Há cada vez mais escassez no mercado de escritórios e, nos próximos anos, não deverá ser diferente. Eric Ven Leuven, da Cushman & Wakefield Portugal, prevê um "cenário dramático".
A falta de oferta na habitação não é novidade, mas o problema também se estende ao mercado de escritórios. Há cada vez menos espaços para as empresas se instalarem, principalmente em Lisboa, onde “as rendas dos escritórios são baixas”, diz o diretor-geral da Cushman & Wakefield Portugal (C&W). Prevê-se um cenário difícil para os próximos três ou quatro anos, com os preços deste segmento a continuarem a subir.
2018 foi um ano “espetacular” e 2019 “começou muito bem” mas, ainda assim, “talvez não seja tão eufórico como o ano passado”, admite Eric Van Leuven, em entrevista ao ECO. Isto porque, explica, já se começa a sentir algum abrandamento nos preços, sobretudo na habitação. “Somos afetados porque trabalhamos muito com a venda de terrenos para construir habitação, e já sentimos que há mais cautela relativamente aos preços que os compradores pagam pelos terrenos ou edifícios”, refere. Contudo, no mercado de escritórios — onde a consultora atua –, as coisas mudam de figura.
"No nosso mercado principal – escritórios, lojas, centros comerciais e hotéis -, os preços vão continuar a acelerar porque as rendas de escritórios são baixas em Portugal.”
“No nosso mercado principal — escritórios, lojas, centros comerciais e hotéis –, os preços vão continuar a acelerar porque as rendas de escritórios são baixas em Portugal”, afirma o diretor-geral da C&W Portugal. A nível nacional, diz, o metro quadrado varia entre os 18 e os 21 euros, valores inferiores aos praticados em Madrid ou Varsóvia (entre os 20 e os 45 euros). Mas, tendo em conta o destaque que Lisboa tem tido no imobiliário, como é que ainda não atingiu esses níveis? Eric Van Leuven responde: “Boa pergunta! Mas tem que ver com a oferta e a procura”.
“Não há nenhum escritório [em Portugal], há muito poucos mesmo. E isso vai fazer com que os preços subam. Já sentimos isso. Se olharmos para o mercado de escritórios nos próximos três ou quatro anos é dramático e difícil, porque não há quase oferta nova”, continua. O que vai agilizar um pouco esse problema são alguns “projetos grandes”, que devem chegar ao mercado daqui por dois ou três anos, como o Avenue, no Parque das Nações, o terreno da Feira Popular, adquirido em hasta pública pela Fidelidade, e a Torre do Colombo, da Sonae Sierra.
Mas, independentemente disso, 2018 foi um ano de “novos recordes históricos” para o mercado de escritórios. Entre janeiro e novembro foram arrendados cerca de 191 mil metros quadrados na Grande Lisboa, o que representou um crescimento de 24% face a 2017, de acordo com os dados da consultora. Já no Grande Porto ultrapassaram-se os 75 mil metros quadrados.
"O interesse das companhias de seguros e dos fundos imobiliários continua. As taxas de rentabilidade estão a baixar e os preços estão a subir. Os preços do imobiliário comercial também estão a subir por duas vertentes: a subida das rendas e a redução das taxas de rentabilidade.”
Eric Van Leuven observa um “interesse contínuo e sem abrandamento” por parte de fundos de investimento em imóveis para rendimento, isto é, compram-nos e colocam-nos no mercado de arrendamento. “O interesse das companhias de seguros e dos fundos imobiliários continua. Aqui, as taxas de rentabilidade — yields — estão a baixar e, com isso, os preços estão a subir. Ou seja, os preços do imobiliário comercial também estão a subir por duas vertentes: a subida das rendas e a redução das taxas de rentabilidade“, explica o especialista, ao ECO.
E as novas iniciativas do Governo? “Põem travão à disponibilidade”
Está especializado no setor comercial, mas também tem uma palavra a dizer sobre a parte residencial, nomeadamente sobre as recentes iniciativas do Governo para facilitar o acesso à habitação e travar a inflação dos preços. “As iniciativas legislativas recentes são péssimas e estão a matar o mercado de arrendamento”, disse o diretor-geral da C&W, referindo-se, especialmente, às alterações à Lei do Arrendamento.
“O Governo quer fomentar o arrendamento, mas matou-o. Porque nenhum particular, no seu bom pleno juízo, vai arrendar uma casa por um período em que não se pode opor à renovação ou em que o inquilino tem direito de opção em caso de venda“.
"Tem de haver uma oferta social muito maior mas, não havendo, tem de haver um subsídio de renda para quem não consegue pagar os valores do mercado. Estas medidas não põem travão aos preços, mas sim à disponibilidade.”
Embora reconheça que “há quem precise de ajuda para pagar uma renda do mercado”, Eric Van Leuven defende que o Estado tem de dar mais apoio. “Para já tem de haver uma oferta social muito maior mas, não havendo, tem de haver um subsídio de renda para quem não consegue pagar os valores do mercado”, sublinha. Assim, avisa: “Estas medidas não põem travão aos preços, mas sim à disponibilidade”.
Sobre as ferramentas criadas recentemente, as SIGI (Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária), que serão fortes fontes de captação de investidores para o mercado imobiliário, o especialista vem confirmar o que muitos têm confirmado até agora: “Há muita gente a estudar”. Mas Eric Van Leuven vai ainda mais longe e antevê três cenários: “As imobiliárias e os fundos imobiliários existentes vão considerar converter-se em SIGI, as SOCIMI espanholas já com atividade em Portugal vão provavelmente criar SIGI, e acredito que as novas aquisições podem vir a ser feitas através das SIGI”.
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“Escritórios há muito poucos. Cenário é dramático para os próximos anos”, diz o diretor-geral da Cushman & Wakefield Portugal
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