Bancos aproveitam férias para vender 1,6 mil milhões em malparado e imóveis
Em pleno período de férias, banca fecha grandes negócios como a ECS, por 850 milhões. O Novobanco vendeu sede por 112 milhões. BCP, BPI, Montepio e Parvalorem também têm carteiras no mercado.
Agosto é sinónimo de férias, mas não para os bancos portugueses, que estão a tirar partido das boas condições do mercado para fazerem negócios de 1,6 mil milhões de euros com carteiras de crédito malparado e imóveis, de acordo com as informações obtidas pelo ECO.
“A maioria dos bancos não precisa de vender estas carteiras, mas está a fazê-lo para aproveitar o bom momento do mercado e está a conseguir preços que não imaginava conseguir”, explica Marco Freire, CEO da empresa portuguesa Whitestar, que gere mais de 10 mil milhões em NPL e REO.
Metade deste valor diz respeito à venda dos fundos de reestruturação da ECS que os bancos acabaram de fechar com o fundo Davidson Kempner, naquele que será o “negócio imobiliário do ano” em Portugal, por um valor a rondar os 850 milhões de euros, de acordo com o Jornal Económico.
O Novobanco também acabou de vender a histórica sede do BES, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, por 112 milhões de euros aos espanhóis da Merlin Properties. O BPI vendeu a carteira “Citrus” avaliada em cerca de 100 milhões à LX Partners, segundo adiantou uma fonte do mercado ao ECO.
Em curso estão outros tantos negócios, incluindo do BCP (com a carteira “Aurora” de NPL e REO de 80 milhões), Santander (com a carteira “Guadiana” de imóveis no valor de 100 milhões) e do Montepio (com a carteira “Alqueva” de NPL secured no valor de 130 milhões), enquanto a Parvalorem, veículo que gere os despojos do antigo BPN, acabou de desvendar planos para colocar de novo no mercado o fundo imobiliário Imofundos no valor de 250 milhões.
Tudo somado, são 1.622 milhões de euros em negócios que não fazem parte da atividade core dos bancos. “Para a dimensão do nosso país, é um volume de transações alto”, reconhece Miguel Campos, diretor de NPL & REO da consultora Aura REE Portugal.
"A maioria dos bancos não precisa de vender estas carteiras, mas está a fazê-lo para aproveitar o bom momento do mercado e estão a conseguir preços que não imaginavam conseguir.”
Marco Freire e Miguel Campos assinalam o facto de os bancos colocarem agora carteiras de menor dimensão, quando estavam habituados a ver grandes carteiras nos últimos anos. Isto é sobretudo o reflexo do enorme esforço de redução do malparado nos últimos anos, que deixou os bancos com um nível de empréstimos problemáticos em mínimos nos 3,6% no final de março.
Ainda assim, os bancos ainda tinham cerca de 11,9 mil milhões de euros em empréstimos difíceis de cobrar nos seus balanços, que já corresponderão aos casos mais problemáticos que ainda não foram resolvidos. Também têm mais de mil milhões em fundos de reestruturação.
Malparado em queda
Fonte: Banco de Portugal
Momento de inflexão no mercado
O CEO da Whitestar admite que o mercado pode estar perto de um “momento de inflexão e de transformação”, tendo em conta o ambiente de alta inflação e de subida dos juros por parte dos bancos centrais.
“Até há dois ou três meses, o mercado estava supercompetitivo. Os investidores procuravam níveis de retorno baixos, tendo em conta o nível de risco do produto, e havia muita liquidez e capital disponível. A partir do momento em que começamos a assistir à subida da inflação e das taxas de juros, os investidores começaram a ter alternativas”, explica Marco Freire.
Já se registam sinais destas mudanças. Há investidores “mais agressivos” que estão “temporariamente” a sair do mercado “para tentar perceber para onde as coisas vão”, segundo o responsável da Whitestar. A outra questão é o preço. O diretor da Aura REE adianta que tem havido “algumas desistências de investidores” em algumas operações, perante expectativas divergentes em relação aos preços das carteiras que os bancos estão a exigir.
Ainda assim, Portugal continua a registar “um bom binómio procura/oferta no mercado”, assegura Marco Freire.
Inflação poderá levar a aumento de NPL
Em relação a 2023, “vai ser um pouco nesta onda”, acrescenta Miguel Campos, antecipando “carteiras deste tamanho, em torno dos 100 milhões de euros”, apesar de considerar que o aumento das taxas de juro poderá deixar muitas famílias em dificuldade para pagar os empréstimos da casa, com impacto no aumento do malparado da banca. “O efeito não será imediato, mas em dois ou três anos podemos assistir a alguns incumprimentos”, prossegue.
Para Marco Freire, “a questão principal é saber quanto tempo vai demorar esta conjuntura” de escalada de inflação e de subida dos juros. “Se continuarmos com este nível de inflação por muito tempo, os níveis de NPL vão subir consideravelmente”, afirma.
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