Ninguém trava a queda do BCP. Porquê?

O BCP não está a ter um ano fácil em bolsa. Quedas atrás de quedas até aos cêntimos. Nem a fusão das ações interrompe a tendência. A Fosun agradece, os restantes investidores é que não.

Valia 4,89 cêntimos no final do ano. É o equivalente a 3,66 euros, com o número de ações atuais, uma cotação bastante superior aquela a que BCP negoceia, agora, na bolsa de Lisboa. Desapareceu dois terços do valor, num contexto de tensão e apreensão dos investidores que nem o interesse da Fosun está a conseguir desfazer. É o medo do fantasma do aumento de capital.

É, de longe, o título com o pior desempenho no mercado português desde o início do ano. Acumula uma queda de 66%, grande parte da qual registada nos primeiros meses. Mas foi nos últimos meses que o banco liderado por Nuno Amado viveu o período mais negro. As ações chegaram a tocar nos 1,42 cêntimos, o valor mais baixo de sempre, no arranque de setembro.

Uma queda registada já depois de demonstrado o interesse da Fosun em entrar no capital do banco, contribuindo assim para a capitalização da instituição. Foi a 29 de julho que o grupo chinês que detém a Fidelidade anunciou a intenção de dar este passo, assumindo o interesse em ficar com 16,7% dos títulos, mas abrindo a porta a alcançar os 20% ou 30%.

A promessa veio com uma contrapartida: o valor a pagar não pode ser superior a dois cêntimos ou 1,50 euros, considerando a operação de fusão das ações entretanto já anunciada. E os investidores respeitaram: os títulos nunca mais chegaram a esse patamar. Nem mesmo depois do reverse stock split, visto como arma para pôr o banco no radar dos fundos internacionais, as ações ressaltaram. O saldo desde então é negativo em 17,5%.

Só com a Sonangol a assumir o interesse em também passar dos 20% do capital (é a maior acionista, com 17,84%) é que os investidores se animaram. Desde então, os títulos subiram 8,6% para os atuais 1,249 euros, ainda assim um valor que mantém o BCP longe do preço máximo que a dona da Fidelidade admitiu pagar. Enquanto os restantes acionistas perdem, a Fosun consegue entrar no banco com um desconto de 16%.

Com a Sonangol “em jogo”, os investidores mostram-se mais confiantes no BCP. A antecipação quanto a uma “guerra” pela posição de maior acionista do banco tem animado os títulos, mas mantém-se o desempenho altamente negativo no ano — o BCP perde 66% e o setor europeu cai 13,6% em 2016 — à custo dos receios de um novo aumento de capital.

O “fantasma” do aumento de capital tarda em deixar de assustar os investidores do banco. Apesar da Fosun e do apetite demonstrado pela Sonangol, a perspetiva é de que o banco necessite de mais capital para fazer face às elevadas imparidades de crédito que continua a apresentar. O BCP reconheceu perdas de 870,2 milhões de euros até setembro — um aumento de 41,8% face ao período homólogo.

Estas imparidades levaram o banco a prejuízos de 251,1 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um resultado que compara com os lucros de 264,5 milhões de euros registado no período homólogo. E prejuízos deste montante pesam nos rácios de capital. O rácio de capital Tier 1 encolheu para 12,2%. Há um ano estava nos 13,2%.

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