Afinal, o que se passa com a Netflix?
Plataforma de streaming foi castigada pelos investidores e perdeu mais de um terço do seu valor em apenas um dia. Crescimento das assinaturas está ameaçado pela partilha de contas e saída da Rússia.
Há dois anos, a Netflix brilhava em Wall Street. Com o mundo confinado por causa da Covid-19, os investidores arrebataram ações da empresa como sendo um dos negócios mais resistentes aos efeitos da pandemia. Tinham razão: no final do primeiro trimestre de 2020, a Netflix contava com menos de 183 milhões de assinantes; no final do ano passado, eram quase 222 milhões.
O crescimento das subscrições pagas teve respaldo na cotação da empresa na bolsa. Entre meados de março de 2020 e outubro de 2021, a Netflix mais do que duplicou o seu valor de mercado. Porém, esta quarta-feira, a era dourada da maior plataforma de streaming do mundo parece ter terminado. De um momento para o outro, a tecnológica perdeu mais de um terço do seu valor de mercado, caindo 35%, de 348,61 para 226,19 dólares.
Netflix afunda na bolsa:
Intervalos de 30 minutos | Fonte: Refinitiv
São vários os fatores que explicam a derrocada desta quarta-feira. O primeiro está intimamente ligado ao número de assinaturas. A empresa revelou na terça-feira à noite que perdeu 200 mil assinantes entre janeiro e março, algo que não acontecia há uma década e um número completamente aquém das estimativas da própria plataforma, que esperava um crescimento de 2,5 milhões.
Esse recuo é explicado, por um lado, com o levantamento das restrições da pandemia em muitos mercados onde a Netflix opera. Por outro, a plataforma deixou de operar na Rússia depois da invasão à Ucrânia, o que ditou a perda de 700 mil assinantes naquele mercado.
Em segundo lugar, os investidores estão a castigar a Netflix pelo guidance que deu para este segundo trimestre, que é agora bem menos animador. Entre abril e junho, a empresa espera perder dois milhões de assinantes a nível global, o que indicia que a queda no número de assinantes ainda só começou.
Há ainda um terceiro motivo que bem pode ditar mudanças significativas para os utilizadores. É que, além dos 222 milhões de assinantes que a Netflix tem espalhados pelo mundo, a administração estima que existam mais 100 milhões de lares com acesso ao serviço através da partilha de contas entre utilizadores, uma prática que desrespeita as regras da plataforma, mas que a Netflix tem dificuldade em controlar.
Sobre este ponto, a plataforma está a preparar duas medidas de peso. Primeiro, quer lançar uma nova modalidade de subscrição que, por um valor adicional, permita a partilha de contas pelos utilizadores. Segundo, a empresa admite agora lançar uma versão gratuita, financiada por anúncios publicitários.
“Quem segue a Netflix sabe que tenho sido contra a complexidade da publicidade e um grande adepto da simplicidade da subscrição. Mas por muito que seja fã disso, sou ainda mais fã da escolha do consumidor”, disse Reed Hastings, chairman e co-CEO da companhia, na apresentação de resultados do primeiro trimestre.
De facto, há muito que a empresa tem recusado a opção de lançar uma versão gratuita com publicidade, algo que é relativamente comum no streaming de música, com o Spotify à cabeça. Se a estratégia for adiante, tal representará uma novidade bastante significativa para este mercado, apesar de a Netflix, tal como as principais concorrentes, oferecerem um período inicial gratuito aos novos clientes, uma tendência que é mais preponderante entre os assinantes da Apple TV+.
Além de tudo isto, a Netflix tem apostado nos jogos e continua a investir muitos milhares de milhões de dólares em novos conteúdos, entre filmes e séries. Esta opção pela variedade no catálogo tem gerado autênticos sucessos de audiências, de que é exemplo a série sul-coreana Squid Game. Mas também já deu à luz alguns títulos menos bem-sucedidos, como Space Force.
Em suma, os próximos trimestres serão determinantes para definir a forma como os investidores e assinantes olham para a Netflix. Para já, é ponto assente que, para continuar a crescer, a empresa tem de afinar a sua estratégia e ajustar o modelo de negócio. Mas os tempos são de grande incerteza. O acelerar da taxa de inflação nos EUA e até na Zona Euro tem feito subir o custo de vida, ao mesmo tempo que a subida das taxas de juro ameaça deixar menos rendimento disponível às famílias. Um futuro de sucesso para a Netflix estará no difícil equilíbrio entre estas duas realidades.
(Notícia atualizada às 10h19 com gráfico interativo)
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