Aumento das exportações chinesas tem impacto no trabalho na zona euro
“Os setores que enfrentam uma grande competição da China apresentaram maiores descidas nos anúncios de emprego – um sinal de uma procura mais fraca de mão-de-obra”, refere estudo publicado pelo BCE.
O aumento da competitividade das exportações chinesas tem implicações diretas no mercado laboral da zona euro, que poderão ser amplificadas com as tarifas norte-americanas, segundo um paper publicado esta quinta-feira no boletim económico do Banco Central Europeu (BCE).
No paper “O que é que o aumento da competição da China significa para o emprego na zona euro”, Clémence Berson, Claudia Foroni, Vanessa Gunnella e Laura Lebastard referem que os setores em que as importações da China mais subiram empregavam 29 milhões de pessoas em 2024, com destaque para a indústria transformadora, com 24 milhões destas.
Entre os setores que viram o maior crescimento das importações chinesas desde 2019 estão a indústria automóvel (150%) e dos químicos (140%), enquanto no papel e impressão e equipamentos elétricos foi de 85%. No caso da indústria automóvel, apesar de contar com apenas 1% do total dos postos de trabalho da área do euro, o seu contributo para o valor acrescentado bruto da indústria transformadora é de quase 10% e quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da região.
“Quando as ligações intersetoriais são tidas em conta, a relevância do setor automóvel quase duplica, demonstrando a sua importância vital para a economia”, referem, acrescentando que, em conjunto com os químicos, representam 2,5% dos trabalhadores do setor. Outros setores expostos, como papel e impressão, equipamentos elétricos e plásticos, totalizam outros três milhões de trabalhadores, ou 1,7%.
Os autores do artigo analisaram dados e apresentações de resultados para criar um indicador setorial que analisa as mudanças na procura de mão-de-obra face às importações vindas da China. “Os setores que enfrentam uma grande competição da China apresentaram maiores descidas nos anúncios de emprego – um sinal de uma procura mais fraca de mão-de-obra”, referem.
Entre 2019 e 2024, a procura de mão-de-obra no setor automóvel caiu 55%, enquanto nos químicos recuou cerca de 95%, ao passo que os setores com menor exposição à China apresentaram, em média, uma procura mais estável. No entender dos autores do artigo, a atual política comercial dos Estados Unidos da América e a imposição de tarifas deverão aumentar a competição chinesa no mercado europeu.
“Depois do anúncio da administração Trump de tarifas mais altas nos bens chineses, os exportadores chineses poderão expandir-se ou procurar novos mercados noutros sítios e começar a redirecionar o comércio para a Europa”, disseram. Apesar de a China enfrentar maiores tarifas que a UE, os ganhos relativos com as exportações europeias para os EUA “não deverão anular as perdas no mercado doméstico”.
Para os quatro autores, a solução passa por uma adaptação das empresas europeias a um ambiente global cada vez mais competitivo. “Os choques comerciais podem provocar disrupções e alterações de trabalho entre setores, mas, a longo prazo, o emprego total poderá não mudar muito porque a economia se ajustará através de alterações salariais e o fluxo de trabalhadores”, assinalaram, apontando que haverá ajustes a ineficiências laborais antes de um novo equilíbrio.
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