Teodora Cardoso tem “muitas dúvidas” se vale a pena salvar a TAP
A ex-presidente do Conselho das Finanças Públicas diz ter "muitas dúvidas" sobre se valeu a pena salvar a TAP, argumentando que o boom do turismo não se deve à transportadora aérea.
Teodora Cardoso já assistiu a muitas nacionalizações em Portugal e diz ser “muito discutível” a decisão de avançar com essa solução na TAP, apesar de admitir que esta é, em último caso, uma “decisão política”. A economista considera que o sucesso do turismo nacional se deveu mais às low cost do que à transportadora aérea nacional e teme que o Governo tenha nas mãos um dossier que sai “muito caro” e com “resultados no mínimo duvidosos”.
É com grande ceticismo que a ex-presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) olha para o resgate estatal à TAP que está em curso. Em entrevista ao ECO, Teodora Cardoso diz ter “muitas dúvidas” sobre se vale a pena salvar a transportadora aérea e que a renacionalização “é muito discutível”. Atribuindo o sucesso do turismo em Portugal mais às low cost do que à TAP, a economista argumenta que “para efeitos de impacto na economia e no turismo” não vê que “fosse a TAP a resolver o problema”.
E o argumento do Governo relativo ao hub que a TAP criou no aeroporto de Lisboa? “Não sou especialista de aviação e esses argumentos não me dizem muito”, responde Teodora Cardoso, afirmando de seguida que “o Governo em si não tem capacidade para gerir a TAP” pelo que deveria ter optado por negociar com os privados. O Executivo disse no verão que pelo menos um dos donos, David Neeleman, não tinha capacidade financeira para acompanhar a salvação da companhia, tendo adquirido a sua posição.
A conclusão para Teodora Cardoso é que o Estado tem “agora uma criança nos braços que é muito difícil de embalar e que sai muito cara e os resultados são no mínimo duvidosos”.
Banco de Fomento deve pensar com “o olhar dos privados” e não pelos “interesses do Governo”
Começando por elogiar as medidas que o Governo colocou no terreno para ajudar a economia — “eram razoáveis, não vejo grandes problemas”, comenta –, Teodora Cardoso não faz a mesma avaliação quanto aos problemas da recapitalização das empresas e a forma como tal será feito. Desde logo, deixa um aviso para o futuro do Banco Português de Fomento: “O Estado tem de recapitalizar as empresas com o olhar dos privados” e não com o olhar dos “interesses do Governo da altura”.
A economista considera que Portugal deveria ter um Banco de Fomento “já há muito tempo”, mas o mais importante é a forma como este irá ser gerido. “Tem de ser uma entidade que pense em termos de setor privado e não de setor público“, diz, ressalvando logo que “não é para andar a fazer asneiras com o dinheiro” até porque “vai ter de responder pela boa utilização dos recursos públicos”. Na prática, “tem de utilizar as regras de racionalidade económica”, resume.
Esse é, aliás, um princípio que Teodora Cardoso quer ver aplicado à execução do Plano de Recuperação e Resiliência, o qual gostaria de ver “mais concretizado” com o detalhe dos “projetos que se vão desenvolver”. “Não vi informação suficiente ainda”, responde após ser questionada sobre que avaliação faz do esboço apresentado pelo Governo com base na visão estratégica de António Costa e Silva.
Ainda assim, deixa alertas gerais. “O nosso Estado, cada vez mais, funciona muito motivado e focado nos interesses do Governo da altura“, avisa, criticando a “lógica de muito curto prazo” dos partidos na ótica eleitoral. Feita a crítica, a economista apela aos principais partidos que se entendam, o que é “absolutamente essencial” até porque considera que o resultado assim terá mais racionalidade económica uma vez que a “lógica partidária” de cada uma das partes seria inviabilizada na negociação.
As críticas que tece em relação aos decisores políticos contrastam com os elogios que agora os empresários portugueses lhe merecerem. “Uma das coisas que vejo progressos neste país é na gestão das empresas”, diz, admitindo que “antigamente eram maus e muito dependentes do Estado”. Contudo, “desde que Portugal entrou na União Europeia que as coisas mudaram e agora temos bons empresários”.
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