França alivia prejuízos da Caixa. Mas não muito
A CGD anunciou que nos primeiros nove meses do ano teve prejuízos de 189,3 milhões. A equipa de António Domingues avisa que o trabalho de contabilização das imparidade ainda está em curso.
São resultados muitos aguardados já que são os primeiros que têm a participação da nova administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) que entrou em funções a 31 de agosto. No entanto, não há grandes surpresas já que a administração avisa que o trabalho relativo à contabilização das imparidades ainda está a decorrer.
De janeiro a setembro, os prejuízos do banco público totalizaram 189 milhões, o que representa uma melhoria face às perdas de 205 milhões registadas no primeiro semestre. Mas é um agravamento substancial face aos lucros de 3,4 milhões de euros contabilizados em idêntico período do ano anterior.
As contas do ano passado beneficiaram de um ganho de 329 milhões de euros em operações financeiras (provavelmente ganhos com a dívida pública), mas este ano esta rubrica está a contribuir negativamente em 41 milhões para os resultados do banco.
Internacional ajuda a disfarçar perdas
A julgar pelo bottom line, as contas da CGD foram muito castigadas pela atividade doméstica: os prejuízos das operações desenvolvidas em Portugal foram de 348,1 milhões, acima dos 322,4 milhões negativos do primeiro semestre e bastante acima dos 81,3 milhões de há um ano.
Foi sobretudo a atividade internacional da Caixa que ajudou a amenizar os prejuízos, já que o exterior conseguiu lucrar 158,8 milhões no acumulado do ano, acima dos 117,2 milhões do semestre, e dos 84,7 milhões positivos contabilizados há um ano.
“Este montante [da atividade internacional] foi influenciado pelo proveito não recorrente na atividade de tesouraria da Sucursal de França, no valor de 43 milhões de euros, pela redução sentida nos custos operativos (-29,9 milhões de euros), bem como pelo aumento da margem financeira (+5,2 milhões de euros) e redução na constituição de novas provisões e imparidades (-75,5 milhões de euros)”, explica o banco em comunicado enviado à CMVM.
Imparidades ainda por contabilizar
Na explicação dos resultados, a CGD alerta para o facto de durante os meses de julho a setembro os valores registados em imparidades terem resultado “exclusivamente da periodificação dos valores previstos no orçamento de 2016”. Isto porque o trabalho de quantificação ainda está em curso e ainda não teve reflexos totais nas contas do grupo. Na rubrica das “provisões e imparidades” foi inscrito um valor de 412 milhões de euros que impactou negativamente nos lucros líquido. Mas este valor vai aumentar.
António Domingues e a sua equipa dizem que “têm em curso a reavaliação do valor dos ativos e de potenciais contingências da CGD e das necessidades de imparidades correspondentes, que por não estar concluída, não se encontra refletida nas contas agora divulgadas”. Este trabalho, segundo a imprensa, está a ser feito pela consultora Deloitte.
Isto significa que o impacto negativo será maioritariamente sentido nas contas do quarto trimestre. É precisamente para acomodar este impacto negativo das contas, e travar a erosão do capital, que o Estado já anunciou que vai injetar 2,7 mil milhões de euros, sendo que Mário Centeno revelou esta sexta-feira no Parlamento que esta operação só vai acontecer no próximo ano. Além disso, a Caixa vai beneficiar de uma transferência de ativos da Parcaixa e da transformação dos Cocos (capital contingente emprestado pelo Estado) em capital.
Operacional aguenta
A nível consolidado do grupo, a margem financeira estrita do banco público cresceu 6% para 854,7 milhões de euros.
O produto bancário alcançou 1.182,2 milhões de euros em setembro, o que representou uma redução de 432,8 milhões de euros face ao período homólogo de 2015, “penalizado pela redução em 370 milhões de euros nos resultados de operações financeiras”, explica a CGD.
Os custos operativos evidenciaram no mesmo período uma redução de 3,6% face ao homólogo de 2015, “beneficiando da contenção em todas as suas componentes”, lê-se no comunicado enviado à CMVM.
Quando se olha para atividade core do banco, os números mostram que o banco público continua a captar recursos, mas a apertar no crédito.
Os recursos de clientes “totalizaram no final de setembro 71.648 milhões de euros (+581 milhões de euros, +0,8% do que um ano antes).” E o crédito a clientes bruto “(incluindo créditos com acordo de recompra) era em setembro último de 69.938 milhões de euros (-2,1% face a setembro de 2015).”
O crédito em risco fixou-se em setembro em 12,2% da carteira de crédito.
(notícia atualizada às 00h05)
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