Esforços da banca para reduzir malparado diminuíram dependência das empresas. Mas ainda é elevada
Maioria das empresas privilegia o crédito bancário devido à relação de longo prazo com os bancos. Mas quase um terço das empresas disseram que escolheram a banca porque não viram outra opção.
Fundos próprios são a fonte por excelência para as empresas portuguesas financiarem as suas atividades. Quando têm de procurar fora, é principalmente junto da banca que o fazem. Apesar de se manter uma elevada ligação aos bancos, as empresas estão menos dependentes desde a crise, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Há dois anos, Portugal apresentou uma candidatura ao Programa de Apoio às Reformas Estruturais (SRSP, na sigla em inglês) para que os técnicos da OCDE fizessem um estudo sobre o mercado de capitais português. Este foi divulgado esta quinta-feira, sendo que uma das principais conclusões é que a dependência das empresas face à banca diminuiu desde a última crise financeira.
“Os bancos têm desempenhado, historicamente, um papel dominante no financiamento do setor empresarial em Portugal. No entanto, após 2012, o sistema bancário em Portugal sofreu uma transição com o objetivo de melhorar a qualidade do balanço que resultou num processo de desalavancagem abrangente a toda a economia“, revela a análise da OCDE.
"A dependência no financiamento de curto prazo — incluindo dívida de curto prazo, crédito comercial e outras formas de obrigações — continua elevada em comparação com outras economias europeias como a Alemanha ou Espanha.”
Tendo o crédito malparado como um dos principais entraves à estabilidade financeira e à rentabilidade da banca, este foi identificado como um inimigo a abater após a crise. Os bancos têm feito um esforço para limpar estes ativos dos balanços, tendo sido criada uma plataforma conjunta para reestruturar créditos em incumprimento superiores a cinco milhões de euros.
O peso do stock de malparado no total do crédito caiu para 9,4% em 2018 e, apesar de a OCDE alertar que continua “preocupante” fica consideravelmente abaixo do pico de 17,5% em 2015. Em simultâneo com a ação de limpeza, os bancos apertaram critérios de concessão de novo crédito. Depois de 2012, os empréstimos a empresas decresceu todos os anos, atingindo 36% do PIB no final de 2018, o que compara com 65% do PIB entre 2008 e 2012.
“O nível de endividamento agregado do setor empresarial diminuiu consistentemente após o pico de 37% em 2012. No entanto, a dependência no financiamento de curto prazo — incluindo dívida de curto prazo, crédito comercial e outras formas de obrigações — continua elevada em comparação com outras economias europeias como a Alemanha ou Espanha“, explica.
Fontes de financiamento das empresas por importância
O estudo intitulado “Improving access to capital for Portuguese companies: A survey of unlisted companies” indica que as reservas próprias (de lucros retidos) são a mais importante fonte de financiamento para 85% das empresas. Empréstimos e linhas de crédito — ambos da banca — são a segunda e terceira fontes de financiamento mais importante para a atividade das empresas portuguesas.
“No que diz respeito a empréstimos da banca, a maioria das empresas respondeu que a relação de longo prazo com os bancos é a principal razão para escolher crédito bancário em detrimento de outras formas de financiamento. Custos mais baixos e o facto de os bancos conhecerem o seu negócio foi indicado por quase metade das empresas. Quase um terço das empresas disseram que escolheram a banca porque não viram outra opção“, alerta.
"A maioria das empresas respondeu que a relação de longo prazo com os bancos é a principal razão para escolher crédito bancário em detrimento de outras formas de financiamento. Quase um terço das empresas disseram que escolheram a banca porque não viram outra opção.”
O mercado de capitais (tanto ações como obrigações) foi identificado como importante por apenas 30% dos inquiridos e poucas procuraram estas formas. “A grande maioria de empresas não cotadas indicou que não considera a possibilidade de abrir o capital“, aponta a OCDE, mas ainda assim “11 empresas responderam que planeiam uma entrada em bolsa nos próximos três anos”.
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