Regular hidrogénio verde pode estimular empresas a exportar, diz Costa Silva
Plano apresentado ao Governo aponta para a importância de recursos endógenos como hidrogénio verde ou lítio para a transição energética e para a evolução futura da economia portuguesa.
O hidrogénio verde é um pilar central da proposta de plano de recuperação da economia portuguesa após o Covid-19. No documento, desenhado por António Costa Silva a que o ECO teve acesso, é sugerido ao Governo que promova uma “nova fileira industrial com potencial exportador e gerador de riqueza para o país” e, para isso, que avance com a regulação do mercado nacional.
“Apesar das tecnologias de produção do hidrogénio ainda não terem atingido a maturidade comercial e enfrentarem um desafio para a redução dos custos de produção, a importância do hidrogénio para o futuro mix energético deve ser reconhecida”, começa por dizer o gestor, que foi incumbido pelo primeiro-ministro de fazer uma análise independente sobre a economia portuguesa.
A proposta de Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030 foi apresentada pelo próprio coordenador do documento ao Conselho de Ministros, esta quinta-feira, segundo apurou o ECO. O plano tem diversos eixos sendo o hidrogénio verde apenas um deles, que é visto como um mercado em crescimento que Portugal tem todas as condições para aproveitar.
Graças à geografia favorável do país e à “excelência” dos recursos humanos nesta área, pode ser uma “solução para processos industrias intensivos” e pode contribuir para “potenciar o cumprimento dos objetivos nacionais de incorporação de fontes renováveis no consumo final de energia e para a descarbonização”.
É possível, através de regulação a ser ponderada e desenhada, estabelecer uma certa percentagem de hidrogénio renovável que a indústria petroquímica deve utilizar. É também importante regulamentar uma certa percentagem de hidrogénio renovável que deve ser injetado na rede nacional de gás natural. Estas regras podem estimular as empresas nacionais de hidrogénio para passarem à fase de produção industrial.
Costa Silva lembra que há já uma Estratégia para o Hidrogénio que pretende “orientar, coordenar e mobilizar o investimento público e privado” em projetos nas áreas da produção, do armazenamento, do transporte e do consumo e utilização de gases renováveis em Portugal. É no âmbito desta estratégia que se inclui o projeto para uma mega fábrica em Sines.
Mas o gestor quer que o Governo vá mais longe. “Será importante capitalizar estes investimentos infraestruturantes numa política industrial mais alargada, que atraia e dinamize o tecido empresarial e industrial numa trajetória de maior valor acrescentado em produtos verdes e inovadores”, defende. “É agora crucial dar os passos para criar o mercado nacional do hidrogénio”.
Considerando que o hidrogénio já existe com aplicação industrial como matéria-prima da indústria petroquímica, o que Costa Silva considera que falta são regras específicas sobre a percentagem de hidrogénio renovável que a indústria petroquímica deve utilizar bem como a percentagem de hidrogénio renovável que deve ser injetado na rede nacional de gás natural.
“Estas regras podem estimular as empresas nacionais de hidrogénio para passarem à fase de produção industrial, dando-lhes escala e fazendo mover o sistema na direção certa com maior consumo de produtos nacionais renováveis e maior progresso nas metas da descarbonização“, acredita.
Costa Silva propõe que Governo dê incentivos à exploração de lítio
O hidrogénio verde é um dos eixos da reindustrialização com vista a que o país seja mais competitivo após o coronavírus. No total, a proposta considera que o o Plano de Recuperação Económica e Social do país deve contemplar, neste processo de reindustrialização, sete projetos de investimento:
- o cluster de engenharia de produtos e sistemas complexos com base nas tecnologias digitais;
- o cluster das Indústrias e da Economia de Defesa;
- o cluster das renováveis;
- o cluster do hidrogénio verde;
- o cluster da bioeconomia sustentável;
- o cluster do lítio, do nióbio, do tântalo e das terras raras e
- o cluster do mar.
“A história mostra que a aposta nos recursos endógenos e na economia produtiva é crucial para o sucesso dos países e Portugal tem recursos que são essenciais para a transição energética e para a evolução futura das sociedades”, diz Costa Silva, sublinhando que alcançar um futuro de baixo-carbono implica um aumento substancial na procura por matérias-primas minerais fundamentais para a fabricação de tecnologias de energias mais limpas.
Cita o último relatório do Banco Mundial — The Growing Role of Minerals and Metals for a Low Carbon Future — para explicar que a procura por lítio vai disparar 965% face à produção atual, tal como por cobalto (585%), grafite (383%) ou indio (241%). Não há reservas atualmente conhecidas para satisfazer nenhum dos cenários de transição estabelecidos nos acordos de Paris de 2015.
É neste contexto, que defende que “Portugal deve dar prioridade aos chamados minerais de alto impacto (aqueles que vão ter uma elevada procura na transição energética), como o lítio”, em duas linhas de ação principais: a prospeção e o planeamento da exploração. “Os incentivos a estas duas linhas de ação devem ser ponderados e fruto de uma decisão política”, aponta, lembrando que Portugal tem igualmente reservas e uma produção significativa dos chamados cross-cutting minerals, como o cobre e zinco.
“O Plano de Recuperação para Portugal deve preconizar uma maior independência industrial, tecnológica e material. Neste quadro, preconiza-se uma visão para o reforço de agregados dinâmicos associados a fileiras industriais, expressa numa política de clusters, promovendo contratos-programa e redefinindo os programas mobilizadores de desenvolvimento industrial e tecnológico, devendo o objetivo de densificação estar em consonância com os alvos estratégicos da captação de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), também esta reorientada para uma economia com foco na sustentabilidade e neutra em carbono”, acrescenta.
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