Comer, aquecer, viajar. Quase tudo vai ficar mais caro em 2022

Na viragem do ano, o bolso dos portugueses vai sentir ainda mais o aumento generalizado dos preços, com vários produtos e serviços a atualizarem as tabelas. Confira as principais mudanças.

Muito se tem falado sobre a inflação nos últimos meses, no rescaldo do impacto da pandemia na economia, com impacto das matérias-primas à energia. Vários produtos e serviços vão sofrer aumentos de preços em 2022, a começar pela alimentação e prosseguindo nos transportes ou nas telecomunicações.

Algumas modificações de preços ainda são incertas, sobretudo no que toca à data de entrada em vigor, já que estavam dependentes da aprovação do Orçamento do Estado para 2022, chumbado no Parlamento. Porém, a maior parte já é uma certeza — e pesada — nos bolsos dos portugueses.

Renda da casa sobe em 2022

As rendas não subiram em 2021, mas vão aumentar em 2022, por causa da inflação. A subida é de 0,43%, um aumento de três euros para uma família que pague 700 euros de renda mensal. Os senhorios não são obrigados a atualizar as rendas, mas com o aumento do custo de vida, muitos vão aproveitar certamente para o fazer.

Eletricidade deve ficar mais cara

Depois de duas subidas este ano, os preços da eletricidade no mercado regulado vão aumentar 0,2% a partir de janeiro, uma variação calculada tendo por base o aumento médio de 1,6% do preço da eletricidade no acumulado deste ano. Mas se a base comparativa forem os três últimos meses, os consumidores vão notar na primeira fatura de 2022 um alívio de 3,4%.

A escalada dos preços grossistas da energia tem batido recordes atrás de recordes. Isso vai ter reflexo nas faturas dos clientes do mercado livre. A EDP Comercial vai subir os preços em 2,4%, em média – um acréscimo na fatura na ordem dos 90 cêntimos por mês. A Galp Energia também vai subir os preços a 1 de janeiro, na ordem dos 2,7 euros mensais para as potências contratadas mais representativas.

Gás de botija a preços recorde

Não é só a energia elétrica que está mais cara. Os preços do gás de botija têm estado a subir em flecha e atingiram recordes no final deste ano. Os portugueses que usam gás engarrafado para cozinhar ou aquecer a casa podem esperar um encargo maior em 2022, numa altura em que a botija de butano de 13 quilos custa em torno de 29,17 euros, e a de 54 quilos 120 euros.

Fatura das telecomunicações vai pesar mais

Ainda não são conhecidas as decisões de todas as operadoras de telecomunicações, mas pelo menos os clientes da Meo deverão ter um aumento na fatura. A Meo vai aumentar o preço base das mensalidades em 50 cêntimos a partir de 1 de janeiro, enquanto a Nowo não tem “previstas quaisquer atualizações”. Não se conhece ainda as políticas de preços das restantes operadoras para o ano que vem.

Além das eventuais subidas de preços, o próximo ano ficará marcado pelo 5G. Já se sabe que o serviço é gratuito até 31 de janeiro na Nos e na Vodafone, mas representará custos adicionais nos tarifários para os clientes que queiram estar na vanguarda da tecnologia. A Meo, por sua vez, planeia lançar o 5G a 1 de janeiro.

Artigos do IKEA custam a montar

O IKEA vai aumentar os preços de muitos dos seus produtos, em toda a gama e em todos os mercados, incluindo em Portugal. O aumento médio é de 9%. A decisão deve-se, sobretudo, ao aumento dos preços das matérias-primas e do transporte, bem como outros constrangimentos na cadeia de abastecimento. O Grupo Ingka, que detém a empresa sueca de mobiliário, indicou que a subida de preços é mais pronunciada na América do Norte e na Europa.

Mexidas nas comissões bancárias

Os portugueses deverão ser confrontados com novos aumentos nas comissões bancárias em 2022. Um levantamento realizado pela DECO dá o exemplo de três bancos que já anunciaram estas subidas – e outros devem seguir o mesmo caminho. No caso do Novobanco, os clientes vão pagar mais nos depósitos à ordem, assim como nos cartões de débito e crédito. No Activo Bank haverá alterações no custo dos serviços de notas estrangeiras, e as alterações no BCP serão nas contas de depósito e na prestação de serviços.

Só o Alfa Pendular escapa à subida nos carris

Viajar de comboio vai ficar mais caro a partir de 1 de janeiro de 2022. Todos os serviços da Comboios de Portugal (CP) vão sofrer alterações nos preços, com exceção para o Alfa Pendular. Segundo a informação disponibilizada pela transportadora, fazer Lisboa-Porto em 2.ª classe num Intercidades vai custar mais 15 cêntimos, subindo de 25,10 para 25,25 euros, mas mantém-se o preço do bilhete de ida e volta. Já na Fertagus, os bilhetes simples ficam cinco cêntimos mais caros. A ligação entre Lisboa e Setúbal aumenta para 4,60 euros, por exemplo.

Transportes sobem 0,57%, mas passes sociais mantêm-se

O preço dos transportes públicos que irá vigorar a partir de 1 de janeiro de 2022 será atualizado em 0,57%, de acordo com a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT). Por outro lado, os preços dos passes sociais vão manter-se no Grande Porto e também na Área Metropolitana de Lisboa, neste caso com os serviços Navegante Municipal e Navegante Metropolitano a manterem o preço mensal de 30 e 40 euros, respetivamente.

Portagens aumentam nos percursos de longa distância

A Brisa anunciou esta semana que, a partir de sábado, 28 das 93 taxas de portagem aplicadas na classe 1 (isto é, 30% do total) vão ser atualizadas. As tarifas vão registar em 2022 um aumento médio de 1,57%. Nos principais percursos em longa distância, como a A6 Marateca-Caia e a A1 Lisboa-Porto, a atualização será de 20 cêntimos, enquanto na A2 Lisboa-Algarve vai pagar mais 35 cêntimos. No caso de algumas portagens das ex-SCUT, no entanto, vai prolongar-se no novo ano o desconto que está a ser aplicado desde julho.

Alerta para mudanças na Via Verde

Os atuais clientes da Via Verde já se habituaram a usar o identificador para muito mais do que pagar portagens. Mas se quiser manter esse benefício, vai passar a pagar mais. A partir de 5 de janeiro, vai existir um serviço Via Verde só para pagar portagens – com fatura eletrónica, ficará a 49 cêntimos por mês ou 5,75 euros por ano (se não dispensa a fatura em papel, o serviço é mais caro).

Para os serviços extra, como parques de estacionamento, terá de subscrever a Via Verde Mobilidade, passando a pagar mais a partir de 1 de abril: 99 cêntimos por mês ou 11,65 euros por ano (no caso da fatura eletrónica). Se não quiser transitar para a nova modalidade, tem de comunicar à empresa por escrito.

Carros em segunda mão valorizam no mercado

A crise dos chips continua a condicionar o setor automóvel. Em 2022, mantém-se o cenário de alguma escassez de carros novos, por falta de componentes críticas, pelo que as encomendas vão continuar a demorar bem mais do que é habitual. Além disso, se está a pensar em comprar um carro em segunda mão no próximo ano, prepare-se para deixar mais notas no balcão do stand, principalmente se é fã de modelos SUV e Sedan. Os aumentos podem chegar aos 20% para alguns carros usados, como o Seat León, por causa da forte procura.

Navigator sobe preço do papel de impressão

Consumidores e empresas vão ter de contar com custos mais altos do papel de impressão. A Navigator Company anunciou a subida dos preços do papel de impressão e escrita não revestido entre 10% e 15% a 3 de janeiro do próximo ano. Desde 3 de dezembro, já está a cobrar mais 10% no papel higiénico e nos guardanapos.

Tabaco deve “matar” na carteira a meio do ano

Estava previsto um agravamento fiscal que deveria puxar pelo preço dos cigarros no próximo ano, mas com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, esta possibilidade é ainda incerta. No entanto, foi já definido que os maços de tabaco vão ter o selo castanho em 2022, com a estampilha a ficar mais cara. Se o diploma já estivesse em vigor, a Imperial Brands estima que os maços já estariam a custar mais 10%.

ADSE revê alguns valores

Já começou a ser aplicada em setembro a nova tabela do regime convencionado da ADSE, mas o subsistema de saúde dos funcionários públicos acabou por rever alguns preços, mudanças que vão entrar em vigor a partir do próximo ano. Por exemplo, os partos vão ficar cerca de 35% mais caros para os utentes. “As alterações, que determinam uma revisão em alta dos preços dos atos comparticipados, incidem sobretudo nas tabelas de cirurgia e medicina, onde estão incluídos alguns meios de diagnóstico e terapêutica, atos de ginecologia, obstetrícia (partos), urologia, anatomia patológica e certas situações de exames radiológicos e enfermagem”, refere a ADSE.

Apólices dos seguros de saúde devem aumentar

O próximo ano poderá trazer um aumento no preço das apólices dos seguros de saúde, por causa da subida de custos nos estabelecimentos de hospitalização privada, desde as matérias-primas aos recursos humanos. Os hospitais privados estarão a fazer pressão sobre as seguradoras para pagarem mais pelos atos praticados, sendo que o que envolve internamento poderá sofrer um aumento mais expressivo.

Travão à descida de preços dos medicamentos

A descida do preço de alguns medicamentos pode ter o efeito perverso de não haver incentivo para as farmacêuticas os produzirem. Em 2022 vai entrar em vigor um mecanismo-travão criado pelo Governo para evitar ruturas no mercado. Os medicamentos que custem até 15 euros não vão ter qualquer descida em 2022. Para os que custam entre 15 e 30 euros, o preço não pode descer mais do que 5%. No caso dos medicamentos mais caros, acima dos 30 euros, eventuais descidas não podem superar 10%.

Mercearia vai pesar mais na carteira

Os preços de alguns bens alimentares vão custar mais às famílias portuguesas. O bacalhau na consoada já saiu mais caro e, com exceção da carne de porco, as restantes seguem a mesma tendência, com aumentos na casa dos dois dígitos. O azeite encarece perto de 7% e várias panificadoras já admitiram “ter de reagir” à subida dos custos das matérias-primas e da energia, incluindo o gás. No caso das hortaliças, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou para o “incontornável” aumento de custos com reflexo nos consumidores.

Nem a roupa escapa aos aumentos

O setor da moda também já antecipou subidas de preços em 2022, por causa do aumento dos custos de produção. Um relatório da McKinsey e da Business of Fashion (BoF) concluiu que 67% dos executivos deste setor da economia preveem aumentar os preços de retalho em 3%, enquanto 15% antecipam subidas de 10% ou mais.

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