Costa deixa recado à banca: “É preciso financiar em função do mérito da empresa”
Para o governador do Banco de Portugal, os bancos têm um papel vital na formação de um bom corporate governance das empresas, a quem deve financiar com base no mérito da instituição.
Os bancos têm um papel crítico na formação de boas práticas de governance nas empresas, um papel ao qual não se deve dissociar o facto de que são eles quem financiam a economia com recurso às poupanças dos portugueses, disse o governador do Banco de Portugal. Por isso, salientou Carlos Costa, as instituições de crédito devem financiar a economia com base no mérito das empresas.
O governador falava numa conferência organizada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, esta terça-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Mas mais do que os problemas de governo que assistem ao próprio setor financeiro, Costa abordou o papel dos bancos no corporate governance e na promoção do mercado de capitais.
“O papel dos bancos é crítico. É o papel de quem pode exigir informação. É o papel de quem pode de assegurar que a informação é única. É o papel de quem tem de assegurar a resiliência da instituição”, sublinhou Carlos Costa diante de uma plateia com vários responsáveis da banca portuguesa, entre eles, Faria de Oliveira (presidente da Associação Portuguesa de Bancos) e Paulo Macedo (presidente da Caixa Geral de Depósitos). A quem deixou alguns recados.
“O sistema de concessão de crédito que não aposte no projeto cria barreiras à entrada dos novos, favorece os incumbentes. Os bancos devem financiar em função do mérito e não com base nas garantias prestadas pelas empresas“, referiu o governador, salientando que o modelo de avaliação do risco de crédito deve mudar.
É necessária “uma grande alteração da cultura em matéria de avaliação do risco” na concessão de crédito, disse Costa. Se hoje a avaliação está sobretudo “assente nas garantias patrimoniais ou garantias pessoais no momento do crédito”, “o que se tem de perguntar é o modelo de negócio, o business plan, e quais os objetivos da empresa”, disse.
"O sistema de concessão de crédito que não aposte no projeto cria barreiras à entrada dos novos, favorece os incumbentes. Os bancos devem financiar em função do mérito e não com base nas garantias prestadas pelas empresas.”
Para Costa, “a governance é uma questão de interesse público” e, em particular, de interesse dos bancos. Por várias razões. Primeiro porque os bancos, quando emprestam dinheiro às empresas, fazem-no com recurso aos depósitos aplicados pelas famílias portuguesas, assumindo como agente relevante na redistribuição da riqueza. E depois porque “as práticas de governance determinam a natureza do desenvolvimento de um país”.
Neste ponto, o governador destacou que se deve dar a ênfase à “continuidade da organização que tem de se sobrepor aos interesses particulares”. Não deixou exemplos de instituições que foram à falência no passado em Portugal por estar capturada por interesses de determinados stakeholders.
Ainda assim, frisou que uma boa governance é aquela em que promove um equilíbrio de forças entre os constituintes de uma empresa, desde os acionistas e administração até os trabalhadores, clientes e fornecedores.
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