Rede de bicicletas oBike quer voltar a Lisboa “ainda este mês de abril”
A rede de bicicletas oBike já está em contacto com a CM Lisboa e quer regressar à capital até ao final deste mês. Acusada de "uso abusivo do espaço público", a empresa responde: são os utilizadores.
A rede de bicicletas partilhadas oBike espera voltar a operar em Lisboa “ainda este mês de abril”, avançou ao ECO o diretor geral da empresa para os mercados português e espanhol, Pablo Pastega. É a nova meta desta startup com raízes em Singapura, depois de ver a sua rede ser desmantelada pela Câmara Municipal de Lisboa, por alegado uso abusivo do espaço público.
Em fevereiro, a oBike chegou à capital portuguesa com cerca de 350 bicicletas. Menos de um mês depois, acabaram por ser recolhidas após decisão do município. Em causa, o facto de muitos utilizadores as abandonarem, sem ordem, em plena via pública. Na altura, como o ECO avançou, a empresa prometeu voltar ao ativo “em breve”, sendo que a intenção inicial era regressar ao ativo em meados de março.
Isso não aconteceu e, agora, o final de abril é a nova meta. “Estamos em fase final de concretização de detalhes na colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa. Esperamos voltar ainda este mês de abril”, disse Pablo Pastega ao ECO. Segundo o diretor geral da oBike no mercado ibérico, a empresa encontra-se a trabalhar “ativamente” com a autarquia no sentido de estabelecer os princípios da utilização de bicicletas partilhadas” em Lisboa.
Descartando a ideia de que a oBike tenha sido banida pelo município, Pablo Pestega reconheceu ter a “consciência” de que, em Lisboa, “tal como noutras cidades”, ainda “não existe nenhum processo de gestão destes novos sistemas de mobilidade”. Até porque estas “tendências” surgem “a uma velocidade que não é acompanhada pelos organismos públicos”.
Fonte oficial do gabinete do vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa confirmou ao ECO existirem “contactos” com a empresa no sentido de viabilizar o negócio. O objetivo, segundo a mesma fonte, é “criar algumas regras que balizem a atividade” da oBike, no sentido de “evitar aquilo que foi visível no início da operação”. A meta de final de abril não é formalmente admitida pela autarquia, ainda que seja considerada exequível pelo município lisboeta.
Estamos em fase final de concretização de detalhes na colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa. Esperamos voltar ainda este mês de abril.
Abuso do espaço público? São “os utilizadores”
Foi o Público (acesso condicionado) a avançar a notícia da retirada das bicicletas da oBike em Lisboa. Citado pelo jornal, o vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, Miguel Gaspar, justificou a decisão com a alegada “ocupação abusiva do espaço público”, que estaria a ser levada a cabo pelas bicicletas da oBike. Como é uma rede que não precisa das estações fixas, estas eram, muitas vezes, deixadas no meio do passeio. Por vezes, amontoadas ou caídas no chão.
“Lisboa é uma cidade muito aberta a este tipo de soluções, mas quando começamos a ver bicicletas no centro das praças ou em cima de bancos de jardim sentimos que é mesmo importante regular esta atividade”, disse Miguel Gaspar ao mesmo jornal, quando foi conhecida a decisão de remover as bicicletas das ruas de Lisboa.
Ao ECO, Pablo Pastega responde às alegações do vereador lisboeta. “Gostaríamos de salientar que, infelizmente, só existe uso abusivo de espaço por parte dos utilizadores. Existem sempre utilizadores que, de forma abusiva, fazem uso das bicicletas mas, tal como uma bicicleta particular que vemos deixada na rua, vemos bicicletas oBike mal usadas”, disse o diretor da empresa.
Questionado sobre o que está a ser feito para mitigar os problemas identificados pela Câmara Municipal de Lisboa, Pablo Pastega apontou para a tecnologia. “Temos vindo a desenvolver mecanismos de combate ao uso abusivo, tal como a referenciação de zonas de estacionamento interdito. Mais ainda, o sistema trabalha também com um sistema de pontuação que pretende criar valor aos utilizadores que fazem bom uso das bicicletas”, explicou. E sublinhou: “Estamos convictos que medidas como esta, e outras, irão melhorar a convivência entre bicicletas e utilizadores.”
Gostaríamos de salientar que, infelizmente, só existe uso abusivo de espaço por parte dos utilizadores.
Rede da Emel não é uma ameaça
Importa notar que a oBike surgiu em Lisboa numa altura em que a própria Câmara Municipal está a desenvolver uma rede de bicicletas partilhadas: a Gira, gerida pela Emel. No entanto, esta rede usa estações fixas que se estendem a várias zonas estratégicas da cidade, uma solução diferente da usada pela oBike em vários países.
O ECO questionou Pablo Pastega sobre se pensa que a decisão da autarquia de suspender as operações da oBike esteve relacionada com o facto de já ter uma rede pública de bicicletas. No entanto, o diretor geral não acredita que os factos estejam relacionados. “Temos a convicção de que a concorrência é natural e amiga de uma melhor promoção de serviço prestado aos habitantes. Acreditamos que [a rede Gira], embora seja proveniente do setor público, serve os interesses dos cidadãos e da cidade, ao promover a utilização de bicicletas”, afirmou.
Isto por um lado. Porque, por outro, Pablo Pastega prefere apontar a um outro investimento da Câmara Municipal de Lisboa que também vê com bons olhos. “A cidade de Lisboa tem feito um investimento significativo nas ciclovias. Ora, estas, naturalmente, existem para serem usadas. Nós pretendemos contribuir para a estratégia da Câmara Municipal de Lisboa no que diz respeito a mobilidade sustentável”, frisou o diretor.
Quem está por detrás da oBike?
Outro dos problemas identificados quando foi dada ordem de retirada à oBike foi a dificuldade em chegar aos responsáveis da empresa em Portugal. Até porque, alegadamente, a empresa começou a operar em Lisboa sem notificar primeiro a autarquia e sem “permissão administrativa”, disse ao Público o vereador da Mobilidade. A própria Câmara Municipal terá encontrado dificuldades em chegar à fala com os responsáveis, pelo que a Polícia Municipal teve ordem para remover as bicicletas que fosse encontrando. O ECO também tentou contactar a empresa na altura, através do site e do Facebook. Só recebeu resposta várias semanas depois.
Mas as dificuldades de comunicação com os responsáveis da empresa estão ultrapassadas. Desafiado a responder, Pablo Pastega quis ser ainda mais transparente. “A oBike trabalha em Portugal dentro do mercado ibérico. A gestão está centralizada, mas a operação é local, pelo que contribuímos para a economia local deste modo”, disse. Contou ainda que, no início das operações em Lisboa, a oBike fez uma parceria com o Impact Hub, uma incubadora de startups que visam minimizar o impacto ambiental.
Pablo Pastega recusou, porém, revelar o montante do investimento feito para trazer a oBike para Lisboa, definindo-o apenas como “considerável”. “São valores incluídos no nosso plano de espansão que não podem ser vistos de forma isolada para Portugal, já que muito do investimento é feito em backoffice“, justificou.
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