Empresários querem ponto final na polémica da Caixa
A instabilidade na CGD tem repercussões no já débil sistema financeiro nacional, alertam os empresários. A saída da administração é inevitável porque "já não existem condições, nem confiança".
O que nasce torto tarde ou nunca se endireita, o provérbio popular nunca parece ter feito tanto sentido. A ida de António Domingues para CEO da Caixa Geral de Depósitos nunca foi pacífica. Primeiro foram os salários da administração, com especial atenção para o de Domingues, a levantar polémica, depois foi a recapitalização do banco público e, por último, tem sido a polémica à volta da entrega ou não das declarações de rendimentos e de património ao Tribunal Constitucional.
Os empresários nacionais estão fartos da polémica em torno da Caixa Geral de Depósitos e exigem uma resposta o mais rápido possível. Apesar de todos admitirem que a instabilidade ainda não atingiu as suas empresas, nomeadamente com a relação que têm com o banco público, todos são unânimes em que este clima de instabilidade está a minar e a colocar em causa o já de si débil sistema financeiro nacional. Há ainda um outro dado a gerar unanimidade entre os empresários: a competência de Domingues e seus pares não está em causa, mas ninguém pode estar acima da lei.
“As empresas nacionais sempre tiveram um grande aliado na Caixa Geral de Depósitos, o maior capital da Caixa era a confiança, dos depositantes e das empresas e esse capital está a ser destruído”, afirma João Miranda, presidente da Frulact.
"As empresas nacionais sempre tiveram um grande aliado na Caixa Geral de Depósitos, o maior capital da Caixa era a confiança, dos depositantes e das empresas e esse capital está a ser destruído”
O empresário refere que a “CGD está a pôr em causa todo o sistema financeiro nacional, é uma instituição centenária que devia merecer de todos, especialmente do Estado, o seu acionista, um maior respeito“. Sobretudo, acrescenta, por seu turno, Jorge Armindo, “quando estamos a braços com o processo de recapitalização da Caixa, devíamos ter mais cuidado”. “Podem existir alguns riscos, nomeadamente o de Bruxelas não achar muita graça ao que se está a passar“, alerta o presidente da Amorim Turismo.
Uma opinião partilhada pelo presidente da Frezite, José Manuel Fernandes que classifica a situação de “absolutamente desnecessária”. “Fragiliza e muito a atividade de todos os agentes económicos. As empresas nacionais precisam de uma nuvem de confiança sobre as cabeças e não é isso que está a acontecer“, refere o gestor que garante que “o país precisa de pacificação e de credibilidade”.
"As empresas nacionais precisam de uma nuvem de confiança sobre as cabeças e não é isso que está a acontecer. O país precisa de pacificação e de credibilidade.”
Armindo Monteiro, presidente da Compta cita um amigo estrangeiro que lhe garante que esta “situação só é possível em Portugal”. Para o empresário “o assunto devia ser resolvido o mais rápido possível porque já se foi longe demais”. “Isto é uma machadada na credibilidade do sistema financeiro nacional e causa um dano difícil de quantificar”, acrescenta.
Já Fortunato Frederico considera que “tudo o que está a acontecer é uma vergonha para todos. Não fica ninguém bem na fotografia”.
O primeiro-ministro já começou a tentar travar as ondas de instabilidade. Ontem, a partir de Marrocos, António Costa garantiu que a estabilidade da Caixa não está em causa seja qual for a sua administração, adiantando que o mais importante para o banco público foi o plano de recapitalização. “Convém não confundir estabilidade da CGD e do sistema financeiro nacional com problemas que, eventualmente, a administração da Caixa tenha no cumprimento das suas obrigações legais”, sustentou António Costa, depois de questionado pelos jornalistas sobre a prolongada controvérsia em torno do futuro da administração do banco público.
“A estabilidade da CGD é assegurada pelo plano de capitalização, que foi apresentado, aprovado pela Comissão Europeia e que tem condições de ser executado quer pelo Estado, quer pelo mercado”. Ou seja, segundo António Costa, a estabilidade da CGD “não está em causa seja qual for a administração”.
E estarão as empresas a sentir já na pele os efeitos desta indefinição à volta da administração da Caixa?
A resposta é negativa. Mas João Miranda adianta que tem “conhecimento, por conversas” que tem “tido que as decisões são mais lentas, a assunção do risco é menor e os spreads começam a disparar”.
Culpados?
De quem é a culpa pela situação a que se chegou na Caixa? Apesar de essa não ser a principal preocupação dos empresários, é um tema em que parece mais uma vez existir unanimidade. O Governo não pode assumir compromissos que não pode cumprir.
“Não se pode criar um fato à medida, se não se podiam assumir compromissos não se assumiam, é o que se passa no universo das empresas”, diz Armindo Monteiro.
"Há um princípio e esse princípio devia ser cumprido.”
Já Humberto Pedrosa, presidente do conselho de administração da TAP opta por salientar que “há um princípio e esse princípio devia ser cumprido”. De resto, para João Miranda “o silêncio do presidente da Caixa quer dizer muito”. “Houve um compromisso assumido que não está a ser cumprido, mas isto já não é uma situação sustentável”, diz. João Miranda considera mesmo que, “com ou sem declaração entregue, a confiança já se foi. Foi-se longe demais”.
“Nunca esteve em causa o perfil, nem a competência dos gestores da Caixa”, defende Armindo Monteiro. “Pessoalmente, parece-me, de fato, que esta é a equipa que a Caixa precisava para o momento. Mas a manter-se esta situação não vejo alternativa que não seja a da saída da administração“.
"Nunca esteve em causa o perfil, nem a competência dos gestores da Caixa. Pessoalmente, parece-me de fato que esta é a equipa que a Caixa precisava para o momento. Mas a manter-se esta situação não vejo alternativa que não seja a da saída da administração.”
Para Fortunato Frederico, “o processo começa logo mal quando António Domingues foi convidado e pede para não ficar ao abrigo de gestor público. Não se pode pedir regalias que mais ninguém tem”. “As elites não podem achar que são superiores”, acrescenta.
Jorge Armindo, por seu turno, diz que “este folhetim não é bom para a Caixa, nem para o Governo, porque se esta administração sair, o Executivo terá um problema para resolver, uma vez que não vai ser fácil encontrar outra equipa competente e independente”. Ainda assim, Armindo defende que “o melhor seria que esta administração se mantivesse no cargo“, até porque há um processo de recapitalização que é necessário levar por diante.
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