Ativos tóxicos da banca mais do que duplicam num ano
Os ativos tóxicos levaram os bancos portugueses a pagar uma fatura de 6 mil milhões no ano passado, ou seja, 16 milhões por dia. Um montante que pesou nos resultados, mas não nos rácios de capital.
Muitos têm sido os alertas feitos pelas autoridades europeias para que os bancos reduzam o “peso” do malparado nos balanços. E não é por acaso. Apenas num ano, os ativos tóxicos mais do que duplicaram entre as maiores instituições financeiras portuguesas. BCP, BPI, Santander Totta, Caixa Geral de Depósitos (CGD) e Novo Banco pagaram uma fatura de 16 milhões de euros por dia em empréstimos em incumprimento. Um montante que se refletiu nos resultados. Mas não nos rácios de capital, já que alguns bancos aumentaram o capital para absorver esse impacto.
Seis mil milhões. É este montante que os bancos tiveram de registar em imparidades no ano passado. Ou seja, mais do dobro em relação ao ano anterior. Este é um problema que assola o setor há alguns anos, especialmente desde a crise financeira. São perdas resultantes, essencialmente, de empréstimos que ficaram por pagar, que o setor tem procurado limpar do balanço, mas pagando uma fatura avultada.
Imparidades superam os seis mil milhões
Este montante pesou inevitavelmente nos resultados do setor. Se o Santander Totta e o BPI conseguiram resistir, o BCP viu os lucros recuarem. Já o Novo Banco continuou no vermelho e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) rebentou a escala…dos prejuízos. Foram as imparidades de mais de três mil milhões de euros que atiraram o banco estatal para o pior resultado de sempre. Já sem o peso destes ativos tóxicos, os resultados não foram assim tão negativos.
Vamos olhar para alguns exemplos. No caso do Novo Banco, apesar do resultado negativo em termos líquidos, em termos operacionais houve uma clara melhoria. O resultado operacional cresceu 209%, animado pela melhoria do produto bancário e pela redução dos custos operativos. E a CGD? O mesmo. O prejuízo recorde do banco liderado por Paulo Macedo reflete as elevadas imparidades reconhecidas pelo banco no ano passado, algo que já estava previsto no âmbito do programa de recapitalização. Mas sem este efeito, os resultados até subiram. No BCP, o lucro pode ter diminuído, mas o resultado operacional aumentou quase 130 milhões.
E os rácios? Mais fortes, mas só com aumentos de capital
Se há um indicador que tem vindo a dar sinais de melhoria são os rácios de capital dos bancos nacionais. No último retrato feito ao sistema bancário europeu, os bancos portugueses apresentaram maiores fragilidades do que a média dos pares europeus: enquanto a média nacional apontava para um rácio Common Equity Tier 1 (CET 1) de 11,18%, na Europa essa média era mais robusta, de 13,64%.
Mas o que é que isto significa na prática? São estes os rácios que as autoridades analisam para aferir a robustez de uma instituição num cenário de adversidade económica. Quanto mais baixo estiver o rácio, mais desprotegido está o banco.
Olhando para os bancos nacionais, há agora uma situação completamente diferente… para melhor. O Santander Totta destaca-se ao apresentar um rácio CET1 (faseado) de 15,7% e um rácio CET1 (totalmente implementado) de 14,9%, o mais elevado do sistema.
No BCP e na CGD também há melhorias…mas apenas graças aos aumentos de capital que foram feitos no âmbito dos planos de reestruturação. No banco liderado por Nuno Amado houve um aumento de capital de 1.330 milhões de euros para reforçar os rácios. E o resultado está vista. O banco apresenta um rácio CET1 (faseado) de 12,4% e um rácio CET1 (totalmente implementado) de 9,6%. O mesmo acontece na CGD, mas aqui o apoio do Estado é essencial para a manutenção de níveis acima dos 13%. Uma ajuda de quatro mil milhões de euros.
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