Huawei desafia Washington a provar que tecnologia da empresa não é segura
Depois de Washington e dos governos de outros países acusarem a Huawei de desenvolver produtos inseguros, a empresa chinesa desafio os EUA a darem provas de que as acusações são verdadeiras.
O presidente da Huawei desafiou Washington e outros governos a provarem que a empresa chinesa é uma ameaça à segurança, depois de vários países a terem banido de participar no desenvolvimento de telecomunicações. Numa rara conferência de imprensa, na sede da Huawei Technologies, Ken Hu afirmou que as acusações contra o maior fabricante global de equipamentos de rede derivam de “ideologia e geopolítica”.
O responsável avisou que excluir a Huawei do desenvolvimento de redes de quinta geração (5G) na Austrália e em outros mercados vai prejudicar os consumidores, ao aumentar os preços e travar a inovação. A Austrália e a Nova Zelândia baniram as redes 5G da Huawei por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan, que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adotado a mesma medida. Também o Japão, cuja agência para a segurança no ciberespaço classificou a firma chinesa como de “alto risco”, baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais.
Em Portugal, durante a recente visita do Presidente chinês, XiJinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia 5G em Portugal, apesar da UE ter assumido “estar preocupada” com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança.
A realização de uma conferência de imprensa pela Huawei sugere que a empresa está preocupada com as crescentes restrições no acesso ao mercado 5G, que analistas estimaram que pode valer mais de 20 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) por ano, em 2022. “Se há provas e evidências, estas devem ser transmitidas (…) às operadoras de telecomunicações, porque são estas que compram à Huawei”, afirmou Ken Hu.
Fundada em 1987, por um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei rejeitou as acusações de que é controlada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), ou que desenvolve equipamentos que facilitam a espionagem chinesa. Mas funcionários estrangeiros citaram uma lei da China que requer às empresas a cooperação com os serviços secretos.
A emergência das redes 5G acrescentou receios, à medida que os governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como ativos estratégicos para a segurança nacional. Esta tecnologia destina-se a expandir as redes de telecomunicações para conectarem carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais elétricas.
“Nunca houve qualquer evidência de que o nosso equipamento constitui uma ameaça à segurança”, afirmou Hu. “Nunca aceitámos pedidos de qualquer governo para prejudicar as redes ou negócios de um cliente nosso”, acrescentou.
A Huawei é o primeiro ator global chinês no setor tecnológico, tornando a empresa politicamente importante, à medida que o PCC tenta transformar as firmas do país em importantes competidores em atividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos. A empresa emprega 180 mil pessoas e as vendas deverão superar os 100 mil milhões de dólares, este ano. As ambições chinesas para o setor tecnológico chinês resultaram já numa guerra comercial com os Estados Unidos, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um.
Hu garantiu que a empresa “nunca recebeu qualquer pedido para fornecer informação imprópria”. “No futuro, vamos agir em estrita conformidade com a lei, ao lidar com situações semelhantes”, disse.
O presidente da empresa citou ainda previsões que apontam que os custos de instalar estações para rede sem fio de 5G na Austrália sairá entre 15% e 40% mais caro sem a competição da Huawei. “Não podes tornar-te melhor ao bloquear o acesso de competidores ao campo de jogo”, disse. Hu garantiu que, apesar das interferências “políticas”, a Huawei assinou já contratos para fornecer equipamentos 5G a 25 operadoras de telecomunicações, e que exportou já 10.000 estações para rede sem fios de última geração. “Estamos orgulhosos por ver que os nossos clientes continuam a confiar em nós”, disse.
A Huawei tem escritórios em Lisboa, onde conta também com um centro de inovação e experimentação. Segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), desde 2004, a firma chinesa investiu 40 milhões de euros em Portugal.
Em cinco anos, Huawei quer investir dois mil milhões de dólares em cibersegurança
A Huawei anunciou também que vai investir 2.000 milhões de dólares em cibersegurança, nos próximos cinco anos, após vários países banirem a empresa de participar no desenvolvimento das suas telecomunicações. Segundo o jornal oficial em língua inglesa China Daily, a medida inclui a contratação de mais pessoas e a melhoria dos laboratórios da empresa, depois de vários governos estrangeiros terem “duvidado da segurança dos seus produtos”.
“Vamos abrir um centro de transparência e segurança, em Bruxelas, no próximo ano, para convencer os nossos clientes de que os nossos dispositivos são fiáveis”, afirmou Hu Houkun, presidente rotativo da Huawei.
As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais elétricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como ativos estratégicos para a segurança nacional.
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