Mesmo com reabertura, discotecas antecipam 70% de falências até à primavera
Esta quinta-feira, o Governo deverá anunciar a reabertura das discotecas. Associações que representam o setor dizem que os prejuízos "são incalculáveis" e antecipam 70% de falências até abril de 2022.
Com as portas fechadas há cerca de ano e meio, as discotecas foram um dos setores mais penalizados pela pandemia. A “luz” ao fundo do túnel poderá ser vislumbrada esta quinta-feira, dado que o Governo deverá anunciar a reabertura destes espaços. Ao ECO, as associações que representam o setor da diversão noturna apontam que os prejuízos “são incalculáveis”, queixam-se dos atrasos nos apoios e antecipam 70% de falências até à primavera.
Portugal está a dois pontos percentuais de ter 85% da população com a vacinação completa contra a Covid-19. Esta foi, aliás, a meta definida para uma “libertação” da sociedade e da economia. A fase 3 do plano de desconfinamento apresentado pelo Governo em finais de julho prevê que os restaurantes e pastelarias passem a funcionar sem limites de grupo por mesa (quer no interior, quer em esplanadas), bem como o fim dos limites impostos aos estabelecimentos e equipamentos, espetáculos culturais e também para os eventos de natureza familiar (casamentos e batizados).
Mas a maior alteração é mesmo a reabertura das discotecas e dos bares, mediante apresentação de certificado digital ou teste negativo à Covid-19. Depois de ter ouvido os especialistas, o Executivo vai reunir-se esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, para reavaliar estas medidas e anunciar as que vigorarão daqui em diante. Não obstante, mesmo que Portugal atinja os 85% da população completamente imunizada contra a Covid antes das eleições autárquicas, é expectável que estas medidas só entrem em vigor a partir de 1 de outubro, segundo o Observador.
Com custos e sem receita, os prejuízos são incalculáveis, ao nível de um tsunami.”
Com a atividade praticamente paralisada desde março de 2020, os últimos meses têm sido penosos para o setor da diversão noturna. Em declarações ao ECO, o presidente da Associação Nacional de Discotecas (ADN) sinaliza que os prejuízos “são incalculáveis, ao nível de um tsunami”, e que os empresários só têm conseguido sobreviver “com a lapidação total das tesourarias”. Em alguns casos só através de “todas as poupanças pessoais dos operadores”, afirma José Gouveia.
O cenário é partilhado pela Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores. Sem adiantar valores, Ricardo Tavares aponta que as perdas “são muito avultadas” e que nem o facto de o Governo ter permitido que os bares funcionassem como restaurantes ou pastelarias amenizou os prejuízos. Ainda assim, o presidente desta associação salienta que a reabertura nestas condições “teve uma afluência acima da esperada”, mas queixa-se de “uma perseguição das autoridades nunca antes vista nos bairros históricos”.
Apoios foram “tardios e insuficientes”
A revolta do setor é grande, que sente que a indústria da diversão noturna foi colocada em segundo plano com a pandemia. Além disso, as associações dizem que os apoios “foram tardios e insuficientes” e criticam ainda o facto de outros que “foram prometidos” terem ficado na gaveta. “Temos receio de não receber os apoios já anunciados como o Adaptar 2.0 que devia ter saído há um ano e ficou esquecido, bem como os da Retoma que deviam ter sido liquidados no início setembro“, lamenta o presidente da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores.
Tanto os bares e discotecas que continuam encerrados por imposição legal, como aqueles que abriram portas como “cafés ou pastelarias”, podem recorrer ao lay-off simplificado, regime extraordinário lançado em resposta à pandemia e que permite suspender os contratos de trabalho ou reduzir os horários, garantindo, ainda assim, aos trabalhadores 100% do seu salário, até 1.995 euros. Além disso, podem também recorrer a outros apoios, como o Apoiar, cuja verba é atribuída consoante a quebra de faturação com base no último trimestre de 2020. Recorde-se que em agosto, o Governo duplicou o limite máximo dos apoios para bares e discotecas, no âmbito do prolongamento deste programa.
A burocracia que nos é imposta tem de ser aligeirada ou corremos o risco de atrofiar de vez um setor tão importante para a economia como é o da animação noturna.”
Perante este cenário, José Gouveia, presidente da ADN, estima que cerca de 60% das discotecas já não voltem a abrir portas, nesta fase de “libertação”. Já a Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores vai mais longe, antecipando que 70% das empresas ligadas ao setor da diversão noturna declarem insolvência até abril de 2022.
Neste contexto, as associações defendem que a indústria da noite precisa de apoios para reabrir e que novos apoios serão necessários, já depois da retoma da atividade. “A indústria da noite está em risco cada dia que passa e que estamos fechados”, alerta José Gouveia, acrescentando que os novos apoios poderiam ser inseridos no PRR. Esta sugestão tinha já sido manifestada pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (ARESHP) que, no boletim diário de terça-feira, sinalizou que a criação de um apoio financeiro específico para a reabertura “funcionaria como um sinal de apoio e confiança” para estas empresas “que levam já mais de ano e meio de faturação zero”.
Além disso, a Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores pede ainda que a burocracia no acesso aos apoios seja “aligeirada”, caso contrário, corre-se o risco de “atrofiar de vez um setor tão importante para a economia como é o da animação noturna”.
A “luz” ao fundo do túnel deverá chegar esta quinta-feira, dado que o Governo deverá anunciar a reabertura dos bares e discotecas. Ainda assim, a ADN assegura que “as expectativas são cautelosas”, dado que “não existe uma grande confiança num futuro que se tem demonstrado incerto no presente”.
Um pouco mais confiante, está a Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores que antecipa uma “recuperação mais rápida”, caso possam trabalhar sem restrições. “Tudo estará nas mãos do Governo se deixar as empresas laborar no horário que é seu por direito“, conclui Ricardo Tavares, acrescentando que esta é a oportunidade ideal para se acabarem as festas ilegais.
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