Operadoras resistem a anunciar aumentos de preços
Meo continua sem "plano para alteração de preços", mas admite que a maioria dos clientes têm contratos indexados à inflação. Vodafone assume "enormes desafios" para manter os preços nos níveis atuais.
Sobem os preços da luz. Sobem os preços do gás. Em janeiro, aumentam as rendas, as portagens e até a manutenção do elevador do prédio. As despesas mensais das famílias portuguesas não param de engordar, à medida que as empresas vão anunciando aumentos para cobrir os seus próprios custos. Mas as telecomunicações têm destoado desta realidade – pelo menos até agora.
O setor das telecomunicações não esconde os desafios que enfrenta, nem se compromete a manter os preços. Mas as principais operadoras de telecomunicações garantem ainda não ter mexido nas faturas mensais dos clientes, apesar de o poderem fazer. Em resposta a questões do ECO, a postura continua a ser a de aguardar para ver. Facto é que dificilmente os preços vão continuar nos níveis atuais, à luz das leituras da taxa de inflação, que parece não querer dar sinais de abrandar.
“A esta data, não é possível antecipar a expressão ou timings [o momento] de eventuais alterações de preços”, disse fonte oficial da Vodafone Portugal esta terça-feira. Já a Meo, detida pela Altice Portugal, insistiu na resposta que tem vindo a dar desde o segundo trimestre: “O contexto de inflação está a ser monitorizado pela equipa de gestão da Altice Portugal com o objetivo de mitigar efeitos na estrutura e na operação. De momento não há qualquer plano para alteração de preços”. Fonte oficial da Nos não respondeu até ao fecho deste artigo.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) publica esta quarta-feira, pelas 9h30, a estimativa rápida da evolução do Índice de Preços no Consumidor em agosto. Os dados, que só serão confirmados mais tarde, em setembro, ganham relevância pois vão permitir calcular já, por exemplo, o coeficiente para a atualização das rendas em janeiro de 2023, ainda que numa versão preliminar.
Sem surpresa, a taxa deverá continuar historicamente elevada, à semelhança do que está a acontecer um pouco por todo o mundo ocidental, no contexto da guerra e do encarecimento da energia. As operadoras estão conscientes disso e admitem que dificilmente conseguirão não passar, ainda que parcialmente, este aumento de custos para a respetiva base de clientes.
Sobre este assunto, a Vodafone tinha afirmado em maio: “Estamos a fazer um esforço para que [a conjuntura] não se reflita nos preços — que, em Portugal, são dos mais baixos a nível europeu — mas não podemos comprometer-nos.” Agora, a mesma fonte confessa: “A expressiva taxa de inflação a que temos estado sujeitos tem colocado à Vodafone enormes desafios internos de forma a evitar refletir esses impactos nos preços dos serviços. Contudo, esse é um esforço não compatível com a expressão da taxa de inflação ou com o seu caráter de médio longo prazo.”
Dito isto, remata: “O setor é fortemente impactado pela inflação, em particular pelos custos de energia e dos combustíveis, bem como pelos distúrbios das cadeias logísticas e consequente aumento de preços e prazos de entrega dos equipamentos. Este aumento de custos tem impacto acrescido num momento em que a Vodafone está a desenvolver múltiplos planos de modernização da rede e de implementação do plano de obrigações de cobertura 5G.”
A expressiva taxa de inflação a que temos estado sujeitos tem colocado à Vodafone enormes desafios internos de forma a evitar refletir esses impactos nos preços dos serviços.
Contratos expostos à inflação
No caso da Meo, nos últimos anos, a empresa atualiza em janeiro as mensalidades dos clientes atuais com base na inflação, impondo um aumento mínimo de 50 cêntimos. Mas, nessas alturas, o IPC estava muito longe dos valores atuais, o que significava que, regra geral, as mensalidades subiam meio euro a cada ano, até acabar o prazo de fidelização.
Em julho, um analista questionou o administrador financeiro da Altice International sobre este assunto. Malo Corbin respondeu que 75% dos clientes da Meo têm contratos indexados à taxa de inflação. Apesar de não admitir claramente uma subida, a declaração não tranquiliza os clientes – muitos deles já esmagados pelos preços cada vez mais elevados dos alimentos, bem como pelas faturas mais altas da eletricidade, do gás, dos combustíveis, e, eventualmente, até da água.
Quanto aos novos contratos, o impacto da inflação é bastante mais difícil de medir. As ofertas das operadoras são complexas e incluem diversos descontos e promoções que dificultam a comparação. Ora, a Anacom tem acompanhado de perto a evolução dos preços no mercado, baseando-se no detalhe do IPC divulgado pelo INE. No mais recente relatório, a entidade aponta que os preços das telecomunicações em julho eram 1,7% mais elevados do que em julho de 2021. Mas importa notar que, apesar de representar uma subida, nesse mês, a inflação em Portugal atingiu 9,1%.
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