Crescimento do PIB deve abrandar para 4,8% em 2022, calcula CFP
Um impacto maior e mais duradouro da guerra em Portugal levaria o PIB a travar para 3,5% em 2022, mas mesmo assim conseguiria recuperar da pandemia. A inflação pode acelerar para 5,6%.
O cenário central do Conselho das Finanças Públicas (CFP) passa por um crescimento de 4,8% da economia portuguesa em 2022, ligeiramente abaixo dos 4,9% que cresceu em 2021 e dos 5,1% da anterior previsão do CFP. Porém, num cenário adverso, que o Conselho diz ser uma simulação e não uma previsão, a expansão do PIB pode ficar pelos 3,5% se o impacto da guerra for maior e mais persistente do que se antecipa atualmente.
“O CFP simulou ainda um cenário adverso em que a magnitude do choque no preço dos bens energéticos e de outras commodities é superior e mais persistente do que no cenário central, e é assumido um abrandamento mais intenso da procura externa fruto de uma eventual disrupção no fornecimento das matérias-primas por parte da Rússia aos parceiros europeus”, explica o Conselho no relatório “Perspetivas Económicas e Orçamentais 2022-2026” divulgado esta quinta-feira. Além de o PIB abrandar para 3,5%, a taxa de inflação iria acelerar para 5,6% este ano, face aos 3,9% previstos no cenário central.
A entidade liderada por Nazaré Costa Cabral ressalva que “com base na informação disponível à data de fecho deste relatório, são ainda de difícil mensuração os efeitos das sanções colocadas à economia russa, com impacto significativo no preço dos bens energéticos e de outras commodities e consequente efeito adverso no crescimento das economias dos principais parceiros económicos de Portugal”. Apesar disso, “as suas gravosas consequências económicas já se fazem sentir: a revisão em baixa da projeção de crescimento do PIB real para 2022 e o aumento da inflação, vertidos nestas ‘Perspetivas Económicas e Orçamentais’, refletem essa nova realidade“.
Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) atualizou as suas previsões, apontando para um crescimento de 3,7% em 2022, apenas cinco décimas abaixo da previsão anterior de 4,2%. No entanto, no cenário adverso a expansão da economia passa para apenas 2,5% e no cenário severo para 2,3%, o que representaria um impacto maior do que a OCDE calcula atualmente. Esta quinta-feira, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) estimou em 1,4 pontos percentuais o impacto da guerra na Zona Euro, mas de 0,9 pontos se a política orçamental for eficaz.
No cenário central, o qual é construído em políticas invariantes (tendo em conta apenas o Orçamento do Estado para 2021 e medidas já legisladas), após travar para 4,8% em 2022 — ano em que se completa a recuperação do impacto da pandemia –, o PIB português vai continuar a desacelerar para 2,8% em 2023, 2,6% em 2024, 2,3% em 2025 e 1,7% em 2026. Neste período, a economia beneficia da recuperação do consumo, assim como das exportações — e, em menor grau, do investimento.
Perante estes números, o CFP conclui que “a recuperação das economias, e da portuguesa em particular, neste pós COVID-19, está assim agora, neste quadro bélico, fortemente condicionada“. E nem o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), construído para ajudar na retoma pós-Covid-19, poderá ser “suficiente para fazer face aos desenvolvimentos recentes”, além de existir um risco de atraso na execução do elevado volume de fundos europeus que Portugal está a receber, tal como o CFP já vem alertando há vários relatórios.
No que toca aos preços, o CFP antecipa uma “aceleração expressiva da taxa de inflação” em 2022 para 3,9%, desacelerando em 2023 para 2,2%, “em linha com a evolução esperada para o preço dos bens energéticos e das matérias-primas”. “De realçar que a hipótese de pressão inflacionista subjacente a este cenário — observada desde 2021 com a recuperação da procura global, as restrições do lado da oferta e o aumento do preço dos bens energéticos — assume-se de cariz temporário“, explica o Conselho.
Mais resiliente do que o PIB ou a inflação é o mercado de trabalho. O CFP antecipa que a taxa de desemprego deve baixar para 6,4% em 2022 e 6,1% em 2023, após ter fechado 2021 nos 6,6%. “No mercado de trabalho, perspetiva-se um perfil de redução gradual da criação de emprego, para 1,1% em 2022 e 0,3% em 2023, em linha com a dinâmica de recuperação esperada da economia”, descreve.
CFP faz avisos à navegação para o novo Governo
Na apreciação global deste relatório, a direção do CFP aproveita para, além de refletir sobre o momento geopolítico e económico que o mundo atravessa, deixar avisos à navegação para o próximo Governo, cuja tomada de posse deverá acontecer no final deste mês.
“Os desafios para a política económica — que caberá ao novo governo enfrentar — são agora ainda mais exigentes e a ambição deve ser fazer da nossa situação geográfica uma oportunidade e força de convergência com o centro da Europa, ao invés de uma fraqueza de eterna periferização”, começa por escrever a instituição liderada por Nazaré Costa Cabral.
Assim, “nesta mudança de ciclo governativo, uma estratégia correta e ambiciosa de política económica e orçamental é agora crucial, perante a exigência de reconversão estrutural da nossa economia e como resposta aos problemas e riscos que se anteveem no curto e no médio prazos”.
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