Barroca garante que “nunca, jamais” discutiu expansão do grupo Lena com Sócrates. E diz que Santos Silva “vendia conhecimento”
Joaquim Barroca, um dos acusados da Operação Marquês, disse que não falava de Vale do Lobo, mas acabou por falar. Comentou ainda a relação com o antigo primeiro-ministro e Carlos Santos Silva.
Joaquim Barroca garantiu que “nunca, jamais” discutiu planos de internacionalização do grupo Lena com o antigo primeiro-ministro José Sócrates. No Parlamento, o ex-administrador da construtora revelou ainda a ligação com Carlos Santos Silva, apontado pelo Ministério Público como “testa-de-ferro” de Sócrates: “Era como qualquer outro parceiro: prestava serviços, vendia conhecimento, vendia projetos”.
O responsável falava na II comissão de inquérito à recapitalização da Caixa e aos atos de gestão. De acordo com a auditora EY, a Always Special devia 44 milhões ao banco público em 2015, que a Caixa dava como totalmente perdidos. Há ainda outro crédito à Lena Construções em incumprimento, no valor de 48 milhões de euros, com imparidades de 18 milhões de euros.
Joaquim Barroca foi questionado pelos deputados sobre as ligações do grupo ao poder político, nomeadamente em relação à possibilidade de ter beneficiado com contratos para a realização de obras durante o governo de Sócrates, como os projetos do TGV, o novo aeroporto e Parque Escolar ou contratos na Venezuela.
Questionou Mariana Mortágua: “Discutiu planos de expansão do grupo Lena com José Sócrates?”. “Nunca, jamais”, respondeu o antigo administrador da construtora.
Numa intervenção seguinte, Conceição Bessa Ruão, do PSD, mostrou que o contrato para a construção de casas pré-fabricadas na Venezuela atingiu os 1.000 milhões de euros. Quem garantiu esse contrato? A Caixa, respondeu Joaquim Barroca. Na resposta à social-democrata, o responsável explicou que a entrada do grupo naquele país começou em 2002 ou 2003 através dos negócios no Brasil, e que posteriormente a CGD deu uma garantia de 100% ao contrato venezuelano, reassegurado por mais 50% pelo grupo Cosec.
Santos Silva era um “parceiro como outro qualquer”
Sobre Carlos Santos Silva, amigo de longa data de José Sócrates, e apontado pela acusação do Ministério Público na Operação Marquês como sendo o “testa-de-ferro” do antigo primeiro-ministro, Joaquim Barroca disse conhecê-lo desde os anos 80, quando começou a relação com o grupo Lena. “A relação existiu até há quatro, cinco anos”, acrescentou de seguida.
Carlos Santos Silva “era um parceiro como outro qualquer, prestava serviços, vendia conhecimento, vendia projetos. Se eu quisesse perceber como poderia criar um projeto, pela sensibilidade que ele tinha era um bom conhecedor. Tinha projetos e projetistas”, disse ainda o ex-administrador da construtora.
Joaquim Barroca e Carlos Santos Silva estão entre os 28 arguidos da Operação Marquês, incluindo empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo.
Inicialmente, após as questões do deputado do PCP Duarte Alves, Joaquim Barroca disse que não iria responder sobre Vale do Lobo, exatamente por ser um dos arguidos no mesmo processo que envolve o resort de luxo. “Não me convide a dizer algo que seja mau para mim”, alegou o ex-administrador.
Mais tarde veio a responder que nunca comprou nem esteve interessado em comprar qualquer lote em Vale do Lobo (“Nem tenho dinheiro para isso”, afirmou), tendo afirmado conhecer Diogo Gaspar Ferreira e Hélder Bataglia, dois dos promotores daquele empreendimento turístico. Diogo Gaspar Ferreira já veio a esta audição na semana passada para explicar a relação com a Caixa.
Mariana Mortágua insistiu no tema de Vale do Lobo, sobre se alguma vez se envolveu com o projeto. Joaquim Barroca referiu que assinou uma “intenção de compra” de um lote naquele empreendimento, mas que a ideia era “namorar e não casar”. De seguida aprofundou esta ideia: Vale do Lobo tinha em vista vários investimentos em infraestrutura e que o grupo Lena queria manter o canal aberto, daí ter assinado essa intenção de compra de um lote.
(Notícia atualizada às 12h20)
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