Fornecedora da tecnologia do projeto de eólico offshore em Viana “pronta” para o escalar ao máximo
Principle Power diz-se disponível para escalar o Windfloat em Viana, projeto pioneiro da Ocean Winds. Fornecedora já está em conversações com outros promotores interessados no leilão eólico offshore.
“Estamos disponíveis, estamos prontos. Só precisam de indicar quando podemos começar”, garante João Mendonça Santos, diretor de produção da Principle Power ao ECO/Capital Verde, em resposta ao desafio lançado pelo CEO do grupo EDP de escalar a potência do Windfloat Atlantic, em Viana do Castelo.
O parque, composto por três turbinas flutuantes de 25 megawatts (MW), a cerca de 20 quilómetros da costa de Viana do Castelo, está em operação há três anos e os resultados têm sido “positivos”. Segundo Mendonça Santos, a produção, no ano passado, foi de cerca de 78 gigawatts-hora (GWh), 5% acima do que tinha reportado o ano anterior e “tem tido níveis de produção acima do que foi estimado inicialmente”, acrescenta o responsável.
Os resultados também animaram a EDP Renováveis, que juntamente com a francesa Engie formam o consórcio Ocean Winds, o qual detém 32% da Principle Power, que por sua vez é a promotora do projeto. Em maio, aquando da visita a Portugal da comissária europeia da Energia, Kadri Simson, o CEO da EDP e respetiva subsidiária de energias limpas, Miguel Stilwell d’Andrade, considerou ao ECO que o Windfloat Atlantic tem “capacidade muito grande de escalar” a capacidade instalada. E, agora, a Principle Power, responsável pelo fornecimento das estruturas flutuantes do parque, vem confirmar a disponibilidade e capacidade de reforçar a potência do projeto.
“Estamos muito motivados para fazer crescer esse projeto até à capacidade que está indicada [no leilão] pelo Governo”, refere João Mendonça Santos, gestor da equipa multidisciplinar responsável pelo fornecimento da tecnologia Windfloat. Segundo a proposta do subgrupo de trabalho responsável pela elaboração das regras daquele que será o primeiro leilão de eólicas offshore em Portugal, em Viana do Castelo existe a capacidade de serem explorados até 2 GW de capacidade – local que representa a maior fatia dos 10 GW que o Governo pretende licitar, de forma faseada, até 2030. Até ao final do ano, serão colocados a concurso 3,5 GW que estão disponíveis para serem explorados ao largo de Viana do Castelo, Leixões e Figueira da Foz, de acordo com a proposta do grupo de trabalho.
Interessados não faltarão, e à Principle Power já chegaram pedidos de empresas que estão de olho no primeiro concurso nacional de eólicas sobre o mar. “Já tivemos contactos e algumas conversas [com] todos aqueles que têm interesse [no leilão] em Portugal”, revela João Mendonça Santos, sem adiantar nomes.
Por cá, empresas nacionais manifestaram interesse em participar no concurso em parceria com multinacionais, nomeadamente, a Galp que se aliou à TotalEnergies, a Greenvolt que se juntou à BlueFloat Energy ou a Hyperion que se uniu à Corio. Mas além destas, gigantes como a Repsol, Iberblue Wind, Copenhagen Offshore Partners e a Baywa já manifestaram interesse no projeto. “O leilão abre uma oportunidade muito grande para nós. São muitas plataformas e turbinas, no nosso caso, para serem entregues”, refere o responsável.
A Principle Power nasceu em 2007, na Califórnia, nos Estados Unidos e, embora a sede seja do outro lado do Atlântico, é em Lisboa que se encontra um dos escritórios mais antigos. “Temos mais de 50 pessoas em Portugal, crescemos bastante face à necessidade dos projetos”, explica Mendonça Soares, dando conta que a multinacional conta com uma equipa de 120 pessoas.
Atualmente, a empresa conta com dois projetos em operação: um em Portugal (Windfloat Atlantic) e outro na Escócia (Kincardine), totalizando 75 MW de potência instalada. Esse valor deverá aumentar nos próximos anos face aos 30 MW que estão atualmente em construção e outros 10 GW que estão contratados. Estes projetos irão nascer nos Estados Unidos, França, País de Gales, Coreia do Sul, Japão e Taiwan. “Isto tudo aconteceu quase exponencialmente”, conta o responsável.
Leilão precisa de “regras claras”
O leilão representará, assim, mais uma rampa de lançamento para a empresa especializada em turbinas flutuantes que congratula a decisão do Governo em avançar com a estratégia. De acordo com o Global Wind Energy Council, Portugal tem um potencial de exploração de cerca de 131 gigawatts de eólicas offshore.
“Este primeiro leilão vai permitir concretizar o potencial que [o país] tem de utilizar os recursos de energia eólica”, refere João Mendonça Soares, que aponta, no entanto, para alguns desafios, entre eles, a falta de uma cadeia de abastecimento suficientemente robusta para dar resposta.
“Se temos uma cadeia de valor minimamente existente, ela não está em condições de responder imediatamente. Portanto, o leilão é uma oportunidade para se investir na infraestrutura de forma a que este mercado possa vir a desenvolver -se em Portugal”, reconhece o diretor de produção da Principle Power. Uma cadeia de valor robusta poderá, por sua vez, materializar-se num cluster a nível nacional dedicado ao setor das eólicas offshore que “poderá ser importante para a indústria” a nível global.
Existem também obstáculos ligados à mão de obra especializada, que obrigarão à formação de “muitas pessoas” para dar resposta às necessidades desta indústria. O centro de investigação português Wavec Offshore Renewables estima que os 10 GW que irão nascer pelas mãos do leilão poderão trazer a bom porto mais de 95 mil empregos diretos.
Mas também serão necessárias “regras claras” e que permitam dar “alguma previsibilidade para que toda a cadeia de valor possa ter confiança, investir e fazer acontecer”, aponta a Principle Power, uma preocupação já partilhada por vários promotores interessados no concurso. O Governo não avança para já detalhes sobre como serão as regras do concurso, mas deixa claro que 3,5 GW serão licitados por um ou mais procedimentos concorrenciais até ao final do ano, e a restante capacidade até perfazer 10 GW será distribuída até ao final da década de forma faseada.
“Acho que estamos hoje numa situação melhor do que estávamos há uns anos, quando fizemos o protótipo [WinfdFloat 1]. Acho que o Governo não irá modificar radicalmente o panorama legal que tem, e isso é relativamente positivo para dar alguma certeza aos operadores. Dito isto, acho que o maior desafio será sempre o timing e regras bastante claras para que as coisas possam possam acontecer. Esse será o grande desafio”, alerta João Mendonça Soares.
Mas os desafios identificados não são particulares a Portugal. Segundo o responsável, estes são “quase horizontais a todas as geografias”. A diferença, aponta o diretor de produção, é que em alguns mercados a legislação e um setor mais desenvolvidos conferem alguma capacidade para controlar estes obstáculos. “E nós [em Portugal] temos ainda que passar essa barreira”, reconhece, ainda que o país tenha já alguma experiência adquirida com o Windfloat Atlantic. “Todo o projeto foi desenvolvido em Portugal, feito em Portugal, com parceiros portugueses, com o país todo envolvido. E isso é uma vantagem comparando com outros países na Europa, muito próximos de nós”, realça.
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