Lone Star diz que Ramalho agiu “com total integridade” com Luís Filipe Vieira
Acionista americano adianta ao ECO que “não surgiram provas” que comprometem a idoneidade do CEO do Novobanco: António Ramalho agiu com “total integridade” com Luís Filipe Vieira.
Se dúvidas houvesse sobre a idoneidade de António Ramalho, por causa da sua conduta em relação ao ex-presidente do Benfica e grande devedor do Novobanco, Luís Filipe Vieira, elas foram desfeitas com a auditoria desencadeada pela própria instituição na sequência das escutas comprometedoras para o seu CEO. É o que adianta o acionista americano Lone Star ao ECO, depois de concluída essa investigação interna: Ramalho agiu com “total integridade” em relação a Vieira e a outras questões que podiam ser levantadas no âmbito das escutas da Operação Cartão Vermelho e também “não surgiram provas que comprometam a sua idoneidade”.
É este o entendimento do acionista que detém 75% do banco e que se faz representar dentro da instituição financeira que comprou em 2017, no Conselho Geral e de Supervisão, liderado por Byron Haynes. Foi este órgão que levou a cabo a auditoria interna independente para avaliar a conduta de António Ramalho na sequência das notícias sobre as escutas onde o presidente do Novobanco é apanhado a marcar uma reunião com Vieira para o ajudar a preparar a audição da comissão de inquérito, naquilo que as autoridades consideraram ser um concertar de posições entre credor e um grande devedor que gerou prejuízos milionários.
Numa outra escuta, Ramalho disse ao então administrador Vítor Fernandes que um dos seus colegas da administração, Rui Fontes, estava a ser preparado por uma agência de comunicação que, perante os deputados, ele iria ser “monocórdico e chato, porque os gajos [deputados] não vão perceber nada do que ele vai dizer”. Também foi através das interceções telefónicas que se ficou a saber que Ramalho pediu a Nuno Gaioso para ver previamente o texto da sua intervenção inicial no Parlamento — Nuno Gaioso é o presidente da C2 Capital, sociedade que ficou a gerir o património da Promovalor, numa operação muito criticada pelo Banco de Portugal.
Se estas escutas podiam colocar em risco o lugar de CEO de António Ramalho, por ter “instrumentalizado” as audições da comissão de inquérito às perdas do Novobanco imputadas ao Fundo de Resolução, como concluíram os investigadores da Operação Cartão Vermelho, a auditoria interna do banco vem indicar o contrário, de acordo com a Lone Star.
“Entendemos que o Conselho Geral e de Supervisão do Novobanco e os seus órgãos competentes concluíram a sua revisão interna independente relativa às matérias reportadas no âmbito da Operação Cartão Vermelho, em fevereiro de 2022. António Ramalho agiu com total integridade ao longo deste processo e não surgiram provas que comprometam sua idoneidade como CEO do Novobanco“, disse fonte oficial do fundo americano ao ECO.
"Entendemos que o Conselho Geral e de Supervisão do Novobanco e os seus órgãos competentes concluíram a sua revisão interna independente relativa às matérias reportadas no âmbito da Operação Cartão Vermelho, em fevereiro de 2022. António Ramalho agiu com total integridade ao longo deste processo e não surgiram provas que comprometam sua idoneidade como CEO do Novobanco.”
“Não há fotografias minhas com Vieira”
António Ramalho já tinha anunciado a conclusão desta auditoria interna há duas semanas, durante a conferência de apresentação dos resultados de 2021, que confirmaram lucros de 184,5 milhões de euros e novo pedido (polémico) ao Fundo de Resolução no valor de 209,6 milhões.
Contudo, escusou-se a revelar pormenores sobre as conclusões da investigação, mantendo o “profundo silêncio” a que se remeteu desde o início da polémica, embora tenha deixado sinais de que não haveria problemas quanto à sua idoneidade, sobretudo quando manifestou o seu “compromisso total” com o banco até 2024, data em que termina o seu mandato que começou agora.
Na altura, ao afastar relações com o ex-presidente do Benfica e mostrando já alguma segurança em relação ao desfecho deste caso, o CEO do Novobanco disse aos jornalistas: “Não há nenhuma fotografia minha com Luís Filipe Vieira”.
A quem se destinava esta mensagem? António Ramalho pouco mais disse a não ser que as duas auditorias feitas no âmbito deste caso já tinham sido entregues às autoridades competentes, incluindo o Banco Central Europeu (BCE), que tinha anunciado desde a primeira hora que estava a seguir a polémica, e que o banco teve de tomar “decisões em relação a dois trabalhadores por comportamentos que pareceram inadequados”.
Assembleia geral de acionistas vota contas na sexta
A clarificação em relação à idoneidade por parte do seu principal acionista (não do Banco de Portugal ou do BCE, que são as autoridades nesta matéria) ajuda a afastar eventuais fragilidades que podiam condicionar António Ramalho no seu exercício dentro do banco, e isto quando está em vista uma nova disputa com o Fundo de Resolução por causa da nova injeção de 209,2 milhões de euros.
Embora com lucros, o banco fechou 2021 com um rácio de 11,1% e precisa dos 209,2 milhões para atingir os 12%, mas o Governo e Banco de Portugal já fizeram saber que estão contra novo pagamento ao banco, que acabou de virar a página dos prejuízos e já apresenta resultados positivos, mas que, ainda assim, continua a ter de pedir dinheiro ao Fundo de Resolução para preencher a lacuna de capital nos seus rácios, ao abrigo do mecanismo de capital contingente.
O governador do Banco de Portugal foi o último a pronunciar-se contra o pedido da instituição: “O Novobanco ao longo de 2021 tinha todos os instrumentos e teve todos os instrumentos para garantir que o mecanismo contingente de capital não é acionado neste momento e eu acho que isso é fácil de demonstrar e daí a nossa expectativa de que não vai haver nenhuma injeção de capital este ano no Novobanco”, disse Mário Centeno em entrevista ao Observador. Já antes o Fundo de Resolução e o ministro das Finanças tinham partilhado da mesma convicção de que não será devido qualquer dinheiro ao banco.
Face a estes (des)entendimentos, António Ramalho assegurou há duas semanas que levaria o tema para o tribunal arbitral para proteger os interesses da instituição: “Caso o capital não seja preenchido por um dos seus acionistas, a administração chamará esse acionista da forma mais adequada para a defesa dos seus interesses. Cada vez que um requisito não é cumprido, a administração tem naturalmente de colocar em tribunal arbitral”.
A assembleia geral de acionistas, que vai votar as contas (e o pedido de injeção), tem lugar esta sexta-feira, num encontro que ficará marcado por estas divergências e também pela estreia do Estado enquanto acionista direto da instituição, depois da conversão de créditos fiscais no final do ano passado lhe ter dado uma participação direta de 1,56%.
António Ramalho vai enfrentar o Fundo de Resolução (23,44%) e também o Estado (representado pela Direção Geral do Tesouro e das Finanças) sabendo que o seu lugar está protegido do caso Vieira.
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