PIB acima da estimativa do Governo, abaixo de 2015

  • Lusa
  • 12 Fevereiro 2017

A economia portuguesa deve ter crescido 1,3% no conjunto de 2016, segundo analistas contactados pela agência Lusa, estimativa que, a confirmar-se, revela um abrandamento face ao ano anterior.

A economia portuguesa deve ter crescido 1,3% no conjunto de 2016, segundo analistas contactados pela agência Lusa, estimativa que, a confirmar-se, revela um abrandamento face ao ano anterior, embora fique ligeiramente acima do estimado pelo Governo nas contas para 2017. O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga na terça-feira a estimativa rápida das contas nacionais trimestrais referente ao quarto trimestre do ano passado, apresentando também a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) no conjunto de 2016.

De acordo com a média de previsões de analistas contactados pela agência Lusa, a economia portuguesa deverá ter crescido 1,3% no ano passado. Embora ligeiramente acima da previsão de 1,2% estimada pelo Governo no Orçamento do Estado para 2017, este valor, a confirmar-se, revela um abrandamento do crescimento do PIB face a 2015, quando progrediu 1,5%. No orçamento para 2016, recorde-se, o governo de António Costa previa um acréscimo do PIB de 1,8%.

O Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) apresenta a estimativa de crescimento económico mais otimista entre as recolhidas pela Lusa, de 1,4%, depois de um quarto trimestre do ano que “correu bastante bem”. Após o crescimento económico no terceiro trimestre (0,8% em cadeia e 1,6% em termos homólogos) ter apanhado os analistas de surpresa, o ISEG antecipa que este ritmo se tenha mantido nos últimos três meses do ano, ao crescer também 0,8% em cadeia e 2% em termos homólogos.

Por sua vez, o Núcleo de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica prevê que o PIB tenha subido 1,3% em 2016, estimativa influenciada também pela “surpresa positiva” do terceiro trimestre. Nesse sentido, o NECEP antecipa que o PIB tenha crescido, no quarto trimestre, 0,6% em cadeia e 1,8% em termos homólogos.

O BPI, por sua vez, antecipa que a economia tenha crescido entre 1,2% e 1,3% em 2016, depois de um quarto trimestre com uma subida entre 0,4% e 0,5% em cadeia e entre 1,6% e 1,8% em termos homólogos. Já o Montepio apresenta a estimativa mais pessimista, antecipando que o PIB cresça 1,2% no conjunto de 2016 – em linha com o Governo.

Para 2017, BPI e Montepio estimam que a economia cresça 1,5% – em linha com o antecipado pelo Governo -, enquanto o NECEP prevê que o PIB avance 1,7%. O ISEG ainda não tem uma estimativa para o conjunto deste ano.

(Atualizado o título da notícia às 16h24)

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“A coligação de esquerda superou as expectativas”

  • ECO
  • 12 Fevereiro 2017

O Presidente da República considera que o acordo das esquerdas "superou as expectativas". Marcelo Rebelo de Sousa diz que o Governo manteve o "défice controlado", com crescimento do emprego e do PIB.

O Presidente da República considera que a coligação entre o PS, Bloco de Esquerda e PCP “superou as expectativas”. Marcelo Rebelo de Sousa diz que Portugal vive uma experiência “inédita”, uma vez que ninguém sabia como é que iria correr este compromisso entre um Governo socialistas e outros dois partidos cujas ideologias em relação à NATO, euro e políticas económicas de Bruxelas divergem. Mas, aos olhos do Chefe de Estado, parece que tudo correu bem. E o Presidente elogia o Executivo de António Costa por ter demonstrado que o défice está controlado, por ter alcançado uma recuperação do emprego e o crescimento do PIB.

Numa entrevista ao El País, que será publicada este domingo na edição em papel, Marcelo Rebelo de Sousa diz que a “coligação de esquerdas superou as expectativas” em Portugal. O Presidente da República realça que o país “vive uma experiência inédita”, acrescentando que “ninguém sabia como se iria desenvolver o compromisso em torno do programa de esquerda moderada do Partido Socialista com partidos que, em teoria, têm dúvidas sobre a NATO, o euro, as políticas económicas de Bruxelas”.

"Portugal vive uma experiência inédita (…) ninguém sabia como se iria desenvolver o compromisso em torno do programa de esquerda moderada do Partido Socialista com partidos que, em teoria, têm dúvidas sobre a NATO, o euro, as políticas económicas de Bruxelas”

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República

O Presidente nota que os primeiros trimestres foram difíceis — com um crescimento do PIB quase nulo. Mas o Governo demonstrou que consegue “manter o défice controlado”, havendo uma “recuperação do emprego e um maior crescimento do PIB”. Porquê? “Porque o Governo decidiu, com as negociações do Orçamento de 2016, aceitar o essencial do compromisso europeu de Bruxelas”, explica o Presidente “atípico”, como refere o jornal espanhol.

O problema da banca também foi referido por Marcelo. “O Governo tinha diante de si um problema bancário complexo. Muitos problemas conjuntos”. Mas foram “dados passos em frente e este ano de consolidação da banca portuguesa tem sido essencial”. O Presidente refere que a cooperação leal entre as instituições foi muito importante neste processo. E o Presidente refere que teve de apoiar o Governo — não um apoio incondicional, mas um apoio com condições claras.

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Cortiça vive melhor ano de sempre

O setor da cortiça está prestes a bater na barreira dos mil milhões em exportações. Metade deste valor vem da maior empresa do setor: a Corticeira Amorim. Setor precisa de mais distribuição.

Pensar global: um setor da cortiça fortemente orientado para os mercados internacionais faturou, no global, perto de 940 milhões de euros em 2016. Um valor histórico e que vai obrigar à revisão do plano estratégico do setor. O objetivo dos mil milhões de euros estava, segundo o plano estratégico em vigor, previsto para 2020. Mas, a este ritmo, deverá ser alcançado já em 2017.

Só que esta não é a única ambição do setor. A indústria precisa de potenciar o crescimento do volume de negócios e, para isso, necessita de investimentos ligados à área da distribuição. Com a líder de mercado, a Corticeira Amorim, a pesar cerca de 50% de todo o setor, a consolidação é também uma necessidade. O setor dá emprego a 9.000 trabalhadores, conta com 670 empresas e soube enfrentar o problema do TCA (composto químico que dá ao vinho o sabor a rolha) e impôs-se à concorrência dos vedantes de plástico e metal, para o que deve ter contribuído o investimento de 500 milhões em inovação e desenvolvimento na última década.

"São números fantásticos (…) um dado objetivo é que será o melhor ano de sempre do setor da cortiça.”

João Rui Ferreira

Presidente da APCOR

João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), adianta em conversa com o ECO que “estes números são ainda provisórios, mas são números fantásticos. Devemos ter atingido os 940 milhões de euros, e um dado objetivo é que será o melhor ano de sempre do setor da cortiça”. Com este valor, acrescenta o presidente da associação do setor, “ficamos muito próximos do objetivo dos mil milhões de euros, uma meta que estava traçada para 2020”.

Números oficiais do setor, só existem relativamente a 2015. Segundo dados do comércio externo do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal exportou 899,3 milhões de euros (177,4 milhares de toneladas), o que representa um crescimento de 6% face a 2014, em valor, e uma diminuição de 2,5% no que diz respeito ao volume.

As exportações portuguesas de cortiça representam 1,2% nas exportações totais e significam uma balança comercial de 757,3 milhões de euros.

Evolução das exportações portuguesas de cortiça

Fonte: INE (Valores em milhões de euros)

Mas para onde vai a cortiça exportada?

O ano de 2015 foi um ano particular no que toca às exportações. Os Estados Unidos assumiram-se como principal destino das exportações nacionais, tendo destronado a histórica França para o segundo lugar, ao registarem 19,8% do total das exportações, o equivalente a 177,8 milhões de euros. Ainda assim e, no global, a Europa é o principal destino das exportações de cortiça, com cerca de 60% do total em valor e cerca de 70% em volume. Dentro da Europa, os principais destinos são a França com uma quota de 18,1%, Espanha com 11,2%, Itália com 9,7% e Alemanha, com 8%.

Exportações portuguesas de cortiça por país de destino

Fonte: INE (Valores em percentagem, em 2015)

Portugal é líder mundial do setor da cortiça, no campo das exportações. Segundo os últimos dados disponíveis no anuário da cortiça 2016 da APCOR, em 2015 Portugal obteve uma quota de 62,7%, seguido de Espanha com 16%. Já o total mundial das exportações de cortiça atingiu, em 2015, 1.430,8 milhões de euros, uma subida de 4,3% face a 2014. No que se refere às importações de cortiça, Portugal assume o quarto lugar com uma quota de 9,5% num total de 142,6 milhões de euros.

Que indústrias consomem cortiça?

O setor da cortiça anda muitas vezes associado com o setor dos vinhos e… percebe-se porquê. A indústria vinícola absorve 72% de tudo o que é produzido pelo setor corticeiro (sobretudo em rolhas de cortiça), logo seguido pelo setor da construção civil, com 28%. De referir que, no setor de construção, estão incluídos os pavimentos, isolamentos e revestimentos, os cubos, placas, folhas, tiras e ainda artigos de decoração, quer para casa como para escritório.

Exportação de cortiça por tipo de produtos em valor

Fonte: INE (Valores em percentagem, em 2015)

Porém, se tivermos em conta os volumes, constatamos que os dados são inversos. Neste caso a liderança pertence aos materiais de construção, com praticamente 70% (123 milhares de toneladas), enquanto as rolhas de cortiça atingem os 26% (46 milhares de toneladas).

Numa análise mais segmentada, constata-se que as rolhas naturais (61%) são as que assumem maior destaque dentro do segmento das rolhas, logo seguidas pelas rolhas de champanhe (20%) e, finalmente, outro tipo de rolhas (19%). As rolhas naturais têm como principal mercado os Estados Unidos (103,2 milhões de euros), enquanto as rolhas de champanhe são sobretudo consumidas em França (32,4 milhões de euros), seguida de muito perto por Itália com 29,9 milhões de euros.

No que diz respeito aos materiais de construção, os principais produtos exportados são ladrilhos, cubos, blocos e outros produtos com aglutinantes, representando mais de 151,2 milhões de euros, logo seguido pelos desperdícios de cortiça com 38,5 milhões de euros.

Os materiais de construção têm como principal mercado a Alemanha, cujo valor representa cerca de 50,4 milhões de euros. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição com 36 milhões de euros, seguidos pela Espanha com 23,4 milhões de euros.

Neste contexto, que futuro para as exportações de cortiça? Consolidar ou procurar novos mercados?

Para o presidente da APCOR, o setor vai estar sempre muito dependente dos mercados onde há produção de vinho. “Olhamos para o mundo vinícola em todas as geografias, até porque hoje há vinhos que não são engarrafados na origem mas sim no destino. E isso pode levar a que o setor olhe para outros mercados”. Porém, João Rui Ferreira diz que a busca hoje é “por novos consumidores e não por novos mercados“. E acrescenta: “Temos de olhar, não só para o mercado de destino das nossas exportações como também para o mercado de destino das exportações dos nossos clientes”. E dá o exemplo da região de Bordéus, cujo maior destino de exportação é a China. “Temos de olhar para o mercado chinês e ver de que forma é que ele incorpora a cortiça, para depois comunicarmos isso ao nosso cliente em Bordéus”.

A China, refere, “funciona como um mercado influenciador”. E é por isso que o Intercork III, o novo programa de promoção internacional da cortiça, não esqueceu este mercado. A China é atualmente o quinto consumidor de vinho do mundo e o quarto maior importador de vinhos engarrafados.

Mas o que significam todos estes números?

O presidente da APCOR dá a resposta. Para João Rui Ferreira, estes números valem sobretudo porque são sinónimo de que o setor conseguiu transformar dificuldades em oportunidades. “No início do milénio, a matéria-prima cortiça foi posta em causa e, a este facto, somou-se a crise de 2009, a que o setor obviamente não ficou imune”, refere.

Mas como as dificuldades podem ser oportunidades, o setor uniu esforços e nos últimos sete anos registou 250 milhões de euros de crescimento.

João Rui Ferreira diz que “num primeiro momento, o setor enveredou por uma mini reestruturação da função industrial e depois olhou para o mercado de forma diferente. Nesta matéria penso que a APCOR teve um papel fundamental porque soube comunicar primeiro aos clientes e, numa segunda fase, aos consumidores”.

Novas aplicações com cada vez maior peso

As novas aplicações de cortiça, que requerem inovação e tecnologia, estão a catapultar a cortiça para outro patamar, fazendo com que o setor deixe de viver quase exclusivamente do fabrico de rolhas. Hoje as novas aplicações de cortiça vão de setores tão variados como a moda, o automóvel, a construção ou a decoração.

O presidente da APCOR reconhece que o setor está “numa rota de crescimento que tem que ter sustentação pelo valor“. Até porque, alerta: “A matéria-prima com que trabalhamos não é escassa, nunca ficou por satisfazer uma encomenda por falta de matéria-prima. Mas também não é ilimitada”.

A cortiça, diz João Rui Ferreira, que teve em tempos de sacrificar valor para garantir quota, “está hoje em condições de se afirmar pela qualidade e pela diferenciação em termos de valor acrescentado para o cliente”.

Para o presidente da associação setorial “temos também muita tradição na construção civil, mas cada vez mais o que vemos são as aplicações históricas a deixarem de ser utilizadas e a aparecerem novas”. Um dos exemplos citados pelo presidente da APCOR passa exatamente por um dos setores mais exigentes em termos de tecnologia: o setor automóvel.

“No automóvel foram usados durante anos as juntas de cortiça nos motores automóveis. Eventualmente, estas vão deixar de existir com o fim dos motores de combustão e a sua substituição por motores elétricos. Mas deixamos de estar presentes nas juntas e passamos para os tabliers, as portas”.

"Para um material usado desde a Antiguidade, a versatilidade camaleónica da cortiça não deixa de pasmar. Pela capacidade de se renovar e adaptar às novas exigências tecnológicas, continuará a ser o ouro português.”

A química da cortiça

National Geographic, março 2009

Das novas aplicações qual terá mais futuro?

“Têm aparecido tantas e em tantas áreas que é difícil responder. Há dois anos ninguém imaginava que a cortiça pudesse ser aplicada nos relvados de futebol. De qualquer forma penso que a área dos transportes pode ter uma margem de progressão enorme”.

Nada acontece por acaso, a indústria corticeira mobilizou-se e investiu 500 milhões de euros em investigação e desenvolvimento na última década.

Produção de cortiça

O setor da cortiça não se limita à indústria. Em termos de produção de cortiça, Portugal assume a liderança do setor mais concretamente com 100 mil toneladas, correspondente a 49,6% de toda a produção mundial. Em segundo lugar aparece a vizinha Espanha com 30,5% do total da produção correspondente a 61,5 mil toneladas.

Já em termos de montado de sobro, Portugal detém a liderança, ao concentrar 34% da área mundial (736 mil hectares). O sobreiro é, de resto, a segunda espécie florestal dominante em Portugal — cuja liderança pertence ao eucalipto –, e está concentrado sobretudo no sul do país, com particular destaque para o Alentejo, que concentra 84% do total.

Estrutura empresarial: a Corticeira e as outras

A Corticeira Amorim é a grande líder do setor da cortiça. Só a empresa gerida por António Rios Amorim vale mais de metade das exportações de toda indústria. De resto, o tecido empresarial da fileira da cortiça é muito heterogéneo mas composto maioritariamente por pequenas e muito pequenas empresas, com forte concentração geográfica e níveis baixos de qualificação de pessoal.

Atualmente, o setor conta com 670 empresas a operar em Portugal, segundo dados do anuário da cortiça 2016. O documento diz que estas empresas são responsáveis pelo emprego de 9.000 trabalhadores e produzem 40 milhões de rolhas por dia (35 milhões no norte de Portugal).

O presidente da APCOR diz que “esta é a nossa realidade, mas que vivemos bem com ela”. João Rui Ferreira sublinha que ainda há lugar a consolidação dentro do setor, mas que “esta vai fazer-se a um ritmo lento”. De resto, o presidente da associação setorial afirma que “é importante fazer a separação entre rolhas e novas aplicações, porque neste último caso a consolidação é evidente”.

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E se os computadores passassem a gerir o nosso dinheiro?

  • ECO
  • 11 Fevereiro 2017

Sistemas de inteligência artificial devem tornar-se numa nova espécie de corretores financeiros que guiem os investidores no mercado. Porque os humanos são demasiado falíveis e o mundo mais exigente.

Os seres humanos são muito emotivos, cometem demasiados erros por isso e não compreendem suficientemente bem o mercado de investimentos e ações, portanto deviam ser os computadores a geri-lo. Quem o diz é Babak Hodjat, um dos fundadores da startup Sentient Technologies que, ao longo dos últimos dez anos, tem estado a desenvolver um sistema de inteligência artificial que quer revolucionar o mundo dos investimentos.

“Os seres humanos são demasiado sensíveis, consciente ou inconscientemente”, disse Hodjat à agência Bloomberg. “Está muito bem documentado que nós, humanos, cometemos erros. Para mim, é mais assustador confiar na intuição humana e nas justificações que encontramos para os erros que cometemos do que confiar apenas no que os dados e estatísticas nos dizem”. Por isso, o cientista computacional, autor de 21 patentes e precursor, por exemplo, do sistema Siri da Apple, tem estado a desenvolver uma alternativa mais viável.

Esta tecnologia criada pela Sentient é capaz de cruzar biliões de dados, avaliar tendências e adaptá-las para ajudar os investidores a tomarem decisões no mercado de ações. Foi criada por um grupo de veteranos da indústria tecnológica, provenientes de empresas como a Apple, a Amazon, a Google ou a Microsoft. As joias da coroa de Sillicon Valley já tinham sido responsáveis por ensinarem computadores a conduzir carros, a vencerem os melhores jogadores de póquer do mundo ou a traduzirem a linguagem humana para assistentes de smartphones.

E a Sentient já está no centro das atenções do mundo financeiro e das comunidades ligadas aos sistemas de inteligência artificial. A companhia, que atualmente só gere os seus próprios investimentos, já conta com investimento de cerca de 143 milhões de dólares de várias entidades, entre elas a sociedade de capital de risco do homem mais rico de Hong Kong, Li Ka-shing, e do maior grupo empresarial privado da Índia, o Tata Group.

Passar de traduções para apostas na bolsa

Ao longo da sua carreira, Babak Hodjat tinha estado mais concentrado na parte da tradução de linguagens humanas, desenvolvendo tecnologias para assistentes digitais em smartphones. Muitos dos seus colaboradores na companhia de que fazia parte antes, a Dejima, acabaram por criar o programa Siri para a Apple. E Hodjat não tinha no mercado financeiro o seu maior interesse, mas começou a ver que este é um dos campos mais promissores para estas novas tecnologias. A enorme quantidade de dados publicamente disponíveis para análise, aliados a computadores mais fortes e capazes de encontrar padrões e tendências entre eles, torna a área financeira ideal para as inteligências artificiais atuarem.

Nello Cristianini, professor destas tecnologias inovadoras na Universidade de Bristol e consultor na Sentient, é da mesma opinião. “A negociação financeira é uma das dez áreas em que as inteligências artificiais podem fazer a diferença. Um algorítimo pode olhar para os dados, tomar decisões sobre negócios, avaliá-las e repeti-las – e as pessoas podem ser completamente autónomas nas decisões que tomem”.

Como é que o sistema, afinal, funciona?

A Sentient tem milhares de máquinas a operarem em simultâneo, em todo o mundo, para criarem o que são, essencialmente, triliões de especuladores virtuais, a que chama “genes”. Estes “genes” não passam de algoritmos em computadores, mas são postos à prova por se lhes atribuírem somas monetárias hipotéticas, que eles poderão trocar em situações simuladas a partir de dados já arquivados. Os “genes” que não conseguirem ter sucesso morrem logo à partida, enquanto os que conseguirem ir fazendo dinheiro vão sendo reagrupados uns com os outros para criarem uma nova geração, uma espécie de grupo dos apostadores mais bem-sucedidos. E graças aos avanços nas capacidades desses computadores, a Sentient consegue “encolher” milhares de dias passados em negócios em poucos minutos.

Um gene que negoceie bem é posto à prova durante alguns dias e depois é usado em apostas reais. Os funcionários da Sentient definem-lhes objetivos a alcançar, níveis de risco e um limite temporal dentro dos quais podem funcionar, e depois “deixam as máquinas fazerem o seu trabalho”. O sistema funciona automaticamente à medida que ganha mais experiência.

Mas Hodjat avança que se “o inferno se instalar” há um “botão vermelho” que os supervisores da máquina podem ativar para salvarem o mundo.

Os hedge funds já confiavam na inteligência artificial

Primeiro, a Sentient desenvolveu a inteligência artificial. Agora, criou o primeiro hedge fund (fundo de cobertura de risco) gerido completamente por ela, e espera conseguir bater os maiores especialistas de Wall Street em termos de aconselhamento de investimento.

Mas não é novidade que os hedge funds já recorriam aos conselhos dos computadores. Alguns dos maiores — o Bridgewater Associates, o Point72 ou a Renaissance Technologies — já usavam sistemas de inteligência artificial para terem novas ideias, mas não os deixavam controlar todas as operações, como a Sentient está a fazer agora.

Porém, e por muito impressionante que a tecnologia da Sentient pareça, ainda é difícil saber se resulta. A companhia avança que o novo sistema está a superar as referências internas, mas não revela do que estas tratam. E como o sistema ainda não dá lucro, a empresa está a pensar em atrair investidores externos ao longo deste ano. Jeff Holman, um veterano de Wall Street que se lhes juntou no ano passado, disse que a companhia está muito limitada naquilo que pode ir revelando sobre as suas técnicas devido às restrições impostas pela Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos. Mas adianta que “a plataforma é sólida” e diferente de todas as outras estratégias que viu antes.

Mas nada de tomar decisões precipitadas. Anthony Ledford, o principal cientista do hedge fund Man AHL de Londres, que vale 19 mil milhões de libras, chama a atenção para o perigo de ter demasiada fé nos sistemas de inteligência artificial que ainda não estão suficientemente estudados. Embora o Man AHL também esteja a apostar em estratégias desenvolvidas unicamente por sistemas computacionais, Ledford avisa que ainda é demasiado cedo para declarar que é um êxito. “Há muita expectativa e esperança, mas quando perguntamos realmente às pessoas quantas centenas de milhões de dólares estão a conseguir, muitas delas não têm resultados assim tão bons”.

Ainda há muito para perceber sobre como os sistemas de inteligência artificial podem cooperar com os hedge funds. Tristan Fletcher, que escreveu a sua tese de doutoramento sobre a ação das máquinas nos mercados financeiros, e que trabalha para um hedge fund, diz que os investidores podem mostrar-se relutantes em confiar completamente o destino do seu dinheiro a um computador. “Sei como os investidores conseguem ser conservadores e não conheço um único que confiasse o seu dinheiro a um sistema completamente informático”.

E remata: “As máquinas não são remédio para tudo. São precisas pessoas que realmente pensem por trás delas”.

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Conheça o Facebook, o novo regulador financeiro

  • Bloomberg
  • 11 Fevereiro 2017

Talvez não seja tão mau assim ter algoritmos como mestres -- pelo menos quando eles são estimulados a proteger as pessoas em vez de as explorar.

No início da semana, o Facebook anunciou que vai deixar de permitir que alguns anunciantes levem a cabo seleções raciais. Na prática, a medida proíbe que anúncios a serviços de crédito, imobiliários e de emprego utilizem as categorias de “afinidade étnica” — perfis de marketing que se correlacionam com a etnia — para direcionar a mensagem para o público que mais poderá ter interesse em recebê-la.

A decisão não acontece da noite para o dia. Primeiro, a rede social foi pressionada por uma investigação da ProPublica, realizada em outubro passado, no qual a organização conseguiu incluir no Facebook um anúncio imobiliário excluindo categorias afins às minorias. O acontecimento gerou uma ação judicial na qual o Facebook é acusado de violar leis dos EUA relativas à habitação justa e aos direitos civis.

O interessante é que os anúncios de educação, como os de universidades privadas conhecidas por se concentrarem em afro-americanos pobres, foram deixados de fora da nova política. Isto acontece possivelmente porque não existe uma lei federal contra este tipo de seleção. Sendo assim, o Facebook está a começar a atuar como um regulador privado, perseguindo atividades ilegais.

Uma história parecida pode ser contada a respeito do Google que, em 2016, anunciou que eliminaria anúncios sobre empréstimos com desconto e, desde então, reportou a eliminação de 1,7 mil milhões desses “maus anúncios”, incluindo cinco milhões da categoria escolhida. Ou seja, o Google também assumiu o papel de polícia.

Este pode ser um avanço desejável, especialmente face ao crescente receio de que o governo do presidente Donald Trump possa colocar entraves ao trabalho do Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor, a agência federal encarregada de proteger a população americana de predadores financeiros. Mas o assunto também levanta algumas perguntas difíceis.

Primeiro, o Google e o Facebook usam algoritmos para selecionar os anunciantes. Essas regras informáticas impedirão que os maus anunciantes consigam enganar os sistemas de seleção?

Outro possível problema está relacionado com o facto de o governo transferir a tarefa de regulação para empresas privadas, fazendo com que os órgãos federais percam poderes, tornando-se incapazes de cumprir suas tarefas, mesmo que um novo governo queira ativá-los. Isto é problemático porque as empresas privadas, em última análise, não têm responsabilidades perante a população e oferecem pouca transparência.

Se Trump optar por reduzir a proteção aos consumidores, esta pode ser a melhor saída possível.

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Juncker: “Não me vou candidatar de novo” a presidente da Comissão Europeia em 2019

  • Lusa
  • 11 Fevereiro 2017

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou hoje em entrevista a uma rádio alemã que não vai candidatar-se a um segundo mandato em 2019.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou hoje em entrevista a uma rádio alemã que não vai candidatar-se a um segundo mandato em 2019.

Em 2014, “foi uma boa campanha eleitoral, mas não haverá segunda, dado que não me vou candidatar de novo”, disse Juncker à rádio Deutschlandfunk.

O antigo primeiro-ministro luxemburguês, de 62 anos, tornou-se presidente da Comissão Europeia em novembro de 2014, depois de ter presidido ao Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças da zona euro. Juncker, que está a cumprir um mandato de cinco anos, poderia candidatar-se mais uma vez.

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Trump no Reino Unido? Só quando o Parlamento estiver fechado para férias

  • Rita Atalaia
  • 11 Fevereiro 2017

Trump vai ao Reino Unido. Mas só em agosto ou setembro. Porquê? É quando o Parlamento está fechado para férias. O porta-voz da Câmara dos Comuns já disse estar contra uma intervenção do Presidente.

Após Theresa May ter afirmado que o novo presidente dos Estados Unidos vai ser bem recebido em terras de sua majestade, o Parlamento pôs entraves à visita. O porta-voz da Câmara dos Comuns, John Bercow, afirmou que estava “fortemente contra” uma potencial intervenção de Trump no Parlamento. Por isso, a visita de Estado do Presidente dos EUA será adiada até agosto ou setembro, altura em que o Parlamento deve estar fechado para férias.

O The Guardian adianta, citando fontes do Governo dos EUA, que a visita de Estado do Presidente dos EUA ao Reino Unido será adiada até ao final de agosto ou final de setembro, numa viagem que deve durar quatro dias (entre quinta-feira e domingo). Porquê? É quando o Parlamento deverá estar encerrado devido ao período de férias, evitando assim constrangimentos depois o porta-voz da Câmara dos Comuns, John Bercow, ter afirmado que estava “fortemente contra” uma potencial intervenção de Trump no Parlamento.

“Eu creio que a nossa oposição ao racismo e ao sexismo e o nosso apoio à igualdade perante a lei (…) são considerações bastante importantes na Câmara dos Comuns”, afirmou, entre aplausos dos deputados, Bercow, de acordo com o The Independent (acesso pago). O The Guardian tentou contactar o porta-voz da Câmara dos Comuns, mas não foi possível obter uma declaração. O jornal relembra que o porta-voz deve ser imparcial e, uma vez eleito, deve abdicar do seu partido.

Imigração continua na mira de Trump

Trump tem estado no centro de uma série de críticas e protestos devido às várias medidas que tem adotado desde que assumiu a presidência dos EUA. Especialmente as que estão relacionadas com a imigração. Donald Trump assinou um decreto que colocou um travão à entrada de muçulmanos. Uma decisão que foi entretanto bloqueada por um juiz. Mas o Presidente não desiste e diz, segundo o jornal, que está a considerar dar uma nova ordem executiva no sentido de proibir a entrada de pessoas no país.

O Presidente dos EUA diz estar confiante de que vai ganhar esta batalha judicial. Refere que a Casa Branca está a considerar “outras opções, incluindo a execução de uma nova ordem”. Trump adianta ainda que deve assinar a nova ordem esta segunda-feira ou terça-feira. Questionado sobre que revisões a nova ordem vai incluir, o Presidente respondeu: “Novas medidas de segurança”.

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Carlos Álvares: “Popular está para ficar”

  • Rita Atalaia
  • 11 Fevereiro 2017

É assim que o presidente do Banco Popular responde às notícias de que o banco estaria de saída de Portugal. "Estamos para ficar!", ajudando as empresas e as famílias, diz Carlos Álvares ao ECO.

“Estamos para ficar!”. É assim que Carlos Álvares, presidente o Banco Popular, responde às notícias de que o banco estaria de saída de Portugal. Uma possibilidade que foi levantada depois de a instituição financeira ter apresentado o pior resultado da sua história. Em declarações ao ECO, Carlos Álvares, presidente do Popular, diz que o banco teve de passar por uma reestruturação, eliminando agências e postos de trabalho. Mas que este processo não o vai afastar de Portugal, onde vai continuar a apoiar o “tecido empresarial e as famílias portuguesas”.

A publicação Cinco Días avançava ontem que o Banco Popular poderia estar de saída de Portugal. Porquê? Para evitar a necessidade de ter de avançar para um aumento de capital. Mas não é bem assim. Carlos Álvares, presidente do Banco Popular, deixa claro que “estamos para ficar! E com o desígnio de apoiar o tecido empresarial (mesmo nos anos de crise, o banco nunca parou de crescer em crédito no nosso país) e as famílias portuguesas”, explica ao ECO.

"Estamos para ficar! E com o desígnio de apoiar o tecido empresarial (mesmo nos anos de crise, o banco nunca parou de crescer em crédito no nosso país) e as famílias portuguesas”

Carlos Álvares

presidente do Banco Popular

A possibilidade de uma alienação foi levantada poucos dias depois de o grupo, com sede em Espanha, ter apresentado o pior resultado da sua história, com os prejuízos a ascenderem ao valor recorde de 3.485 milhões de euros em 2016. Um resultado que se deveu ao esforço extraordinário na constituição de provisões para limpar o balanço do banco, numa altura em que o malparado no Popular suscita preocupação.

“O Popular atravessou um processo de ajustamento que envolveu 47 agências e 300 colaboradores, à semelhança do que está infelizmente a acontecer em toda a indústria financeira. Conta neste momento com 119 agências e cerca de 950 colaboradores“, refere Carlos Álvares. O presidente nota que o setor financeiro está a passar por uma transformação e “o Popular acompanha este processo”.

De banco a sucursal

O Popular anunciou recentemente que a sua operação em Portugal vai passar a tornar-se numa sucursal do banco espanhol, uma medida que implica a integração da atividade do Popular Portugal no grupo. Esta decisão foi conhecida depois de o Popular Portugal ter anunciado em novembro do ano passado que iriam sair da instituição 295 trabalhadores e seriam encerrados 47 balcões no âmbito do processo de reestruturação.

Sobre este processo, o presidente do Banco Popular diz que a instituição está a “ultimar o processo de transformação de banco em sucursal, tal como outras marcas já o fizeram no nosso país”.

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Tsipras acusa FMI e Schauble de “brincarem com o fogo” em relação à Grécia

  • Lusa
  • 11 Fevereiro 2017

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, apelou hoje ao FMI e ao ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, para que parem de "brincar com o fogo", culpando-os pelo impasse nas negociações.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, apelou hoje ao FMI e ao ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, para que parem de “brincar com o fogo”, culpando-os pelo impasse nas negociações entre a Grécia e os credores.

Na abertura de uma reunião do seu partido, o Syriza (de esquerda), e um dia depois da reunião inconclusiva em Bruxelas, o primeiro-ministro mostrou-se no entanto confiante de que, no final, será encontrado um acordo entre a Grécia e os credores. Tsipras condicionou um regresso a Atenas dos representantes dos credores a uma mudança no Fundo Monetário Internacional (FMI): “Esperamos que o FMI reveja as suas previsões o mais depressa possível (…) para que as discussões possam continuar a nível técnico”.

"Esperamos que o FMI reveja as suas previsões o mais depressa possível (…) para que as discussões possam continuar a nível técnico”

Alexis Tsipras

Primeiro-ministro grego

O governante grego também referiu à chanceler alemã, Angela Merkel, pedindo-lhe para “encorajar o seu ministro das Finanças a pôr fim à sua agressividade permanente” em relação à Grécia. Tsipras falava um dia depois da reunião em Bruxelas que pretendia relançar as negociações para manter o país sobre-endividado sob assistência financeira, numa altura em que o receio de uma nova crise da dívida grega é alimentado pela falta de entendimentos entre a zona euro e o FMI.

O FMI exige um alívio substancial da dívida grega, uma opção que Berlim afasta, e medidas suplementares de austeridade, que Atenas rejeita, para alcançar o objetivo ambicioso de conseguir um excedente orçamental.

Depois da reunião de sexta-feira em Bruxelas, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse que a Grécia, os seus credores europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) avançaram quanto aos requisitos para permitir um regresso da missão de supervisão a Atenas na próxima semana. “Hoje fizemos progressos substanciais e estamos perto de um entendimento para que a missão (da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e do FMI) regresse a Atenas na próxima semana”, informou Dijsselbloem no final de uma reunião destinada a alcançar um acordo que permita encerrar a avaliação que decorre no âmbito do resgate financeiro ao país.

 

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Faria de Oliveira: Participação do fundo na solução para os lesados do BES “seria ilegal”

  • Rita Atalaia
  • 11 Fevereiro 2017

A participação dos bancos na solução dos lesados do BES tem sido uma questão polémica. Faria de Oliveira diz mesmo que "seria ilegal". Lesados contestam: estão, "mais uma vez, a proteger os bancos".

António Costa falava, em dezembro, de “dever cumprido” em torno da solução encontrada para os lesados do Banco Espírito Santo (BES). Mas ainda faltava responder a uma questão muito importante: quem paga aos lesados do papel comercial? Uma pergunta que tem sido feita pelos bancos, que não querem pagar esta fatura. Já é conhecido que o valor será pago por um veículo que ainda será criado – um fundo de indemnizações -, mas ainda se desconhece como conseguirá o capital necessário. Mas algo parece certo: não contará com a participação dos bancos. António Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), diz mesmo que a participação do Fundo de Resolução “seria ilegal”.

Foi em dezembro que o primeiro-ministro fez uma espécie de conferência de apresentação da solução dos lesados do BES. Não revelou o plano nem detalhou medidas, mas disse que o sentimento era de “dever cumprido”. António Costa não respondeu à pergunta mais importante de todas: quem paga aos lesados? E não fez qualquer referência à possibilidade de o Fundo de Resolução (leia-se os bancos) participar nesta solução. O primeiro-ministro disse apenas que a solução garante que não serão os contribuintes a fazer este esforço financeiro.

Agora já se sabe que a solução encontrada para pagar o montante reclamado pelos lesados do Banco Espírito Santo não vai contar com a participação dos bancos que fazem parte do Fundo de Resolução. A notícia foi avançada pelo Público (acesso condicionado), que apurou que no instrumento que vai ser criado e gerido por privados vai apenas intervir o Estado através de uma garantia direta.

"A APB tem dois pareces jurídicos de juristas altamente reputados que confirmam que o Fundo de Resolução não pode participar na solução (dos lesados)”

António Faria de Oliveira

presidente da Associação Portuguesa de Bancos

Esta informação veio contrariar aquilo que tinha sido inicialmente avançado, que além da garantia estatal, os integrantes do Fundo de Resolução apresentariam uma contragarantia para substituir o Estado se este não conseguisse pagar o empréstimo que vai ser contraído — na sua totalidade ou parcialmente. Mas vai ao encontro do que tinha sido pedido pelos bancos, que não querem pagar esta fatura. E agora Faria de Oliveira vem dizer que a participação do fundo “seria ilegal”. O presidente da APB refere ao Expresso (acesso condicionado) que a associação “tem dois pareceres jurídicos de juristas altamente reputados que confirmam que o Fundo de Resolução não pode participar na solução (para os lesados)”.

A garantia estatal é um fator indispensável para a contratação do empréstimo que irá garantir o pagamento de 258 milhões de euros àqueles que compraram papel comercial da Rioforte e ESI com a garantia de que era uma aplicação segura. Este crédito terá como objetivo principal recuperar os créditos.

Ao jornal Expresso, Faria de Oliveira refere que o “Fundo de Resolução não podia dar contragarantia porque ia contra todas as regras existentes. Era uma decisão que não compete, não cabe no âmbito do Fundo de Resolução. Não podia ser utilizado para esse feito”, garante o presidente da APB.

Fundo de fora? Lesados contestam

Os lesados do BES estão contra esta decisão e querem que os bancos façam parte da solução. Nuno Lopes Pereira, do conselho fiscal da associação Indignados e Enganados do Papel Comercial do BES, diz ao Expresso que deixar os bancos de fora da solução seria, “mais uma vez, proteger os bancos e expor apenas os contribuintes”. Por isso, não consideram que seja “eticamente correto. A contragarantia do Fundo de Resolução era essencial para a moralização do sistema”.

Está previsto que a solução definitiva seja apresentada aos lesados até ao fim de março, que terão um mês para tomar uma decisão. A recuperação, se a solução for aprovada por um quórum mínimo de clientes, vai ser até 75% para clientes que tenham investido até 500 mil euros — com limite de 250 mil euros — e de 50% para investimentos acima de 500 mil euros.

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Cavaco desconfiava das “boas notícias” de Sócrates

  • ECO
  • 11 Fevereiro 2017

"Hoje tenho boas notícias." Era assim que José Sócrates começava muitas vezes as reuniões com Cavaco Silva. Mas o antigo Presidente diz, no seu livro, que "as palavras não se conformavam à realidade".

Cavaco Silva diz que começou a olhar desconfiado para as “boas notícias” que o então primeiro-ministro José Sócrates trazia sempre que se juntavam no Palácio de Belém para as reuniões semanais. Na pré-publicação do livro do antigo Presidente da República, que será apresentado na próxima semana, Cavaco refere que, ao longo do tempo, as palavras não se conformavam à realidade dos factos.

“Hoje tenho boas notícias.” Era assim que José Sócrates começava muitas vezes as reuniões de quinta-feira com Cavaco Silva — que foram ao todo 188, segundo a pré-publicação que está disponível na edição deste sábado do semanário Expresso (acesso pago). Depois, o ex-primeiro-ministro “avançava com os números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma tática de abertura de diálogo. Frequentemente, as palavras não se conformavam à realidade dos factos”.

"Nos primeiros anos, foram muitas as vezes em que começou por me afirmar: Hoje tenho boas notícias. E avançava com números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma tática de abertura do diálogo.”

Cavaco Silva

Resultado? “Passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’ do primeiro-ministro”, diz Cavaco Silva, no seu livro intitulado “Quinta-feira e Ouros Dias”, que regista as memórias enquanto ocupou o cargo de Presidente da República e que vai para as bancas na próxima quinta-feira.

No livro, Cavaco Silva diz que o primeiro-ministro vinha, de forma geral, preparado para as reuniões. E tomava normalmente a iniciativa da conversa. “Notava-se que tinha pensado no que me queria dizer e que procurara antecipar as questões que eu lhe poderia colocar.”

Mas Pedro Passos Coelho já era diferente. Cavaco Silva nota que o primeiro-ministro que sucedeu a José Sócrates, “apresentava-se geralmente sem uma preparação específica para as reuniões. Na maioria das vezes, esperava que fosse eu a abrir os temas que queria abordar e tinha tendência para se alargar nas respostas”, o que tornava as reuniões mais longas em comparação com Sócrates.

Mas as diferenças não ficavam por aqui. “Contrariamente a José Sócrates, nunca alterava o tom de voz, exibia uma permanente tranquilidade e era diligente no envio da informação que lhe solicitava”, diz Cavaco Silva, e “quando não tinha conhecimento completo do assunto, dizia-o abertamente”.

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BCP: Outro aumento de capital? “Claro que não”

  • ECO
  • 11 Fevereiro 2017

Agora que está concluído o aumento de capital do BCP, Nuno Amado olha para a frente e exclui a possibilidade de ser necessário outro reforço. Sobre o Novo Banco, diz que o BCP está fora da corrida.

Nuno Amado está preparado para começar um novo capítulo. Isto depois de ter realizado um aumento de capital para reforçar os rácios do BCP e libertar-se do Estado — uma linha de ajuda que o presidente do banco português diz que podia ter sido mais bem aproveitada. Não considera que tenham sido anos perdidos, mas anos de ajuste, durante os quais nem todos os bancos fizeram o que era suposto. “Não se pode pode por toda a gente no mesmo barco”, defende Nuno Amado, que apesar de ter colocado o banco no caminho dos lucros, reconhece que ainda há problemas por resolver, como o malparado. Mas será necessário outro aumento de capital? “Claro que não”, diz.

Numa entrevista ao Expresso (acesso pago), Nuno Amado diz que o pior já passou. “Hoje, o sistema financeiro, após o reforço de capitais que o BCP e aquele que presumivelmente a Caixa vai fazer, ficará em condições bastante mais adequadas e com um nível de solidez não comparável com o ano passado”, refere. Apesar de problemas, com o crédito malparado, continuarem a pesar na banca, o presidente do banco português acredita que “estamos no caminho certo, a caminho da rentabilidade”.

E isto com a ajuda do Estado, uma dívida que já foi saldada. No entanto, Nuno Amado diz ao jornal que não entende porque é que os 12 mil milhões de euros não foram utilizados na íntegra e que esta linha de ajuda podia ter sido mais bem aproveitada. Para o presidente do BCP, foram anos de ajuste — e não perdidos — onde nem todos os bancos fizeram a sua parte. Dá o exemplo do BES e do Banif, dois bancos que acabaram por desaparecer.

Outro aumento de capital? “Claro que não”

O BCP concluiu com sucesso o aumento de capital. Foi “totalmente subscrito”, sem recurso à tomada firme por parte dos bancos colocadores, tendo em conta que a “procura total registada no presente aumento de capital representou cerca de 122,9% do montante da oferta” realizada pelo banco liderado por Nuno Amado. Mas será preciso fazer outro aumento de capital? “Claro que não”, diz Nuno Amado ao Expresso. “Fizemos este aumento de capital porque precisávamos de pagar os CoCos que nos custavam 10% ao ano. Já pagámos a última tranche de 700 milhões esta quinta-feira.”

Sobre a emissão de dívida que conta para o capital, Nuno Amado diz que não está previsto no plano base. “Não precisamos”, diz. O presidente do BCP prefere ver primeiro o que é que a Caixa vai fazer. “Em 2018 logo veremos. Não queremos ser os primeiros, e como a Caixa vai ter de o fazer, deixemos a Caixa avançar e saber onde vai colocar essa dívida obrigacionista”, refere.

CGD obrigou BCP a reforçar imparidades

Questionado se a situação da Caixa e o registo de imparidades que foi anunciado de 2,7 mil milhões de euros também tiveram efeito na adequação das imparidades contabilizadas no BCP, Nuno Amado responde claramente: “Sim, houve um efeito colateral”. E acrescenta: “Tivemos de reforçar as imparidades e fizemos bem”. O BCP baixou em 2015 o nível das imparidades e em 2016 voltou a aumentar. Isto porque o banco teve de contabilizar um nível de imparidades grande para um conjunto de ativos, “facto que não se vai repetir em 2017”, nota.

Nuno Amado considera que a injeção feita pelo Estado na Caixa é concorrência desleal. O presidente do Banco Comercial Português questiona: “Gostariam que a RTP tivesse um conjunto de subsídios muito significativos e que concorresse com a SIC?”.

“Venda-se o Novo Banco”

Nuno Amado diz que houve um concorrente que andou a atuar de uma forma menos adequada e agora o sistema português vai pagar o que se passou. O presidente do BCP refere-se ao BES. “Não é só irónico, é profundamente injusto”, defende. E acrescenta que o efeito do BES no Fundo de Resolução “já ultrapassou há muito o limite de responsabilidades e risco que está determinado no Fundo de Resolução Europeu. Os fundos têm limites de risco por situação”.

Mas o BCP ainda está na corrida ao Novo Banco? Nuno Amado deixa claro que não. “Existem dois concorrentes que estão a fazer o seu caminho para comprar o banco.” Caso estas negociações falhem, o presidente do BCP diz que se o dossiê “fora reaberto veremos na altura, mas neste momento o BCP não está nessa”. No entanto, continua a acreditar que a venda é o melhor caminho. “A minha recomendação para o Novo Banco é: venda quem o pode vender”.

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