FMI só antecipou 47 das últimas 313 recessões desde 1991. Em Portugal, previu metade das recessões
FMI só conseguiu prever uma em cada sete recessões nas principais economias do mundo. Mas em Portugal a taxa de sucesso é de 50%: os técnicos anteciparam as últimas três recessões portuguesas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) conseguiu antecipar apenas 47 das últimas 313 nas principais economias do mundo desde 1991, o que faz com que apenas uma em cada sete recessões tenha sido prevista pelos peritos internacionais, num registo que a própria instituição admite que é “pobre”. Mas, olhando para o caso de Portugal, as previsões da organização foram mais certeiras já que anteviram metade das seis recessões que a economia nacional registou nos últimos 27 anos.
É o próprio FMI que o admite com algum embaraço: “As previsões do World Economic Outlook (WEO) deveriam ser melhores, tendo em conta que já incorporam juízos sobre políticas, fatores externos e notícias económicas recentes que afetam as trajetórias das economias. Contudo, uma análise às previsões do WEO e do setor privado entre 1991 e 2016 confirma as dificuldades em fazer previsões de recessões económicas”.
Os técnicos do Fundo falam mesmo de um “registo pobre” em matéria de previsão de recessões e mostram a dimensão concreta daquilo a que chamam de “Uma Missão Dantesca”: “Enquanto os países da amostra registaram em média 2,7 recessões entre 1991 e 2016, das 313 recessões de uma amostra de 117 economias, apenas 47 foram antecipadas”, revela a instituição que, apesar de reconhecer as dificuldades e os erros — a taxa de sucesso de previsão de uma recessão é de apenas 15% neste período –, volta esta terça-feira a divulgar as suas perspetivas para a evolução da economia mundial, incluindo Portugal.
No relatório hoje publicado, os experts não deixam de meter o dedo na ferida e insistem: “Mesmo em 2009, o ano após a contração económica na sequência do colapso do Lehman Brothers, apenas seis economias avançadas (e não mercados emergentes ou economias em desenvolvimento) tiveram previsões de recessão no WEO de outubro de 2008; subsequentemente, estima-se que o Produto contraiu em 56 (quase metade) das economias da amostra“.
Sobre Portugal, segundo os dados acedidos pelo ECO, os especialistas do FMI conseguiram um score melhor. Isto é, das seis recessões que a economia portuguesa atravessou no mesmo período (nos anos 1993, 2008, 2009, 2011, 2012 e 2013), três delas foram previstas pela instituição. Mais concretamente as últimas três, em pleno período de ajuda financeira internacional que implicava a presença regular dos técnicos internacionais em Lisboa para acompanhar o plano de ajustamento.
Apesar do relativo sucesso quanto ao caso português, os resultados globais “não satisfazem” o Fundo, que diz, porém, que não acertar nas previsões é algo “comum entre quem faz previsões”.
Na verdade, esse é também o caso da Consensusb Economics, que reflete a média das expectativas de previsores privados para 44 economias. Comparando os dados, “há um padrão que é surpreendentemente comparável” entre FMI e Consensus Economics no que toca ao sucesso das previsões: esta última apenas conseguiu prever duas de 75 novas recessões nas suas previsões (sem contar economias que já se encontravam em recessão), segundo as contas da instituição liderada por Christine Lagarde.
Já a prever abrandamentos da economia, “as previsões do WEO fazem um trabalho de alguma forma melhor”. “Entre 1991 e 2016, abrandamentos económicos ocorreram em cerca de metade do tempo e cerca de metade dos abrandamentos foram previstos com precisão”, sublinha o FMI.
Mesmo em 2009, após a falência do Lehman Brothers, o registo revela uma maior eficácia das previsões dos técnicos do FMI quando se trata de prever abrandamentos da economia: três quartos dos abrandamentos registados naquele ano foram efetivamente antecipados pela instituição.
“Resumindo, as previsões do WEO revelam um melhor desempenho na antecipação de abrandamentos económicos do que na antecipação de recessões”, diz o FMI. “Mas o registo histórico deixa muito espaço para melhoria em ambos os casos e os erros de previsão durante episódios de abrandamentos severos são grandes”, reconhece.
No WEO hoje publicado, o FMI aponta para um crescimento de mundial de 3,7%, tanto para 2018, como para 2019, uma revisão em baixa de 0,2 pontos percentuais face às previsões feitas em abril. Entre os vários países para os quais o Fundo apresenta previsões, apenas uma mão cheia deverá registar uma contração da economia este ano e no próximo: Venezuela (-18% em 2018 e -5% em 2019); Argentina (-2,6% e -1,6%); Porto Rico (-2,3% e -1,1%, respetivamente); Irão (-1,5% e -3,6%) e Sudão (-2,3%este ano e -1,9% no próximo). De frisar que, para este ano, a instituição liderada por Christine Lagarde prevê que a economia angolana registe uma quebra de 0,1% depois da contração de 2,5% de 2017. Mas para o próximo ano, Angola já deverá crescer (3,1%).
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