Novo Banco sai em defesa de ex-diretor de risco do BES
Banco afasta eventuais impactos em termos de idoneidade para os seus gestores depois de conhecidos os resultados da auditoria da Deloitte, particularmente em gestores que já estavam no BES.
O Novo Banco considera que o administrador Rui Fontes, antigo diretor de risco do BES, mantém condições para permanecer no cargo, depois de a auditoria da Deloitte ter identificado falhas na análise de risco em processos de concessão de crédito no tempo do BES.
Rui Fontes foi diretor de risco do BES entre 2012 e agosto de 2014, ou seja, dentro do período mais crítico do banco, de acordo com a Deloitte, e durante o qual foram identificadas situações de processos de crédito com várias deficiências e insuficiências do ponto de vista do risco, departamento pelo qual Rui Fontes foi responsável durante algum tempo. “O modelo de governance implementado no BES durante o período aplicável da nossa análise evidenciava um conjunto de fragilidades ao nível do processo de concessão e acompanhamento de operações de crédito”, começa por dizer a auditora, acrescentando que “essas fragilidades resultavam, entre outras, em insuficiências na documentação acerca dos devedores, risco das operações e respetivas garantias”.
Com a chegada de António Ramalho ao Novo Banco, em 2016, Rui Fontes (que se manteve com diretor do departamento do risco após a resolução do BES) subiu à administração para assumir o pelouro do risco, tendo sido reconduzido no cargo após a venda da instituição ao fundo americano Lone Star, em outubro de 2017.
Questionado pelo ECO sobre eventuais implicações da auditoria na idoneidade de Rui Fontes, o banco afasta esse cenário, afirmando que “os membros do conselho de administração executivo do Novo Banco foram todos avaliados e aprovados pelo fit & proper pelo Banco Central Europeu (BCE) e têm a total confiança do supervisory board [conselho geral e de supervisão]“.
"Os membros da conselho de administração executivo do Novo Banco foram todos avaliados e aprovados pelo fit & proper pelo Banco Central Europeu e têm a total confiança do supervisory board. Além de, anteriormente à venda à Lone Star, terem sido convidados para os lugares executivos pelo Fundo de Resolução, nessa altura acionista do Banco. ”
“Além de, anteriormente à venda à Lone Star, terem sido convidados para os lugares executivos pelo Fundo de Resolução, nessa altura acionista do banco”, acrescenta fonte oficial do banco, lembrando que os “curricula e funções anteriores dos administradores são avaliados regularmente num processo fit & proper a cargo do BCE com investigação aprofundada sobre o percurso profissional”.
Esta mesma explicação já o próprio Rui Fontes havia dado ao Público (acesso pago) em junho passado, quando o jornal avançou com a notícia de que o diretor de risco do BES tinha subido a administrador do Novo Banco no final de 2016 a convite do Fundo de Resolução e sem que o Banco de Portugal se tenha oposto ao seu registo, não percecionando a existência de eventuais conflitos de interesse. Na altura, o supervisor sustentou a sua decisão com o facto de Rui Fontes não ter visado em qualquer processo de contraordenação por conta da sua atuação enquanto diretor de risco.
Com a divulgação pública da auditoria, tornada pública esta terça-feira pelo Parlamento numa versão confidencial, ficou-se a saber que a Deloitte fez uma avaliação negativa daquilo que eram as práticas de concessão de crédito no tempo em que o banco era gerido por Ricardo Salgado. Em traços gerais, a auditora concluiu que o BES fechou operações de crédito sem analisar o risco no momento da concessão, sem ter informação suficiente sobre os devedores e sem exigir garantia.
A título de exemplo, a Deloitte refere que “foram identificadas situações de processos de concessão de crédito sem análises de risco no momento da concessão de crédito ou com limitações relevantes ao nível da informação financeira, orgânica e operacional dos devedores, inexistência de avaliações dos colaterais imobiliários e mobiliários, assim como, no âmbito do processo de acompanhamento, a inexistência de análises de risco regulares dos devedores e exceções ao nível da reavaliação regular dos ativos recebidos como colateral”.
De acordo com a Deloitte, as perdas de 4.000 milhões de euros registadas pelo Novo Banco entre 2014 e 2018 tiveram sobretudo origem no BES, sendo que as perdas associadas a operações de crédito superam os 2.000 milhões de euros.
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