Torel Avantgarde Porto: visita guiada ao melhor novo hotel da Europa
Sob a marca chapéu Torel, o Avantgarde é a mais recente aposta do pequeno grupo hoteleiro fundado por um português e que conta com outras duas sócias austríacas. É a terceira unidade em Portugal.
Nas fotografias do hotel vistas antes de chegar ao Porto, a sala das flores salta à vista. Chegados à zona da Ribeira, o jardim interior faz jus às imagens. Esta é a sala mais especial do Torel Avantgarde Porto, a mais recente unidade do grupo Torel, projeto do qual fazem parte três sócios: o português João Pedro Tavares e as austríacas Ingrid Koeck e Barbara Ott.
O hotel, que foi considerado um dos melhores novos hotéis da Europa pelo jornal britânico The Guardian, conta com quartos divididos por nove tipologias e parte da época vanguardista da cultura e das artes para criar os 47 quatros, todos diferentes uns dos outros. Albert Einstein, Coco Chanel, Oscar Wilde, Janis Joplin, Leonardo Da Vinci e muitos outros têm direito a quadros e inspiram cores de paredes, texturas de tecidos e até os mais ínfimos pormenores da decoração do cinco estrelas, inaugurado em setembro passado.
A história começa em português: João Pedro Tavares fundou, em 2013, o Torel Palace, em Lisboa, como alojamento local. Antes, o investidor hoteleiro tinha trabalhado 20 anos num banco mas decidiu mudar de vida. Barbara, a primeira austríaca a juntar-se à história, visitou o espaço em 2014 com um amigo e apaixonou-se por Lisboa e pelo projeto. Na altura, por coincidência, João estava a tentar expandir o negócio e procurava um parceiro investidor. Barbara não pensou duas vezes e mudou-se para Lisboa, juntando-se ao projeto. Em maio de 2015, abriram o segundo edifício, transformando o Torel Palace num espaço com 28 quartos.
Ingrid junta-se ao grupo pouco tempo depois, na sequência da sua viagem a Portugal. Depois de dez anos a trabalhar nas Nações Unidas em África e no Médio Oriente, a segunda austríaca da história queria voltar à Europa. Vinte anos antes, tinha visitado Portugal pela primeira vez e queria investir na área da hospitalidade, que era um negócio a que estava habituada e de onde a família era originária. “Comprei um carro na Áustria e conduzi até Portugal com vontade de comprar uma propriedade no Alentejo e fazer um pequeno Bed & Breakfast. Olhei para algumas propriedades mas não encontrei o que queria”, explica, em entrevista ao ECO.
A ideia de comprar um terreno e criar um projeto de raiz desapareceu assim que ouviu falar de Barbara. “Vínhamos de cidades próximas, na Áustria. Conheci-a, a amizade começou e a Bárbara e o João quiseram expandir, procuravam um parceiro e perguntaram-me se queria integrar a equipa. Para mim foi a oportunidade perfeita. A parceria começou em março de 2016”, detalha Ingrid. “O link entre este projeto e os outros? Os três são totalmente diferentes em termos de conceito. Uns são modernos, outros são antigos, palacetes históricos. A questão mais importante é que temos o mesmo hardware, mas o que nos une é o software, as pessoas. É a nossa aproximação à hospitalidade, são as pessoas que encontramos aqui. Queremos fornecer, nos nossos espaços, ambientes refinados mas relaxados. Não vai encontrar ninguém de gravata aqui”, assegura.
Grão a grão cria a casa, o conceito
A ideia do projeto foi crescendo juntamente com a equipa. E se, em Lisboa, o grupo estava só começar, no Porto os três sócios procuravam algo diferente. “Queríamos vir para o Porto porque achámos que é um local muito interessante para fazer algo ligado ao turismo. Descobrimos este edifício que é dos anos 30 ou 40, limpo, que se parece com um antigo palácio mas já teve serviços de um Ministério. Era o tempo do Avantgarde, de coisas feitas fora da caixa, e foi por isso que ficámos com o nome. E isso serviu de base ao conceito”, relata Ingrid. Com um investimento de 10 milhões de euros em melhoramento do espaço, decoração e um novo piso para albergar mais quartos e manter o espaço amplo, o Torel Avantgarde é a primeira unidade do grupo no Porto, foi inaugurado em setembro de 2017 mas é muito mais do que apenas um hotel.
“Numa cidade de arquitetura, de arte e de vinho, a ideia é conectar o projeto com o Porto e refletir encontrar esses eixos refletidos no hotel“, detalha Ingrid. Sentados no bar do hotel, entre a sala das flores e o restaurante Digby — cujo nome é uma homenagem ao inventor da garrafa de vinho — os tons de cobre e castanho nas paredes e na decoração são uma dessas marcas. “Obviamente que este é um restaurante que é consequente com aquilo que é o conceito do hotel: fazer um restaurante com conceito, comida e ingredientes portugueses, e honrando a cidade em que estamos com uma carta de vinhos fantástica, todos portugueses. Todo o projeto tem uma lógica, não ser módulos independentes, que não faria sentido nenhum. Como cliente, quando vou a qualquer lado quero provar o que é local. As pessoas querem vir a Portugal e comer comida portuguesa. E falando do ponto de vista do negócio, um restaurante não pode só viver dos clientes do hotel. Um cliente chega, está três dias e vai embora. O que interessa como negócio é ter clientes locais que venham frequentemente”, acrescenta Francisco.
“Este link entre o antigo e o novo é muito importante porque, se se perde o que inicialmente criou esse espírito, a alma, tornas-te qualquer outra cidade do mundo. E isso seria uma pena. Claro que há lojas que vão abrir por causa do aumento de turistas. Mas espero sinceramente que a essência portuguesa possa manter-se, porque é nisso que Portugal se pode diferenciar, no que vários países já perderam”, analisa Ingrid. E acrescenta: “Há Fernando Pessoa, Almada Negreiros, para mostrar que este hotel não é só um hotel de design, e que não poderia estar em mais nenhum lugar do mundo senão no Porto. Todo o resto é de Portugal, tudo o que se vê aqui. É essencialmente português”.
As pessoas sentem-se relaxadas quando entram, e isso é o que une todos os nossos espaços e os nossos futuros espaços.
Mas, além dos quartos todos diferentes decorados a grandes nomes de artistas, escritores e cientistas, o hotel conta com uma vista privilegiada sobre a Ribeira e, além disso, com planos a médio prazo de impacto local, explica Francisco Lorite, diretor do Avantgarde. “Não é um negócio mas uma mais-valia para a cidade”, diz. “Há pessoas que chegam e vêm ao hotel tomar o chá. Já trazem amigos, pedem para mostrar os quartos. Queremos estar dentro do círculo de visitas obrigatórias da cidade no futuro e, em função desse conceito, queremos desenvolver muito mais. Gostávamos de ter parcerias com lojas de arte e escolas. Queremos que as pessoas venham aqui. Os turistas são importantes para nós, claro. Mas queremos fazer algo pelas pessoas daqui”.
Ingrid concorda, sobretudo porque considera essencial preservar a alma da cidade e das pessoas mesmo que se entusiasme com os grandes números do turismo. “Acho que foi essa uma das razões pelas quais eu escolhi Portugal”, diz. “Portugal é extremamente dinâmico, está num processo em que podemos realmente ver as coisas a mudar. As pessoas fazem dinheiro, arrendam espaços, mas espero que Portugal possa manter a sua autenticidade e para as pessoas que vivem aqui, espero que nada mude. Em Lisboa como no Porto são cidades excecionais com coisas excecionais, não vais encontrar qualquer outra capital com pequenas lojas, e senhoras simpáticas atrás do balcão. É lindo, na minha opinião. Tenho medo de que, em poucos anos, se percam estas coisas. Tenho uma esperança de que estas coisas se possam manter, porque é essa a razão para as pessoas cá virem”.
" Queremos estar dentro do círculo de visitas obrigatórias da cidade no futuro e, em função desse conceito, queremos desenvolver muito mais.”
Expansão em geografia e em conceito
E, ainda que a maioria dos clientes sejam estrangeiros na maior parte do ano — a lista é liderada por americanos, suíços e franceses — na temporada baixa sente-se uma ligeira mudança, com espanhóis e portugueses a ganharem destaque. São estes últimos, aliás, que ocupam um lugar de destaque na hora de traçar a estratégia para o restaurante Digby, explorado pelo grupo Casa da Comida, histórico lisboeta.
Nos próximos planos para o investimento está já o Torel Palace Porto, no bairro da Batalha, um antigo edifício apalaçado com 25 suítes e que deverá ser inaugurado ainda este ano. Por agora, a unidade do Porto conta com uma equipa de 43 pessoas, incluindo os 20 a trabalhar no Digby.
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