Tesouro reembolsou mais depressa ao FMI e ainda reforçou almofada de liquidez
Os pagamentos antecipados, e acelerados, ao FMI não têm comprometido a almofada de liquidez. O Tesouro espera chegar ao final do ano ainda com uma salvaguarda maior do que tinha inicialmente planeado.
Portugal tem vindo a acelerar os pagamentos ao Fundo Monetário Internacional (FMI), aproveitando os juros baixos no mercado para amortizar dívida mais cara. Mas terá a pressa em pagar resultado na diminuição da almofada de liquidez? Não: de acordo com as projeções do IGCP, o país vai chegar ao final do ano com depósitos ainda mais elevados do que tinha previsto.
A boleia dos juros baixos está bem visível nos resultados da gestão da dívida pública. Tal como o ECO já noticiou, a 6 de dezembro a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública explicou aos investidores que até ao final do ano Portugal ainda iria pagar antecipadamente mais mil milhões de euros ao FMI. Esse reembolso foi pago esta segunda-feira.
Contas feitas, de uma previsão de 1,5 mil milhões de euros de pagamentos em 2017 que estava inscrita no Orçamento do Estado para este ano, o Tesouro deverá chegar ao final do ano com pagamentos antecipados na ordem dos 10 mil milhões de euros — são quase sete vezes mais.
Para amortizar toda esta dívida ao FMI — uma estratégia que tem a vantagem de reduzir significativamente os encargos com juros, como o ECO explicou aqui — o Tesouro está a recorrer a financiamento no mercado e não a reduzir a almofada de liquidez, face ao que tinha planeado.
Desde que recuperou o acesso ao financiamento nos mercados de dívida, o Tesouro tem mantido almofadas mais ou menos generosas, consoante as necessidades de financiamento para o ano seguinte. No Orçamento do Estado para 2017, o IGCP esperava chegar ao final deste ano com um saldo de tesouraria da ordem dos 6,6 mil milhões de euros, um valor praticamente inalterado quando comparado com os 6,5 mil milhões com que contava fechar 2016.
Contudo, em 2016 o Tesouro acabou por terminar o ano com uma almofada de liquidez de 10,2 mil milhões de euros, um valor em grande parte justificado pelo pré-financiamento da injeção de capital concretizada em março na Caixa Geral de Depósitos.
Agora, de acordo com a mais recente informação aos investidores, o Tesouro espera fechar 2017 com um saldo de tesouraria de 7,8 mil milhões de euros, 1.200 milhões de euros a mais do que o inicialmente projetado.
Previsões para almofada de liquidez
Fonte: IGCP
Para que serve a almofada de liquidez?
A chamada almofada de liquidez não é mais do que uma espécie de “pé-de-meia” que as administrações públicas têm guardado, sob a forma de depósitos financeiros, para o caso de acontecerem interrupções súbitas no normal funcionamento dos mercados. Nesse caso, os países que têm esta almofada estão mais protegidos, porque podem adiar a sua ida ao mercado, socorrendo-se dos depósitos no entretanto.
"[A almofada de liquidez] é um dos instrumentos de amortecimento de risco que os emitentes têm.(…) Nos últimos anos países que não tinham tradição, ou que tinham tradição de stocks mais baixos, têm aumentado a almofada.”
É por isso que, tal como a presidente do IGCP, Cristina Casalinho, já explicou ao ECO, não é de esperar ver a almofada de liquidez portuguesa diminuir no curto prazo. Esta reserva de tesouraria poderá diminuir um pouco, com a melhoria do grau de notação de risco de Portugal para o nível de investimento, mas este é uma espécie de “seguro” de que os Tesouros não podem prescindir.
A almofada de liquidez “é um dos instrumentos de amortecimento de risco que os emitentes têm. O que temos vindo a observar nos últimos anos é que países que não tinham tradição, ou que tinham tradição de stocks mais baixos, têm aumentado a almofada”, explicou Cristina Casalinho, presidente do IGCP, em entrevista ao ECO.
No ano passado, o IGCP manteve um saldo médio de depósitos de 12.378 milhões de euros, com um custo associado de 394 milhões de euros, segundo informação provisória, divulgada no relatório anual. Para este ano ainda não há dados.
Dívida pública na ótica de Maastricht, e líquida de depósitos
Fonte: Banco de Portugal
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