Lufthansa à frente para entrar no capital da TAP
David Neeleman garante que está comprometido com o futuro da TAP, mas em simultâneo estão abertas negociações com vários interessados. E a Lufthansa está à frente.
David Neeleman garante que está “totalmente comprometido com o futuro da TAP” e o ministro Pedro Nuno Santos diz que não sabe “de nenhuma saída do acionista privado” da companhia… mas a história é outra. Neeleman tem aberto um concurso informal para a venda da sua participação na companhia, confirmou o ECO junto de diversas fontes que conhecem o processo. E a companhia aérea alemã Lufthansa é a que está à frente nas discussões com o consórcio privado liderado por Neeleman para entrar no capital da TAP.
A possível entrada de um novo acionista na TAP não é de hoje. Em 2018, David Neeleman tentou a operação de dispersão de capital, que só pode avançar sob determinadas condições financeiras, nomeadamente uma valorização da companhia de 600 milhões de euros. O Governo rejeitou essa alternativa de capitalização da TAP, porque isso obrigaria também o Estado a reduzir a sua posição de 50%, o que António Costa não aceitava. Depois, com as eleições em 2019, a possibilidade de uma venda parcial de capital ficou definitivamente adiada.
O que não ficou adiado foi o crescendo de tensão entre o Governo e David Neeleman, com Humberto Pedrosa a desempenhar o papel de ponte entre os dois lados, e não por acaso. Pedrosa é dono da Fertagus, o operador que tem a concessão ferroviária do Tejo e a renovação do contrato depende, claro, do Governo. Esta tensão foi agravada com os prejuízos de 118 milhões em 2018 e, depois, pelo episódio dos prémios atribuídos a quadros da empresa sem o conhecimento do conselho, onde se sentam os representantes do Estado, liderado por Miguel Frasquilho. E desde esse momento, a decisão de Neeleman é a de vender a sua posição… ao preço que quer, e não ao preço que o Governo gostaria que o empresário vendesse.
Nem o Governo quer a continuidade de David Neeleman, nem Neeleman quer continuar na TAP. Aliás, no comunicado divulgado esta terça-feira, é o próprio empresário a reconhecer que o caminho tem sido mais difícil do que pensava: “Com todo este investimento no crescimento, os resultados para os acionistas não têm sido tão rápidos como gostaríamos”. Neeleman e a sua equipa de gestão executiva, liderada por Antonaldo Neves, esperavam já ter lucros para apresentar, tendo em conta as novas rotas, os novos aviões, o aumento do número de passageiros. Mas nos primeiros nove meses, os prejuízos foram de 111 milhões de euros. E mesmo com um último trimestre que estará a correr acima do previsto no orçamento, a TAP voltará a fechar o ano com prejuízos. Resta saber qual será o valor.
Os contactos com a Lufthansa têm meses, e como diz uma fonte da área financeira o ECO, “se não houvesse interesse de parte a parte, não haveria contactos”. O problema, claro, é a diferença de preço entre o que quer Neeleman e o que oferece a companhia alemã. A Lufthansa está à frente nas negociações, mas não fez qualquer ‘binding offer’. E há outros candidatos, como a United Airlines, com relações privilegiadas com Neeleman, que mostraram interesse em avaliar a compra de parte do capital da companhia de bandeira portuguesa.
Do lado dos alemães está o Governo. Em privado, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, já manifestou o desejo de ver a Lufthansa como acionista da TAP, e a saída de Neeleman e da equipa de gestão executiva. E é também por causa desta preferência do Governo que a Lufthansa considera ter um ‘upside’ de negociação em relação a outras companhias.
"Com todo este investimento no crescimento, os resultados para os acionistas não têm sido tão rápidos como gostaríamos.”
“Neste momento está tudo em aberto”, garante outra fonte. O consórcio Atlantic Gateway, que tem David Neeleman e Humberto Pedrosa, controla 45% do capital da TAP, entrou em 2015, inicialmente com 66% do capital e, posteriormente, depois de uma renegociação com o Governo de António Costa, desceu a sua posição para 45%, enquanto o Estado passou a ter 50%, ficando os restantes 5% nas mãos dos trabalhadores. Pelo meio, Neeleman fez uma operação com a Airbus, que permitiu trocar aviões já comprados e ainda em lista de produção por outros, o que permitiu ao empresário um encaixe significativo. Os críticos dizem, mesmo, que foi assim que Neeleman financiou a sua entrada na TAP em 2015, quando investiu 350 milhões, dos quais 20 milhões foram receita direta do Estado.
“Atualmente a TAP tem acionistas privados totalmente comprometidos com o plano de crescimento que tem vindo a ser implementado. Eu, pessoalmente em conjunto com a Azul, empresa que eu controlo, acreditamos no futuro da TAP e detemos hoje direitos equivalentes a mais de 70% dos direitos económicos da TAP”. Esta afirmação, no comunicado de Neeleman, também reflete uma indireta ao Governo. É que apesar de ter 50% das ações, mas a responsabilidade sobre a totalidade da dívida, não tem administradores executivos e, sobretudo, não tem os respetivos direitos económicos.
Quais são os números que Neeleman tem para apresentar aos potenciais novos acionistas? Cinco pontos, segundo as contas do próprio empresário:
- A TAP passou de cerca de 10 milhões para mais de 17 milhões de passageiros (+65%)
- A TAP passou de 77 para 102 aviões (+36%), com frota renovada, de de 81 aeroportos de destino para 94 (+13%) e de 110 mil voos para 137 mil (+25%)
- A TAP passou de de 2,4 mil milhões de receita para 3,4 mil milhões (+40%)
- O peso da dívida em 2015 era 11 vezes o EBITDA, sendo agora entre 5/6 vezes, confirmando um processo de desalavancagem da empresa.
- A TAP contratou em Portugal cerca de 3.000 colaboradores
No comunicado divulgado publicamente, David Neeleman afirma que “especulações e outro tipo de manobras em nada ajudam” a TAP e o seu processo de reestruturação. E também não ajudam à venda de capital a um novo acionista, seja ele qual for.
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