E se fizéssemos como São Francisco e não falássemos mal de nós
Para Portugal se consolidar como uma marca forte, os portugueses têm de pensar antes de falar (mal). São os empresários e os políticos que o dizem.
Na 12.ª edição do Portugal Exportador, não houve apenas espaço para o que de melhor se faz — e se exporta — em Portugal. As críticas e os pontos a melhorar também foram apontados, desta vez pela voz de João Vasconcelos. O antigo secretário de Estado da Indústria foi o moderador do painel “Inovar para Exportar” e deixou claro que para consolidar a marca Portugal é necessário pensar antes de falar (mal).
“Portugal é muito bom. É o melhor país da Europa para montar uma empresa digital. E quem diz isto não somos nós, é a Mercedes, a Siemens, que estão a investir milhões”, sublinha João Vasconcelos. “Porque as pessoas que falam pior de Portugal são os portugueses e isso tem de mudar“. A afirmação foi apoiada e reiterada pelos membros do painel, que consideram também que falta autoestima aos portugueses para que o país possa assumir uma posição de liderança em vários setores de produção.
"Portugal é muito bom. É o melhor país da Europa para montar uma empresa digital. E quem diz isto não somos nós, é a Mercedes, a Siemens, que estão a investir milhões. Porque as pessoas que falam pior de Portugal são os portugueses e isso tem de mudar.”
“Durante a Web Summit, se abrissem o hashtag no Twitter, as únicas pessoas que viam a falar mal do evento eram os portugueses”, continuou João Vasconcelos, comparando o nosso caso com o de outras cidades, como São Francisco, em que na presença de estrangeiros é expressamente proibido falar mal daquilo que é nacional.
Ainda assim, o antigo secretário de Estado considera que há uma nova geração que já não tem medo de afirmar de onde vem, sem qualquer risco de sair prejudicada. “Hoje vejo uma geração na tecnologia que diz na primeira frase, com orgulho, que é portuguesa. Já é algo acrescenta, não prejudica”, concluiu.
Inovação de mãos dadas com a Academia
Num painel composto por Paulo Santos, diretor do Instituto Pedro Nunes (IPN), Duarte Mineiro, da Armilar Venture e Carlos de Jesus, da Amorim & Irmãos, não houve distinção entre novos negócios e negócios mais consolidados. Se para as empresas incubadas no IPN ou que recebem capital da Armilar Venture, a inovação está-lhes do ADN, para a Corticeira Amorim foi uma maneira de voltar a ganhar o mercado.
“Tínhamos a maioria da quota de mercado do setor e achávamos que não era preciso inovar”, conta Carlos de Jesus. Tanto o desempenho da empresa como o do mercado provaram que estavam errados. As vendas encolheram, o mercado perdeu valor. “Abraçámos a inovação para voltar a ganhar o mercado”.
O mesmo aconteceu com a Academia, com o exemplo do IPN a captar na fonte, ou seja, na Universidade de Coimbra, os novos talentos. “São projetos que beneficiam estar perto da Academia”, considera Paulo Santos. O sócio da Armilar Venture vai mais longe e faz uma ligação direta entre a crise de 2008 e a abertura das universidades às empresas. “A academia portuguesa esteve muito tempo virada para si própria, muita da tecnologia de ponta vivia dentro das universidades. Com a crise de 2008, conhecimento teve de vir para os mercados”, contou Duarte Mineiro. “Já podemos falar de quase 20 exemplos que sabemos que daqui a uns anos vão ser grandes”.
Para os presentes, a corrida da inovação já começou há muitos anos e tem de ser acompanhada por todos os setores. “O digital também é para as fundições e para as serralharias”, apontou João Vasconcelos. “Isto é uma corrida e nós chegámos tarde. E os outros não estão parados, estão a correr”, rematou Paulo Santos.
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