Seis baixas depois, Farfetch em silêncio sobre a Libra
O consórcio que está a desenvolver a moeda virtual do Facebook já perdeu seis membros. A Farfetch, que também faz parte do grupo, não faz comentários.
A Farfetch não se pronuncia acerca da Libra, a criptomoeda que está a ser desenvolvida por um consórcio liderado pelo Facebook, e do qual faz parte a empresa fundada pelo português José Neves. Nos últimos dias, seis dos 29 parceiros da rede social desistiram do projeto, com receio do escrutínio regulatório em torno da nova divisa.
A primeira desistência a ser anunciada foi a da empresa de pagamentos PayPal. Na sexta-feira, juntaram-se a esta o Mercado Pago, o eBay, a Stripe e o duopólio MasterCard e Visa, que eram dois dos membros mais relevantes do consórcio. Perante estas desistências, o ECO voltou a contactar a Farfetch no sentido de apurar a posição da empresa luso-britânica em relação ao projeto. Mas a companhia voltou a recusar fazer qualquer declaração: “Não comentamos”, disse fonte oficial.
O Facebook anunciou em meados de junho que quer lançar uma nova moeda virtual na primeira metade de 2020, à qual chamou Libra. A ideia passa por desenvolver um novo sistema de pagamentos que seja universal em toda a internet, numa altura em que o comércio eletrónico continua a crescer, sem dar sinais de abrandamento. Na altura, a Farfetch foi anunciada como parceira do projeto, sendo membro da Libra Association.
“A Libra Association será responsável por operar e desenvolver a Libra Blockchain, que será segura, escalável e fiável. Vai suportar um conjunto de usos de negócio assim como uma moeda digital. A Farfetch vai participar ativamente no processo técnico, arquitetural e de desenvolvimento operacional da Libra Association como um dos seus membros fundadores”, disse fonte oficial da Farfetch, aquando do anúncio do projeto pelo Facebook.
Desde então, a empresa não voltou a fazer qualquer comentário, quer do ponto de vista do projeto, quer do ponto de vista das dúvidas que têm vindo a ser levantadas em torno do mesmo. Entre outras coisas, os reguladores temem que uma nova moeda digital, que poderá ser usada pelos mais de dois mil milhões de utilizadores do Facebook, possa representar uma ameaça para o sistema financeiro global. E têm alertado igualmente para as sucessivas falhas do Facebook em proteger os dados pessoais dos utilizadores.
A rede social, por sua vez, tem dado diversos argumentos para tentar justificar o lançamento de uma moeda virtual de suporte mundial (que facilmente poderá tornar-se a moeda mais utilizada em todo o mundo). A 25 de setembro, o líder da equipa responsável pela Libra, David Marcus, publicou um artigo na plataforma Medium para falar nas “limitações” do atual sistema de pagamentos: “A Libra pode ser o ‘protocolo’ que vai permitir transações monetárias mais rápidas, baratas e estáveis para vários fornecedores de serviços, instituições e pessoas em todo o mundo. Isto vai, por seu turno, reduzir massivamente os custos por eliminar a necessidade de tantos intermediários”, garantiu.
O mesmo David Marcus recorreu ao Twitter na passada sexta-feira para admitir que a desistência da MasterCard e da Visa “não eram boas notícias”, mas advertiu que não é razão para pôr fim ao projeto. ” Fiquem ligados para novidades muito em breve. Mudanças desta magnitude são difíceis. Sabes que estás a fazer algo importante quando surge tamanha pressão”, considerou. Ainda assim, MasterCard e Visa, que detêm a maior “fatia” do mercado global de pagamentos, eram importantes parceiros do projeto e a sua saída representa um grande passo atrás para a equipa montada pelo Facebook.
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Do lado dos reguladores, sabe-se que o Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia, a Reserva Federal (Fed) e alguns países como França e Alemanha, entre outras instituições, veem com muitas reticências este projeto. O próprio Congresso norte-americano até escreveu uma carta a Mark Zuckerberg, pedindo a suspensão imediata do lançamento da Libra até serem esclarecidas todas as dúvidas em torno do conceito.
Uma das críticas mais recentes partiu do secretário de Estado Adjunto e das Finanças de Portugal. Ricardo Mourinho Félix disse que o país “partilha da preocupação de outros países europeus sobre a Libra” e explicou que a divisa “pode ser a primeira moeda privada a impor-se”, sem controlo de qualquer banco central, o que suscita “elevados riscos com dimensão sistémica que lhe estão associados”. Outro problema: pode limitar “o alcance das ferramentas tradicionais da política monetária”.
Neste contexto, poucos parceiros da Libra têm-se atrevido a comentar publicamente — ou até a endossar — o projeto do Facebook, como é o caso da Farfetch: as empresas temem atrair publicidade negativa e o escrutínio das autoridades. Por isso, o apoio à Libra tem surgido, apenas, da parte do Facebook e o próprio Mark Zuckerberg acabou por aceitar ir novamente ao Congresso dos EUA, para ser interrogado acerca da moeda. A audição está marcada para 23 de outubro.
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