Homens são menos qualificados, mas ganham até 38% mais do que as mulheres
Os portugueses estão mais qualificados, mas existe um desajustamento entre educação e mercado de trabalho: 19,4% dos jovens que terminaram recentemente o ensino superior não estão empregados.
As mulheres são mais qualificadas do que os homens, mas a disparidade salarial continua a penalizá-las independentemente do nível de educação e área de estudo. Em média, os homens licenciados ganham mais 38% do que as mulheres com o mesmo grau de ensino, o que também se verifica nos restantes níveis de escolaridade: mais 32% nos mestrados e mais 28% no ensino secundário, de acordo com o relatório Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal, uma iniciativa da Fundação José Neves (FJN).
As qualificações de ambos melhoraram nos últimos anos, mas são as mulheres que têm maior propensão em prosseguir para o ensino superior. Já no início da década, os mestres eram mais mulheres que homens, mas essa vantagem alargou-se e as mulheres entre os 25 e os 34 anos representavam, em 2020, 60% dos mestres em Portugal na mesma faixa etária. Já ao nível dos doutoramentos, e mesmo que as mulheres sejam também a maioria, o crescimento recente tem sido impulsionado sobretudo por homens.
“Na média em todas as profissões as mulheres ganham menos que os homens, isto é paradoxal a partir do momento em que as mulheres são as mais qualificadas, têm menos abandono escolar. Há necessidade de fazer uma reflexão por parte dos empresários, mas também dos próprios indivíduos e sociedade como um todo. Não é de todo aceitável esta diferença tão significativa“, conta ao ECO o ex-secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação e presidente Executivo da Fundação José Neves.
Para além desta disparidade, outra das conclusões do relatório é a de que os portugueses estão hoje mais qualificados, mas que existe desajustamento entre a educação e o mercado de trabalho: 19,4% dos jovens que terminaram recentemente o ensino superior não estão empregados e 15% dos diplomados está a trabalhar em ocupações que não exigem este nível de ensino.
O salário médio real dos jovens licenciados caiu 17% entre 2010 e 2018, uma situação que acarreta o risco de um incumprimento das expectativas no valor da educação.
Relativamente ao impacto da pandemia, dados do relatório demonstram que a Covid-19 acelerou o potencial de desigualdade em termos de idades e qualificações. O emprego mais penalizado foi o dos jovens, dos menos qualificados e dos trabalhadores de alguns setores de atividade, como alojamento, restauração, agricultura e serviços administrativos.
Em relação à Europa, a população portuguesa tem o maior défice de qualificações da União Europeia. A percentagem de adultos portugueses que não terminaram o ensino secundário (47,8%) é mais do dobro da média europeia (21,6%) e o valor mais baixo entre os países que compõem a União Europeia.
Portugal apresenta também o maior fosso intergeracional nos níveis de qualificação da sua população ativa: 75,2% dos jovens adultos (dos 25 aos 34 anos) têm pelo menos o ensino secundário completo, mas nem metade dos adultos mais velhos (35 aos 64 anos) concluiu esse nível de ensino (apenas 46,5%). Na média da União Europeia, esta diferença entre gerações é de 7,9 pontos percentuais, enquanto em Portugal está nos 29 pp, a maior diferença de todos os Estados-membros.
O Estado da Nação é um contributo que a Fundação partilha com a sociedade portuguesa, na esperança de que possamos usar estes indicadores para identificar e superar os desafios que temos pela frente para tornar Portugal uma sociedade do conhecimento e elevar a posição do país no ranking de desenvolvimento humano.
Apesar deste défice, Portugal assistiu a uma melhoria substancial dos índices de qualificações da população na última década. Em 2011, 65,6% dos adultos (25-64 anos) tinham no máximo o ensino básico, valor que diminui para os 44,6% em 2020. Esta queda foi acompanhada pelo aumento muito semelhante da população com o ensino secundário ou superior. O aumento de 2011 para 2020, foi de 17,3% para 27,2% no caso do ensino secundário, e de 17,1% para 28,2% em 2020.
Para José Neves, “O Estado da Nação” é um contributo que a Fundação partilha com a sociedade portuguesa, “na esperança” de que se possa “usar estes indicadores para identificar e superar os desafios” que o país tem “pela frente para tornar Portugal uma sociedade do conhecimento e elevar a posição do país no ranking de desenvolvimento humano”, sublinha.
Este relatório produzido em conjunto com investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro, com base em dados do INE, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e do Brighter Future, entre outras fontes, pretende dar conhecimento do estado da arte da educação, do emprego e das competências em Portugal, surge no âmbito do evento anual da Fundação José Neves, que tem como objetivo ajudar a transformar Portugal e apostar “na educação universal, contínua e acessível ao longo da vida”.
Através dos programas da Fundação José Neves já foram investidos mais de 600 mil euros no pagamento de propinas a 86 estudantes e mais de 800 candidaturas referentes a 176 cursos. O presidente executivo da Fundação José Neves, Carlos Oliveira, adianta em entrevista ao ECO, que a Fundação tem como ambição até ao final do próximo ano ter cinco milhões de euros em propinas para ajuda estudantes portugueses e até ao final deste ano querem chegar aos 2,5 milhões de euros.
O ex-secretário de Estado do empreendedorismo, competitividade e inovação e presidente executivo da Fundação José Neves, destaca que “a informação do relatório permite a todos os portugueses, e em particular aos agentes da educação, ao Governo, às instituições de ensino e à própria FJN, tomarem decisões sustentadas em factos e agirem de forma alinhada com aquelas que são as exigências de uma sociedade e de um mercado de trabalho em transformação acelerada”.
Metas da Fundação José Neves
Um ano depois de José Neves, fundador da Farfetch, ter lançado a fundação para “ajudar a transformar Portugal numa sociedade de conhecimento”, a Fundação ambiciona para 2040: que os adultos (25 aos 64 anos) com baixa escolaridade sejam no máximo 15%, uma diminuição de 33 pontos percentuais face ao valor atual (47,8%).
Outros dos objetivos da FJN é que pelo menos 25% dos adultos participem em educação e formação (atualmente esse número está nos 10,5%) e que Portugal esteja nos dez países da União Europeia com maior peso do emprego em setores tecnológicos e intensivos em conhecimento. Uma melhoria de nove posições face ao ranking atual.
O evento anual da Fundação José Neves está marcado para dia 2 de junho, no Porto, vai ser transmitido em direto e contará com intervenções de nomes como o neurocientista António Damásio e Bryan Adams.
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