Endividamento dos particulares cresce ao ritmo mais elevado desde 2009
A dívida dos particulares cresceu 2,8% em julho, o ritmo mais elevado desde abril de 2009, com o contributo decisivo do crédito à habitação. Porém, o peso da dívida no PIB mantém-se longe do passado.
Depois de ter encolhido entre 2011 e 2017, a dívida dos cidadãos começou a subir, ainda que a taxas inferiores a 2%, abaixo do crescimento da economia. Mas isso mudou com a pandemia, principalmente em 2021: o endividamento dos particulares acelerou para um crescimento homólogo de 2,8% em julho, o ritmo mais elevado desde abril de 2009 (2,8%), de acordo com os dados do Banco de Portugal divulgados na terça-feira. Ainda assim, o peso dessa dívida no PIB continua bastante abaixo dos níveis anteriores à crise das dívidas soberanas.
O gráfico não deixa margem para dúvidas: após o choque de 2020, o endividamento acelerou significativamente no início de 2021 e não mostra sinais de abrandamento. Desde abril que a taxa está nos 2% e poderá chegar aos 3% nos próximos meses, se se mantiver esta tendência. É preciso recuar 12 anos para ver uma taxa semelhante, sendo que, antes de 2009, a taxa era ainda maior: o primeiro dado do banco central para este indicador revela um crescimento de 5% em dezembro de 2008, pouco depois de ter estalado a crise financeira.
Taxa de crescimento do endividamento dos cidadãos ainda longe do patamar da crise financeira de 2008:
O que é que isto representa em euros? Entre 2017 e 2020, período em que o endividamento começou a crescer novamente (ou seja, houve mais dívida a ser pedida do que a ser reembolsada), os cidadãos somaram cerca de dois mil milhões de euros de dívida em três anos. Já em apenas cerca de ano e meio de pandemia, o volume de endividamento cresceu 3,5 mil milhões de euros, para um total de 144,5 mil milhões de euros, o valor mais elevado desde o início de 2015.
Cidadãos somaram 3,5 mil milhões de euros de dívida durante a pandemia:
De notar que, segundo o Banco de Portugal, este indicador “inclui, para além das famílias, empresários em nome individual e instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias“.
Porém, apesar deste aumento do endividamento e da quebra da economia portuguesa, o peso da dívida dos particulares no PIB continua bastante aquém do passado: atingiu os 69,48% no segundo trimestre deste ano, baixando face aos 71,09% do primeiro trimestre, graças à recuperação da economia. Estes valores ficam cerca de cinco pontos percentuais acima do nível pré-crise pandémica, mas apenas representam um máximo de 2017. Por comparação, em 2009, o peso chegou a ser de 94% do PIB.
Peso da dívida dos particulares longe dos 94% de 2009:
Crédito ao consumo e habitação explicam subida
A subida do endividamento dos particulares está longe de ser explicada apenas pelo recurso ao crédito para o consumo ou para outros fins, o qual representa cerca de um terço do total da dívida dos cidadãos. Este tipo de crédito cresceu apenas 1% em julho e esteve a contrair entre o final de 2020 e o início de 2021, bem longe do crescimento de 5%, 6% e 7% em alguns períodos de 2017, 2018 e 2019. Ainda assim, é de notar que houve um salto expressivo entre maio e junho: mais 2,3 mil milhões de euros de dívida.
Crédito ao consumo registou um salto em junho:
O outro “motor” do crescimento do endividamento dos particulares é o crédito à habitação. Com os preços do mercado imobiliário praticamente imunes ao impacto da pandemia, o volume de empréstimos dos particulares para habitação continuou sempre a crescer, até atingir os 100,7 mil milhões de euros em maio deste ano, o valor mais elevado desde o mesmo mês de 2017. Desde o início do ano que a taxa de crescimento é superior a 2% e desde maio que superou os 3%, atingido os 3,5% em julho.
Portugueses acumulam mais dívida com crédito à habitação:
Apesar desta dinâmica, houve uma redução muito significativa no volume de empréstimos em junho, para 99 mil milhões de euros. Entretanto, em julho, subiu para 99,4 mil milhões de euros. Ainda assim, é visível nestes dados — e noutros que vão sendo divulgados — que a dinâmica do setor e a preferência dos portugueses pelo investimento em imobiliário está a contribuir para o aumento do endividamento dos particulares.
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