Sindicatos franceses surpreendidos com duração de greve, que vai já em 36 dias
A greve dos transportes em França já chegou ao 39º dia, tornando-se a maior da história. O protesto é contra a proposta de mudança do sistema de reformas.
Milhares de pessoas de diferentes setores de atividade participaram esta quinta-feira na primeira jornada de greve geral de 2020, com os sindicatos a confessarem-se surpreendidos pela duração deste protesto, que já vai no 36.º dia.
“Não sei mesmo como é que vamos continuar. Nós, delegados sindicais, estamos surpreendidos com a duração deste movimento. […] O nosso objetivo nunca foi chegar aos 36 dias, é como uma maratona, ao final de 30 quilómetros, já não sentimos dor e continuamos a correr”, disse à Lusa Bertrand Hammache, secretário-geral da CGT-RATP (empresa de transportes públicos de Paris).
Bertrand Hammache falou pela primeira vez à Lusa a 5 de dezembro, aquando o início da greve, e, apesar de determinação de então, afirmou esta quinta-feira na manifestação, que ligou a Praça Republique à Gare Saint Lazare, que preferia que a greve tivesse acabado em cinco dias.
“Não temos qualquer objetivo de bater recordes. Eu preferia que a greve tivesse acabado em cinco dias”, confessou o sindicalista.
A greve na RATP é reconduzida a cada três ou quatro dias através de voto nas diferentes Assembleias Gerais dos trabalhadores em protesto.
Estes 36 dias de greve consecutivos, especialmente nos transportes públicos da região parisiense e nos comboios de médio e longo curso, significam que muitos dos grevistas não recebem o seu salário integralmente e um dia-a-dia que começa cedo.
“Há 36 dias que não temos salário. Fazemos os piquetes de greve que começam às 04 da manhã, quando os primeiros colegas que não estão a fazer greve chegam para trabalhar e conversamos com eles para tentar persuadi-los a juntarem-se a nós. Depois vamos para as gares distribuir panfletos aos passageiros”, explicou Emmanuel Grondin, secretário federal da Sud Rail, que agrupa os trabalhadores da SNCF (empresa nacional de comboios).
Sem cedências por parte do Governo, que continua a negociar o projeto de reforma do sistema de pensões com a CFDT, o maior sindicato em França e que não se associou a estas greves, e com fraca compensação financeira pelos dias de trabalho perdidos, mesmo que os sindicatos já tenham angariado cerca de 3 milhões de euros em contribuições para os grevistas, a motivação vem da opinião pública.
“As pessoas dizem-nos para continuar porque elas trabalham em pequenas empresas e se fizerem greve podem ser despedidas, portanto contam connosco para que esta luta continue. Uma senhora disse-me que nós somos a barragem que contém o Governo e caso desistamos, toda a gente se vai afogar”, contou Grondin, junto a uma carrinha da Sud Rail onde os trabalhadores dos caminhos de ferro ganhavam forças antes de marcharem até à Gare Saint Lazare.
Mas se os trabalhadores dos caminhos de ferro são a face mais visível da greve, cada vez mais profissões se têm juntado a este apelo geral contra o novo sistema de pensões através de pontos que Emmanuel Macron quer instaurar. Um dos casos mais visíveis tem sido a Ópera de Paris, em greve desde dezembro, levando à anulação de vários espetáculos.
“O Governo quer que se pense que isto é só uma greve dos privilegiados do costume, como os trabalhadores dos caminhos de ferro, mas este projeto diz respeito a todos. Desde as instituições culturais mais antigas em França como a Ópera de Paris ou a Comédie Française, que têm um regime especial, mas também outras instituições como a Radio France onde o Governo quer suprimir 300 postos de trabalho e que está há 38 dias em greve”, disse Denis Gravouil, secretário-geral da CGT Spectacle, que agrupa os meios de espetáculo, cinema e audiovisual.
A adesão da cultura a esta greve, segundo o sindicalista, mostra que os trabalhadores dos transportes não estão sozinhos. “A greve não é só um homem grande com barba e com um colete laranja dos caminhos de ferro, mas é também uma bailarina, com a sua delicadeza, em tutu”, brincou.
Esta terá sido, segundo os sindicatos, uma das mobilizações mais participadas desde o início da greve, fazendo aumentar o número de grevistas neste início do ano e o próximo protesto já está agendado para 11 de janeiro, onde os protestos interprofissionais se vão voltar a encontrar com o movimento dos ‘coletes amarelos’.
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