É conferencista, dá aulas, apoia a organização de eventos na FIL e ajuda a divulgar a história da Batalha de Aljubarrota. É a nova vida António Ramalho, que saiu do Novobanco há um ano.
Um ano depois de ter saído do Novobanco, António Ramalho parece ter descoberto uma nova vocação. “Tenho sido um regular conferencista. Já fiz 12 conferências este ano. Debruço-me sobre a área do imobiliário, das infraestruturas e financeira”, conta o antigo banqueiro ao ECO.
Uma das últimas conferências em que participou foi a Vigo Global Summit, “uma grande conferência internacional” em que também esteve o Nobel da Economia Paul Krugman. António Ramalho diz que foi “uma honra” ter sido um dos dois oradores portugueses que marcaram presença no evento, ao lado do ex-ministro da Economia Pedro Siza Vieira.
Ser orador é apenas uma das novas atividades de António Ramalho, que, prestes a completar 63 anos, acumula funções em várias instituições desde que terminou a “gigantesca tarefa” de recuperação do Novobanco – um período que também envolveu um enorme desgaste da sua imagem pública sendo que era ele quem dava a cara pelo banco nos pedidos milionários ao Fundo de Resolução.
Sobre o banco onde esteve seis anos como CEO, de resto, diz que está numa nova fase, “muito sólido, rentável e motivado”, e “agora cabe aos acionistas tomarem as decisões que tiverem de tomar para o seu futuro”. Um caminho que está a ser preparado com vista a uma colocação em bolsa, como avançou Mark Bourke, o nome que sucedeu a Ramalho no banco, em entrevista ao ECO.
Atualmente as funções não podiam ser mais diferentes e ligadas essencialmente a cargos não executivas.
Desde fevereiro que dá formação a executivos na Católica Porto Business School, onde é Industry Fellow da Área de Banca e Financiamento.
No mês de abril entrou na administração da Feira Internacional de Lisboa (FIL) como vice-presidente, onde dá apoio às equipas que organizam os eventos, e assumiu ainda funções, em regime pro bono, de presidente na Fundação Batalha Aljubarrota, que divulga e desenvolve “o recordatório de uma batalha que foi muito importante para Portugal”.
Em maio soube-se da sua contratação como consultor sénior da Alvarez & Marsal Portugal, que não escapou a alguma polémica dado ter sido a consultora contratada pelo Novobanco para avaliar os negócios com imóveis, designadamente se tinham sido realizadas de acordo com as melhores práticas.
Mais recentemente foi convidado por António Saraiva para ser membro da administração da Cruz Vermelha Portuguesa, onde também não aufere qualquer remuneração.
“Vida mais intensa? É uma vida diferente, em que procuro dar à sociedade a experiência que acumulei nas últimas décadas”, sublinha quem desde os anos 90 passou pela gestão das maiores empresas e bancos em Portugal e que agora quer estar mais na sombra e vigiar quem toma as decisões e as executa. “Quem exerce funções executivas tem de perceber que, a determinado momento, tem de abandonar essas funções e o seu conhecimento às empresas em cargos não executivos”, explica.
No fundo, é aquilo a que António Ramalho chama de “stewardship”, algo sobre o qual aprofundou conhecimento na reconversão profissional que fez mal saiu do Novobanco. Há um ano foi tirar um diploma de não executivo na escola de negócios suíça IMD com uma formação de high performance board. “Preparou-me, sobretudo, para apoiar as comissões executivas, o que são as dinâmicas dos boards e a gestão com os diferentes stakeholders”, conta.
Desse regresso às aulas recorda a troca de experiências “com pessoas muito interessantes”, incluindo gestores de grandes empresas europeias e de todo o mundo, e com as quais ainda mantém contacto através de grupos no WhatsApp.
“Vida mais intensa? É uma vida diferente, em que procuro dar à sociedade a experiência que acumulei nas últimas décadas. Quem exerce funções executivas tem de perceber que, a determinado momento, tem de abandonar essas funções e emprestar o seu conhecimento às empresas em cargos não executivos.
Regresso à banca? “Não posso responder”
António Ramalho diz que tem tempo para desempenhar bem as funções que ocupa atualmente: “A gestão não executiva destas atividades é feita sobretudo com contactos, que são hoje em dia muito mais fáceis com as novas tecnologias”.
O que lhe permite também passar mais tempo com a família, incluindo os seus três netos ainda em idades tenras.
Embora tenha mudado de vida em termos profissionais, o local das férias é o mesmo: Algarve. “Sou muito conservador no que toca a férias de verão”, refere. É onde está por estes dias. Este ano até dá jeito porque no próximo dia 14 participa na comemoração dos 638 anos da Batalha de Aljubarrota no Campo de S. Jorge, na Batalha, que está a ser preparada pela fundação a que preside.
Por outro lado, também se mantém como “um profundo observador da vida económica” e, em particular, dos bancos. “Foram capazes de resistir ao período de taxas muito baixas na última década e estão agora a tirar partido da normalização da política monetária. Diria que voltaram — de uma forma inesperada para muitos, mas sem surpresas para quem conhece o setor — a recuperar a solidez”, atira.
O antigo CEO do Novobanco antecipa, ainda assim, que os próximos meses venham a ditar uma maior concorrência no crédito e nos depósitos, “que vai implicar uma maior pressão na margem financeira dos bancos”.
Vê-se a regressar à banca? António Ramalho deixa a porta entreaberta: “É uma pergunta a que não posso dar resposta. Nesta fase de vida, analisa-se as propostas que nos chegam e avaliamos em função das circunstâncias e do que pretendem os acionistas”.
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De conferencista à Cruz Vermelha. Conheça a nova vida de António Ramalho
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