Comissões: Deco critica, Costa não pode fazer nada

A associação de consumidores considera o recente anúncio de subida das comissões bancárias por alguns bancos injustificado e penalizador dos clientes. O Banco de Portugal diz que não pode fazer nada.

Injustificados“. É esta a expressão utilizada pela Deco para classificar os aumentos das comissões bancárias recentemente comunicados aos clientes por alguns dos maiores bancos nacionais. Ao ECO, a associação de consumidores salientou que o único propósito destes aumentos é a obtenção de receitas adicionais, que os bancos “não estão a conseguir obter através daquela que deveria ser a sua principal atividade económica, a intermediação financeira”, e que tal acontece em prejuízo dos clientes.

A preocupação da Deco foi manifestada poucos dias depois de o Novo Banco ter comunicado aos seus clientes que vai aumentar o valor cobrado num conjunto de comissões bancárias, a partir de 16 de abril. Encargos que em algumas situações chegam a duplicar. O banco liderado por António Ramalho vai subir as comissões em 18 contas de depósitos à ordem, sendo por exemplo na conta Novo Banco 100% (com bonificação) esta passa de 1 euro para 2,5 euros por mês. Já quem tenha a conta Novo Banco 360º (com bonificação) passará a pagar 3,75 euros, em vez de 1,5 euros.

Mas as alterações ao preçário do Novo Banco estendem-se a muitos outros serviços, como ao crédito à habitação onde, por exemplo, a comissão de liquidação de prestação passa de 2,15 para 3,50 euros por mês, já a partir de 18 de março. Alguns dos valores cobrados nas transferências para contas de outros bancos também sofrem agravamentos: as transferências periódicas não urgentes passam de 3,75 para 5 euros no caso do plano fixo, e de 3,90 para 5,50 euros no plano variável, em ambos os casos em montante inferior a 50.000 euros.

Já em meados de janeiro, a Caixa Geral de Depósitos também tinha informado os seus clientes que também iria subir o custo de diversas comissões, em abril e maio, alterações que surgem ao abrigo do plano de reestruturação do banco público. Pedir cheques pelo telefone sem operador e Internet, através da app ou por SMS vai ficar mais caro já em abril, sendo que em maio também sobem os custos associados a depósitos à ordem, às anuidades nos cartões de crédito e de débito, bem como aos levantamentos em “cash advance”, ou transferências.

"Nos últimos anos, a banca nacional está a tornar o comissionamento na sua principal fonte de receitas, atingindo já valores acima dos 40% do total, existindo assim uma verdadeira alteração de paradigma na atividade bancária, em prejuízo dos clientes.”

Nuno Rico

Deco

Desde sempre temos vindo a denunciar estes aumentos injustificados, muito acima da inflação, cujo único propósito consiste na obtenção de receitas adicionais, por parte dos bancos, que não estão a conseguir obter através daquela que deveria ser a sua principal atividade económica, a intermediação financeira, devido às baixas taxas de juro”, explica Nuno Rico, economista da Deco. O técnico da associação de consumidores salienta ainda que “nos últimos anos, a banca nacional está a tornar o comissionamento na sua principal fonte de receitas, atingindo já valores acima dos 40% do total, existindo assim uma verdadeira alteração de paradigma na atividade bancária, em prejuízo dos clientes”.

A própria associação que representa os bancos assume a relevância do valor angariado em comissões para a rentabilidade da sua atividade. Numa audição na Comissão de Orçamento e Finanças realizada no ano passado, a Associação Portuguesa de Bancos, representada por Faria de Oliveira, defendeu que “não existe nenhuma razão económica ou jurídica para que estes serviços [bancários] não sejam adequadamente remunerados pelos que deles beneficiam, de modo a cobrir os respetivos custos, mas também para permitir uma adequada remuneração do capital que é absolutamente vital para os bancos”.

O encarecimento das comissões bancárias intensificou-se no seguimento da crise financeira, com os bancos a identificarem aí uma via para aumentarem as receitas para compensar a quebra de proveitos resultante da descida acentuada das taxas de juro, que em muitos casos se encontram negativas, pesando nas suas margens financeiras. De acordo com uma análise recente da Deco, entre 2009 e 2015, as comissões cobradas pelos bancos subiram cerca de 10% ao ano.

Números que vão ao encontro dos cálculos do próprio Banco de Portugal. De acordo com análises da entidade liderada por Carlos Costa, num período de cinco anos, desde 2011, os encargos com a manutenção das contas bancárias subiram 42,9%, enquanto a inflação aumentou 7% no mesmo período.

"A não clarificação, por parte do legislador, do conceito de produto/serviço bancário permite que se continuem a cobrar, por exemplo, comissões de manutenção por uma conta bancária, algo que consideramos não constituir um serviço bancário em si, mas sim a única forma de aceder a todo e qualquer produto ou serviço comercializado por um banco.”

Nuno Rico

Deco

Nuno Rico, lembra que o Banco de Portugal, tal como o governo e os grupos parlamentares, têm sido alertados pela Deco, através do envio de cartas com as conclusões dos estudos que realiza, para o aumento das comissões bancárias. “Para além de considerarmos que estes aumentos não têm qualquer tipo de justificação, apenas penalizando o consumidor e encarecendo a utilização daquilo que hoje em dia é um produto essencial, qualquer comissão deve ser cobrada se existir um serviço efetivamente associado, tal como já prevê a legislação nacional desde outubro de 2015”, diz Nuno Rico.

Contudo, o especialista da Deco lança uma crítica ao legislador. “A não clarificação, por parte do legislador, do conceito de produto/serviço bancário permite que se continuem a cobrar, por exemplo, comissões de manutenção por uma conta bancária, algo que consideramos não constituir um serviço bancário em si, mas sim a única forma de aceder a todo e qualquer produto ou serviço comercializado por um banco. Temos vindo, igualmente, a exigir a introdução de limites para estes aumentos que ocorrem assim de forma arbitrária”.

Bancos livres para fixar o preço

Já o Banco de Portugal diz nada poder fazer em relação à subida dos valores das comissões bancárias. “De acordo com a normas em vigor, as instituições de crédito são livres para fixar o preço dos seus produtos e serviços“, bem como para “introduzir alterações aos valores das comissões, desde que essa possibilidade esteja prevista contratualmente e cumpram os demais requisitos previstos na lei” disse a entidade liderada por Carlos Costa ao ECO, remetendo para o governo a responsabilidade de travar ou não a subida desses custos. “A restrição a esta liberdade é uma competência reservada ao legislador, a qual tem sido exercida tanto a nível nacional como comunitário, através da imposição de limites ou da proibição de cobrança de determinadas comissões”, esclareceu o Banco de Portugal em declarações disponibilizadas ao ECO.

"De acordo com a normas em vigor, as instituições de crédito são livres para fixar o preço dos seus produtos e serviços.”

Banco de Portugal

O regulador do sistema financeiro português esclarece que dentro das suas funções está, sim, “fiscalizar o cumprimento das normas legais”, sendo que quando deteta anormalidades “exige a correção dos incumprimentos e sanciona faltas graves“. Uma das obrigações dos bancos é informar os seus clientes sobre alterações nos seus preçários, com um pré-aviso mínimo de dois meses, bem como sobre o direito que estes têm de denunciar o respetivo contrato, imediatamente e de forma gratuita, caso não concordem com essa proposta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

CEO da Uber já não é conselheiro de Trump após críticas

Críticas dos utilizadores da Uber levaram o CEO daquela plataforma online de transporte de passageiros a demitir-se do conselho consultivo de Donald Trump.

O presidente executivo da Uber, Travis Kalanick, afastou-se do conselho consultivo criado por Donald Trump depois das críticas dos clientes e condutores à ligação entre a companhia e o Presidente norte-americano que decidiu proibir a entrada de imigrantes e refugiados de alguns países nos EUA.

A participação de Kalanick naquele conselho de negócios de Trump não foi bem recebida e depressa a bola de neve ganhou expressão nas redes sociais com uma campanha #DeleteUber, que beneficiou a rival Lift. De acordo com o New York Times (acesso gratuito/conteúdo em inglês), mais de 200 mil contas foram apagadas numa semana, o que é mais do que o habitual — embora o número de novos utilizadores tenha sido maior.

Num e-mail aos seus trabalhadores, o presidente da Uber revelou que manteve uma conversa com Donald Trump onde teve a oportunidade de manifestar a sua preocupação com ordem executiva em relação à proibição de imigrantes oriundos de sete países com uma população maioritariamente muçulmana. E a sua resignação do cargo de conselheiro.

“A imigração e a abertura aos refugiados são uma parte importante do sucesso do nosso país e também para a Uber”, adiantou Kalanick num e-mail citado pela Bloomberg. “Há muitas maneiras de continuar a defender mudanças na imigração, mas ficar no conselho era um obstáculo a isso. A ordem executiva está a afetar muitas comunidades em toda a América”, disse.

"A imigração e a abertura aos refugiados são uma parte importante do sucesso do nosso país e também para a Uber. Há muitas maneiras de continuar a defender mudanças na imigração, mas ficar no conselho era um obstáculo a isso. A ordem executiva está a afetar muitas comunidades em toda a América.”

Travis Kalanick

CEO da Uber

Entre os membros do Strategic and Policy Forum, um conselho consultivo para matérias económicas de Trump, estão ainda os CEO da BlackRock, Blackstone, General Motors, IBM, Tesla e Walt Disney.

Elon Musk, da Tesla, já referiu que vai marcar presença na próxima reunião deste conselho económico, que está agendado para a próxima sexta-feira. “Conselhos consultivos apenas dão conselhos e participar neles não significa que estamos de acordo com as ações da Administração”, escreveu Musk no Twitter esta quinta-feira. “Compreendo a perspetiva daqueles que se opõem à minha presença no encontro, mas acredito que neste momento envolver-me nestes assuntos críticos vai no final ser positivo”, acrescentou.

Face à onda de críticas, a Uber disponibilizou três mil milhões de dólares (2,8 milhões de euros) para ajudar os seus condutores, muitos dos quais imigrantes, com eventuais custos judiciais, oferecendo serviços de tradução e acesso telefónico 24 horas por dia para assistência legal.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Empresas norte-americanas juntam-se para defender taxa de Trump sobre importações

Um grupo de grandes exportadoras norte-americanas acredita que a taxa sobre as importações vai proteger os empregos e os produtos made in USA.

Um grupo de 25 grandes empresas norte-americanas juntou-se para defender o plano de Donald Trump de taxar todas as importações. A proposta da Casa Branca, acredita esta coligação de empresas — na sua maioria, grandes exportadoras –, vai impulsionar o emprego nos Estados Unidos e proteger os produtos “made in USA”.

General Electric, Boeing, Dow Chemical, Eli Lilly, Pfizer e Oracle são algumas das que se juntaram a este grupo, conta a Reuters. A iniciativa surge numa altura em que são cada vez mais as empresas que se opõem às primeiras medidas implementadas pelo presidente norte-americano. Empresas como a Target ou a Best Buy, por exemplo, que dependem sobretudo das importações, garantem que medidas como a taxa de 20% que Trump quer impor sobre as importações ao México vão pesar nas contas.

Mas, para as grandes exportadoras ou empresas que dependem apenas da procura interna dos Estados Unidos, a medida é benéfica, asseguram. “Os trabalhadores e os negócios norte-americanos não estão a competir, atualmente, no mesmo nível que os concorrentes estrangeiros, por causa de um sistema fiscal obsoleto e injusto”, justifica John Gentzel, porta-voz da coligação de 25 empresas, citado pela Reuters.

Esta posição está, contudo, longe de ser consensual dentro do tecido empresarial norte-americano. Ainda esta semana, a Associação de Líderes da Indústria do Retalho, que reúne mais de 120 associações e empresas do setor do comércio, criou a sua própria coligação para combater a medida de “ajustamento transfronteiriço”.

“O ajustamento fiscal transfronteiriço é prejudicial, não foi testado e coloca em risco os empregos no retalho, além de forçar os consumidores a pagar até 20% mais por produtos essenciais”, refere Sandy Kennedy, presidente da associação.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Revista de imprensa internacional

  • Marta Santos Silva
  • 3 Fevereiro 2017

Schulz já ultrapassa Merkel nas sondagens, Trump ameaça o Irão com mais sanções, a direita francesa pensa em alternativas a Fillon, e outras três notícias que marcam a atualidade mundial.

Enquanto nas eleições francesas reina a confusão — com François Fillon possivelmente de saída e a direita a ver-se a braços com a escolha de um plano B –, nas eleições alemãs a reviravolta é outra, com Schulz a sobrepor-se a Merkel nas sondagens mais recentes. A administração americana prevê novas sanções ao Irão, as ruas enchem-se de manifestantes contra a corrupção na Roménia e, no Brasil, a escolha de um ministro acaba a protegê-lo da Operação Lava Jato. Leia aqui as seis notícias que marcam a atualidade mundial esta sexta-feira.

Bloomberg

EUA preparam novas sanções para o Irão

Os Estados Unidos estão a avaliar novas sanções para aplicar ao Irão, por ter testado mísseis balísticos e por apoiar organizações terroristas, segundo fontes que falaram à Bloomberg. Dezassete entidades poderão ser afetadas por estas sanções ligadas ao desenvolvimento de mísseis no Irão, e outras sete ou oito poderão ser castigadas por atividades associadas ao terrorismo. São sanções que poderão agravar as tensões entre os EUA de Donald Trump e a nação do Médio Oriente cujos cidadãos foram abrangidos pela proibição de entrada nos Estados Unidos. Leia a notícia completa na Bloomberg. (Conteúdo em inglês / Acesso gratuito)

Le Figaro

Direita francesa começa a acelerar escola de Plano B a Fillon

O caso em que está implicado François Fillon, que dos pagamentos questionáveis à sua mulher já se alarga também aos seus filhos, não dá mostras de abrandar. Enquanto Fillon acusa os seus opositores de fazerem uma campanha contra si, a direita começa a mexer-se: se o candidato cair, vão ter de escolher uma alternativa, que poderá ser o segundo classificado nas primárias, Alain Juppé, ou pode mesmo voltar a ser Nicolas Sarkozy. “O primeiro passo, e o mais complicado, é persuadir Fillon a demitir-se”, confessa um deputado conservador. Leia a notícia completa no Le Figaro. (Conteúdo em francês / Acesso pago)

The Guardian

Protestos intensificam-se na Roménia mas PM não retira perdão de corrupção

Um decreto que descriminaliza a corrupção na Roménia se envolver fundos inferiores a 200 mil lei (cerca de 52 mil euros) poderá ajudar aliados do Governo e outros políticos a saírem impunes após acusações de má conduta. Apesar dos protestos que enchem as ruas de Bucareste, primeiro-ministro romeno, Sorin Grindeanu, não vai retirar o decreto, introduzido pelo seu partido de centro-esquerda, cujo líder já foi condenado por corrupção. Leia a notícia completa no The Guardian. (Conteúdo em inglês / Acesso gratuito)

El Economista

Governo espanhol prolonga apoios a renováveis até 2020

O Executivo de Mariano Rajoy não vai diminuir os apoios às energias renováveis pelo menos nos próximos cinco anos, segundo um documento preparado pelo Ministério da Energia que aliviou um dos grandes medos do setor: que o Ministério mudasse os parâmetros contributivos das energias limpas e mudasse, assim, os seus apoios. Leia a notícia completa no El Economista. (Conteúdo em espanhol / Acesso gratuito)

Deutsche Welle

Schulz já ultrapassou Merkel em sondagem para favorito a chanceler

Uma nova sondagem demonstra que Martin Schulz, candidato do partido de centro-esquerda SPD a chanceler alemão, já é mais popular do que Angela Merkel para o lugar, segundo uma sondagem divulgada esta quinta-feira. Se as eleições acontecessem agora, Schulz receberia 50% dos votos, enquanto Merkel, da CDU, se ficaria pelos 34%. O SPD avançou substancialmente nas sondagens desde que escolheu o ex-presidente do Parlamento Europeu como o seu candidato. Leia a notícia completa na Deutsche Welle. (Conteúdo em inglês / Acesso gratuito)

Estadão

Novo ministro ganha foro privilegiado e fica protegido das acusações da Lava Jato

O presidente brasileiro Michel Temer criou dois novos ministérios e aproveitou para nomear para um deles o secretário executivo Moreira Franco, que, com estatuto de ministro, fica agora mais protegido das acusações de corrupção de que é visado no âmbito da Operação Lava Jato. Leia a notícia completa no Estadão. (Conteúdo em português / Acesso gratuito)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Grupo de trabalho discute fundo que compensará lesados do BES

  • Lusa
  • 3 Fevereiro 2017

A reunião servirá para definir como será constituído o fundo que será responsável por compensar parcialmente os lesados do BES.

O grupo de trabalho dos lesados do papel comercial vendido pelo Banco Espírito Santo (BES) reúne-se esta sexta-feira para discutir o formato do fundo privado que financiará as indemnizações pagas aos clientes.

O encontro, que decorre de manhã na sede da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), em Lisboa, junta representantes da Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial, do Banco de Portugal, da CMVM, do banco mau BES e ainda do Governo.

Segundo fontes contactadas pela Lusa, a reunião servirá para definir como será constituído o fundo que será o responsável por compensar parcialmente os clientes lesados pelas perdas sofridas por terem investido em papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES).

Na reunião anterior, em janeiro, já foi acordado que esse fundo será uma entidade privada — e não pública — para tentar evitar que tenha impacto no défice orçamental. Contudo, falta definir como esse fundo será constituído, com as autoridades europeias a insistirem que seja criado a partir de legislação já existente, pondo em causa a ideia inicial do grupo de trabalho de criar uma nova legislação propositadamente.

O problema reside nas custas judiciais, uma vez que a solução encontrada refere que o fundo de indemnização que compensará os lesados e que depois irá litigar em tribunal em nome desses clientes não pagará custas de tribunal. Mas isso não é possível pela legislação existente, pelo que o grupo de trabalho tentará encontrar hoje uma solução.

Desde o início de 2017 que o grupo de trabalho dos lesados do papel comercial se reúne regularmente para operacionalizar a solução encontrada no final do ano passado para compensar os mais de 4.000 clientes que investiram, aos balcões do Banco Espírito Santo (BES), 434 milhões de euros em papel comercial das empresas Espírito Santo Financial e Rio Forte, do Grupo Espírito Santo, poucos meses antes do colapso deste.

Os clientes que aceitem o mecanismo proposto irão recuperar 75% do valor investido, num máximo de 250 mil euros, isto se tiverem aplicações até 500 mil euros. Já acima desse valor, irão recuperar 50% do valor investido.

Ou seja, os clientes assumem perdas, mas recebem desde já dinheiro por que teriam de esperar anos, provavelmente, para recuperar em processos em tribunal e de forma incerta.

A intenção é que a primeira parcela (cerca de 30% do total) seja paga já este ano, no momento de assinatura do contrato de adesão por cada lesado, sendo o restante valor ser reembolsado até 2019. O valor será pago aos clientes lesados pelo fundo de indemnizações.

Contudo, este fundo não tem capital para pagar os montantes em causa, pelo que a solução deverá passar por pedir um empréstimo junto da banca, com garantia do Estado e contragarantia do Fundo de Resolução bancário, o que poderá ter impacto nas contas públicas.

O valor necessário dependerá da adesão dos clientes lesados, estimando-se que se todos aderirem serão necessários 286 milhões de euros.

Quantos aos clientes que aderirem a este mecanismo, estes têm que cumprir uma série de obrigações. Em primeiro lugar, têm que ceder os direitos judiciais dos processos já colocados em tribunal, contra entidades e administradores ligados ao GES, ao fundo, que assumirá a litigância desses processos na Justiça e que receberá as eventuais compensações decididas pelos tribunais.

O objetivo é que esse fundo consiga recuperar em tribunal nos próximos anos pelo menos o valor pago aos clientes lesados.

Os clientes terão ainda de comprometer-se a renunciar a reclamações e processos judiciais contra uma série de entidades, que, para já, são o Banco de Portugal, a CMVM, o Fundo de Resolução bancário, o Estado, o Novo Banco e o seu futuro comprador.

Mas a lista ainda pode ser revista, até ficar definitiva no contrato de adesão que será proposto até final de março aos clientes lesados.

A solução para os lesados do papel comercial não deverá ser aceite por todos os clientes, nomeadamente os que têm valores mais altos, acima dos 500 mil euros, que consideram que ficam prejudicados.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Mota-Engil dispara 3% com obra milionária na Tanzânia

Construtora avança depois de ter vencido um concurso para uma obra na Tanzânia. Ajuda a bolsa nacional a brilhar no arranque da sessão, antes de a Fitch se pronunciar sobre Portugal.

A sessão em Lisboa arrancou com as ações da Mota-Engil em aceleração, depois da notícia de que a construtora nacional ganhou um contrato na Tanzânia no valor de 1,02 mil milhões de euros. A manhã animada em Lisboa não tem reflexo na Europa.

O PSI-20, o principal índice português, valoriza 1,98% para 4.586,74 pontos na última sessão da semana. Além da Mota-Engil, cujas ações ganham 3,13% para 1,616 euros, beneficiando da conquista de um concurso na Tanzânia para construção de uma linha de caminho-de-ferro, mais uma dezena de cotadas seguia em terreno positivo. Com destaque para os títulos dos pesos pesados nacionais Galp (+0,81%) e Jerónimo Martins (0,7%).

A obra na Tanzânia é “potencialmente positiva”, diz Nuno Estácio, analista Haitong. “Na nossa conferência ibérica, a mensagem oficial da Mota-Engil foi de que eles tinham alguns potenciais projetos em vista em África, especialmente nos caminhos-de-ferro, mas que ainda estavam dependentes de financiamento. Se as condições financeiras forem garantidas, esperamos que este contrato seja relevante para a carteira da Mota-Engil em África, que representa cerca de 30% do total”, frisou ainda.

Mota acelera com obra milionária em África

Vivendo uma das histórias mais positivas no PSI-20 este ano, as ações da Pharol voltam esta sexta-feira aos ganhos. Avançam 1% para os 0,29 euros, acumulando uma valorização de 41% desde o início de 2017, o melhor desempenho em Lisboa.

No setor financeiro, no dia em que anuncia a afetação dos direitos do aumento de capital, o BCP cede 1% para 0,16 euros. O banco está perto de concluir um reforço de capital de mais de 1.300 milhões de euros com a emissão de mais de 14 mil milhões de ações.

Entretanto, no mercado de dívida secundário, os juros da dívida portuguesa sobem ao início da manhã, antes de a agência de notação financeira Fitch pronunciar-se sobre Portugal. A yield implícita nas obrigações a dez anos, a referência no mercado, sobe dois pontos base mantendo-se acima dos 4%.

“Hoje ao fim do dia, a agência de notação financeira Fitch deverá pronunciar-se sobre o rating da dívida pública portuguesa”, destacam os analistas do BPI no seu comentário de bolsa. “No passado mês de agosto, a Fitch manteve o rating da dívida pública
portuguesa em BB+, o nível mais elevado ainda considerado investimento de alto risco e manteve a perspetiva associada ao rating em estável (nível para onde caiu em Março)”, lembram.

Nas praças europeias, o entusiasmo vivido em Lisboa não tem a mesma intensidade. Os ganhos não vão além de 0,6%, caso da bolsa de Paris. As atenções estarão hoje centradas na publicação do relatório do emprego nos EUA e no índice
PMI relativo à Zona Euro, num dia em que o número de empresas a reportar resultados será muito menor do que nos dias anteriores, salienta o BPI.

O Popular apresentou os piores resultados da sua história. E as ações afundam 7%.

(Notícia atualizada às 8h31)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Popular regista pior resultado da sua história

Banco espanhol registou prejuízos recorde de 3.485 milhões de euros em 2016. Reforço de provisões em mais de 5,5 mil milhões explica piores resultados da história do Popular.

O Popular registou prejuízos de 3.485 milhões de euros em 2016, o pior resultado de sempre na história daquele banco espanhol, superando mesmo as estimativas dos analistas e a projeção inicialmente incluída no plano de negócios da instituição.

A explicar as perdas do Popular está o esforço extraordinário na constituição de provisões para limpar o balanço do banco, provisões estas que atingiram os 5.692 milhões de euros. Entre outras provisões, o banco destinou 4.200 milhões para cobrir imparidades com crédito e imóveis, 370 milhões devido ao plano de ajustamento de postos de trabalho, 240 milhões de euros para sanear o Targobank (banco conjunto que criou em Espanha com o Crédit Mutuel) e 229 milhões por causa das cláusulas suelo.

O Popular anunciou recentemente que a sua operação em Portugal vai passar a tornar-se numa sucursal do banco espanhol, uma medida que implica a integração da atividade do Popular Portugal no grupo. Esta decisão foi anunciada depois de o Popular Portugal ter anunciado em novembro do ano passado que iriam sair da instituição 295 trabalhadores e seriam encerrados 47 balcões no âmbito do processo de reestruturação.

O banco indica que os depósitos de clientes caíram 6,2%, situando-se nos 82,8 mil milhões de euros. E as comissões líquidas também baixaram, mais de 9%, para os 539 milhões de euros. O rácio de capital situou-se nos 12,12%, cumprindo “folgadamente” os requisitos das autoridades.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Municípios: Novas responsabilidades devem vir com autonomia para contratar

  • ECO
  • 3 Fevereiro 2017

Os autarcas nacionais estão preocupados com alguns aspetos da proposta de descentralização do Governo, incluindo as transferências de fundos do Estado central para os municípios, que não ficam claras.

A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) vai exigir que maiores responsabilidades a transferir para as autarquias venham necessariamente acompanhadas de autonomia para realizar contratações próprias, escreve esta sexta-feira o Diário de Notícias. De acordo com o documento de exigências que deverá hoje ser aprovado no Conselho Geral da ANMP, a que o DN teve acesso, a proposta de descentralização do Governo é vista pelos autarcas como necessitada de alterações e esclarecimentos.

A área das contratações nos municípios é central às preocupações dos autarcas da ANMP, que pertencem ao PS, PSD e PCP. “Torna-se essencial que os municípios recuperem a sua autonomia neste domínio”, lê-se no documento, sublinhando que seria insuficiente transferir apenas trabalhadores da administração central. Atualmente, as Câmaras Municipais estão limitadas nesta vertente por estarem interditadas de aumentar as despesas com pessoal.

A transferência de responsabilidades e competências para os municípios está delineada em traços largos na proposta do Governo, onde não se especifica, porém, como vão ficar os fluxos de recursos. Os autarcas da ANMP manifestaram preocupação com a falta de especificidade nesse campo, já que não querem ficar dependentes de transferências de fundos caso a caso no Orçamento do Estado de cada ano, pretendendo antes “regras mais consolidadas”.

Entre os poderes que o Executivo pretende transferir para as autarquias contam-se a autoridade da segurança alimentar, a defesa do consumidor, a proteção civil, a fiscalização do estacionamento, e também competências relacionadas com a saúde, a educação, os transportes e a habitação.

O Governo propõe ainda que as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) passem a ter um presidente eleito pelos autarcas e deputados municipais de cada região, para que as CCDR passem a gerir os fundos europeus estruturais e de investimento, o Acordo de Parceria Portugal 2020. No documento consultado pelo DN, a ANMP apresenta reservas em relação a este modelo, já que o presidente das CCDR pode ser eleito pelos municípios mas responde ao Governo.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Lone Star negoceia com Banco de Portugal para melhorar proposta pelo Novo Banco

  • ECO
  • 3 Fevereiro 2017

O maior entrave às negociações é a garantia estatal exigida pelo Lone Star. Nem o fundo norte-americano nem o Governo português estão dispostos a ceder.

Os responsáveis do Lone Star, fundo de investimento norte-americano escolhido pelo Banco de Portugal como o principal candidato à compra do Novo Banco, estão em Portugal para negociar com as autoridades portuguesas uma melhoria da sua proposta de compra. A notícia é avançada pelo Público (acesso condicionado), na edição desta sexta-feira.

Segundo o jornal, Olivier Brahin, o responsável pelas operações europeias do Lone Star, Kamdiv Nourbakhsh e Benjamin Dickgiesses (destacados pelo Lone Star para acompanharem o dossiê Novo Banco) estiveram reunidos com a equipa de Sérgio Monteiro, que está responsável por vender o Novo Banco.

O objetivo destes encontros é melhorar a proposta, mas esta continua a ter um grande condicionamento: a garantia pública sobre cerca de 2.500 milhões de euros de ativos do banco português, para que o fundo norte-americano se proteja de eventuais desvalorizações destes ativos.

Esta é uma condição em que nenhuma das partes — nem Lone Star, nem Governo português — está disposta a ceder. O Governo não cede porque uma garantia estatal terá um impacto direto sobre as contas públicas. E o Lone Star porque a não existência de uma garantia pública pode afetar os seus rácios, caso o Banco Central Europeu venha a exigir injeções adicionais de capital no Novo Banco.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

UHA, o último passo antes da autonomia

  • ECO + SCML
  • 3 Fevereiro 2017

Unidades Habitacionais Assistidas (UHA) funcionam como complemento ao tratamento ambulatório.

30055333076_28a28c69b0_o

As UHA do Centro de Reabilitação de Alcoitão, propriedade da Santa Casa, foram idealmente pensadas para pessoas com incapacidade motora, que estão na “última meta” para alcançar a autonomia.

Inauguradas em abril de 2016, as Unidades Habitacionais Assistidas do Centro de Reabilitação de Alcoitão (CMRA), também denominadas por Residências Santa Casa, estão direcionadas para pessoas com incapacidade motora provocada por doenças ou acidentes vertebromedulares. Este projeto, levado a cabo pela atual Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), é pioneiro no país.

Atualmente, existem duas residências piloto, cada uma com três quartos individuais, casa de banho privativa, e uma sala de estar polivalente, com kitchenette. Têm, ainda, equipamentos de apoio e tecnológicos, adaptados para doentes com incapacidade motora, apoiados por uma equipa multidisciplinar e pelos serviços do Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão.

29795038800_98d9bb6440_o

A construção destas unidades está a ser efetuada de forma faseada, estando previstas para este ano mais quatro residências com tipologia T1. O investimento da Misericórdia de Lisboa nestas residências visa colmatar uma carência social nesta área.

Nestes espaços, promove-se a autonomia destas pessoas, contribuindo significativamente para melhorarem sua qualidade de vida.

Estas Unidades Habitacionais Assistidas funcionam como residências de transição, tendo sido idealmente pensadas para o doente que está na “última meta” para alcançar a autonomia. Funcionam, também, como complemento ao tratamento ambulatório, já que a maioria destes doentes tem dificuldade em realizar atividades simples da vida diária como comer, fazer refeições, tomar banho, etc..

dsc_5681

Estas residências foram também pensadas para os doentes que, acabado o internamento, não têm condições para voltar para casa, dando às famílias a oportunidade de se organizarem e de diminuírem as barreiras arquitetónicas que possam existir.

Apesar de o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão oferecer aos seus pacientes um “Programa de Atividades de Vida Diária e Doméstica”, que lhes ensinar a realizar estas e outras tarefas importantes no dia-a-dia, na maioria das vezes essas competências não são totalmente consolidadas durante o internamento. Com estas casas de transição, os doentes têm mais tempo para assimilarem todas as “técnicas”, sentindo-se, assim, mais seguros e capazes de realizarem sozinhos as tarefas do seu dia-a-dia.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Porque é que os mercados não veem o mesmo que António Costa?

  • Margarida Peixoto
  • 3 Fevereiro 2017

O que diz o boletim meteorológico da economia portuguesa? O Governo antecipa dias de sol. Mas os mercados avisam que a chuva vai demorar a passar.

costa-jardineiro

O primeiro-ministro António Costa vê Portugal cheio de sol: a economia acelera, o défice encolhe e o desemprego baixa. Mas os investidores em dívida pública continuam a ver um país invernoso: dizem-nos que as chuvas estão aí para ficar e desde o final do verão de 2015 que nos pedem juros cada vez mais altos. Alguém está a ver o boletim meteorológico errado.

O PIB deve fechar 2016 acima de 1,2%, aquela que era a última previsão do Governo. O défice deve ficar abaixo de 2,3%, ou seja, há fortes possibilidades de se cumprir a meta de fevereiro, de 2,2%, superando de forma clara os 2,5% impostos pela Comissão Europeia. E o mercado de trabalho continua a melhorar, com a taxa de desemprego a cair e os níveis de emprego a subir. Muitos economistas têm vindo a avisar que esta tendência pode não ser sustentável mas, por enquanto, ainda não se inverteu.

Apesar disto, os juros da dívida pública continuam acima de 4%. Aliás, desde o início do ano que estão acima de 3,7%. Num país em que a dívida bruta supera os 130% do PIB, este é um claro convite à cautela. Tal como foram as declarações de Klaus Regling, presidente do Mecanismo de Estabilidade Europeu, que avisou que “os mercados estão nervosos com Portugal”. Ou de Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo, que frisou “a necessidade de Portugal avançar com a sua agenda de reformas e avançar com novas medidas para fortalecer os bancos”.

Esta sexta-feira, a Fitch prepara-se para avaliar a economia portuguesa depois de, na semana passada, ter reconhecido progressos, mas frisado insuficiências. Afinal, em que ficamos? É melhor levar a gabardina, ou os óculos de sol?

Um lugar ao sol

Nas últimas semanas, o Governo tem dispensado o guarda-chuva. “Portugal está a acelerar o seu ritmo de crescimento e no terceiro trimestre do ano passado teve o ritmo mais alto de toda a União Europeia”, disse o primeiro-ministro, esta terça-feira, na cerimónia de inauguração da nova sede do Santander, em Lisboa. E garantiu que o sol não tinha sido de pouca dura: os dados disponíveis permitem antever que o quarto trimestre de 2016 “não só tenha consolidado, mas até acelerado um pouco o que eram os dados do terceiro trimestre”, antecipou.

O terceiro trimestre de 2016 registou, de facto, um andamento surpreendente do PIB: a economia portuguesa cresceu 0,8%, o valor mais elevado da zona euro. Só com este número, a meta de 1,2% para o crescimento anual — fixada em outubro pelo Governo — estava praticamente garantida. Mas ao que o ECO apurou, a equipa do Ministério das Finanças já está a trabalhar com um valor entre os 1,3% e 1,4% para o crescimento do PIB do ano passado.

PIB surpreende no terceiro trimestre

Fonte: INE (Valores em percentagem)
Fonte: INE (Valores em percentagem)

Mas não é só a atividade económica que traz bons augúrios. Segundo António Costa, “as empresas estão a investir” e “os dados do emprego são claríssimos”, indicando uma melhoria. O Instituto Nacional de Estatística dá conta de uma taxa de desemprego de 10,5% em novembro e antecipa uma nova redução para dezembro: a estimativa é fechar o ano com 10,2%. Olhando para os valores do arranque de 2016, verifica-se uma redução consistente — em janeiro, a taxa era de 12,4%.

Mais: a redução do défice está a acontecer. O primeiro-ministro tem repetido que 2016 ficará marcado como o ano em que Portugal obteve o défice mais baixo da democracia portuguesa. E tanto António Costa como o ministro das Finanças, Mário Centeno, já prometeram que a Comissão Europeia retirará o país do procedimento por défices excessivos este ano.

Fonte: INE
Fonte: INE

Costa disse na Assembleia da República que o défice “não será superior a 2,3%”. Ao que o ECO apurou, a equipa das Finanças aponta para um défice de 2,2% — tal como, aliás, o ministro Mário Centeno já tinha deixado antever numa entrevista à Reuters, no início de janeiro.

O Governo mantém ainda um debate com a Comissão Europeia sobre o valor das medidas extraordinárias usadas em 2016. A diferença entre os números de Bruxelas e os do Governo é grande, mas mesmo que os peritos da Comissão não atendam a nenhum dos argumentos do Executivo nacional, os dados mais recentes apontavam para um valor abaixo dos 2,7%, aquela que tinha sido a última previsão de Bruxelas, apurou o ECO. A estimativa oficial da Comissão será revelada em meados do mês, com o Winter Economic Forecast.

Cuidado com as trombas de água

“Não vejo inconsistência nos dados”, defende João Loureiro, economista e professor na Universidade do Minho, em declarações ao ECO. “Nos últimos 15 anos, os valores de crescimento do PIB não passaram da casa de 1%”, nota, ressalvando uma ou outra exceção. Ou seja: é verdade que crescer acima de 1,2%, a meta mais recente, é um bom dado. Mas se o valor for colocado em perspetiva perde força: a meta inicial era crescer 1,8% e desde 2007 que a economia não cresce acima de 2%.

O mesmo acontece com os números do défice: são positivos, será histórica se se confirmar a saída do PDE. Mas o número inspira ainda pouca confiança, argumenta o economista. “Faltam as medidas estruturais”, diz o professor, lembrando que há variáveis cujos valores são insustentáveis no médio e longo prazo, como é o caso dos níveis de investimento público.

Investimento público em mínimos

Investimento em % do PIB. Fonte: INE
Investimento em % do PIB. Fonte: INE

Ou seja, o défice encolheu, tal como tinha sido prometido pelo Executivo. Mas a composição do esforço realizado é diferente do que tinha sido planeado. Para não furar as metas Centeno foi encontrando soluções, tais como a transformação de cativações em cortes permanentes de despesa, o travão no investimento ou o Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado (PERES).

Quando este programa foi lançado, o Executivo recusou que tivesse como objetivo melhorar o número do défice. Mas a verdade é que representa quase três décimas do PIB e que sem esta ajuda a meta de 2,4% provavelmente não seria cumprida.

Medidas difíceis de manter ou de repetir

2017fev2_pib-e-cenas2-02
Fonte: DGO e CFP

Também no caso do mercado de trabalho, embora as melhorias sejam evidentes, João Loureiro sublinha que o emprego está a ser criado “em atividades com pouco valor acrescentado, o que se nota pela correlação limitada do aumento do emprego com a subida do PIB”.

Em que ficamos?

Governo e investidores estão a olhar para o mesmo país — mas estão a avaliar a economia em tempos diferentes. Enquanto o Executivo está a ver as pequenas melhorias dos dados nos últimos 12 meses, os investidores estão a olhar para o que o passado recente diz sobre o futuro de Portugal.

Estão a ver, por exemplo, que a República acumula uma dívida de 241,1 mil milhões de euros — o equivalente a mais de 130% do PIB. E que, mesmo líquida de depósitos, se aproxima dos 121% do PIB.

Dívida pública acima dos 240 mil milhões

2017fev01_divida-01
Valores em milhares de milhões de euros. Fonte: Banco de Portugal

Ao mesmo tempo, estão a antecipar uma retirada progressiva dos estímulos do Banco Central Europeu — os mesmos que a partir de 2012 permitiram que os juros das Obrigações do Tesouro portuguesas descessem, mesmo quando a economia ainda se afundava na recessão.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

5 coisas que tem de saber antes de abrirem os mercados

  • Juliana Nogueira Santos
  • 3 Fevereiro 2017

A dívida portuguesa passa pelo pente fino da Fitch e o desemprego norte-americano volta a ser notícia. O que vai trazer mais este último dia da semana?

Sexta-feira é dia de possível revisão de ratings e desta vez é o português que vai estar sob a luz dos holofotes. Tal como o BCP que vai anunciar os resultados da negociação dos direitos de aumento de capital. No continente europeu as atenções viram-se para o setor dos serviços, no dia em que é divulgado o índice PMI do passado mês. Lá fora, as produtoras de automóveis japonesas vão apresentar resultados e nos Estados Unidos sabe-se a taxa de desemprego do primeiro mês da Administração Trump.

Dívida portuguesa debaixo de olho

A agência Fitch poderá atualizar, esta sexta-feira, o rating da dívida portuguesa, sendo a primeira revisão deste novo ano. Na última avaliação, a agência atribuiu a nota de BB+, com perspetiva estável. A Fitch vai também publicar os relatórios de revisão de rating relativos à dívida austríaca, bielorrussa e tunisina.

Depois da negociação, os resultados

Chegou o dia de saber o resultado da negociação de direitos do aumento de capital do Banco Comercial Português. O banco vai anunciar hoje a afetação de direitos, bem como proceder ao seu pagamento. Relembre-se que os títulos estiveram a ser negociados durante sete dias, em bolsa até 31 de janeiro e fora dela até ao dia de ontem.

Como estão os serviços na Europa?

A consultora Markit responde hoje. O índice PMI dos serviços, que serve de barómetro aos negócios e às condições económicas, na zona euro vai ser hoje divulgado. Depois de se ter posicionado no valor de 53,6 pontos no mês de dezembro, os analistas esperam que o índice se mantenha acima da fasquia dos 50 pontos, um sinal de expansão da economia.

E o desemprego norte americano?

Nesta sexta-feira serão conhecidos os primeiros resultados deste ano relativamente ao desemprego norte-americano. Obama deixou a Casa Branca com a taxa de desemprego nos 4,7%, um valor mais baixo do que aquele que encontrou quando chegou em 2008 — 5%. Mesmo com as medidas de incentivo ao emprego levadas a cabo pelo novo Presidente nos seus primeiros dias, é esperado que o desemprego aumente em cerca de 160.000 pessoas, num reflexo do comportamento sazonal deste indicador. Outros indicadores como a média de horas semanais e o rendimento médio por hora vão ser também divulgados.

Prego a fundo nos resultados

Hoje é dia de duas gigantes automóveis japonesas apresentarem as suas contas relativas a 2016, a Mitsubishi e a Honda. No setor automóvel japonês, o presidente da Toyota Akio Toyoda e o primeiro-ministro japonês Shinzō Abe vão reunir-se para discutirem os pedidos da indústria. Isto porque Abe vai a Washington na próxima semana para rever o acordo bilateral entre os dois países com o Presidente Trump.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.