Deputados frustrados com “mosca” e “chave de memória” da CGD
Audição ao antigo secretário-geral da CGD terminou mais cedo do que o esperado. Deputados ficaram frustrados com respostas de quem consideravam ser a "mosca" que viu tudo o que se passou no banco.
À partida para a audição a João Garcia Dias, antigo secretário-geral da Caixa Geral de Depósitos (CGD), as expectativas dos deputados da comissão de inquérito ao banco público eram elevadas. Afinal, estavam diante da “mosca” que acompanhou por dentro a vida da instituição nos últimos 24 anos. “Era a chave de memória”, segundo o deputado socialista Carlos Pereira que iria lembrar-se de tudo o que outros inquiridos na comissão não se lembravam. Mas, no final, sobrou a frustração de uma audição que terminou mais cedo do que se esperava inicialmente.
“Sinto-me frustrado”, exclamou o deputado comunista Paulo Sá. “Todos nós gostávamos de ser uma mosca que pudesse ter estado presente naquelas reuniões. Mas o Dr. João Dias Garcia tem fugido às questões”, referiu o dirigente do PCP que, perante a insatisfação nas respostas que obteve na primeira ronda de questões, dispensou a segunda e terceira intervenções a que tinha direito. De resto, nenhum dos partidos quis avançar para uma terceira ronda de perguntas e, cerca de quatro horas depois do início da audição, o presidente da comissão dava por fechados os trabalhos do dia.
Pelo meio, o deputado do PS Carlos Pereira, que tinha feito várias perguntas a João Dias Garcia sobre a razão pela qual várias operações de financiamento não estavam fundamentadas, também não escondeu a sua frustração perante alguém que considerava que poderia ser a “chave de memória” e o “arquivo da CGD”.
"Se estivesse no café, a minha conversa seria outra. Mas estou nesta comissão num outro papel.”
Paulo Sá tinha questionado se o responsável tinha notado alguma “inversão” na política de crédito no banco público nos anos entre 2007 e 2009, quando se começaram a verificar os incumprimentos dos grandes créditos. A resposta de Dias Garcia: “Se estivesse no café, a minha conversa seria outra. Mas estou nesta comissão num outro papel”. O deputado criticou-o depois por se refugiar atrás dos cargos que exerceu durante mais de duas décadas.
João Dias Garcia foi secretário-geral e secretário da mesa da assembleia geral da CGD desde 1993 até 2017. Como o próprio fez questão de evidenciar na apresentação inicial, esteve cerca 24 anos no banco público, tendo trabalhado com oito administrações durante este período.
Acompanhou reuniões onde foram aprovados créditos e reuniões da administração do banco, e seria uma “testemunha privilegiada” do que se passou nos últimos anos, período durante o qual, conforme expôs o relatório da auditoria da EY, a CGD veio a registou 1.700 milhões de euros em perdas com grandes créditos — 1.200 milhões só no top-25.
Por várias vezes disse que não queria fugir às questões dos deputados. Mas, como também teve oportunidade de afirmar várias vezes: “É humanamente impossível lembrar-me de todas as reuniões, dos debates” sobre a forma como os grandes créditos foram concedidos.
Segundo o responsável, todos os financiamentos que eram apresentados pela direção comercial estavam fundamentados. E, nos casos em que o conselho de crédito ou o conselho alargado de crédito aprovavam as operações contra parecer desfavorável da direção de risco, isto significava apenas que se dava primazia à argumentação da direção comercial, não sendo necessária uma justificação adicional.
Conforme explicou: “Coisa diversa é concordar-se ou não com a fundamentação. O que não se pode dizer é que tal deliberação não estava fundamentada”.
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