Disciplina ou renovação. Para onde caminha a Alemanha?
De um lado a disciplina de Angela Merkel, do outro o desejo de renovação de Schulz. Qual será o caminho que a economia alemã vai seguir nos próximos quatro anos?
Diz o ditado que o bom filho à casa volta e talvez tenha sido o que aconteceu com Martin Schulz. Depois de 20 anos dedicados à política europeia, entre Estrasburgo e Bruxelas, Martin Schulz sucedeu a Sigmar Gabriel na liderança do SPD após Gabriel lhe ter cedido o seu lugar. “A minha campanha iria falhar e Schulz tem claramente melhores perspetivas eleitorais”, afirmou o social-democrata em janeiro deste ano.
A partir daí, Martin Schulz marcou posição como a alternativa aos doze anos de chanceler Merkel e chegou até a estar à frente das sondagens durante o mês de fevereiro. Ainda assim, o estatuto de filho pródigo não se manteve e, quando chegou a altura de estar frente a frente com a sua concorrente, não foi capaz de impor a sua renovação à estabilidade de Merkel.
Enquanto a atual chanceler defende o desenvolvimento do país aproveitando as fundações económicas, ideológicas e sociais aprofundadas nestes últimos doze anos, chegando agora a altura de apostar mais nos alemães e na aliança com outras grandes economias, o seu desafiador quer abrir o país à Europa e investir nas relações externas. Com a probabilidade da CDU/CSU se juntar ao SPD para constituir governo a ser muito baixa, apenas uma destas visões terá lugar na chancelaria nos próximos quatro anos.
Será a disciplina da “Thatcher alemã”…
Angela Merkel ocupa o lugar de chanceler desde 2005 e, embora tenha contado com diferentes partidos para constituir coligações, conseguiu sempre impor a sua visão acima da dos parceiros nacionais e até europeus. Com calma e precisão — características que levam muitos a apelidá-la de “Thatcher alemã” — conseguiu manter um caminho de disciplina fiscal, social e económica. Para esta eleição defende a continuidade, aprofundando as políticas sociais.
Do seu manifesto fazem parte medidas como:
- Reduzir a taxa de desemprego para menos de 3%, com esta a marcar 5,5% atualmente.
- Aumentar o abono de família de 192 para 217 euros.
- Beneficiar quem compra pela primeira vez casa própria, com as famílias que o façam a receberem mais 1.200 euros de abono por criança.
- Contratar 15 mil polícias em todo o país, reforçando a segurança e criando posto de trabalho simultaneamente.
A líder centrista quer, para além disto, estreitar as relações com a França de Emmanuel Macron. Juntam-se assim duas das maiores economias com o objetivo de aproximar as suas medidas fiscais e de impulsionar o desenvolvimento da zona euro.
… ou a renovação de Schulz?
Constituindo como principal ponto de tensão a relação com a Europa, a estratégia proposta por Schulz aponta para uma Alemanha moderna, que não se foque só em si, mas consiga reforçar o seu estatuto europeu através da cooperação entre estados-membros.
A principal crítica económica que aponta à sua concorrente é o excedente orçamental, com o Governo a acumular milhões nos cofres do Estado, ao mesmo tempo que não se investe nas infraestruturas públicas. “O estado não pode ter um défice alto, mas também tem de usar o dinheiro para melhorar as infraestruturas públicas”. Assim, o manifesto do partido vai ao encontro destas ideias, no qual se destacam medidas como:
- Aumentar a segurança laboral e a justiça dos salários.
- Tornar o ensino gratuito até ao nível de mestrado.
- Apertar as regras para setor bancário com regulação mais apertada para promover a transparência, estimular o crescimento e reduzir a exposição ao risco.
- Investir o excedente orçamental na melhoria das ligações à internet, em estradas e ferrovias e em soluções de energia renovável.
- Investir mais na União Europeia e nas suas instituições, através do alargamento da contribuição do país.
As sondagens apontam para a primeira
Ainda que a Alemanha tenha passado por um febre “Schulz” por volta do mês de fevereiro, a probabilidade de o candidato social-democrata ocupar o lugar de Angela Merkel parece ser baixa. As últimas sondagens dão a vitória à atual chanceler, com um resultado entre 35% e 40%.
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As certezas não são tantas em relação ao partido que irá ficar em terceiro lugar — aquele com o qual o partido vencedor terá de, provavelmente, estabelecer uma coligação pós-eleitoral. A sondagem da Wahltrend aponta para uma diferença mínima entre a AfD e o Die Linke, com o primeiro a conquistar 10,2% dos votos e o segundo 9,6%. Será também aqui que muito se pode decidir, mas até lá, os 61,5 milhões de alemães têm de votar e decidir.
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