, oferecendo cuidados médicos muito acessíveis, uma ampla cobertura de serviços de saúde, incluindo cuidados dentários e de saúde mental, e acesso a tecnologia médica avançada e a tratamentos inovadores.

“É um país que permite o funcionamento de clínicas e hospitais privados no âmbito do seu sistema de saúde público, financiado pelos impostos, mas gerido por privados. Esta abordagem contribuiu para reduzir os tempos de espera e melhorar a eficácia da prestação de serviços de saúde”, salienta o ICGEA.

A Suíça, por seu lado, combina um sistema de seguro de saúde obrigatório, que inclui elementos públicos e privados, com uma elevada qualidade dos serviços médicos e hospitalares e permite a livre escolha dos prestadores de cuidados de saúde, o que resulta num dos melhores sistemas de saúde do mundo em termos de custos e de satisfação dos doentes. Um ponto em que coincide com algumas regiões – mas não com toda a Espanha – como a Comunidade de Madrid, uma região com um elevado grau de implementação da livre escolha, como é o caso da Andaluzia, Castela-La Mancha, La Rioja, Aragão e País Basco; no lado oposto, coloca a Extremadura, Múrcia, Navarra e Catalunha, “onde a livre escolha quase não existe”.

Outro país que se destaca no relatório é a Noruega, que se centra nos cuidados preventivos e apresenta resultados de saúde excecionais, com serviços integrados, incluindo hospitais, cuidados primários e especializados, bem como acesso a programas de saúde pública e de prevenção de doenças.

A Alemanha destaca-se pelas suas sólidas infra-estruturas de saúde e por um sistema de seguros que garante uma cobertura abrangente aos seus cidadãos através de um sistema misto com seguros públicos e privados, o que lhe permite oferecer aos seus cidadãos uma cobertura universal com uma escolha de planos de seguro, uma extensa rede de hospitais e clínicas com tecnologia avançada, cuidados de elevada qualidade em todas as fases da vida e uma forte infraestrutura e recursos médicos.

A França tem um sistema de saúde misto com elevada qualidade de cuidados e acesso universal, classificado entre os melhores graças aos seus serviços bem coordenados e à acessibilidade, uma vez que coexistem hospitais públicos e privados e, em alguns casos, os hospitais públicos são geridos em conjunto com entidades privadas, facilitando a integração de tecnologias e uma melhor gestão. O modelo inclui cuidados primários e especializados, bem como serviços hospitalares, medicamentos sujeitos a receita médica e cuidados preventivos, e é reconhecido como tendo elevados níveis de satisfação dos doentes.

Para além do velho continente, países como o Canadá destacam-se pelo seu sistema de saúde universal financiado pelos impostos e pelo acesso equitativo a serviços de saúde de alta qualidade, com cuidados médicos gratuitos que garantem “que todos os indivíduos tenham acesso a serviços médicos independentemente da sua situação económica, como acontece em Espanha”.

Dispõe de uma vasta gama de serviços e de uma forte ênfase na saúde pública e na prevenção, “mas não deve ser esquecido que, embora a maioria dos serviços de saúde continue a ser pública, as infra-estruturas foram modernizadas em parte graças à participação privada”. No entanto, embora os serviços médicos estejam cobertos, os medicamentos sujeitos a receita médica podem não estar totalmente cobertos, o que pode gerar custos consideráveis para os doentes, afetando o princípio da equidade.

O país partilha características com a Austrália, cujo sistema público de saúde oferece cobertura universal a todos os cidadãos e residentes permanentes, cobre uma vasta gama de serviços, incluindo consultas médicas, hospitalização e certos serviços de saúde mental, “um aspeto cada vez mais exigido pela população de todos os países em geral e que faz parte da agenda da maioria das propostas políticas. Também em Espanha, um país que, neste aspeto, precisa de aprender muito com os outros para gerir os recursos económicos e humanos afetados ao bem-estar emocional dos seus habitantes”. O modelo da Austrália, que combina o financiamento e a gestão privados com o controlo público, permite-lhe dispor hoje de uma infraestrutura sanitária moderna e atualizada, de acordo com as necessidades dos seus habitantes.

ESPANHA

A nível mundial, o Comissário salienta que a Espanha continua a figurar entre os países com os melhores sistemas de saúde pública, tal como demonstram os rankings e estudos nacionais e internacionais sobre a eficácia e a eficiência do sistema de saúde espanhol. De acordo com Sánchez Lambás, “temos um modelo de cuidados abrangente e acessível que se destaca pela sua eficiência e cobertura universal, o que nos torna reconhecidos por termos acesso universal, cuidados de boa qualidade e capacidade de oferecer serviços médicos a toda a população”. Destaca, em particular, Madrid, que “se destaca pelo seu sistema de saúde diferenciado, com um modelo de colaboração público-privada para oferecer cuidados de alta qualidade que lhe permitiu posicionar-se como uma região com um sistema de saúde robusto e eficiente, apesar dos desafios globais enfrentados por outros sistemas de saúde”.

O ICGEA salienta que a opção por um modelo público-privado na saúde espanhola, e em tantas outras facetas ou serviços públicos de um Estado moderno, no seu conjunto, em todas as comunidades, como Madrid está agora a fazer fundamentalmente, pode oferecer importantes benefícios aos utentes e contribuintes, como a melhoria da qualidade dos serviços e a satisfação dos cidadãos, ao permitir a otimização dos recursos, melhorando a eficiência e reduzindo os custos.

“Sem esquecer três aspetos cruciais que são frequentemente ignorados quando se ameaça desprivatizar certos serviços ou romper com parcerias estabelecidas. Em primeiro lugar, o modelo público-privado promove a sustentabilidade do sistema ao aliviar os encargos financeiros do setor público, permitindo um melhor planeamento a longo prazo e uma melhor afetação dos recursos. Em segundo lugar, melhora a pontualidade, uma vez que o encaminhamento de doentes para instalações privadas quando o sistema público está saturado permite esperas mais curtas, melhorando assim o acesso e a satisfação dos cidadãos. E, em terceiro lugar, oferece maior flexibilidade e adaptabilidade face a mudanças e emergências, como se viu durante a pandemia, que demonstrou que a colaboração de ambos os setores faz com que o sistema de saúde se adapte mais rapidamente a situações em mudança e a necessidades emergentes”, acrescenta.

 

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro “apura” idade do vinho do Porto pelo aroma

Juliana Milheiro, investigadora da UTAD, analisou 126 vinhos do Porto tawny e branco, com indicação de idade de 10, 20 e 40 anos, para estudar as características aromáticas e relação com a qualidade.

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a estudar a molécula responsável pelo aroma típico dos vinhos do Porto envelhecidos e que funciona como indicador da idade. Frutos secos, especiarias, caramelo ou açúcar amarelo são algumas das notas que se soltam de um cálice de Vinho do Porto e, conforme a intensidade, podem desvendar a idade deste produto único da Região Demarcada do Douro.

“A concentração de sotolon aumenta com a idade dos vinhos do Porto que passam por um envelhecimento oxidativo. Um vinho jovem tem uma quantidade vestigial, que não é percetível ao cheirar. Enquanto num Vinho do Porto Tawny com indicação de idade de 40 anos, a concentração de sotolon é consideravelmente superior e a sua contribuição para o aroma global do vinho é crucial”, explica a investigadora Juliana Milheiro.

Para estudar as características aromáticas e relação com a qualidade, Juliana Milheiro analisou 126 vinhos do Porto tawny e branco, com indicação de idade de 10, 20 e 40 anos. “Foi possível perceber as variações nos aromas dos tawny e brancos nas diferentes categorias, tendo sido identificados 36 aromas, sendo eles ácidos, ésteres, norisoprenóides, álcoois e uma furanona (o sotolon).”

Juliana Milheiro, investigadora do centro de química da UTADUTAD

A UTAD explica, em comunicado, que a molécula sotolon forma-se nos vinhos do Porto com envelhecimento oxidativo (branco e tawny), ou seja, quando são expostos ao oxigénio durante o seu envelhecimento. Durante esta fase, apresentam uma cor mais escura, que pode variar de dourado a âmbar, e o seu sabor também se altera, com notas de nozes, frutas secas, mel e especiarias, ao invés das características frutadas e frescas típicas dos vinhos mais jovens.

A investigadora do centro de química da UTAD detalha que “dependendo da sua concentração, esta molécula confere aos vinhos aromas descritos como caril, amêndoas, nozes, caramelo e açúcar amarelo”.

A equipa de investigação da UTAD desenvolveu e validou um método para a quantificação específica de sotolon em vinhos do Porto e um outro método para a determinação precisa e exata dos outros compostos de aroma dos vinhos do Porto Branco e tawny, ambos publicados na revista internacional Food Chemistry.

Este conhecimento é essencial para que o setor possa controlar e melhorar a qualidade, permitindo, assim, a definição de parâmetros de qualidade aromática para as diferentes categorias de Vinhos do Porto.

Juliana Milheiro

Investigadora do centro de química da UTAD

“O perfil aromático dos vinhos do Porto branco foi estabelecido pela primeira vez neste trabalho e mostrou-se semelhante ao dos vinhos do Porto tawny, fornecendo uma base importante para o conhecimento dos compostos responsáveis pelas características aromáticas que definem a qualidade desses vinhos. Este conhecimento é essencial para que o setor possa controlar e melhorar a qualidade, permitindo, assim, a definição de parâmetros de qualidade aromática para as diferentes categorias de vinhos do Porto”, conclui a investigadora da UTAD.

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“The Apolice” pelos Médicos Sem Fronteiras

  • ECO Seguros
  • 9 Setembro 2024

Os fundos obtidos no concerto da banda da MDS reverteram na sua totalidade para a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras.

A MDS, Brokerslink e o grupo Ardonagh uniram forças para organizar um Concerto Solidário da banda The Apolice, iniciativa que fez parte do Give Back Day do Ardonagh Community Trust (ACT), anunciou a MDS na sua página de LinkedIn na semana passada.

O evento teve como objetivo principal angariar fundos para os Médecins Sans Frontières (ou Médicos Sem Fronteiras), organização humanitária que atua em zonas de emergência, destinando a totalidade da receita para apoiar as suas missões de salvar vidas em zonas de emergência.

O espetáculo foi protagonizado pela banda The Apolice, formada em 2023 pela MDS, e também reforçou o compromisso das empresas envolvidas em promover ações que contribuem para causas sociais relevantes, como o apoio a organizações que operam em cenários de crise humanitária.

Para as empresas organizadoras, esta ação solidária reflete o seu compromisso contínuo com a responsabilidade social e o envolvimento ativo em projetos que fazem a diferença. O Ardonagh Community Trust, plataforma de solidariedade do The Ardonagh Group, é um exemplo da forma como estas empresas canalizam esforços coletivos para apoiar as comunidades e instituições.

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Ageas aposta em venda consultiva e foge da guerra de preços

Alexandra Catalão, responsável pela ligação aos agentes da Ageas Seguros, explica como a companhia preparou a estratégia para ser rentável ao ganhar quota de mercado no canal dos mediadores.

Alexandra Catalão foi durante cinco anos responsável pelo marketing da Ageas antes de se tornar Diretora Nacional da Rede de Agentes da companhia.

Há mais de três anos como dirigir a nível nacional a Rede de Agentes na distribuição da Ageas Seguros, Alexandra Catalão, quer fugir à guerra de preços e aposta em outro tipo de abordagem ao mercado. A rede de vendas é vasta, trata-se do segundo maior grupo segurador em Portugal, e conta com uma rede exclusiva de 78 agentes e 168 lojas, uma rede multimarca com 709 agentes e 55 lojas com imagem Ageas e 373 consultores na rede Private que considera muito especial para expandir o mercado e reduzir o protection gap em Portugal. Em entrevista a ECOseguros, explicou a estratégia e como está a ajudar a rede a atingir objetivos e como vê a fusão Generali e Liberty no mercado nacional.

Como está a correr 2024?

Extremamente bem. Continuamos a crescer acima do mercado, que ao fecho de julho estava a subir 10%, enquanto a própria Ageas e a sua rede de agentes tradicional cresceu cerca de 12,5%. Continua a existir alguma resistência por parte dos clientes em adquirirem novos seguros, porque o contexto de inflação, do aumento da frequência do consumo dos seguros, nomeadamente de saúde, depois também a ter impacto a nível do automóvel, levou a tomarmos medidas para fazer alguma recuperação técnica, ou seja, obrigou-nos a fazer uma correção tarifária. Mas, mesmo em todo este contexto, as coisas têm estado a correr bem.

A Ageas Vida é a marca que, na prática, representa a marca Ageas seguros para os produtos de vida. Inclui os produtos de poupança, investimento e de risco. Não tem existido grande evolução…

Em poupança e investimento estamos diferenciados no mercado porque, de facto, somos líderes no desenvolvimento de produtos. Fizemos um forte investimento não só em produtos, mas também na automatização da digitalização dos processos de venda para os clientes. E temos feito uma forte cruzada para cada vez mais a rede de mediação despertar para a dimensão da poupança e do investimento junto dos seus clientes.

Quais os obstáculos?

Os agentes não venderam muitos produtos de seguros de poupança e investimento, especialmente nos últimos anos, face à redução das taxas de juro. Eles gostam muito de vender produtos que garantam o capital, mas isso não foi compaginável até mais recentemente. Mas temos preparado os agentes, não só com formação nos produtos, também com uma maior aposta naquilo que são os produtos unit linked, temos estado a investir para os agentes deixarem de ter receio de abordarem os clientes nesta dimensão.

Há vontade de apostar em produtos de capital garantido e rendimento garantido?

Temos os produtos e, no contexto mais recente, a inflação aumentou as taxas de juro. Nós temos conseguido algumas soluções mas, mesmo assim, o cliente tem um potencial de rendimento muito maior. Se investir em soluções de poupança, o correto é dividir o seu capital quer em soluções mais conservadoras, as que garantem capital, quer em soluções que, não garantindo o capital, são propensas a ter que ter uma maior rendibilidade. Por exemplo, prevemos lançar um produto PPR, para responder aos benefícios fiscais do final do ano, baseado também em capital garantido.

“Para crescermos de forma rentável os agentes têm de vender os produtos de vida, de saúde, os acidentes pessoais e patrimoniais”.

Só capital ou também rendimento garantido?

Capital e também o rendimento garantido durante um período de tempo. E vamos lançar também uma solução inovadora, não com capital garantido, um produto unit linked para clientes com mais de 55 anos. Nesta aposta de venda de produtos financeiros, até lançámos o Clube dos Financeiros, onde contamos com cerca de 60 agentes, a nível nacional, a quem damos uma formação regular porque é muito importante eles terem informação sobre os mercados financeiros para depois explicarem aos clientes quando existem oscilações ou quando é o melhor momento para comprar.

O que é esse clube?

São nossos agentes exclusivos, mas também desafiámos agentes multimarca. Damos formação e informação contínua, para eles terem confiança ao falarem com clientes nesta dimensão. Temos sempre de dizer aos próprios mediadores que muitos dos clientes têm poupanças e eles tem que as investir. Se não investem com os mediadores vão investir noutro sítio, muitas vezes no canal bancário. E aí, como as soluções que os bancos oferecem são semelhantes, os agentes acabam por colocar em risco a sua própria carteira dos clientes. O cliente pode fugir dos seguros afetando os próprios agentes.

Esse clube está aberto a ser expandido?

Para permanecerem no clube, os membros têm um mínimo de vendas, também têm um conjunto de incentivos por cumprirem os objetivos e, anualmente revemos a manutenção ou entrada de novos agentes. O clube tem um sentimento exclusivo, isto é, o que nós queremos é ter cada vez mais agentes a vender e gostaríamos de ter aqui uma elite que fosse muito produtiva e que na realidade tivesse níveis de vendas bastante alargados. Isto também é trabalhar a sustentabilidade dos clientes. É fundamental que os nossos agentes criem literacia nos clientes destacando a importância da poupança. Temos feito muito trabalho de literacia, formação e envolvimento para eles cada vez estarem mais preparados, pois temos a dimensão do risco, da proteção da vida e temos uma rede que é expert na venda de produtos da venda consultiva.

Os seguros Obrigatórios continuam a pesar muito mais que os não obrigatórios?

Depende das redes. Por exemplo, na rede Private, uma rede de consultores que se foca em vida na proteção da vida e começa a vender a vida risco, o peso dos obrigatórios é de cerca de 30%, bastante abaixo da média. Nos agentes tradicionais os obrigatórios pesam 60% para a Ageas e para todo o mercado. E esse é um dos grandes desafios da nossa estratégia para crescer com rentabilidade. Entre esses produtos os principais são automóvel e de acidentes de trabalho que têm tido, nomeadamente o automóvel, uma pressão muito grande sobre a rentabilidade. Para crescermos de forma rentável os agentes têm de vender os produtos de vida, de saúde, os acidentes pessoais e patrimoniais. E esta via é também uma forma de endereçamos o protection gap de que falamos tanto no nosso país.

O ramo automóvel em Danos Próprios não tem aumentado a sua importância face à responsabilidade civil obrigatória. Seria este um caminho de crescimento?

Era desejado enquanto caminho de crescimento. No entanto, a cobertura danos próprios vende-se para carros no máximo em oito anos, porque acima disso o valor do seguro já começa a ser muito elevado face ao valor da própria viatura. A maior parte do parque automóvel tem mais de dez anos, só nas viaturas novas as pessoas têm tendência a comprar um seguro de danos próprios. Acho que é muito fruto da literacia, costumo sempre dizer que quem deve ter um seguro de danos próprios é quem tem menor capacidade económica e financeira. Sem cobertura de danos próprios, se acontecer alguma coisa, esse património relevante perde-se.

No segmento das PME tem havido crescimento?

É uma aposta estratégica, temos estado a crescer e, em 2023, no espaço de dois anos, ganhámos mais de um ponto quota de mercado, para além das PME estarem a ser uma das alavancas para a nossa rede de agentes. O crescimento é suportado numa abordagem de prevenção porque não queremos crescer só através do preço, isto é, nós queremos que os empresários portugueses cada vez mais percebam que o seguro é um elemento na gestão do risco e que cada vez mais têm de investir e apostar na prevenção. Em caso de um acidente, não cobre todos os custos que uma empresa tem, há custos morais e custos reputacionais de entre um conjunto de custos indiretos que o seguro não paga. Lançámos um conjunto de iniciativas para dar a conhecer este serviço de prevenção e fizemos intervenções de mais de 200 clientes em empresas que tinham problemas de sinistralidade com reflexo nos próprios custos da própria empresa.

Estão a fazer análise de risco?

Fazemos análise de risco e não só a que desenvolvemos para empresas mais complexas ou com maior dimensão. Investimos numa equipa de analistas de riscos que visita as empresas e faz um relatório de recomendações. Também investimos numa equipa que damos aos nossos agentes certificados no segmento das PME e onde eles podem agendar visitas com empresas não só suas clientes, mas também empresas na sua zona de atuação e onde eles podem fazer um diagnóstico do risco, nomeadamente na área patrimonial, gerando um relatório de todas as recomendações para garantia da segurança do seu património e das próprias pessoas. Temos uma certificação nas PME’s, com um programa que conta com mais de 100 agentes a nível nacional, exclusivos e não exclusivos. Fizemos em parceria com a Universidade Nova e onde eles têm uma formação anual regular para aumentar os seus conhecimentos, não só na dimensão da prevenção, mas também na dimensão das necessidades das próprias empresas.

A nossa missão é continuar a crescer não só com a rede multimarca, mas alavancando muito a rede exclusiva, nomeadamente a rede private

A rede exclusiva está estável ou pretendem aumentar?

Nós queremos crescer na rede exclusiva e na rede Private e estamos com um plano nesta altura. Vamos terminar este ano com cerca de 400 consultores, pois tivemos um projeto nos últimos três anos de aumentar a rede em quase mais de cerca de 150 consultores. Já estamos a trabalhar num plano de alargamento para 2027, porque aquela rede faz venda consultiva, é uma rede bastante profissional, produtiva e rentável. Também temos uma rede de agentes exclusivos presente a nível nacional e o nosso objetivo é avançar em regiões onde ainda não estamos presentes. A rede multimarca é claramente o maior canal de distribuição no mercado português de seguros dentro da mediação, também queremos alargar as nossas parcerias e consolidar relações com agentes. Em resumo diria que nós estamos numa fase de crescimento, que a nossa missão é continuar a crescer não só com a rede multimarca, mas alavancando muito a rede exclusiva, nomeadamente a rede private.

A recente fusão Generali e Liberty vai fortalecer um poderoso concorrente…

Esse fortalecimento acaba por ser, acima de tudo, menos bom para os agentes, porque de um momento para o outro, muitos deles que tinham as suas carteiras distribuídas normalmente por duas ou três companhias, muitas vezes tinham parte do seu negócio na Liberty também. De um momento ou outro, passam a ter uma exposição muito grande a uma companhia e isso é uma preocupação natural da rede de distribuição e dos agentes. Nós não temos sentido o impacto dessa fusão porque os agentes cada vez mais querem trabalhar com a Ageas. Somos a segunda empresa na distribuição de seguros no mercado português, de forma consolidada entre vida e não vida, somos uma referência.

A concorrência entre seguros ao crédito à habitação está a afetar?

Estamos a observar que, de facto, se está a tentar fazer dos seguros vida risco aquilo que se fez com o automóvel, uma redução de preços para um nível que qualquer dia começa também a colocar em causa a rentabilidade no próprio produto. Nós sentimos que temos uma carteira de vida risco mais alavancada na venda consultiva e não há churn porque as pessoas compram não só para o crédito, mas para a proteção da família. Notámos, fruto do aumento das taxas de juro, alguns clientes a amortizar os seus créditos e obviamente a prescindirem do seu seguro.

Os prémios estão a baixar demasiado?

Não somos a companhia mais competitiva em termos de pricing, porque não achamos ser a forma adequada de desenvolver este negócio. Claro que estamos presentes, temos uma oferta direcionada, temos um bom nível de competitividade, mas observamos que o mercado está de tal forma tão competitivo, com níveis de preços tão reduzidos, que estamos mais a investir na parte boa que é a venda consultiva.

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Joaquim António é o novo Diretor de Sinistros da Universalis Acrisure

  • ECO Seguros
  • 9 Setembro 2024

O especialista carrega para o cargo mais de 20 anos no setor segurador. Carreira que iniciou com duas licenciaturas, uma em gestão, outra em direito e ainda um mestrado em gestão de informação.

Joaquim António juntou-se à equipa da Universalis Acrisure como novo diretor de sinistros, deixando o cargo de Claims Senior Advisor da Marsh McLennan, anunciou a corretora em comunicado.

Joaquim António é o novo diretor de sinistros da Universalis Acrisure: “Espero com o meu contributo, possibilitar que a empresa continue na sua trajetória de crescimento, fazendo sempre mais e cada vez melhor.”.

O profissional assume agarrar esta oportunidade com sentido de responsabilidade e com a ambição contribuir para a atual trajetória de crescimento da empresa.

“Fazer parte da equipa de um corretor que, apesar de uma ainda curta história, ocupa já o 6º lugar no Ranking Mundial de Corretagem de Seguros, faz com que assuma este novo desafio com um enorme sentido de responsabilidade, motivação e grande ambição”, assinalou o especialista. “Espero com o meu contributo, possibilitar que a empresa continue na sua trajetória de crescimento, fazendo sempre mais e cada vez melhor.”, acrescentou.

Há mais de 20 anos no setor segurador, Joaquim António integrou a equipa que implementou e lançou no mercado em 2014, a seguradora BIC Seguros em Angola, onde exerceu o cargo de Diretor do Departamento de Sinistros. Passou por várias seguradoras até que entrou no mercado de corretagem em 2015 na Atlas Seguros.

Joaquim António acumula duas licenciaturas: uma em gestão pelo instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais e outra em Direto pela Universidade Católica do Porto. É também mestre em Gestão da Informação pelo Departamento de Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro.

“A experiência 360.º do Joaquim [António] nesta área, quer do lado das peritagens, do setor segurador e nos últimos 10 anos na corretagem são a garantia para os nossos clientes que o grupo Acrisure, está comprometido em prestar um melhor, mais rápido e diferenciado serviço ao cliente, quer seja empresarial quer particular.”, afirmou José Rodrigues, diretor-geral da Universalis Acrisure.

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Saiba quem são os nomeados da Extel para melhor CEO e CFO das seguradoras europeias

  • ECO Seguros
  • 9 Setembro 2024

Extel revelou os nomeados aos prémios de melhor diretor-executivo e diretor financeiro do setor segurador europeu. Ainda revelou que seguradoras têm o melhor programa ESG.

Philippe Donnet da italiana Assicurazioni Generali e, de seguida mas ainda em primeiro lugar surge Thomas Buberl da Axa França ambos classificados como os melhores diretores-executivos do setor segurador europeu pela sondagem Extel que foi decidida por 1.765 profissionais de investimento de 820 empresas.

Thomas Buberl da Axa França e Philippe Donnet da italiana Assicurazioni Generali são considerados os melhores diretores executivos do setor segurador pelo estudo da Extel.

O galardoado diretor-executivo da Generali assinalou que 2024 é importante para a seguradora por ser o ano em que termina o plano estratégico trienal e por isso ter que apresentar os resultados ao mesmo tempo que prepara o próximo triénio. “Tanto a nível económico como geopolítico, o mundo mudou significativamente desde que apresentámos a nossa estratégia atual, mas, apesar disso, temos vindo a obter excelentes resultados de forma consistente”, assinalou.

O especialista destacou que uma estratégia para os próximos cinco a sete anos que não tenha em consideração inteligência artificial “é provável que seja a estratégia errada”.

E os restantes prémios vão para…

Jos Baeten da ASR Holanda ocupa o terceiro lugar como melhor CEO. Na categoria de Melhor Direção a seguradora ocupa o primeiro lugar.

O primeiro lugar da categoria de Melhor CFO (diretor do departamento financeiro) é ocupado por Cristiano Borean da Generali. Ewout Hollegien da ASR Holanda posiciona-se no segundo lugar dessa categoria e Alban de Mailly Nesle da Axa França no terceiro.

Fabio Cleva, também da italiana, foi classificado como Melhor Profissional de Investor Relations. Surgindo seguidamente Michel Hulters da ASR Holanda e Anu Venkataraman da Axa França.

A italiana foi avaliada como a que tem o Melhor Programa ESG, com a francesa em segundo lugar e a holandesa a fechar o pódio.

A Generali destaca-se novamente com o Melhor Programa de Investor Relations, com a Axa em segundo e a ASR na terceira posição. Também foi para a Generali o Melhor dia do Investidor, seguindo-se a ASR e, por último a AXA. Seguindo a mesma ordem está a categoria de Melhores Equipas de IR.

O estudo concluiu que é a ASR a seguradora com o Melhor Conselho de Administração.

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Multicare lança produto complementar de saúde

  • ECO Seguros
  • 9 Setembro 2024

O produto promove uma maior responsabilidade individual pela proteção em saúde e vai ficar disponível no mercado a partir de 10 de setembro de 2024.

A Multicare lançou o Multicare Proteção Extra, um novo produto de saúde que permite que os clientes reforcem o capital de internamento hospitalar além do que já é garantido pela sua entidade empregadora, promovendo assim uma maior responsabilidade individual pela proteção em saúde, avançou em comunicado a Fidelidade.

O Multicare Proteção Extra oferece um capital de internamento hospitalar de 250.000 euros, com a possibilidade de adicionar uma cobertura opcional para Doenças Graves, que aumenta o capital disponível para 1.000.000 euros. O produto vai ficar disponível no mercado a partir de 10 de setembro de 2024.

Para contratar o Multicare Proteção Extra, o cliente deve ser pessoa segura de uma apólice grupo Multicare de uma empresa, denominada apólice base. Essa apólice base deve possuir um capital mínimo de internamento de 20.000 euros, que funcionará como franquia para acionar este novo seguro. Além disso, o seguro pode ser extensível a todos os membros do agregado familiar, desde que estes estejam também incluídos na apólice base.

O Multicare Proteção Extra que não exige o preenchimento de um questionário individual de saúde (QIS) nem a realização de exames médicos.

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