Como o combate à pobreza “à medida” dá um prémio Nobel da Economia
Dar redes de proteção contra a malária reduz a incidência da doença? Não necessariamente. Economistas desenvolveram forma de testar resultados destas políticas no combate à pobreza e ganharam o Nobel.
Como tirar o melhor partido dos recursos para combater a pobreza em vez de entregar o dinheiro a um governante e esperar que este consiga o melhor resultado possível? Esta questão motivou a investigação desenvolvida por três economistas. Levou-os a analisar, no terreno, que políticas são mais eficazes, tendo o resultado sido um avanço na economia do desenvolvimento. E o reconhecimento chegou sob a forma do prémio Nobel da Economia de 2019.
Dar redes de proteção contra os mosquitos que transmitem a malária reduzem a incidência da doença nas zonas do globo mais afetadas? Não necessariamente. A questão, um exemplo dado pela Professora associada da NOVA SBE, Cátia Batista, exemplifica a importância do trabalho dos laureados desta segunda-feira, o indiano Abhijit Banerjee e a francesa Esther Duflo, ambos economistas no Massachusetts Institute of Technology (MIT), e o economista norte-americano Michael Kremer, de Harvard.
A relação entre dar uma rede de proteção contra os mosquitos e a redução da incidência da malária poderia ser óbvia, mas a população que as recebia usava as redes para pescar, ou seja, tinham uma necessidade mais premente, que era a alimentação, logo o resultado esperado não era o alcançado.
“Estas políticas podem ter muitos efeitos que não aqueles que prevemos à partida”, explica Cátia Batista.
Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer, desenvolveram o método de experimentação para perceber no terreno que políticas têm resultados. Primeiro com uma prova de conceito apenas com algumas dezenas de pessoas, depois com a aplicação de uma política em alguns milhares de comunidades onde um determinado problema se coloca para analisar se, por exemplo, dar mais manuais escolares nas escolas onde há insuficiências resolve o problema da falta de resultados escolares dos alunos.
O teste no terreno envolve contacto com a população e não apenas a criação de um modelo one size fits all, permitindo assim perceber melhor quais as políticas que de facto resultam numa determinada população antes de se gastar o dinheiro da ajuda humanitária dos doadores em políticas que não resolvem o problema.
“É um prémio que foi dado a estes três autores, mas é também uma revolução na economia do desenvolvimento. Inicialmente a ajuda ao desenvolvimento era dinheiro que era dado aos governantes e esperar que maximizassem. Esta abordagem evita muito desperdício e maximiza o resultado das políticas”, explica a investigadora da NOVA SBE, que diz que o prémio é “muito inspirador” para quem faz este tipo de trabalho, como é o seu caso e o do centro NOVAFRICA da universidade.
A abordagem, explica, “tem criado uma escola de pensamento”, de tal forma que os principais doadores de ajuda humanitária – Estados Unidos e Reino Unido – já exigem este tipo de experimentação antes de investir montantes mais avultados.
Os três economistas têm trabalho extenso na área ao longo de várias décadas. Esther Duflo, a mais nova dos três com apenas 46 anos, tem investigação concreta em África e na Índia, e muito trabalho conjunto com Abhijit Banerjee, com quem é casada.
Por sua vez, o indiano de 58 anos tem um longo currículo em torno da economia do desenvolvimento no seu país de origem, mas também noutras regiões, tendo colaborado com economistas de renome como Larry Summers, Phillippe Aghion e Thomas Piketty. Tal como Esther Duflo e Abhijit Banerjee, Michael Kremer desenvolveu o seu trabalho académico em torno da economia do desenvolvimento, tendo aplicado esta abordagem a áreas como os programas de vacinação em países em desenvolvimento, a agricultura, educação e água.
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