Moody’s avisa: Europa tem riscos políticos. Itália e Portugal em destaque pela banca
A agência de rating avisa que estes dois países apresentam maiores fragilidades no seu sistema bancário. E nota que o risco político na Europa é elevado.
Risco político aumentado, fraco crescimento, dificuldades nos países mais endividados de se libertarem do fardo da dívida. Este é o contexto que a Moody’s — uma das agências de rating que considera o investimento em dívida portuguesa como especulativo — identifica na Europa de hoje. Mas em Portugal e na Itália soma-se mais uma dificuldade: têm um setor financeiro fragilizado.
Portugal e Itália foram os dois países destacados pela Moody’s como apresentando particular fragilidade nos bancos, durante uma conferência que decorreu esta terça-feira, em Lisboa. Dietmar Hornung, diretor da divisão de risco soberano da Moody’s, frisou a “fragilidade do setor financeiro” nos dois países, que melhoraram apenas de forma “modesta” os seus rácios de capital e continuam a apresentar “desafios” no que toca à qualidade dos ativos.
Itália e Portugal surgem, aliás, como os dois países onde o peso do malparado no total de empréstimos concedidos permanecia no segundo trimestre de 2016 mais elevado do que no final de 2012. Já Espanha, Irlanda e Alemanha melhoraram este indicador.
Contudo, o analista frisou que “a boa notícia é que os desenvolvimentos na banca não estão a guiar os ratings”, por causa de todo o trabalho de regulamentação que tem vindo a ser feito a nível europeu.
Também na semana passada a Fitch deixou alertas sobre a saúde da banca portuguesa. A agência deixou o rating inalterado em grau abaixo de investimento (especulativo) mas sublinhou as consequências negativas de um eventual resgate do Novo Banco.
Europa soma riscos
O problema é que a Europa soma um conjunto de riscos. Por enquanto, os ratings dos países da União Europeia estão maioritariamente estáveis. Há apenas três países com outlook negativo — Reino Unido, Itália e Croácia — e outros três com outlook positivo — Irlanda, Eslovénia e Chipre. Mas a possibilidade de os ratings serem rapidamente afetados por desenvolvimentos políticos existe.
“A maior parte dos ratings estão estáveis, embora haja risco político”, avisou Dietmar Hornung. “Não esperamos um revival da crise de 2012, mas há riscos”, sublinhou.
A Moody’s divide os países que apresentam maiores desafios políticos sob a perspetiva do rating em dois grupos: os que têm eleições marcadas e os que têm um governo suportado por uma configuração política que pode conduzir a medidas mais arriscadas para o rating.
França é um caso evidente do primeiro grupo. “Há muita incerteza”, reconheceu o responsável da Moody’s. Portugal está no segundo grupo: tem “um governo minoritário suportado pelos partidos de esquerda que pressionam para uma política orçamental mais expansionista”, notou Dietmar Hornung, na sua apresentação.
“Por enquanto”, frisou o analista, “o risco é remoto, mesmo tendo em conta o outlook negativo” de países como a Itália. “Mas se houver um caminho para a saída do euro de um dos países, aí haverá uma movimentação nos ratings relativamente rápida”, avisou. É que se nos Estados Unidos, mesmo com a administração Trump, é impensável uma separação dos Estados, isso não acontece na Europa.
Dietmar Hornung avisou ainda que o Reino Unido, a Irlanda e a Alemanha serão os países que podem ter mais a perder com políticas protecionistas implementadas pelos Estados Unidos. “Portugal não será tão diretamente afetado, embora estas sejam consequências a ter em conta”, disse o responsável.
Zona Euro compara mal com outras regiões
Para a Moody’s, as preocupações de médio prazo com a zona euro são de dois tipos: primeiro, a construção do projeto está por terminar, estando agora sujeito aos riscos dos populismos.
Segundo, “a outra preocupação é que a Europa está a falhar na promessa de crescimento”, defendeu. Quando comparada com outras regiões, como por exemplo, as economias avançadas, o ritmo de crescimento da zona euro desde 1992 tem sido mais baixo. E para a década de 2011-2020 continua a ser expectável uma redução do PIB do conjunto da moeda única de 1,1%.
As medidas utilizadas pelo bloco do euro também não se estão a revelar suficientes. Dietmar Hornung notou que primeiro houve um recurso aos balanços dos Estados, depois a utilização da política monetária, e agora pede-se novamente que seja acionada a política orçamental. Contudo, “os países que poderiam fazer mais através da política orçamental, como a Alemanha ou a Irlanda, não querem”, frisou o analista. “Ao contrário do que acontece com os países que não têm espaço orçamental”, somou. Mais: verifica-se também que os países que têm dívidas acima do aceitável continua a aumentar a dívida, enquanto os que já têm rácios aceitáveis a estão a diminuir. “Isto não é positivo”, avisou o diretor.
Para a Moody’s, um choque apenas ao nível do crescimento não levanta problemas maiores de sustentabilidade da dívida, mas se for combinado com um choque orçamental com aumento de taxas de juro, coloca um risco elevado.
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