Farfetch investe na expansão. “Em dois anos vamos crescer entre 90% e 100%”
Com mais clientes (especialmente no online e na China) a gastarem mais, a tecnológica quer continuar a reforçar o negócio. Meta é aumentar vendas e quota de mercado, mas não pensa em dividendos.
A aceleração das vendas online e na China levou a Farfetch a superar as próprias expectativas no arranque do ano e a rever em alta as projeções para os próximos anos. Com o breakeven apontado para este ano (a par de resultados operacionais positivos), o objetivo é reinvestir os ganhos e duplicar atividade até 2023. Os dividendos é que não estão ainda no horizonte.
“Durante 2020, vimos uma aceleração da penetração do online” que passou a representar mais de 20% do negócio (face aos anteriores 10%), segundo explica o chief operations officer (COO), ao ECO. Em parte, poderá estar relacionado com a pandemia, mas Luís Teixeira acredita que era uma tendência inevitável e, apesar de admitir que possa haver uma retração, defende que “o online veio para ficar”.
“Para sustentar ainda mais a nossa posição, revimos em alta as nossas expectativas de crescimento para o ano. A dois anos vamos crescer entre 90% e 100%, o que é fantástico para uma empresa que já está na dimensão da Farfetch. Sabemos que o mercado de luxo tem um valor de 300 mil milhões de dólares. A Farfetch hoje é líder, tem o dobro do volume de transações do que o segundo player, mas apenas representa 1% da quota de mercado. Há aqui ainda uma grande margem para crescer“, refere.
"A dois anos vamos crescer entre 90% e 100%, o que é fantástico para uma empresa que já está na dimensão da Farfetch. Há ainda uma grande margem para crescer.”
A empresa luso-britânica apresentou, no primeiro trimestre do ano, lucros de 517 milhões de dólares, tendo conseguido pela primeira vez ter resultados depois de impostos no verde, de acordo com dados comunicados ao mercado esta quinta-feira após o fecho de Wall Street. O montante compara com um prejuízo de 79,1 milhões de dólares no período homólogo. No entanto, “é um lucro contabilístico originado pela flutuação do valor das ações”.
Já no trimestre passado, as contas da tecnológica tinham sofrido este impacto (mas ao contrário). Devido à contabilização das ações que estão nas mãos dos trabalhadores e às obrigações convertíveis detidas pela Alibaba e pela Richemont (no seguimento de um investimento de 1,2 mil milhões em 2020), há um impacto inverso face à cotação dos títulos.
Se nos últimos três meses de 2020, as valorizações das ações geraram perdas nos resultados, no arranque de 2021, os títulos desvalorização permitindo uma recuperação das contas. Luís Teixeira desvaloriza o efeito, dizendo que é “um número que aparece nas contas” e que estão “completamente confortáveis” com as flutuações. Quanto a novas operações de capitalização, garante que a empresa está “bem financiada” e não tem essa necessidade.
"Estamos numa fase de investimento e crescimento, não faz sentido falarmos de dividendos neste momento. O nosso compromisso com os investidores é reinvestir todos os nossos ganhos para que a empresa cresça mais no futuro.”
“O nosso compromisso é de criar um negócio sustentável, entregar crescimento e passar por reinvestir os nossos ganhos de EBITDA para garantir que conseguimos captar quota de mercado e esta oportunidade gigante do online. Estamos numa fase de investimento e crescimento, não faz sentido falarmos de dividendos neste momento. O que é esperado da empresa é que continue e o nosso compromisso com os investidores é reinvestir todos os nossos ganhos para que a empresa cresça mais no futuro”, afirma.
O guidance da empresa aponta para um equilíbrio dos resultados líquidos na totalidade do ano e positivos no que diz respeito à operação, que serão sustentados por um crescimento entre 35% e 40% da plataforma digital. Isto após um desempenho operacional “fantástico” no primeiro trimestre de 2021, no qual a plataforma de moda de luxo obteve receitas de 485 milhões de dólares (mais 46% que no período homólogo) e o valor bruto das mercadorias (gross merchandise value ou GMV) subiu para 915,6 milhões.
“É qualquer coisa de fantástico”, diz o responsável, sublinhando que têm 480 mil novos clientes, a comprarem 8% acima da média. “Temos mais clientes e melhores clientes“, afirma, sublinhando uma inversão numa das geografias com maior peso.
“O que observamos no primeiro trimestre foi que a China — enquanto segundo mercado mais importante, atrás dos Estado Unidos — ganhou terreno. Continua a ganhar market share dentro das vendas da Farfetch. Há mercados muito importantes para nós, que estão a crescer, mas estamos a olhar para oportunidades por todo o mundo”, explica.
"O que observamos no primeiro trimestre foi que a China — enquanto segundo mercado mais importante, atrás dos Estado Unidos — ganhou terreno. Há mercados muito importantes para nós, que estão a crescer, mas estamos a olhar para oportunidades por todo o mundo.”
Na América Latina, por exemplo, Luís Teixeira vê a possibilidade de “rapidamente se atingem valores de crescimento a três dígitos” pois são mercados que têm um atraso na penetração do online e, por isso, um “potencial gigante”. Dentro da Europa, destaca Alemanha, França, Itália que cresceram de forma “bastante interessante”, enquanto o mercado português “não é muito representativo”.
Com mais de cinco mil trabalhadores por todo o mundo, dos quais três mil em Portugal, a empresa está neste momento a contratar cerca de 200 pessoas a nível nacional, especialmente nas áreas da engenharia e tecnologia. Estes poderão vir a integrar o novo Campus que está a ser construído em Matosinhos e cujo projeto se mantém em curso.
Mesmo estando quase toda em teletrabalho, a empresa — que já tinha um regime de flexibilidade de trabalho antes da pandemia — não espera uma mudança mais radical pois “mais do que um local onde as pessoas vão para trabalhar, o escritório é um sítio onde a cultura da empresa é cultivada”. Acrescenta que “não tem sido fácil”, mas “atingir estes resultados nestas condições difíceis só reforça mais ainda o significado para nós”.
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