Bancos não vão fazer parte da solução para os lesados do BES

  • ECO
  • 8 Fevereiro 2017

O veículo que vai ser criado para pagar aos lesados do papel comercial do Novo Banco vai conta apenas com a garantia direta do Estado, deixando de fora os bancos do Fundo de Resolução.

A solução encontrada para pagar o montante reclamado pelos lesados do Banca Espírito Santo não vai contar com a participação dos bancos que fazem parte do Fundo de Resolução. A notícia é avançada hoje pelo Público (acesso condicionado), que apurou que no instrumento que vai ser criado e gerido por privados vai apenas intervir o Estado através de uma garantia direta.

Esta informação vem contrariar aquilo que tinha sido inicialmente avançado, que além da garantia estatal, os integrantes do Fundo de Resolução apresentariam uma contragarantia para substituir o Estado se este não conseguisse pagar o empréstimo que vai ser contraído — na sua totalidade ou parcialmente.

A garantia estatal é um fator indispensável para a contratação do empréstimo que irá garantir o pagamento de 258 milhões de euros àqueles que compraram papel comercial da Rioforte e ESI com a garantia de que era uma aplicação segura. Este crédito terá como objetivo principal recuperar os créditos.

Está previsto que a solução definitiva seja apresentada aos lesados até ao fim de março, que terão um mês para tomar uma decisão. A recuperação, se a solução for aprovada por um quórum mínimo de clientes, vai ser até 75% para clientes que tenham investido até 500 mil euros — com limite de 250 mil euros — e de 50% para investimentos acima de 500 mil euros.

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Lei travou venda de mais de 11 mil casas penhoradas pelo fisco

  • ECO
  • 8 Fevereiro 2017

A legislação que impede o fisco de vender casas penhoradas que representem a residência principal do contribuinte em falta com o fisco entrou em vigor em maio de 2016.

A nova legislação que impede a venda de imóveis penhoradas pelo fisco que sejam a habitação principal impediu que mais de 11,5 mil famílias fossem despejadas, avança a edição de hoje do Diário de Notícias (DN).

De acordo com os números avançados ao DN por fonte oficial do Ministério das Finanças, desde que a nova lei entrou em vigor a 24 de maio do ano passado, até ao final de 2016, ascendeu a 11.534 o número total de imóveis que foram penhorados pelos Serviços da Autoridade Tributária e Aduaneira e que “não foram objeto de marcação de venda”.

Segundo a mesma fonte, cerca de mil dessas penhoras tinham sido feitas antes de maio, mas as novas regras também se aplicaram porque a lei veio determinar que as mudanças abrangeriam também todos os processos fiscais que estivessem pendentes a 24 de maio do ano passado.

Esta nova legislação não trava a penhora dos bens, nem impede a administração fiscal de exercer a cobrança coerciva de valores em dívida, evita sim que um imóvel que corresponda à principal moradia da família seja vendido. De acordo com a nova lei, o fisco pode assim apenas penhorar salários, pensões, contas bancárias ou outros imóveis que o contribuinte em dívida possua.

Esta legislação resultou de uma proposta do PS, PCP, BE e Verdes que procurou proteger as famílias com dívidas ao fisco muitas vezes de valor reduzido acabassem por ver os seus imóveis penhorados e posteriormente vendidos pelo Estado.

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Alerta europeu e “risco financeiro” suspenderam apostas no Placard

  • ECO e Lusa
  • 8 Fevereiro 2017

As apostas no Feirense-Rio Ave foram suspensas na segunda-feira devido a um alerta europeu por suspeitas de irregularidades com esta partida da primeira liga de futebol. Regulador nacional investiga.

Na segunda-feira, a casa de apostas Placard, explorada pela Santa Casa da Misericórdia, suspendeu a atividade relacionada com o jogo da primeira liga Feirense – Rio Ave. Agora, surgem desenvolvimentos: foram os reguladores europeus que alertaram o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) para “suspeitas de irregularidades”, indica o jornal Público (acesso condicionado). Na altura, a suspensão das apostas nesta partida em concreto estendeu-se à Betclic e à Bet.pt.

Ao que o ECO apurou, em causa terá estado, entre outros, um movimento suspeito: uma alegada aposta de 100 mil euros submetida por um apostador de nacionalidade chinesa. Já o Público fala de “um conjunto de apostas no valor global de 50 mil euros por parte e um apostador que terá utilizado o mesmo número de identificação fiscal, enquanto o Jornal de Notícias aponta para apostas num total de meio milhão de euros.

Além dos alertas do SRIJ, o Departamento de Jogos da Santa Casa ter-se-á decidido pela suspensão por haver risco financeiro — isto é, quando há risco de os prémios a pagar superarem os montantes totais apostados, uma cláusula prevista no regulamento do Placard, refere o jornal (acesso condicionado).

Regulador averigua suspeitas “em detalhe”

Agora, o SRIJ “está a averiguar em detalhe” as apostas no Placard relativas ao jogo da primeira liga, disputado na segunda-feira, em que a equipa de Santa Maria da Feira venceu por 2-1. “O SRIJ está agora a averiguar em detalhe o ocorrido nas apostas efetuadas naquele jogo, tendo inclusive estabelecido contactos com outros reguladores europeus que também alertaram para esta situação”, explica aquele organismo, em resposta escrita enviada à Lusa.

O regulador afirma que agiu assim que tomou conhecimento das suspeitas: “O SRIJ informa que ontem [segunda-feira], tendo tomado conhecimento de suspeitas de irregularidades sobre as apostas desportivas sobre o jogo entre o Feirense e o Rio Ave, previamente à realização do jogo, notificou as entidades exploradoras para retirarem esta competição das respetivas listas de eventos sujeitos a aposta”, revela o regulador nacional. E acrescenta que esta decisão “foi igualmente transmitida à Liga Portuguesa de Futebol”.

O SRIJ, sob a dependência do Turismo de Portugal e tutelado pelo Ministério da Economia, é o órgão competente de fiscalização da exploração e prática dos jogos de fortuna ou azar concessionados pelo Estado. Ao final da tarde desta terça-feira, o Ministério Público informou que não tinha recebido nenhuma queixa ou denúncia relativa a alegadas apostas ilegais no jogo Placard, mas adiantou estar a recolher elementos para decidir se instaura ou não um inquérito.

“Não foi recebida, até ao momento, qualquer comunicação relativa a este assunto. O Ministério Público encontra-se a recolher elementos tendo em vista decidir se existe ou não matéria para a instauração de inquérito”, explicou a Procuradoria-Geral da República, em resposta escrita enviada à Lusa. Em conferência de imprensa realizada na tarde de terça-feira, o CDS-PP disse querer saber se na origem da suspensão das apostas no jogo de futebol entre Feirense e Rio Ave está um “caso pontual” ou se obrigará a reforçar o processo legislativo em curso no parlamento.

Em declarações aos jornalistas no parlamento, o porta-voz do CDS-PP, João Almeida, justificou desta forma o pedido de audição do diretor do SRIJ que o partido entregou esta terça-feira na Assembleia da República. “Há, do ponto de vista do parlamento, um processo legislativo em curso para punir práticas irregulares associadas a este tipo de acontecimento, designadamente apostas desportivas e eventual corrupção associadas a apostas desportivas”, explicou João Almeida, acrescentando que estão em discussão na especialidade iniciativas do CDS, PSD e PS sobre esta matéria.

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Fundos de capital de risco Revitalizar apoiaram 100 PME com 207 milhões

  • Lusa
  • 8 Fevereiro 2017

Os fundos de capital de risco Revitalizar, lançados há três anos, contribuíram para a criação de 9.092 postos de trabalho.

Os fundos de capital de risco (FCR) Revitalizar apoiaram 100 pequenas e médias empresas (PME) nos últimos três anos, num montante de 207,5 milhões de euros, de acordo com dados do ministério da Economia enviados à Lusa.

Aprovados pelo governo de Passos Coelho em 2012, os FCR Revitalizar destinam-se a intervir na gestão de empresas, especialmente nas PME, com o objetivo de apoiar estratégias de expansão da sua atividade, e estão operacionais há três anos. Neste período, os FCR Revitalizar apoiaram 9.092 postos de trabalho.

Do montante total de 207,5 milhões de euros, mais de metade (108,7 milhões de euros) destinou-se a apoiar 48 médias empresas, com 16 microempresas a beneficiarem de 25,3 milhões de euros. Os restantes 73,4 milhões de euros foram canalizados para 36 pequenas empresas, segundo os dados do ministério da Economia.

Por setores de atividade, os fundos de capital de risco Revitalizar apoiaram 43 empresas da indústria (92,9 milhões de euros), seguido dos serviços (25 empresas, montante de 55,7 milhões de euros) e do turismo (18 empresas e 36,7 milhões de euros). Já na área do comércio foram apoiadas 11 entidades, no valor de 16,1 milhões de euros.

Por tipologia do investimento, 158,1 milhões de euros serviram para apoiar a expansão de 75 empresas e 25,6 milhões de euros destinaram-se a 14 ‘startups’. Para 11 empresas em ‘early stage’ [na fase inicial], foram ainda canalizados 23,7 milhões de euros, segundo dados do ministério da Economia.

Por regiões, o fundo Revitalizar Norte apoiou 30 empresas, num total de 75 milhões de euros. Deste valor, 33 milhões de euros destinaram-se a 14 entidades da indústria, 27 milhões de euros foram aplicados em nove empresas dos serviços, nove milhões foram para quatro empresas do turismo e seis milhões para três PME do setor do comércio.

O fundo Revitalizar Centro beneficiou 44 empresas no montante de 83,6 milhões de euros, sendo que mais de metade (49,7 milhões de euros) se destinou a 23 empresas do setor da indústria, seguido dos serviços (13 empresas, 22,2 milhões de euros).

Nesta região, seis empresas do setor do comércio obtiveram apoios de 8,6 milhões de euros, uma empresa do turismo e outra da energia obtiveram 1,5 milhões de euros cada.

Já os fundos Revitalizar Sul apoiaram 26 empresas, no montante total de 48,9 milhões de euros. Deste montante, 13 empresas do turismo receberam apoios de 26,2 milhões de euros. Para a indústria foram canalizados 10,1 milhões de euros, que se destinaram a seis PME.

Estes fundos estão sob a alçada do ministério da Economia e integram o programa Revitalizar, uma iniciativa que é transversal a outros ministérios.

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Grécia: FMI considera que objetivos fixados podem pôr em risco o crescimento

  • Lusa
  • 8 Fevereiro 2017

O FMI reafirma o seu ceticismo com as metas definidas por Atenas. Considera o objetivo de "ambicioso", apontando as medidas que permitiriam atingi-los parecem "excessivamente otimistas".

Os objetivos orçamentais fixados à Grécia pela Zona Euro parecem “demasiado otimistas” e correm o risco de ter “graves repercussões” no crescimento já fraco do país, advertiu hoje o Fundo Monetário Internacional (FMI), num relatório.

Um dos pontos de divergência entre Bruxelas e o FMI foi o objetivo fixado pela Europa para a Grécia no acordo de assistência financeira alcançado no verão de 2015 de um excedente primário (sem os encargos com a dívida) de 3,5% do Produto Interno Bruto a partir de 2018 e durante os 10 anos seguintes.

No relatório anual sobre a economia grega, o FMI reafirma o seu ceticismo, considerando este objetivo “ambicioso” e apontando as medidas que permitiriam atingi-los parecem “excessivamente otimistas”.

“Poucos países conseguiram manter excedentes tão elevados durante longos períodos e menos ainda com taxas de desemprego de dois dígitos” como acontece na Grécia, escreve o FMI no relatório.

O FMI privilegia um objetivo de 1,5% e assegura que um excedente primário de 3,5% poderia apenas funcionar durante “um número limitado de anos” e com reformas estruturais de “alta qualidade”, de acordo com o chefe do departamento do FMI para a Europa, Poul Thomsen.

“É preciso não ter ilusões: se passamos de 1,5% para 3,5% isso terá graves repercussões no crescimento“, afirmou numa conferência telefónica.

A Comissão Europeia já tinha respondido hoje às críticas do FMI, assegurando que os objetivos do seu programa são “credíveis”.

No relatório, que já tinha sido antecipado pela AFP no fim de janeiro, o FMI considera que a dívida grega é “insustentável” e pode tornar-se “explosiva” a longo prazo. O FMI apela à zona euro para propor medidas de alívio da dívida grega, uma opção a que se opõem vários países europeus, incluindo a Alemanha.

“Há um consenso cada vez maior sobre a necessidade de um alívio da dívida”, assegurou Thomsen, acrescentando que as divergências de pontos de vista estão a diminuir.

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5 coisas que tem de saber antes de abrirem os mercados

A divulgação do resultado da OPA do caixaBank sobre o BPI e o regresso de Portugal ao mercado para emitir dívida estão entre os fatores que mais poderão pesar no sentimento dos investidores lusos.

Hoje é um dia D para o BPI, mas também para o Tesouro que regressa ao mercado para emitir dívida num contexto de agravamento dos juros soberanos. Serão também conhecidos dados que permitem fazer um balanço sobre a evolução do emprego no ano passado. A nível internacional, referência para mais um dia marcado pela divulgação de contas trimestrais, mas também para os inventários do crude norte-americano, dados que podem influenciar a evolução das cotações do petróleo nesta sessão.

Resultado da OPA ao BPI

Esta quarta-feira será conhecido o desfecho da oferta pública de aquisição (OPA) do CaixaBank sobre o BPI. Após o fecho do mercado realiza-se na Euronext Lisbon uma sessão especial onde serão apresentados os resultados desta operação. O Grupo Violas, maior acionista português do BPI, avançou ao ECO nesta terça-feira a intenção de vender a sua posição de 2,681% no capital do banco liderado por Fernando Ulrich, mas resta saber a percentagem total do capital do BPI que o CaixaBank conseguiu reunir. De recordar que o banco espanhol lançou uma OPA sobre o BPI, oferecendo para tal um preço unitário de 1,134 euros por ação.

Portugal emite dívida com juros em alta

Portugal regressa esta manhã aos mercados para realizar o primeiro leilão de dívida de longo prazo do ano, sem o apoio de um sindicato bancário. O Tesouro português vai tentar colocar junto dos investidores até 1.250 milhões de euros em dívida a cinco e sete anos, uma emissão que acontece num período de agravamento dos juros no mercado secundário que poderá encarecer o preço desta operação. Na passada segunda-feira, a taxa de juro da dívida a 10 anos nacional atingiu um novo máximo de março de 2014, com esta a fixar-se acima dos 4,2%, nível em que se manteve ontem apesar de ter ocorrido um ligeiro alívio.

Emprego de 2016 em balanço

O Instituto Nacional de Estatística divulga esta quarta-feira os dados sobre o emprego relativos ao último trimestre de 2016. Com estes dados será possível fazer um balanço sobre a evolução do emprego e do desemprego em Portugal na totalidade de ano e ter algumas pistas sobre a evolução da economia portuguesa. Os últimos dados disponíveis indicam que, no final do terceiro trimestre de 2016, a taxa de desemprego situava-se nos 10,5%, dando seguimento a uma tendência de quebra que se tem vindo a observar desde o último trimestre de 2015. O ministro da economia, Caldeira Cabral, estima que em 2017 o desemprego vai estar abaixo dos 10%.

Mais resultados empresariais à vista

Hoje é mais um dia na agenda de divulgação de contas trimestrais, com o setor das farmacêuticas a merecer especial atenção. As farmacêuticas britânica e francesa GlaxoSmithKline e Sanofi apresentam o balanço da sua atividade nos últimos três meses do ano passado. No caso da GlaxoSmithKline, as estimativas da Bloomberg apontam para que os seus lucros se tenham situado nos 4,92 mil milhões de libras, em 2016, para menos de metade face ao resultado de 2015. Já no que respeita à Sanofi, as estimativas da Bloomberg apontam para que os seus lucros se tenham situado nos 7.000 milhões de euros, em 2016, praticamente em linha com o resultado apresentado em 2015.

Inventários de crude em análise

Hoje é dia de conhecer os dados semanais relativos aos inventários de crude nos Estados Unidos, informação que será divulgada pela Administração de Informações sobre Energia. Estes números poderão ser determinantes para o rumo das cotações do petróleo nos mercados internacionais. Uma subida dos inventários tende a exercer uma pressão baixista sobre a cotação do ouro negro, enquanto a descida deste indicador tende a fazer subir as cotações. Desde que em novembro do ano passado a OPEP anunciou um acordo com vista a travar a produção de petróleo para ajudar a puxar pelo respetivo preço que a cotação da matéria-prima se tem mantido acima da fasquia dos 50 dólares por barril.

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Portugal vai aos mercados. E vai pagar (bem) mais

IGCP espera obter mais 1.250 milhões de euros em obrigações a cinco e sete anos. E deverá pagar bem mais por este financiamento. Consequências da instabilidade no mercado secundário.

Os custos de financiamento de Portugal deverão subir consideravelmente nos dois leilões de obrigações do Tesouro a cinco e sete anos que o IGCP realiza esta quarta-feira, refletindo a turbulência que tem afetado de forma particular o mercado de dívida nacional desde o início do ano.

A agência que gere a dívida pública conta obter esta manhã até 1.250 milhões de euros em títulos a cinco e sete anos, devendo pagar juros em torno de 2,8% e 3,7%, respetivamente, em linha com as taxas praticadas em mercado secundário mas bastante acima das registadas nas últimas operações de financiamento semelhantes — realizadas há pouco mais de dois meses.

Esta será a segunda emissão de longo prazo do ano de Portugal, depois da emissão sindicada a dez anos realizada no dia 11 de janeiro em que o país pagou um juro de 4,3% — o mais elevado desde a saída da troika — para angariar três mil milhões de euros. Em 2017, o recurso do IGCP ao mercado de longo prazo situa-se entre os 14 mil milhões e os 16 mil milhões.

“É natural que possa assistir-se a um aumento das taxas exigidas pelos investidores”, refere Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial. “As yields poderão manter-se em torno do que está a fazer o mercado secundário, em torno dos 2,8% e 3,7% a cinco e a sete anos, respetivamente”, precisa a gestora.

Em 23 de novembro de 2016, o IGCP financiou-se em 700 milhões de euros em obrigações a cinco anos, tendo pago um juro de 2,1%. Ou seja, no espaço de pouco mais de dois meses, Portugal deverá ver os juros cobrados pelos investidores para absorver dívida nacional subirem 70 pontos base.

Já o último leilão de dívida a sete anos, realizado em setembro, permitiu à entidade liderada por Cristina Casalinho financiar-se em 500 milhões de euros com um juro de 2,817%. E também aqui os custos de financiamento deverão registar uma subida significativa em face da perspetiva de uma taxa de 3,7% — um agravamento de quase mais 100 pontos em cinco meses.

"É natural que possa assistir-se a um aumento das taxas exigidas pelos investidores. As yields poderão manter-se em torno do que está a fazer o mercado secundário, em torno dos 2,8% e 3,7% a cinco e a sete anos, respetivamente.”

Marisa Cabrita, gestora de ativos

Orey Financial

Para Marisa Cabrita, “a subida generalizada das yields, incluindo na Europa” acontece por “via de algum contágio do aumento de taxas de juro nos EUA”. “Adicionalmente, à medida que se aproximam na Europa eventos que poderão ser acompanhados de elevado risco, nomeadamente político, o prémio de risco europeu tenderá a subir“, salienta ainda a responsável.

Os juros da dívida portuguesa registaram esta terça-feira algumas tréguas da parte dos investidores, depois da taxa associada às obrigações a dez anos, a referência no mercado, ter atingido máximos desde março de 2014 no início da semana.

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OPA: BPI fica, ou BPI vai (embora da bolsa de Lisboa)?

A OPA acabou. Falta saber o resultado final. Muitos venderam, mas falta saber ao certo quantos. E isso é importante? É. Pode fazer a diferença entre o BPI ficar ou não na bolsa de Lisboa.

A Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank sobre o BPI chegou ao fim. Desde grandes acionistas, como Isabel dos Santos ou o Grupo Violas, até pequenos investidores, quase todos venderam as ações pelos 1,134 euros oferecidos pelo banco espanhol. A OPA foi um sucesso, com os catalães a tomarem o controlo da instituição. A dúvida é com quantos títulos ficaram ao todo. E se o banco vai continuar cotado na bolsa nacional, ou Lisboa diz adeus a mais uma empresa cotada.

Isabel dos Santos deixou de ser acionista do BPI: a empresária angolana deu uma ordem de venda da participação de 18,5% que tinha no BPI, já o Grupo Violas, maior acionista português do BPI, vendeu a posição de 2,681% no capital do banco, ficando com apenas dez mil títulos, já Octávio Viana, presidente da ATM, revelou que “a esmagadora maioria [dos pequenos investidores] aceitou a oferta“, mantendo alguns títulos para eventuais processos judiciais no futuro.

O CaixaBank tinha 45% do BPI antes da oferta. Bastava-lhe comprar um pouco mais para assumir o controlo do banco, mas garantiu bem mais do que 50% dos títulos. A dúvida é se conseguiu obter o suficiente para poder avançar com a compra potestativa dos títulos remanescentes. A ideia do CaixaBank não era fazê-lo, mas no prospeto da oferta também não fechou a porta (página 50) a, se atingir as percentagens necessárias, retirar o banco do mercado.

“É intenção do oferente que a sociedade visada continue a ter as ações admitidas à negociação em mercado regulamentado após a liquidação da oferta, contando com aqueles acionistas – incluindo os que estejam representados no órgão de administração da sociedade visada – que decidam não vender as suas ações na oferta”, refere. Contudo, caso atinja os patamares definidos pelo Código de Valores Mobiliários, a instituição liderada por Gonzalo Gortázar comprará o resto, deixando a Euronext Lisboa com menos uma cotada. E o PSI-20 com um problema.

Para retirar o BPI da bolsa de Lisboa, o CaixaBank necessita de superar 90% dos direitos de voto correspondentes ao capital social do banco liderado por Fernando Ulrich — terá, pelo menos, conseguido ficar com mais de 80% dos títulos do banco na OPA. Mas só isso não chega. As regras do mercado dizem que para avançar com uma oferta potestativa, é preciso também que tenha conseguido também alcançar 90% dos direitos de voto abrangidos pela oferta.

"É intenção do oferente que a sociedade visada continue a ter as ações admitidas à negociação em mercado regulamentado após a liquidação da oferta, contando com aqueles acionistas – incluindo os que estejam representados no órgão de administração da sociedade visada – que decidam não vender as suas ações na oferta.”

CaixaBank

Prospecto da OPA ao BPI

Assim, para cumprir com a primeira parte, o CaixaBank terá de conseguir com que lhe sejam imputados direitos de voto correspondentes a 1.311.231.814. Para conseguir cumprir com a segunda parte — obter 90% do capital objeto da oferta — tem de conseguir comprar 714.632.264 títulos do banco na OPA. Nesse caso, “o oferente reserva-se o direito de recorrer ao mecanismo da aquisição potestativa (…), o que implicaria a imediata exclusão da negociação em mercado regulamentado”. A compra desses títulos terá de ser feita pelo valor da OPA: 1,134 euros.

E mesmo que o CaixaBank decida não exercer esse mecanismo, ainda que as condições exigidas sejam alcançadas, poderão os investidores fazer a alienação potestativa. Caso o “oferente venha a decidir não utilizar o mesmo, cada um dos titulares das ações remanescentes do BPI pode, nos três meses subsequentes ao apuramento dos resultados da oferta pública de aquisição (…), exercer o direito de alienação potestativa. Mais uma vez, o valor será o mesmo da OPA.

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CGD: Carta secreta de Domingues compromete Centeno

António Domingues tinha um acordo com o ministro das Finanças para não entregar a declaração de rendimentos no Constitucional. O ECO revela as cartas e emails do acordo... e o recuo de Centeno.

Aí está a carta que os deputados da Comissão de Inquérito à CGD exigiam conhecer e que mostra, sem margem para dúvidas, o compromisso entre António Domingues e o ministro das Finanças para libertar a administração do banco público da entrega da declaração de rendimentos e património no Tribunal Constitucional. A carta tem a data de 15 de novembro, o remetente é Domingues e o destinatário é Centeno: “Foi uma das condições acordadas para aceitar o desafio de liderar a gestão da CGD e do mandato para convidar os restantes membros dos órgãos sociais”. Mais claro é impossível.

A troca de correspondência entre António Domingues, Mário Centeno e Mourinho Félix, entre outras ‘personagens’ deste filme, como o advogado Francisco Sá Carneiro e técnicos das Finanças, começou muito antes, mais exatamente a 11 de abril de 2016, de acordo com os documentos a que ECO teve acesso. E confirma o que já se suspeitava, apesar das declarações públicas feitas pelo ministro, até no Parlamento, de que não havia nenhum compromisso: houve mesmo uma discussão explícita sobre a exigência de Domingues para não entregar a declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional. E um acordo que permitiu a entrada do gestor na Caixa.

Os documentos enviados por Domingues à Comissão de Inquérito, 11 no total, com um conjunto de anexos, nomeadamente por correio eletrónico, servem para mostrar o que suportou a nomeação daquela equipa. Aliás, na carta remetida por Domingues ao presidente da comissão, com data de 31 de janeiro e receção no passado dia 1 de fevereiro, é o gestor que clarifica ao que vai: “considerando que a comissão rejeitou a argumentação aduzida [para não revelar estes documentos], venho juntar cópia de correspondência e documentação trocada (…) após a reunião de 20 de março de 2016, de alguma forma relacionadas com as condições colocadas para a aceitação dos convites para a nova administração da CGD”.

A carta de 15 de novembro é, no entanto, uma das peças que faltava neste puzzle de declarações e meias-declarações, confirmações e desmentidos, no espaço de meses. Nessa missiva — remetida cerca de três semanas depois de Marques Mendes levantar o problema das declarações de rendimento no Constitucional no seu programa na SIC –, António Domingues elenca o que já tinha sido feito no plano de capitalização do banco público. E cita quatro pontos:

  1. A notificação à Comissão Europeia, que desenvolve a versão inicial de julho/agosto;
  2. O plano industrial;
  3. Os planos operacionais para a gestão dos NPL (crédito malparado);
  4. O acordo de objetivos acordados com a Direção-Geral da Concorrência europeia.

“É nestas circunstâncias (…) que surge o debate relativo à declaração de rendimentos e património dos membros do conselho de administração. Foi, desde logo com grande surpresa que vimos serem suscitadas dúvidas sobre as implicações da exclusão dos membros do conselho de administração da CGD do Estatuto do Gestor Público (EGP), concretamente sobre a possível necessidade de envio de tais declarações ao Tribunal Constitucional”.

Domingues insiste: “De facto, a não sujeição da administração a esse estatuto (…) tem, para além do mais, como consequência a não submissão ao dever de entregar ao TC a declaração de património e consistia, desde o início, uma premissa essencial para o projeto de recapitalização da CGD na ótica do investidor privado, na medida em que permitia — como permitiu — atrair para o projeto uma equipa internacional de profissionais (…) e foi uma das condições acordadas para aceitar o desafio de liderar a gestão da CGD e do mandato para convidar os restantes membros dos órgãos sociais, como de resto o Ministério das Finanças confirmou”. E, na verdade, confirmou, numa resposta oficial ao jornal Público, datada de 25 de outubro, e citada também pelo ECO. Nesse dia mesmo, antes da nota oficial que seguiu também para toda a comunicação social, Mourinho Félix fez declarações exclusivas ao DN em que assegura que não tinha havido qualquer lapso e que os gestores estavam mesmo dispensados de entregar qualquer declaração ao Constitucional.

De facto, a gestão da CGD, lia-se nessas respostas, estava dispensada de apresentar declarações ao Constitucional, porque já as prestava ao governo como acionista e às entidades de supervisão bancária. Ainda assim, o mesmo secretário de Estado dizia ao mesmo DN que, afinal, se houvesse uma lei — a de 1983 — que impusesse a entrega da declaração, estariam obrigados a isso. Confusos? A trama é ainda mais densa.

Domingues sabia do que falava, mas tinha desde o dia 9 de novembro uma carta do Tribunal Constitucional a exigir as referidas declarações. E ameaças de pedido de demissão, como escreveu na carta ao ministro de dia 15.

António Domingues escreve que a gestão da CGD respeitará as decisões dos tribunais, mas avisa Mário Centeno: “Por lealdade e transparência, não posso deixar de referir a V.Exª, conforme já tive oportunidade de lhe referir que, caso o TC decida pela aplicação aos atuais membros do conselho de administração da CGD da lei 4/83 [uma lei anterior às que tinham sido negociadas entre os dois], obrigando-os em consequência a entregar a as respetivas declarações de património, com as atuais regras de declaração, alguns daqueles membros manifestaram-me a sua intenção de renunciarem às suas funções”. Porquê? “Domingues responde: “Por considerarem que se encontra alterado um dos principais pressupostos que, na sua avaliação pessoal, era central ao convite que lhes formulei e pedido e em nome de V.Exª”.

As condições de Domingues para aceitar o convite

Afinal, quando é que começa a negociação entre Domingues e Centeno e fica claro o compromisso do governo? Logo no primeiro email, datado de 11 de abril de 2016, o gestor, ainda vice-presidente do BPI, envia a Mário Centeno, às 16h27, propostas de alteração de estatutos e propostas de regulamentos do conselho de administração e das respetivas comissões. Mas é numa carta de 14 de abril que Domingues põe em cima da mesa as condições para aceitar o convite que lhe foi feito. “No seguimento das reuniões realizadas com V.Exª conforme então acordado, venho apresentar as bases que entendo necessárias para que a CGD continue a desempenhar o seu relevante papel no sistema financeiro português e que, conforme referi a V.Exª, são essenciais para aceitar o convite que V.Exª me dirigiu para liderar o conselho de administração daquela instituição bancária nacional”.

Domingues cita as reuniões com Centeno e com o secretário de Estado Mourinho Félix, a 18 e 21 de março de 2016. Nesta carta, não é explicitada a questão das declarações ao Tribunal Constitucional, mas é sublinhada a necessidade de garantir que a CGD “opere, interna e externamente, em termos competitivos, sem limitações que afetem a sua capacidade concorrencial ou que a coloquem em desvantagem face aos seus concorrentes diretos”. E, nessa data, é Domingues que sublinha e elogia os pontos de vista que lhe foram transmitidos por Mário Centeno. A carta-base de compromissos tem três pontos e várias alíneas:

  1. Governo da Empresa
  2. Modelo de remuneração e incentivos da CGD
  3. Reforço de capitais próprios

E outros tantos anexos, com particular realce para os que eram relativos à política de remunerações. Em todos, fica clara a intenção de Domingues de subordinar o banco público às regras bancárias e ao regime das instituições financeiras, excluindo-a das que vigoravam para o Setor Empresarial do Estado e para o Estatuto do Gestor Público, as duas peças legais que viriam a ser determinantes neste processo, e na demissão de António Domingues.

É num quadro-resumo sobre o regime do Setor Empresarial do Estado e num segundo, relativo ao Estatuto do Gestor Público, que fica claro, preto no branco, as exigências do vice-presidente do BPI. “Enunciam-se de seguida os aspetos do regime de Direito Público aplicável aos gestores públicos e às empresas públicas que, por representarem constrangimentos impeditivos do posicionamento da CGD em igualdade com os seus concorrentes no mercado, se entendem que devem ser afastados”. De que é que Domingues está a falar? Sim, adivinhou, entre outros pontos, da “Publicidade, transparência e deveres de declaração a entidades de fiscalização”. Também poderia estar escrito Tribunal Constitucional.

Domingues faz uma descrição do regime em vigor no Estatuto do Gestor Público, nomeadamente a obrigação de declarar “quaisquer participações e interesses patrimoniais que, direta ou indiretamente, detenha na empresa na qual irá exercer funções ou em qualquer outra”, e propõe alterações. “Não devem existir obrigações de publicidade, transparência ou de declaração relativamente à identidade e aos elementos curriculares de todos os membros dos seus órgãos sociais, às respetivas remunerações e outros benefícios além das que já decorrem da lei comercial, incluindo da lei e regulação bancária”.

É a partir daqui que se sucedem as trocas de emails entre membros de gabinetes das Finanças, a diretora-geral do Tesouro, Elsa Roncon Santos, António Domingues e o secretário de Estado Mourinho Félix com um objetivo, expresso numa mensagem com data de 3 de maio de 2016, às 20h51, de Susana Larisma (chefe de gabinete de Mourinho Félix) para a diretora do Tesouro. “Conforme já por nós falamos, muito agradecia que habilitasse este gabinete com as informações necessárias para que a CGD deixe de estar abrangida pelo Estatuto do Gestor Público”. No dia seguinte, 4 de maio, são vários os emails trocados e que já estão na posse dos deputados, sempre com o mesmo tema: Estatuto do Gestor Público.

O caminho para isentar os gestores da Caixa

E, finalmente, no dia 16, há uma resposta técnica da direção geral do Tesouro, enviada ao subdiretor-geral Pedro Ventura e assinada por Cristina Freire. Que se centra, particularmente, na questão da remuneração face ao que é praticado nas outras empresas públicas e às exceções criadas no governo de Pedro Passos Coelho. Avisa para os riscos inerentes a este processo, mas refere: “Tendo em conta a pretensão manifestada no sentido de os administradores da CGD não estarem sujeitos ao Estatuto do Gestor Público, parece-nos que tal só será possível através de uma alteração legislativa, designadamente ao Estatuto, e em concreto ao artigo 28º, que viesse prever uma exceção para os referidos gestores públicos”. Coisa que veio a suceder, sem ter em conta um decreto de 1983 que obrigava os titulares de cargos públicos, incluindo os gestores, a entregar a declaração de rendimentos e património.

No dia 23 de maio, às 23h21, António Domingues reenvia para o secretário de Estado Mourinho Félix um email que tinha recebido minutos antes, do seu advogado, Francisco Sá Carneiro, da sociedade Campos Ferreira, Sá Carneiro & Associados, com uma proposta de diploma legal que excluía a CGD do regime do Setor Empresarial do Estado e os seus administradores do Estatuto do Gestor Público. Recorde-se, os dois diplomas que, para Domingues, tinham de ser corrigidos, nomeadamente por causa da questão da declaração de rendimento e património para o Constitucional.

No preâmbulo da proposta de decreto-lei redigida pela equipa de advogados de António Domingues, são várias as justificações para a um novo decreto que estabelece um regime jurídico especial para estas instituições de crédito público, como a CGD, para adaptar os princípios de regras do setor empresarial público e do Estatuto do Gestor Público aos bancos que estão no universo do Estado. Sempre com o argumento da necessidade de permitir uma concorrência entre a CGD e os outros bancos privados, apontam-se dois aspetos: “O primeiro prende-se com a aplicação do regime do setor empresarial do Estado, na medida em que este regime impõe constrangimentos adicionais de informação e de controlo a entidades já fortemente reguladas e obrigadas a exigentes regras de transparência, supervisão e controlo por entidades supervisoras nacionais e internacionais, sem claro benefício para o interesse público e com o inerente custo”. Aqui, a referência às declarações de rendimento é óbvia. O segundo aspeto, claro, tinha a ver com a política de remunerações na CGD.

Em todos os emails, fica claro que estas mudanças seriam suficientes para permitirem uma política remuneratória competitiva com a seguida pelos privados, como também a exclusão de obrigações como as declarações de rendimento. O pior foi, mesmo, a lei de abril de 1983, a que o Constitucional usou para obrigar à entrega das referidas declarações. E que determinou a saída de Domingues e da sua equipa, juntamente com o que se veio a conhecer a seguir, isto é, a relação perdida entre Domingues e Centeno. Já lá vamos.

Nas semanas seguintes, sucederam-se mais uma vez trocas de documentos entre o Ministério das Finanças e o escritório de Francisco Sá Carneiro, advogado de António Domingues. Com propostas de redação do diploma do Estatuto do Gestor Público. O governo aprova, de resto, no dia 8 de junho, em Conselho de Ministros, o fim das limitações aos salários na Caixa e as mudanças ao Estatuto dos Gestores Públicos, para ‘salvar’ a CGD daquele regime mais restritivo. Nessa data, só se falava dos salários, nunca das obrigações de transparência e publicitação de rendimentos e património.

Na documentação enviada por António Domingues à comissão parlamentar de inquérito, surgem, depois, nos meses de setembro e outubro, muitas trocas de correspondência, emails e cartas, já centrados nas questões relacionadas com a capitalização do banco público. Com Domingues já em funções na CGD, porque tinha começado no dia 31 de agosto.

Foi no dia 19 de outubro, no Parlamento, que Mário Centeno assumiu, pela primeira vez, quanto é que António Domingues ganharia na CGD. Já se sabia que seria um salário competitivo em relação à banca privada, não se sabia o número, que já estava fechado há meses: 423 mil euros brutos por ano, mais 50% de prémio em função de objetivos.

No dia 23 de outubro, quem suscitou publicamente dúvidas sobre a questão da declaração de rendimentos e património foi Marques Mendes. Com ironia, aliás, porque dizia que deveria ter sido, seguramente um esquecimento, uma omissão. Não foi, e Marques Mendes também sabia, à data, que tinha havido um acordo entre António Domingues e Mário Centeno sobre essa questão.

A carta com a resposta de Mário Centeno

O último a perceber o que se estava a passar e a ficar sem apoio de quem o tinha convidado e aceitado as suas condições foi mesmo António Domingues. E percebeu quando, na carta de 15 de novembro, Domingues alerta para o problema da declaração de rendimentos e recebe de volta a resposta de Centeno, logo no dia seguinte.

E o que diz? O ministro é cuidadoso nas palavras e nunca desmente o acordo citado por António Domingues. Mas já estava noutra fase. “Tomo nota das notificações do Tribunal Constitucional de que me dá conhecimento. Permita-me que cumprimente a elevação do conselho de administração da CGD e de cada um dos seus membros na determinação que me comunica de respeitar a decisão do Tribunal. Estou convicto ser do interesse da CGD que tal determinação [do TC] se concretize num prazo muito curto“. Ou seja, nesta data, é Centeno que assume, implicitamente, uma posição totalmente contrária daquela que o próprio ministério tinha assumido quando defendia que a CGD não tinha de prestar contas a não ser ao próprio governo, enquanto acionista. O mundo (já) tinha mudado, até Marcelo Rebelo de Sousa tinha exigido a apresentação da declaração de rendimentos no dia 4 de novembro, numa nota publicada no site da Presidência, e passou a bola para o próprio Constitucional.

O ministro vai, aliás, mais longe. Perante os avisos de Domingues sobre a possível demissão de administradores da CGD pelo não cumprimento de um acordo, Centeno não hesita em dizer ao presidente do banco público que lhe deve entregar uma lista de potenciais candidatos à sua substituição. “Naturalmente, os putativos novos membros dos órgãos sociais da CGD têm de conhecer e estar dispostos a cumprir todas as obrigações legais a que se encontrarão sujeitos”.

No dia 18 de novembro, depois de a questão ter sido levantada por António Lobo Xavier, no programa “Quadratura do Círculo” na SIC Notícias, o ministro das Finanças foi questionado diretamente sobre a existência ou não de um eventual compromisso escrito entre o Governo e o então presidente da CGD que o isentasse de apresentar as declarações no TC. Mas Mário Centeno foi evasivo na resposta: afirmou que “o único compromisso” do Governo em relação à CGD em Portugal “é o de que se manterá um banco público, capitalizado de maneira a poder desempenhar o papel que tem de desempenhar no sistema financeiro e na economia portuguesa e um banco que seja competitivo”. Não tinha sido o único, como fica claro desta correspondência.

Dez dias depois da carta de Mário Centeno, a 27 de novembro, António Domingues apresentou a renúncia ao mandato e à presidência da CGD.

(notícia atualizada com declarações de Mourinho Félix ao DN).

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Sites das autarquias pecam na informação sobre contratação pública

A transparência dos sites dos 308 municípios portugueses melhorou no geral, mas continua a ser escassa no caso da contratação pública. A informação é da Associação Cívica Transparência e Integridade.

A informação sobre contratação pública é a área menos transparente dos sites das câmaras municipais. É o caso, por exemplo, do Porto e de Lisboa que, na categoria da transparência na contratação pública dos respetivos sites, pontuam zero. Por outro lado, a transparência económico-financeira continua a ser a categoria onde as autarquias disponibilizam mais informação. O site com mais transparência é, pelo segundo ano consecutivo, o do concelho de Alfândega da Fé, em Bragança, e o pior foi o concelho de Penela, de Coimbra.

Site da Câmara Municipal da Alfândega da Fé, no distrito de Bragança.

Esta informação consta do Índice de Transparência Municipal revelado pela Transparência e Integridade, Associação Cívica. “Pela primeira vez em quatro anos, os municípios portugueses obtiveram uma pontuação média positiva“, anuncia esta quarta-feira a TIAC. Esta associação é a representante portuguesa da rede global de ONG anticorrupção Transparency International.

Este ranking é publicado anualmente e avalia sete categorias: a informação sobre a organização, composição social e funcionamento do município; planos e relatórios; impostos, taxas, tarifas, preços e regulamentos; relação com a sociedade; transparência na área do urbanismo; transparência económico-financeira; transparência na contratação pública. É nesta última dimensão que as autarquias portuguesas continuam com pouca informação.

Os indicadores sobre transparência na contratação pública continuam a ser aqueles onde há menos informação disponível nos websites municipais, não passando em 2016 de uma pontuação média de 30,9 – ainda assim uma melhoria face aos 22,91 pontos registados em 2015″, pode ler-se no comunicado da TIAC. Do lado oposto estão os indicadores sobre transparência económico-financeira que, com uma pontuação média de 84,6, são os melhores do ranking.

A tendência, no geral, tem sido positiva: este ano, pela primeira vez, os municípios portugueses obtiveram uma pontuação média positiva. “Desde 2013, quando publicámos a primeira edição do Índice de Transparência Municipal, a tendência tem sido de aumento constante da informação disponibilizada pelas Câmaras Municipais nos seus websites”, afirma Luís de Sousa, o presidente da TIAC. Os municípios obtiveram 52 pontos num total de 100.

O site da Câmara Municipal da Penela, no distrito de Coimbra.

“O resultado mostra que as autarquias compreendem o potencial das novas tecnologias na prestação de contas aos eleitores, mas também que estão atentas às expectativas da sociedade civil e dispostas a responder ao que os cidadãos esperam encontrar num website municipal», garante o coordenador científico do Índice de Transparência Municipal. Este ano foi também o primeiro em que o município com melhor pontuação atingiu o máximo de 100 pontos.

Os resultados deste índice são apresentados esta quarta-feira na Universidade de Aveiro, uma vez que a Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas esteve envolvida no ranking. O relatório final conta com as contribuições de cada município que, após confrontados com os dados, tiveram direito de resposta. “A equipa do projeto verificou de seguida os contributos recebidos do processo de contraditório, procedendo às correções e atualizações relevantes no índice”, esclarece a metodologia. O resultado final pode ser consultado no site Poder Local.

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Dia de ganhos: Nasdaq e Dow Jones atingem recordes

Wall Street avançou esta terça-feira num dia em que o Nasdaq fechou no valor mais alto de sempre e em que o Dow Jones atingiu um máximo histórico a meio da sessão.

O dia foi de ganhos para os principais índices norte-americanos, com o Dow Jones e o Nasdaq a atingirem máximos históricos. Isto num dia marcado pela divulgação de dados menos positivos, apontando para um agravamento do défice comercial norte-americano acima do previsto. As políticas (ou promessas) de crescimento, veiculadas pelo novo presidente Donald Trump, parecem estar a afetar os mercados. Como já é hábito.

Neste contexto, o S&P fechou com pouco brilho, a valorizar 0,1% para 2.292,86. Os holofotes estiveram voltados para o industrial Dow Jones, que bateu níveis históricos de 20.155,35, mas que encerrou a avançar 0,19%, nos 20.090,29. Destaque também para o tecnológico Nasdaq, que fechou a ganhar 0,19%, situando-se agora nos 5.674,2 pontos, a cotação de fecho mais alta de sempre. Quanto, ao petróleo negoceia-se em Nova Iorque a 52,19 dólares o barril, uma queda de 1,55%.

Segundo a Bloomberg, a sessão de hoje evidencia a desorientação dos mercados nas últimas semanas. Os investidores aguardam feedback da Administração Trump quanto ao prometido aumento das despesas e cortes nos impostos para as empresas norte-americanas. Outro dado importante é o facto de os mercados verem como possível um aumento das taxas de juro em março por parte da Reserva Federal.

Por fim, as empresas. A temporada de resultados tem trazido agradáveis surpresas aos investidores. Esta terça-feira apresentaram resultados a Walt Disney e a General Motors. A primeira prestou contas abaixo das estimativas, caindo 0,52%. A segunda apresentou receitas acima do esperado, mas nem por isso deixou de cair 4,7%. Em causa, a incerteza em torno da solidez da General Motors, um tema que não é consensual entre os analistas.

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Governo português afasta revisão do acordo ortográfico

  • Lusa
  • 7 Fevereiro 2017

O Executivo não está disponível para fazer uma revisão do novo acordo ortográfico. Augusto Santos Silva disse esta terça-feira que o processo de ratificação ainda está em curso.

Esta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros português afastou a possibilidade de revisão do acordo ortográfico, referindo que está em vigor em Portugal e que falta ser aplicado pelos países onde a ratificação ainda está em curso.

“O momento em que estamos do processo de implementação do acordo ortográfico é este momento: para países como Portugal, Brasil e outros, está em vigor; noutros países que o aprovaram, o processo de ratificação ainda está em curso”, disse esta terça-feira Augusto Santos Silva, à margem da apresentação da plataforma “Português Mais Perto”.

O chefe da diplomacia portuguesa referia-se a Angola e Moçambique, que ainda não ratificaram o acordo ortográfico, em vigor em Portugal, Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

“A nossa posição é que devemos aguardar serenamente para que o processo de ratificação seja concluído para que o acordo possa entrar em vigor em todos os países que o assinaram e o aprovaram”, afirmou o ministro, quando questionado sobre a revisão do acordo ortográfico de 1990 (AO90), proposta pela Academia de Ciências de Lisboa (ACL).

Interrogado se o Governo aceitará as “sugestões de aperfeiçoamento” do acordo, Santos Silva respondeu: “Não tenho mais nada a dizer”. “O acordo ortográfico está em vigor em Portugal, é um acordo internacional que obriga o Estado português”, referiu o ministro, acrescentando que “evidentemente que nada está isento nem de crítica nem de possibilidade de melhoria”.

A Academia de Ciências de Lisboa aprovou um documento com “Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” de 1990, propondo o regresso de consoantes mudas, do acento gráfico, em alguns vocábulos, do circunflexo, noutros, assim como do hífen.

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