“Vale a pena pagar um juro mais elevado” para emitir Panda Bonds, diz Moreira Rato
Colocação de 260 milhões de euros em moeda chinesa já arrancou e o juro pedido pelos investidores para comprar estas obrigações portuguesas a três anos será conhecido esta quinta-feira.
Não há razões para que o Tesouro não tenha sucesso na primeira emissão de dívida pública em moeda chinesa, considera João Moreira Rato. O antigo presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP, que foi também responsável pela última colocação de obrigações portuguesas em moeda estrangeira no mercado, está confiante. E elogia a inovação que é a operação feita em renminbi.
“Esta emissão é uma forma de o IGCP entrar num mercado que ainda está muito no princípio. Vejo como um investimento no futuro até pela dimensão reduzida da emissão”, afirmou Moreira Rato, que recentemente assumiu o cargo de chairman do Banco CTT, ao ECO. “O IGCP será o primeiro e, caso o mercado se venha a desenvolver, irá permitir alargar a base de investidores”.
A colocação de Panda Bonds, como são conhecidos os títulos em renminbi por emitentes estrangeiros, está a ser preparada desde final de 2017 por uma equipa liderada pelo secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, após a visita do primeiro-ministro António Costa à China.
Começou na manhã desta quarta-feira a operação de dois dias, na qual o Tesouro espera colocar dois mil milhões de renminbi (equivalente a 260 milhões de euros) em títulos com maturidade a três anos. O montante colocado à venda é limitado porque é a primeira vez que o país faz este tipo de operação e, pela mesma razão, o juro deverá ser superior ao esperado se a emissão fosse em euros.
"Esta emissão é uma forma de o IGCP entrar num mercado que ainda está muito no princípio. Vejo como um investimento no futuro até pela dimensão reduzida da emissão. O IGCP será o primeiro e, caso o mercado se venha a desenvolver, irá permitir alargar a base de investidores.”
“Dada a dimensão, pode valer a pena pagar uma taxa de juro mais elevada“, considera Moreira Rato, que preferiu não antecipar qual poderá ser o custo por ser “um mercado em desenvolvimento”. Ainda assim, está otimista: “Nesta fase ficaria muito surpreendido se não fosse um sucesso”.
“O IGCP com certeza não avançaria sem ter um grau muito elevado de confiança. Mais uma vez, demonstrou um grande grau de inovação com uma equipa com grande capacidade técnica e de gestão de risco”, elogiou. O economista foi responsável pela última vez colocação de dívida portuguesa em moeda estrangeira. Foi em julho de 2014 que Portugal colocou 4,5 mil milhões de dólares, a uma taxa de juro equivalente em euros de 3,65%.
Na altura, “foi bastante difícil porque a República tinha um rating abaixo de investimento e era difícil ter cobertura portanto demorou algum tempo a encontrar contrapartes”, lembra Moreira Rato. Desde então Portugal saiu dos Procedimentos por Défices Excessivos da Comissão Europeia, cresceu ao ritmo mais rápido do século e aproximou-se do equilíbrio orçamental.
Estes fatores levaram as principais agências de rating a tirar Portugal do lixo e a classificar a dívida como investimento de qualidade. O reforço da confiança no país levou os juros da dívida portuguesa a cair a fundo, estando atualmente os títulos a 10 anos a negociar abaixo de 1% em mercado secundário. Já no prazo a três anos, o mesmo desta emissão, o juro é negativo.
Dívida a três negoceia com juro negativo desde 2017
Mas se o país é hoje um investimento mais atrativo, o mercado em que entra é mais fechado que o dos EUA. Nunca um país da Zona Euro emitiu dívida em renminbi e na União Europeia apenas outros dois países o fizeram: a Polónia e a Hungria.
No final do ano passado, o mercado de Panda Bonds ascendia a apenas 200 mil milhões de renminbis (26 mil milhões de euros), apesar do forte crescimento desde 2015 impulsionado pelo peso da moeda chinesa no comércio internacional e pela maior abertura do Estado chinês a capital estrangeiro.
O risco cambial é o maior risco, que será mitigado com cobertura de hedging da totalidade do montante emitido. Se a curto prazo a operação poderá parecer mais cara e arriscada que colocação em euros, a longo prazo abre Portugal a um novo mercado de investidores que poderá ser importante no futuro, como diz Moreira Rato. No mesmo sentido, lembra que há “outros mercados muito interessantes como é o caso das green bonds” para onde Portugal deveria também estar a olhar.
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