Centeno avisa que vêm aí “decisões difíceis” na política económica
O governador do Banco de Portugal alerta que, apesar da retoma, os responsáveis políticos terão "decisões difíceis" a tomar, nomeadamente para ajudar as empresas viáveis.
Mário Centeno alerta que, relativamente à gestão da crise económica, as “decisões difíceis vêm agora” e que, para ultrapassar esta nova fase, os líderes europeus têm de “manter vivo o espírito que conduziu as decisões em 2020”. O ex-ministro das Finanças diz que a Europa tem de sair da crise pandémica sem criar numa crise económica, financeira ou social.
“As decisões difíceis vêm agora, não podemos descansar nos sucessos conseguidos, até porque eles ainda não chegaram a todos e porque é difícil compreender bons resultados quando estamos perante uma pandemia desta dimensão e dureza“, afirmou o governador do Banco de Portugal esta segunda-feira na aula conferência “Europa pós pandemia, crise económica e social – Nada será como dantes?” do Instituto de Gouveia.
Esta tem sido uma mensagem veiculada por vários responsáveis europeus e nacionais, como é o caso do comissário europeu para a economia, Paolo Gentiloni, e o ministro das Finanças português, João Leão, que preside atualmente ao ECOFIN (Conselho que reúne os ministros das Finanças da União Europeia). O aviso passa pela precaução na retirada gradual dos estímulos, com os responsáveis políticos a preferirem ir mais além do necessário do que ficar aquém.
Um dos exemplos das “decisões difíceis” referidas por Centeno passa pela introdução de mecanismos de apoio para as empresas viáveis, explicou em resposta a uma pergunta de um aluno. “É um exercício difícil, daí que tenha dito que as decisões serão mais difíceis” do que no período inicial da crise pandémica, notou, assinalando que “não podemos pedir tudo ao Estado” na resposta económica. “É preciso contar com o esforço de todos”, vincou.
Porém, o governador do banco central até mostrou otimismo sobre esse processo: “Portugal está relativamente bem equipado para o fazer“, garantiu, referindo um indicador que o ilustra. Em causa está o nível médio de endividamento das empresas portuguesas que, em 2019, atingiu pela primeira vez um valor inferior ao nível médio das empresas da Zona Euro, de acordo com Mário Centeno, lembrando que este “era um dos obstáculos ao crescimento e investimento” identificados pelos economistas.
O também economista não prevê uma mudança assim tão radical na estrutura da economia portuguesa no pós-pandemia. “Não vamos criar de repente uma economia nova“, disse. O desafio passa por “manter a linha da resposta adotada até agora” para evitar uma crise financeira e “ao mesmo tempo intensificar as respostas sociais”, mas “sem colocar em causa o futuro” em termos de dívida, educação e mobilidade intra-europeia.
Referindo-se à dívida que fica para as gerações futuras, Centeno alertou que “temos de ser muito cautelosos com a gestão da dívida” e que a “solidariedade [europeia] requer responsabilidade”.
Os “doze zeros” da resposta europeia “concretizaram-se”
Na aula conferência, Mário Centeno recordou uma expressão sua do início da crise pandémica, ainda como ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, para mostrar a dimensão da resposta económica da União Europeia. “Estamos a falar de 12 zeros para o plano de recuperação“, disse logo em abril de 2020 ao Público.
“Os números de 12 zeros sempre se concretizaram“, assinalou, referindo os 750 mil milhões de euros do Próxima Geração UE (“bazuca” europeia), os 100 mil milhões de euros do SURE (programa de apoio ao emprego), 200 mil milhões de euros do Banco Europeu de Investimento e mais de 240 mil milhões das várias linhas do Mecanismo Europeu de Estabilidade.
“A resposta foi rápida, robusta e chegou a todos“, assegurou, trazendo mais dados para cima da mesa. No caso do Banco Central Europeu (BCE), as compras de ativos atingiram os quatro biliões de euros e as medidas de liquidez para os bancos chegaram aos dois biliões de euros.
No caso dos Estados-membros, “a política orçamental na área do euro respondeu com um impacto direto no défice superior a 400 mil milhões de euros“, o que corresponde a duas vezes o PIB anual português.
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