BlackRock mais pessimista sobre dívida pública. Portugal continua na lista de preferidos
No reajustamento da estratégia face ao Covid-19, a maior gestora de ativos do mundo reduziu a exposição a ações dos EUA e a dívida pública do Norte europeu. Em opção, recomenda o mercado de crédito.
A dívida pública está menos atrativa para os investidores, mas as ações também não convencem a BlackRock. Na apresentação do outlook de mercados, a gestora de ativos explicou que a Covid-19 está a mudar drasticamente hábitos e, consequentemente, as perspetivas de investimento. E afirmou que é na dívida privada que vê mais potencial.
“O mundo mudou e as carteiras de investimento também têm de mudar”, começou por dizer André Themudo, responsável pelo negócio da BlackRock em Portugal e pelo segmento wealth para a Península Ibérica, num encontro virtual com jornalistas. A pandemia “obriga a uma grande mudança e não só a ajustamentos técnicos como antes fazíamos“, explicou sobre o novo posicionamento da gestora.
A BlackRock diminuiu a exposição a obrigações soberanas, por considerar que com yields tão reduzidas têm menos possibilidade de gerar ganhos. Está atualmente underweight nas Bunds alemãs (que negoceiam em grande parte da curva com yields negativas) e na dívida de emergentes. “A diversificação em títulos soberanos já não é o que era”, aponta Themudo.
Gostamos de crédito, há uma bengala e há muito dinheiro. Há cupões especialmente atrativos quando comparados com a rentabilidade 0% de muitos ativos na Europa.
A exceção são as Tresuries norte-americanas e as obrigações da periferia da Europa, ativos nos quais a posição de overweight. “Quando falamos de periféricos, Portugal está incluído neste grupo e dentro desta previsão“, explicou, mantendo assim o otimismo que a gestora de ativos tem demonstrado nos últimos trimestres em relação a Portugal.
Se a dívida pública não entusiasma, o mesmo não se pode dizer da privada. É no crédito que a BlackRock vê maior potencial devido ao impulso dado pelos estímulos dos bancos centrais. “Gostamos de crédito, há uma bengala e há muito dinheiro. Há cupões especialmente atrativos quando comparados com a rentabilidade 0% de muitos ativos na Europa”, disse o responsável.
“Também há risco, mas apresenta um bom binómio entre rentabilidade e risco”. Explica ainda que o interesse transversal vai desde investment grade a high yield. Acrescenta que a gestora de ativos tem também preferência por ativos indexados à inflação e investimentos alternativos.
“As empresas da Europa estão mais bem preparadas que nos EUA”
“Em termos de resiliência, vai haver uma diversificação maior, que vai além da alocação entre ações e obrigações. A alocação típica vai deixar de existir a pouco e pouco”, defende Themudo. Aponta assim para ativos alternativos como é o caso de ativos privados. Já sobre as ações, também não está favorável.
A BlackRock reviu em baixa a recomendação para as ações dos mercados emergentes e Ásia (à exceção do Japão), bem como dos mercados acionistas dos EUA. “As avaliações estão um pouco esticadas e achamos que é um bom momento para fazer um downgrade“, justifica. Além de Wall Street já se ter aproximado novamente de máximos históricos após o mini-crash causado pelo vírus, a renovação das tensões entre EUA e China, a par das presidenciais em novembro também pressionam.
“Achamos que as empresas europeias estão mais bem preparadas para enfrentar esta reativação da economia. A Europa tem tipicamente maior exposição a setores mais cíclicos“, disse ainda André Themudo. E lembrou que, com a onda de revisões em baixa dos ratings causada pela Covid-19, “os índices globais de high yield têm muito mais qualidade” do que tinham antes da pandemia.
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