OPA à EDP era “esperada”. “Era ótimo uma oferta concorrente”, dizem os pequenos investidores
A ATM, que representa os pequenos investidores, diz que a OPA já era esperada, mas o preço falha as expectativas. Daí que diga que era bom surgir uma oferta concorrente pela EDP.
O presidente da associação de pequenos investidores ATM considera que a OPA da China Three Gorges à EDP “é natural”, mas falta informação sobre as contrapartidas oferecidas, nomeadamente o que acontecerá aos acionistas que decidirem continuar na elétrica.
“Achamos que a oferta pública de aquisição (OPA) era natural. Acaba por ir de encontro do que reclamamos [em 2012] e mostra que muitas vezes as próprias sociedades são mais rápidas do que a justiça”, disse à Lusa Octávio Viana, presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM).
Segundo o responsável, aquando da reprivatização, há seis anos, a ATM defendeu que a China Three Gorges devia lançar uma OPA sobre a EDP, porque embora não tivesse os 33% que fazia presumir controlo sobre a sociedade, a forma como se comportava em assembleias-gerais e as decisões tomadas implicava um controlo efetivo da empresa, pelo que puseram uma ação no Tribunal de Comércio nesse sentido.
Contudo, acrescentou, acabaram por desistir da ação porque só a notificar a justiça demorou dois anos.
"Achamos que a oferta pública de aquisição (OPA) era natural. Acaba por ir de encontro do que reclamamos [em 2012] e mostra que muitas vezes as próprias sociedades são mais rápidas do que a justiça.”
Questionado sobre o preço oferecido para os restantes acionistas da EDP aceitarem vender as suas ações da EDP, Octávio Viana disse que a ATM não tem uma posição formal, mas que “o feedback que tem tido de investidores, mesmo de institucionais, é de que o preço não reflete as expectativas do que entendiam ser o justo-valor para sair” da empresa.
Ainda assim, afirmou, o preço não é a única contrapartida a considerar e há “outras variáveis” importantes a saber nesta OPA, nomeadamente “saber o plano” da CTG para a EDP, de como “a empresa dominante pretende criar valor para os acionistas numa perspetiva futura”.
“Sabemos o preço para quem quer sair. E para quem quer ficar, é preciso ver o valor. Se eu não entregar hoje as ações que valor a empresa vai criar para mim?”, questionou, reforçando que também isso é necessário acontecer caso a CTG fique com capital bem superior a 50%, o objetivo mínimo definido.
"Era ótimo que houvesse uma OPA concorrente e na nossa perspetiva existem outras sociedades para quem faz sentido.”
Sobre a possibilidade de outras empresas contra-atacarem esta operação, fazendo contra-OPA, Octávio Viana disse que a Associação de Pequenos Investidores considera que “existem outros players no setor” que podem estar interessados, considerando que alguns até conseguiriam mais sinergias, tendo o controlo da EDP, do que o grupo chinês.
“Era ótimo que houvesse uma OPA concorrente e na nossa perspetiva existem outras sociedades para quem faz sentido”, afirmou, considerando que o mercado das elétricas é muito interessante para as empresas.
O representante desta associação de pequenos investidores recordou o que se passa no Brasil, onde duas grandes energéticas europeias, a italiana Enel e a espanhola Iberdrola, disputam o controlo da Eletropaulo.
Quanto a possíveis entraves ao negócio por a EDP (empresa de distribuição de energia) poder vir a ser controlada pelo Estado chinês, uma vez que a China Three Gorges é pública, quando este já tem o controlo da REN (redes nacionais de transporte de energia), através da empresa pública State Grid, Octávio Viana afirmou que essa é uma questão importante e que o prospeto da OPA tem de referir “os riscos e alterações, nomeadamente de o último beneficiário ser o Estado chinês”.
“É importante quando os acionistas tomam as decisões saberem os riscos e como vão ser acautelados”, vincou.
Por fim, o presidente da ATM considerou que, em recentes processos de OPA, os pequenos acionistas não têm sido bem tratados, recordando o caso do BPI e da Brisa, temendo que o mesmo se passe na EDP.
“Os acionistas minoritários nas OPA não têm sido respeitados e os tribunais não estão preparados, demoram muito tempo”, queixou-se.
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