Banca afasta catástrofe com o fim das moratórias privadas este mês
O BCP regista casos "pontuais" de moratórias a acabar no final do mês. O BPI não espera problemas significativos com o fim das moratórias privadas da APB. Banca afasta pessimismo depois de março.
As moratórias privadas para crédito à habitação acabam no final deste mês, mas os bancos não estão a antecipar um problema “com significado” quando as famílias tiverem de retomar as mensalidades dos empréstimos em abril.
Se o BCP regista “casos pontuais” de moratórias em fim de validade, o BPI, com um quarto das moratórias a expirarem dentro de semanas, já sublinhou que quase 100% dos clientes que pediram suspensão dos créditos não viram a sua situação financeira agravar-se nos tempos mais recentes, apesar do agravamento da pandemia e do impacto na economia deixarem dúvidas em relação à capacidade das famílias retoma das prestações aos bancos.
“Temos feito um acompanhamento muitíssimo de perto das moratórias. Mais de 98% dos clientes com moratória não pioraram a sua situação financeira e, por isso, não antevemos, para já, um problema significativo”, disse o presidente do BPI no início do mês passado. “O mesmo estará a passar-se nos outros bancos, do que tenho percebido”, acrescentou João Pedro Oliveira e Costa, deixando uma visão mais otimista sobre o assunto.
Portugal é dos países onde famílias e empresas mais recorreram às moratórias, situação que tem deixado o Governo, regulador e bancos em sentido e em busca de soluções para evitar uma catástrofe que seria os clientes terem de retomar as prestações do crédito sem condições para tal. Isso levaria a uma onda indesejável de incumprimentos na banca.
As moratórias que vão expirar agora no final de março representam uma pequena parte do total de moratórias que foram concedidas pela banca para apoiar a economia em tempos de aperto. Pelo que o grande problema, se vier a acontecer, só começará a ser sentido depois do verão, que é quando está previsto acabar as moratórias públicas.
O que está agora em causa é moratória criada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) para créditos hipotecários, nomeadamente as moratórias pedidas para créditos de segunda habitação que não encontram abrangidas pela moratória pública. É um número reduzido, dizem os bancos. Já moratória da APB para crédito ao consumo – que a moratória do Estado também não contemplava — acaba em junho, e aqui a dimensão do crédito suspenso já é superior.
"Mais de 98% dos clientes com moratória não pioraram a sua situação financeira e, por isso, não antevemos, para já, um problema significativo.”
“A grande maioria, uma parte substancial, das moratórias hipotecárias são moratórias públicas e estão incluídas na moratória do Estado. Acompanhamos caso a caso, não tenho nenhuma razão para estar preocupado com as moratórias que vão expirar agora”, declarou Miguel Maya, presidente do BCP, na semana passada.
O banco tem 90% das moratórias da casa ao abrigo do regime público, enquanto outros 10% estão no regime da APB, sendo que são estas que vão acabar agora a 31 de março, o que leva o CEO a falar em casos “pontuais” de moratórias a terminar agora. “Não são renovadas e temos de encontrar no domínio casuístico soluções para os casos que não podem pagar [as prestações do crédito]”, frisou Miguel Maya.
Tanto o BPI com o BCP já viram os seus montantes de crédito em moratória reduzirem-se no último trimestre de 2020. De acordo com os últimos dados do Banco de Portugal, cerca de 46 mil milhões de euros encontrava-se em moratória (pública ou privada), o equivalente a mais de 20% do total do crédito dos bancos. As autoridades reconhecem a “dimensão significativa” das moratórias e o Governo está a trabalhar em soluções para “o dia a seguir”.
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