Powell vê redução de estímulos este ano, mas subida de juros demora mais
O programa de estímulos monetários da Fed vai começar a encolher ainda em 2021, mas uma potencial subida dos juros diretores ainda vai demorar, indicou Jerome Powell no encontro de Jackson Hole.
O presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, considera “apropriado” começar a reduzir o ritmo da compra de ativos ainda este ano, tal como indiciavam as minutas da última reunião da Fed. Mas tal não significa que uma subida dos juros diretores esteja aí à porta, uma vez que a economia norte-americana ainda tem “muito terreno” para melhorar até que isso aconteça, afirmou na conferência de Jackson Hole.
Apesar de ter revelado que foi um dos que defendeu que os estímulos monetários — compra de ativos no valor de 120 mil milhões de dólares mensais — têm de começar a ser reduzidos ainda este ano, o banqueiro central lembrou que as posições “elevadas” que a Fed tem nas obrigações de longo prazo continuarão a manter a posição acomodatícia das condições financeiras nos EUA. Isto é, para já, não é expectável que a Fed venda ativos, mas apenas que deixe de comprar tantos. Atualmente o balanço da Fed está avaliado em 8,4 biliões de dólares, cerca do dobro que tinha em março de 2020.
No discurso que marca o arranque da conferência anual (e virtual) de Jackson Hole, Powell avisou que o “momento e o ritmo da futura redução da compra de ativos não terá como intenção dar um sinal direto sobre o momento de uma subida dos juros diretores, para a qual nós articulámos um teste diferente e substancialmente mais rigoroso”. Ao afastar uma subida dos juros no curto prazo, o discurso levou a uma subida dos principais índices bolsistas norte-americanos.
Para o presidente da Fed, ainda que a taxa de inflação esteja de forma sólida nos 2%, “temos ainda muito terreno a percorrer para alcançar o pleno emprego“, aquele que é o segundo objetivo do duplo mandato da Reserva Federal norte-americana. É este o principal ingrediente em falta para que haja uma subida dos juros. Além disso, é preciso que a inflação supere os 2% durante “algum tempo” para compensar os períodos de baixa inflação, algo que reflete a revisão da estratégia da Fed.
Powell reconheceu ainda que a variante Delta do coronavírus é uma “risco de curto prazo” para o alcançar das metas de inflação e de emprego pleno, mas deixou uma mensagem otimista de que as previsões continuam a ser positivas.
Fed mantém opinião de que o aumento da inflação é “transitório”
No seu longo discurso, Powell também dedicou uma parte substancial a explicar o porquê de continuar a classificar o atual aumento da taxa de inflação de “transitório”, perspetivando que eventualmente irá descer.
“Estes níveis de inflação são, claro, um motivo de preocupação, mas esse receio é atenuado por um número de fatores que sugerem que estes números elevados deverão ser temporários“, afirmou o presidente da Fed, dando o exemplo do aumento dos preços nos bens duradouros, um setor que tem tido inflação negativa “nos últimos 25 anos”, sendo esta a principal razão da subida da inflação nos EUA.
Sobre o aumento dos salários, Powell manteve a ideia de que há “pouca evidência” de que existam pressões salariais suficientes para desencadear “inflação excessiva”. Acresce que as expectativas dos agentes económicos em relação à inflação mexeram “muito menos” do que a inflação reportada pelos gabinetes de estatísticas, o que quer dizer que os cidadãos e as empresas “também acreditam” que os níveis atuais vão ser transitórios.
(Notícia atualizada às 15h56 com mais informação)
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